domingo, 23 de abril de 2023

Hernanes, destro que marcou gol de falta com a canhota

De certo o próximo dois de maio será lembrado com dor no coração para o meio-campista Hernanes, pois foi nessa data, em 2022, que anunciou a despedida do futebol com a camisa do Sport Recife (PE), clube que não conseguiu evitar o rebaixamento na temporada anterior, e atuando em sua cidade natal. Em maio, quando completa 38 anos de idade, cabe citação que foi um dos raros destros a abusar em cobrança de falta com a canhota, e ser bem-sucedido. Foi na passagem pela Inter de Milão, em 2013, na vitória por 2 a 1 sobre a Lazio (ITA).

Evidente que aquilo não ocorreu por acaso. Treinava exaustivamente cobranças de faltas com a perna esquerda, em claro indicativo que é possível o aprimoramento do atleta em finalizações com o chamado pé 'bobo'. Com a perna direita, neste quesito, foi um terror para goleiros adversários, quer em cobranças nas proximidades da área, quer de média distância, pois usava o jeito apropriado para as duas situações.

Na base do São Paulo a partir de 2004, desempenhava a função de volante de contenção, e apenas três anos depois se firmou como titular, após saídas dos volantes Mineiro e Josué. Como mostrava habilidade, característica de condutor de bola e assistência a companheiros, foi transformado em meia-atacante e desfrutou do bicampeonato brasileiro em 2007/08, quando foi premiado com a Bola de Prata.

Dois anos depois começou a trajetória em clubes europeus, a começar pela Lazio, quando chegou a ser comparado ao ex-meio-campista Paulo Roberto Falcão. Ainda na Itália, passou por Inter de Milão e Juventus, até que em 2017 foi jogar no Hebei da China, mas por insistência do São Paulo voltou ao clube por empréstimo, até que na sequência fosse efetivada a negociação em definitivo. E no clube ficou até 2021, quando decidiu pela última passagem na bola pelo Sport Recife.

Anderson Hernanes de Carvalho Viana Lima chegou à Seleção Brasileira em 2008, mas não foi levado à Copa do Mundo de 2010. Voltou a ser chamado quando Luiz Felipe Scolari reassumiu o comando e o levou ao Mundial de 2014, no Brasil. E como fazia questão de fugir do padrão convencional das respostas de jogadores nas entrevistas, optando por linha diferenciada de conduta, recebeu o apelio de 'Profeta', dado pelo então apresentador do 'Globo Esportes' Tiago Leifert. Se a princípio se viu incomodado, depois absorveu a brincadeira.

domingo, 16 de abril de 2023

Gino Orlando, o grosso e valente centroavante do passado

Pode até ser entediante ao leitor na faixa etária abaixo dos 50 anos de idade conferir histórias de atletas que fizeram carreiras entre as décadas de 50 e 60, do século passado. Todavia, quando se trata do lendário e saudoso centroavante Gino Orlando, aspectos peculiares recomendam recapitulação, pois foi um grosso assumido e protagonizou história inusitada com o atacante Luizinho, o Pequeno Polegar do Corinthians, em jogo contra o São Paulo dele.

Em 1957, ambos discutiram asperamente no gramado e a briga continuou na rua, no dia seguinte. Como se encontraram casualmente, Luizinho acertou-lhe uma tijolada na cabeça, resultante de corte profundo e perda de muito sangue. Aquilo sugeriu que o saudoso apresentador de televisão Manoel da Nóbrega provocasse reencontro dos desafetos em seu programa, colocando-os frente a frente, para que se desculpassem e reatassem a amizade.

Nos onze anos de São Paulo, a partir de 1952, Gino Orlando mostrou o estilo rompedor e destemido no enfrentamento aos zagueiros. Se necessário fosse, deixava a perna nas jogadas divididas. Repartia a bola com adversários e a empurrava às redes, como faziam o também saudoso Vavá, de Palmeiras, Vasco e Seleção Brasileira; Flávio Minuano de Inter (RS), Corinthians e Fluminense; César Maluco, ex-Palmeiras e Dadá Maravilha do Atlético Mineiro e Colorado gaúcho, entre outras agremiações.

O biotipo de Gino Orlando era de caixa torácica avantajada, 1,79m de altura, apropriada para o 'trombador', o que fez dele um jogador temido por zagueiros adversários, pela proporção de gols que marcava. No São Paulo, campeão paulista em 1953 e 1957, foi transformado no segundo maior artilheiro na história do clube com 233 gols, apenas nove atrás de Serginho Chulapa, da mesma posição.

De origem italiana, Gino jogou pouco no Palmeiras. Foi 'canchado' no XV de Jaú e extinto Comercial da capital paulista, antes da chegada ao Tricolor, e complemento de carreira na Portuguesa e Juventus, em 1966, tendo integrado a Seleção Brasileira no biênio 1956/57, com três gols em oito partidas, um deles de bicicleta, em vitória sobre a seleção portuguesa, o primeiro no gênero em território lusitano.

Três anos após ter pendurado as chuteiras, voltou ao São Paulo para ocupar o cargo de administrador do Estádio do Morumbi, onde ficou até a sua morte em 2003, aos 74 anos de idade.

segunda-feira, 10 de abril de 2023

Foi-se o tempo em que apelidos eram aceitos no futebol

Recentemente, integrantes de um veículo de comunicação ficaram abismados ao constatarem que um grande clube escondeu até resultado de jogo-treino, quanto mais permitir acesso a treinos. A rigor, nas últimas décadas muita coisa mudou no futebol, algumas delas positivamente como a implantação do VAR, para dirimir dúvidas sobre lances polêmicos, mas outras por pura frescura.

Hoje, se o atleta chega ao clube identificado pelo apelido, cartolas imploram para que seja chamado pelo nome, preferencialmente composto. Imaginem se hoje mandatários do Flamengo admitiriam um quarto-zagueiro pelo apelido de Onça, como foi o caso do baiano Mário Filipe Pedreira, que lá jogou entre 1968 e 1971, numa defesa que tinha, entre outros, o goleiro Ubirajara e o lateral-esquerdo Paulo Henrique. Onça morreu em setembro de 2017, aos 74 anos de idade.

Nos anos 60, a Ferroviária de Araraquara tinha mania de abastecer grandes clubes de São Paulo. O ponta-de-lança Maritaca, nascido em 1948, chama-se Wilson de Almeida, e registrou passagens por Corinthians, Botafogo (SP) e XV de Piracicaba. Já o lateral-esquerdo Fogueira, que morreu em setembro de 2021, aos 79 anos de idade, acusou passagem pelo Corinthians, e nos seus documentos constavam o nome real de Wanderley Nonato.

Mesma posição e época atuavam os saudosos Ademar Ribeiro, conhecido apenas por Dé, nas passagens por Portuguesa Santista, Palmeiras, Santos e São Paulo, morto em abril de 1992; enquanto o lateral-esquerdo Tenente, titular do São Paulo até 1970, teve nome de nascimento como Valdir Izaú Pereira, falecido em maio de 1996. Ele perdeu espaço no Tricolor com a profissionalização de Gilberto.

Imaginem qual seria a repercussão para um atleta chamado de Sapatão, na atualidade. Pois no Bahia dos anos 70 isso foi visto com naturalidade. Ele morreu em junho de 2020, vítima da Covid-19. No mesmo clube, o recordista de partidas, com 448 aparições, foi o meio-campista Baiaco, nada a ver com o nome Edvaldo do Santos, com carreira encerrada em 1981, no Leônico (BA).

Diferente dos citados, Lance não é apelido do então meia-direita do Corinthians na década de 70. Seu nome é Ernesto Luís Lance, que em janeiro passado completou 74 anos de idade, e teve participação efêmera como treinador. Embora cursasse Educação Física e Jornalismo, tomou rumo empresarial.

domingo, 2 de abril de 2023

Adílio, de astro consagrado ao anonimato

Num mundo em que ex-jogadores de futebol de condições apenas razoáveis alcançam prosperidade em funções relativas ao meio, como treinadores, coordenadores, empresários do ramo e analistas em veículos de comunicação, o então meia Adílio de Oliveira Gonçalves - um dos maiores ídolos de todos os tempos do Flamengo - não se inclui neste rol. Pelo contrário: caiu no anonimato, e sequer teve respaldo quando tentou ingressar na carreira política, ao cobiçar a cadeira de deputado estadual do Estado do Rio de Janeiro, em 2010.

A infância dele foi mais uma daquelas em que meninos órfãos de pai saem à luta para ajuda no sustento da família, com trabalho em feira livre. Como o talento dele aflorou no bate-bola em praias, foi levado às categorias de base do Flamengo. As primeiras oportunidades na equipe principal surgiram logo após o precoce falecimento do meia Geraldo, mas não havia como se fixar como titular com a chegada de Paulo César Carpeggiani, vindo do Inter (RS), fato que o contrariava, embora treinadores como os saudosos Cláudio Coutinho e Telê Santana queixavam-se que faltava-lhe aprimorar finalização e aptidão para o cabeceio, com 1,72m de altura.

A chance definitiva não tardou e foi gratificado ao participar do melhor Flamengo de todos os tempos, quando fez dupla de meio de campo com o volante Andrade e ponta-de-lança Zico, com títulos da Libertadores e Mundial de Clubes em 1981, na goleada por 3 a 0 sobre o Liverpool, assim como conquistas do Campeonato Brasileiro nas temporadas de 1980, 1982 e 1983. Ele entrou para a história do clube com histórico de 128 gols, 615 partidas e terceiro jogador com maior número de jogos disputados.

Foi o período em que mostrou habilidade para colocar o seu parceiro Zico na cara do gol. Assim, a carreira no Flamengo se arrastou até 1987, quando havia completado 30 anos de idade e ficou com passe livre. Depois foi jogar no Coritiba e repasse em clubes intermediários, até o encerramento no Barra Mansa do Rio de Janeiro, em 1997, ocasião em que lamentou apenas duas atuações pela Seleção Brasileira.

Antes de ingressar na discreta carreira de treinador, foi transformado em atleta de futsal, como ala-pivô. No comando de clubes passou pelo Bahain da Arábia Saudita, Centro de Futebol Zico e divisão de base do Flamengo. No próximo 15 de maio, Adílio vai completar 67 anos de idade.