segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Chinesinho, venda milionária

O Bar do Elias, nas imediações do Estádio Palestra Itália, zona Oeste de São Paulo, ainda é reduto de ex-jogadores palmeirenses, que cultivam amizades. De vez em quando aparece por lá um septuagenário troncudo, baixinho, apelidado por Chinesinho, que aprecia um bom chope. Quem não o conhece jamais imaginará que gerou alta rentabilidade ao Palmeiras. E foi com a montanha de dinheiro proveniente da venda do passe dele para o Modena, da Itália, que os cartolas concretizaram o sonho da construção do Jardim Suspenso, em meados da década de 60. O Estádio Palestra Itália foi ampliado e o recorde de público deu-se na conquista do título paulista em 1976, na vitória por 1 a 0 sobre o XV de Piracicaba, com 35.913 pagantes.
O jornalista-empresário italiano Geraldo Sanela ficou tão encantado com os toques na bola refinados desse gaúcho que nem quis pechinchar redução de preço para a transferência, em setembro de 1962. Com isso ganhou o Modena, que desfrutou de um meia-esquerda de privilegiada visão de jogo, e depois o repassou com lucro para o Catânia. Em 1965, a cidade de Turim deu boas vindas ao hóspede ilustre, contratado pela Juventus. E os últimos cinco anos de futebol italiano foram no Lanerossi, de Vicenzo. Foi lá que ele serviu de inspiração para o ainda menino Roberto Baggio, que o acompanhou até o término da carreira em 1973, aos 38 anos de idade.
Pena que “Cinesinho” - como era chamado pelos italianos - não dimensionou a falta de vocação para exercer a função de treinador, e fracassou logo na primeira experiência, no próprio Lanerossi, com a queda da equipe à Série B daquela competição nacional.
Para os brasileiros que não tiveram privilégio de vê-lo em campo, saibam que o estilo era semelhante ao do ex-meia Zenon - Guarani, Corinthians e Atlético (MG). O diferencial pró Chinesinho foi contundência nos arremates, enquanto Zenon valorizava a assistência.
Chinesinho dava show no time do Inter (RS) e o também meia Ênio Andrade, que já estava no Palmeiras, enaltecia as virtudes ao técnico Osvaldo Brandão, que indicou a contratação. No pacote, também veio para o Palmeiras o goleiro Valdir Joaquim de Moraes. Com isso, o Verdão foi sedimentando a estrutura para o Campeonato Paulista de 1959.
Conclusão: o time quebrou um jejum de nove anos sem títulos em três jogos decisivos contra o então invicto Santos, após ambos empatarem na pontuação em dois turnos de pontos corridos. Nos dois primeiros jogos decisivos foram registrados empates em 1 a 1 e 2 a 2. Na terceira partida, o Santos vencia com gol de Pelé, mas o Palmeiras virou com gols de Julinho Botelho e Romeiro. Eis os campeões: Valdir; Djalma Santos, Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho Botelho, Nardo, Américo e Romeiro. Sidney Colônia Cunha, o Chinesinho, 74 anos de idade, jogou 20 vezes na Seleção Brasileira.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Carlos Germano, o vascaíno

A bola da vez do futebol brasileiro é o Vasco da Gama. Também pudera, mesmo com a redução natural de público nos estádios, colocou 76.211 torcedores no Estádio do Maracanã por ocasião do jogo contra o modesto Ipatinga (MG), no dia 22 de agosto passado, pela Série B do Campeonato Brasileiro, recorde absoluto de público entre as quatro divisões das competições nacionais organizadas pela CBF.
Novamente em jogo disputado num sábado à tarde, Vasco e Guarani levaram 52.904 pessoas ao Estádio do Maracanã, dia 19 de setembro. E mesmo numa sexta-feira à noite, no mesmo local, contra o Ceará, 27.450 espectadores viram a derrota cruzmaltina por 2 a 0.
No futebol, nada melhor que um dia após o outro. Ano passado, a desastrosa derrota do Vasco para o Vitória (BA) por 2 a 0, no Estádio São Januário, decretou o seu rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro. Lembram-se daquele desesperado torcedor que ameaçou se atirar das marquises? Pois é, não fossem hábeis policiais distraí-lo, e rapidamente agarrá-lo, o suicídio seria inevitável. E sabem o que aquele torcedor - identificado por Luiz Fernando - argumentou para aquele comportamento? Com o rebaixamento do Vasco já não tinha mais razão de viver.
Felizmente o rapaz está vivo e, de certo, vibrando com a extraordinária campanha de seu clube. Também o ex-goleiro Carlos Germano sofreu com o triste desfecho do ano passado. Viu a torcida cantar três vezes o hino do clube, tinha esperança que os experientes jogadores Odvan, Edmundo e Pedrinho pudessem fazer a diferença, mas foi tudo em vão.
Mais que preparador de goleiros do Vasco, a ligação umbilical com o clube provocou dor profunda, sem que se desesperasse. Mesmo com o coração partido ainda projetou rápida recuperação. “Acho que a trajetória do Vasco será que nem a do Corinthians que caiu, aprendeu a lição e voltou com sobras”.
Hoje, Carlos Germano Schwembach Neto pode comprovar sua previsão e lembrar que o Vasco é um clube recheado de glórias. Como atleta vascaíno de 1990 a 1999, foi recompensado com as conquistas do Campeonato Brasileiro e da Libertadores da América em 1997, ano em que também foi campeão da Copa América pela Seleção Brasileira.
Carlos Germano, 39 anos de idade, é um capixaba natural de Domingos Martins, tem 1,90m de altura, e foi um goleiro de elasticidade. Por incontáveis vezes “fechou o gol” e garantiu o bicho para os companheiros. Por isso o técnico Mário Jorge Lobo Zagallo o levou como reserva de Taffarel à Copa do Mundo de 1998, na França. No selecionado ele jogou nove vezes.
Divergências financeiras para renovação de contrato com o Vasco implicaram na saída do clube em 2000. A partir daí não manteve a regularidade nas passagens por Santos, Portuguesa, Inter (RS), Botafogo (RJ) - onde caiu à Série B - Paysandu, América (RJ), Penafiel de Portugal e Madureira.
ariovaldo-izac@ig.com.br

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Félix divide opiniões

Quem acessar a seção de ídolos no site oficial do Fluminense Futebol Clube vai deparar com os nomes de Tim, Telê Santana, Castilho, Pinheiros, Didi, Gérson, Rivelino, Edinho, Branco e Renato Gaúcho. Eis a questão: por que o goleiro Félix, tricampeão mundial com a Seleção Brasileira no México, em 1970, está fora dessa leva?
Simples. Felix foi um goleiro só razoável, com o diferencial de ter a sorte de estar no lugar certo na hora certa. Naquele timaço de 70 foi identificado mais pelas falhas do que as defesas importantes. Instigado sobre a polêmica, ele contra-ataca: "Todos diziam que a Seleção tinha um time, mas não tinha goleiro. Eu provei que podia ser titular".
A rigor, não fosse a troca no comando técnico da Seleção, às vésperas daquela Copa, Félix sequer teria viajado para o México. Se João Saldanha fosse mantido como treinador, prevaleceria a lista com os goleiros Ado e Leão, que atuavam no Corinthians e Palmeiras. Com a chegada de Mário Jorge Lobo Zagalo como comandante, uma das mudanças foi relacionar três goleiros. Assim, Félix voltou ao grupo e reassumiu a posição de titular.
Félix atuou pela Seleção Brasileira 48 vezes. A estréia foi no dia 21 de novembro de 1965, no Estádio do Pacaembu, na vitória sobre a Hungria por 5 a 3. A equipe foi representada por jogadores que atuavam no futebol paulista e teve a seguinte formação: Félix; Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Procópio e Edilson; Lima e Nair; Marcos, Prado, Servílio e Abel.
O goleiro foi lançado no Juventus (SP) em 1954 e, no ano seguinte, já era reserva de Cabeção na Portuguesa. E como esquentou o banco! Só estreou em março de 1956, com a convocação do titular à Seleção Brasileira. Uma estréia com vitória por 2 a 1 sobre o Newell’s Old Boys da Argentina, no Estádio do Pacaembu.
Um ano depois, mesmo com a transferência de Cabeção para o Corinthians, Felix continuou jogando no time de aspirantes, na preliminar. É que os cartolas da Lusa foram buscar o goleiro Carlos Alberto, no Vasco. Posteriormente, foi fixado como titular até 1964, com a chegada de Orlando. Aí, ambos se revezavam a cada partida, uma atitude de praxe de treinadores da época para casos de goleiros de mesmo nível técnico. O revezamento acabava quando um deles se destacava mais e, nesse caso específico, ligeira vantagem para Félix, protagonista de uma experiência inusitada.
Numa excursão da Lusa aos EUA, no jogo contra o Massachusetts, de Nova York, ele foi jogar no ataque quando seu time massacrava por 9 a 0, e marcou o décimo gol. O resultado do jogo foi 12 a 1.
Em 1968 trocou a Lusa pelo Fluminense, onde foi titular absoluto até 1977, quando encerrou a carreira. Hoje, aos 72 anos de idade, trabalha como instrutor de escolinha de futebol da Prefeitura de São Paulo, destinada a crianças carentes.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Van Basten: carreira curta

O holandês Marco Van Basten foi daqueles centroavantes que pedia bola mesmo marcado. Quando lançado, usava as pernas compridas para escondê-la do adversário, girava com rapidez, e tinha um chute forte. Conclusão: raramente passava uma partida sem fazer gols. Dos 280 jogos oficiais na carreira, balançou as redes 218 vezes.
Versátil, também sabia explorar seu 1,88m de altura, aliado à boa impulsão, para certeiras cabeçadas. Pena que essa rotina foi interrompida na iminência de completar 29 anos de idade. Cruéis zagueiros detonaram seus tornozelos e o período de dois anos para tentar se recuperar foi insuficiente. A dor insuportável resultou em andanças por consultórios ortopédicos e hospitais, sem que ocorresse a esperada cura.
Restou, portanto, programar a festa de despedida como atleta do Milan no dia 18 de agosto de 1995, no Estádio San Siro, em jogo contra a Juventus, presenciado por mais de 85 mil espectadores. Acabava ali uma carreira restrita a dois clubes e seleção de seu país.
A história de goleador teve início no Ajax, da Holanda, aos 17 anos de idade, onde foi tricampeão. Em 1986 marcou 37 gols em 26 jogos, foi laureado com a “Bola de Ouro da Europa”, e o Milan tratou de levá-lo à Itália, desembolsando 2,5 milhões de dólares ao clube holandês. Foi, até então, a maior transação de jogador de futebol do planeta.
O raciocínio de que investir em Van Basten era retorno garantido foi confirmado pelos milaneses. Como melhor jogador europeu em 1988, 1989 e 1992; e melhor do mundo em 1992, assanhou a torcida de seu clube e provocou retorno de bilheteria, através de estratégias de marketing e de cotas de contratos com emissoras de televisão para transmissão de jogos.
A seleção holandesa também desfrutou dos gols de Van Basten, um dos principais na vitória sobre a União Soviética por 2 a 0, em 1988, na conquista do título da Eurocopa. Naquele timaço, jogava ao lado de Ruud Gullit, Frank Rijkaard e Seedorf, entre outros.
Respeitado pelos cartolas da confederação de seu país, ganhou chance como treinador da seleção em 2004. E o reflexo do bom trabalho foi atestado durante a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, embora sua patota tenha sido eliminada por Portugal.
Ano passado, após derrota para a Rússia por 3 a 1, na prorrogação, em jogo válido pela Eurocopa, na Suíça, Van Basten deixou o comando do selecionado. Na sequência topou treinar o Ajax, não alcançou os resultados esperados, e deixou o clube em maio passado.
Por fim, quis o destino que um fato trágico revelasse a influência de Van Basten entre brasileiros. Um menino de 12 anos, registrado com o seu nome, morreu em decorrência de hemorragia após perfuração do pulmão esquerdo. O garoto foi atingido acidentalmente por fogos de artifícios horas antes do réveillon de 2003, na região metropolitana de Recife (PE).
ariovaldo-izac@ig.com.br