segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Tenente, lateral da era magra do São Paulo

 A conquista da Copa Sul-Americana pelo São Paulo, na temporada passada, foi pouco para a sua exigente torcida que não comemorava nada desde 2008, quando foi comemorado o título do Campeonato Brasileiro.
 Viciado em festejar títulos, o torcedor são-paulino da velha guarda já lembra da década de 60 quando o clube passou longo período de jejum, com justificativa compreensiva: priorizada a construção do Estádio do Morumbi.
 Em 1966, por exemplo, o São Paulo sequer ficou em quarto lugar, posição ocupada pelo Comercial de Ribeirão Preto. Se em 1967 o time são-paulino foi vice-campeão, no ano seguinte também não chegou entre os quatro melhores, a exemplo do Palmeiras. O Santos foi campeão, Corinthians vice, Ferroviária de Araraquara em terceiro e Portuguesa em quarto lugar.
Em 1969, mais uma título do Santos, Palmeiras vice e o São Paulo, se reorganizando, em terceiro lugar.
 O futebol do São Paulo foi relegado depois do título paulista de 1957; passando pela inauguração parcial do Estádio do Morumbi em 1960, na vitória por 1 a 0 sobre o Sporting de Portugal, gol do ponteiro-direito Peixinho; se estendendo até janeiro de 1970 quando a obra foi completada, e o clube trouxe o Porto para inaugurá-la, com empate por 1 a 1.
 Resultado do jogo festivo à parte, no início daquela década o tricolor paulistano retomou a trajetória de títulos e com isso o seu torcedor tirou aquele nó na garganta. Naquela época, uma das formações mais repetida da equipe era esta: Suli; Celso, Belini, Roberto Dias e Tenente; Nenê Buteco e Benê; Valdir Birigui, Prado, Fefeu e Paraná.
 Tenente foi um lateral-esquerdo exclusivamente marcador, como de praxe na época. Por isso em 1970 perdeu a posição para o então garoto Gilberto Sorriso, atrevido ofensivamente. O desportista Delécio Pastor, amigo da boleirada são-paulina da época, costumava brincar que Tenente marcava como dono de bar de periferia: muito.
 Na passagem do lateral-esquerdo pelo São Paulo, de 1965 a 1972, o almanaque do clube registra participação em 181 partidas, sendo 89 vitórias, 47 empates e 45 derrotas. Contudo, aquilo que mais chamou atenção naquele período foi a estupidez dele ao brincar com revólver, como se fosse mocinho de cinema. É que na tentativa de girar a arma ocorreu disparo acidental, perfurando-lhe a barriga.

 Tenente ainda jogou no Juventus de Santa Catarina até 1976, encerrando uma carreira iniciada naquele estado no Metropol de Criciúma. Depois disso passou a ser o cidadão Valdir Izaú Pereira, nome de registro, nascido em 18 de outubro de 1941, com ingresso na vida política naquela cidade. Ele foi filiado ao PMDB, candidatou-se a vereador em 1992, e obteve 121 votos, nem 10% do candidato mais votado, com 1.589 votos. Tenente morreu em acidente de automóvel no dia 12 de março de 1996, também em Criciúma.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Paulo Isidoro, um meio-campista competitivo

 Até meados da década de 90, meias e atacantes do futebol brasileiro arrumavam confusões com treinadores porque se recusavam terminantemente obedecer a orientações para marcação de adversários. Também torciam o nariz até quando as indicações se restringiam a voltarem apenas para cercar o adversário, a fim de não lhe proporcionar liberdade para jogar.

 Naquela época o meio-campista Paulo Isidoso já era diferente. Embora originariamente meia-direita driblador, condutor de bola, e com histórico de 98 gols em 398 partidas disputadas durante aproximadamente dez anos intercalados pelo Atlético Mineiro, jamais colocava a mão na cintura quando o ataque de seu time perdia a bola. O espírito de jogador competitivo e a condição física privilegiada implicavam em recuar para combater o adversário e ‘roubar’ a bola.

 Por causa desta característica, Paulo Isidoso se adaptou bem à função de volante no Guarani a partir de 1987, num meio de campo que contava ainda com Barbieri e Neto. Aquele time chegou à final do Campeonato Paulista de 1988 e perdeu para o Corinthians por 1 a 0, em Campinas. E foi naquela posição que ele encerrou a carreira aos 43 anos de idade, atuando em clubes do Norte e Nordeste. Antes disso jogou no Cruzeiro, XV de Jaú, Inter de Limeira (SP) e Valeriodoce (MG).

 Se no começo de carreira não lhe havia espaço nos bons times montado pelo Galo, a experiência no Nacional de Manaus (AM) foi suficiente para garantir titularidade no time mineiro a partir de 1974, com ênfase na temporada de 1977 quando o Atlético realizou campanha irretocável no Campeonato Brasileiro. O time chegou à final contra o São Paulo com retrospecto de 17 vitórias e três empates. Derrota, mesmo, apenas nas cobranças de pênaltis daquela decisão, por 3 a 2, ocasião em que o Galo contava com este time: João Leite; Alves, Márcio, Vantuir e Valdemir (Romero); Toninho Cerezo, Ângelo e Paulo Isidoro; Marinho (Serginho), Marcelo (Caio) e Ziza.

 A regularidade encurtou-lhe o caminho à Seleção Brasileira do então treinador Cláudio Coutinho, já falecido. Num dos jogos preparativos à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, o time que enfrentou o Peru, em Cali, contou com Leão; Zé Maria, Luís Pereira, Edinho e Rodrigues Neto; Cerezo, Paulo Isidoro e Rivelino; Gil, Roberto Dinamite e Paulo César Caju.

 Em 1980 Paulo Isidoro foi trocado pelo ponteiro-esquerdo Éder, do Grêmio, e na temporada seguinte marcou os dois gols da vitória gremista sobre o São Paulo por 2 a 1, no Estádio Olímpico, na final do Campeonato Brasileiro, num time formado por Emerson Leão; Uchoa, Newmar, Hugo de Leon e Casemiro; China, Paulo Isidoro e Vilson Tadei; Tarciso (Renato), Baltazar e Odair.

 No Mundialito de 1981, quando o Uruguai - que sediou a competição - venceu o Brasil por 2 a 1 e conquistou o título, o técnico Telê Santana também apostou as fichas em Paulo Isidoro naquela final, num time que tinha João Leite; Edevaldo, Oscar, Luizinho e Júnior; Batista, Cerezo e Paulo Isidoro; Tita (Serginho Chulapa), Sócrates e Zé Sérgio (Éder). E na Copa de 1982, na Espanha, Paulo Isidoro foi o 12º jogador do Brasil, pois entrou em quase todas as partidas.

 Já em 1984, quando o Santos montou respeitável time e foi campeão paulista, lá estava Paulo Isidoro, também identificado pelo apelido de Tiziu, ganhado na infância. A referência em questão tinha a ver com o passarinho negro comum em todo país. Naquele time santista, comandado pelo falecido treinador Carlos Castilho, também jogavam o volante Dema e os atacantes Serginho Chulapa e Zé Sérgio, entre outros ‘cobras’.

 A rigor, Paulo Isidoro alongou a carreira de atleta porque adora futebol, assim como adora colecionar carros. Nos tempos em que o veículo ‘Mercedes Benz’ era uma relíquia, já era proprietário de sete deles, guardados em seu sítio em Belo Horizonte, local em que investiu em gado, criação de peixes e montagem de uma escolinha de futebol.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Valdir de Morais, goleiro baixinho que venceu

 O gaúcho Valdir Joaquim de Morais tem três bons motivos para comemorar a extensa vida esportiva. Primeiro que já completou 82 anos de idade e não admite aposentadoria, tanto que comunica estar disponível no mercado para consultoria. Segundo porque desafiou o preconceito contra goleiros baixinhos e fez história no gol do Palmeiras durante dez anos, apesar da estatura de 1,68m de altura. Terceiro porque entrou para a história do futebol brasileiro como o criador da função de preparador de goleiros.
 Em entrevista ao portal UOL, Valdir de Morais contou que dos 60 anos envolvidos no futebol, 30 deles passou distante da família devido às atribuições em clubes e Seleção Brasileira. “É bom ficar um pouco ao lado da família, mas eu quero voltar ao trabalho. Tenho conhecimento e experiência, e sei que ainda posso dar muito ao futebol. Não interessa a idade”.
 Se hoje goleiros com menos de 1,82m de altura sequer são admitidos em treinos peneiras, em 1947, no Renner (RS), tiveram percepção que Valdir de Morais compensaria a baixa estatura com excelente impulsão, reflexo, posicionamento e saída do gol.
 Há registro de outros goleiros baixinhos do passado também bem sucedidos, casos de Jorge Campos, de 1,73m de altura e 130 partidas pela seleção mexicana; o peruano Quiroga com 1,71m; César (ex-Corinthians) e René Higuita, ambos de 1,75m. Por sinal, o colombiano marcou oito gols pela seleção de seu país e 33 em clubes através de cobranças de faltas e pênaltis. Ubirajara Mota, do Bangu, tinha menos que 1,75m de altura.
 O Palmeiras teve percepção que Valdir pudesse substituir Oberdã Catani e o trouxe em 1958, para que fosse titular da posição durante dez anos e participasse de 482 jogos. Foi o período em que ele conquistou três títulos e hoje é um dos raros atletas ainda vivos nas duas primeiras conquistas.
 Do time de 1959, só Valdir e o meia Américo Murolo estão vivos. Eis a escalação: Valdir; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Américo Murolo, Romeiro e Nardo. Também falecido é o treinador Oswaldo Brandão. Dos titulares de 1963, Vicente Arenari morreu em abril passado, aos 78 anos de idade, lateral-esquerdo deste time: Valdir: Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Vicente Arenari; Zequinha e Ademir da Guia; Julinho, Servílio, Vavá e Tupãzinho. Desta equipe, apenas Valdir e Ademir da Guia estão vivos. E no jogo do título contra o Noroeste, na goleada por 3 a 0, o goleiro foi Picasso.
 Valdir ainda foi campeão paulista em 1966 e deixou o Palmeiras em 1968. No ano seguinte encerrou a carreira no Cruzeiro, para, incontinenti, criar no Brasil a função de preparador de goleiros. Foi aí que fez rodízio em grandes clubes paulistas e treinou os goleiros Zetti, Rogério Ceni, Marcos e Dida, entre outros.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Roberto Batata, morte antes dos 27 anos de idade

 A fase esplendorosa do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro recomenda lembrança de um de seus ídolos do passado. Quis o destino que o ponteiro-direito Roberto Batata, no auge da carreira, morresse no dia 13 de maio de 1976, na iminência de completar 27 anos de idade.

 Batata dirigia o seu veículo Chevette na Rodovia Fernão Dias - que liga Belo Horizonte a São Paulo - e a tinha finalidade de rever familiares no município mineiro de Três Corações. Não deu tempo. Ele se envolveu em um acidente fatal. Foi uma colisão frontal de seu automóvel com um caminhão.

 O acidente, que provocou comoção na coletividade cruzeirense, ocorreu após Roberto Batata ser considerado um dos melhores em campo na goleada imposta pelo seu time sobre o Alianza de Lima, no Peru, por 4 a 0, com dois gols de Joãozinho, Roberto Batata e Jairzinho, diante de um público de 35 mil pagantes. O Cruzeiro, comandado por Zezé Moreira, jogou com Raul Plassmann; Nelinho, Morais, Osires (Darci Menezes) e Vanderlei Lázaro; Wilson Piazza, Eduardo Amorim e Palhinha; Roberto Batata (Isidoro), Jairzinho e Joãozinho.

 Na partida de volta, no Estádio do Mineirão, os jogadores cruzeirenses se ajoelharam no centro do gramado e rezaram em memória do companheiro Roberto Batata antes do apito inicial. E, por fim, o grupo cumpriu o pacto de dar a vida pela conquista da Libertadores da América, e o objetivo foi alcançado.

 Na fase final, após vitória em casa e derrota como visitante para o River Plate da Argentina, o Cruzeiro teve que disputar a chamada ‘negra’ no Chile, e o ponteiro-esquerdo Joãozinho se antecipou a Nelinho, em cobrança de falta, e marcou o gol da vitória por 3 a 2, que significou o título à equipe.

 A festa da boleirada no vestiário só não foi completa porque Zezé Moreira não conseguiu esconder a irritação com Joãozinho e deu-lhe uma tremenda bronca por ter tomado o lugar de Nelinho naquela cobrança de falta que decidiu o jogo. “Seu moleque irresponsável! Nosso cobrador de falta é o Nelinho, ouviu”?

 Roberto Batata foi um atacante rápido, habilidoso e goleador. Segundo o Almanaque do Cruzeiro, ele marcou 110 gols em 285 partidas disputadas pelo clube. Na época exibia uma cabeleira Black Power, costume na época de quem tinha cabelos crespos.

 Por que Batata? O apelido veio na infância porque adorava devorar batatinha frita. Coincidência ou não, o jogador tinha o hábito de colocar apelido nos companheiros. Na época ele fazia imitação de pessoas.

 No período em que jogou no Cruzeiro, de 1971 a 1976, Roberto Batata colecionou quatro títulos regionais e um sul-americano. A passagem pela Seleção Brasileira deu-se em 1975, em seis jogos, inclusive pela Copa América, e três gols.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Quatorze anos sem Orlando Lelé

 Orlando Pereira ficou conhecido inicialmente no futebol como Orlando Lelé, nos tempos de lateral-direito, e Orlando Amarelo como treinador. Ele morreu no dia 4 de setembro de 1999, vítima de embolia pulmonar, e pode-se dizer que foi duramente castigado nos últimos meses de vida. Orlando ficou tetraplégico - perda dos movimentos do corpo do pescoço para baixo - após bater a cabeça no chão quando estava no banho e sentiu tontura.

 Natural de Santos, ele iniciou a carreira no futebol no Peixe. E, em 1972 jogou num time que tinha, entre outros, Pelé, Clodoaldo, Oberdan e o goleiro argentino Cejas. Um ano depois atuou num timaço montado pelo treinador Élba de Pádua Lima, o Tim (já falecido), no Coritiba. O goleiro era Jairo. Oberdan se destacava na quarta-zaga. O meio-de-campo contava com o capitão Hidalgo (hoje comentarista de futebol) e Negreiro (ex- Santos), coadjuvados pelo aplicado ponteiro-esquerdo Aladim, que ajudava na marcação. O ataque vivia dos gols da dupla Leocádio e Tião Abatiá, principalmente em jogos disputados no Estádio Belfort Duarte, que posteriormente passou a ser chamado de Couto Pereira.

 Orlando era raçudo e ganhava a maioria dos duelos com ponteiros. Como não era jogador técnico, simplificava no passe e treinava exaustivamente os cruzamentos. Assim, quando se transferiu para o Vasco, o goleador Roberto Dinamite aproveitou bastante as bolas ‘açucaradas’ vindas do lado direito do campo para fazer muitos gols.

 Foi no Vasco a melhor fase da carreira de Orlando Lelé, resultando na convocação à Seleção Brasileira. Em 1975, num jogo contra o Uruguai, ele participou de pancadaria e aplicou uma gravata no pescoço de um adversário. Ele era explosivo e encrenqueiro, mas amigo leal dos companheiros. Em 1977 o lateral também participou do ‘esquadrão’ vascaíno que sofreu apenas uma derrota no Campeonato Carioca, em 25 jogos. A defesa justificou o batismo de ‘barreira do inferno’ ao atingir 18 partidas sem sofrer gol. Eis a equipe da época, treinada por Orlando Fantoni (já falecido): Mazaroppi; Orlando Lelé, Abel, Geraldo e Marco Antonio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon.

 Orlando teve passagem sem brilho pela Udinese, da Itália, e posteriormente despediu-se da carreira de atleta de forma discreta. Voltou ao noticiário como treinador do Goiatuba em 1992, ocasião em que levou o time ao título do Campeonato Goiano com uma rodada de antecedência, com vitórias nas seis partidas disputadas na fase final.

 Também foi reconhecido no Distrito Federal, após bem sucedida passagem pelo Gama. Desta forma, tentava furar o forte bloqueio do seleto grupo de treinadores de ponta, mas o acidente doméstico alterou radicalmente a sua vida. Assim, deixou a história de quem foi persistente e procurou diuturnamente se aprimorar.