segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cabralzinho, melhor lá fora

O futebol transformou o ex-treinador Carlos Roberto Ferreira Cabral, o Cabralzinho, em poliglota. Se o mercado brasileiro não lhe foi generoso em oportunidades, lá fora escancararam-lhe as portas, principalmente na Ásia e África. Se por aqui cartolas santistas sequer renovaram o seu contrato após o vice-campeonato brasileiro de 1995, na tumultuada decisão contra o Botafogo (RJ), na Tunísia foi ovacionado ao levar o Esperance a conquista da copa daquele país, onde retornou em 2009. Ele também fez bonito no Egito ao comandar o Zamalek no biênio 2004-2005. De certo faz essas reflexões ao completar 66 anos de idade neste 2 de janeiro de 2011.

A rigor, 1995 foi o melhor ano de Cabralzinho como treinador no Brasil. Não fosse a catastrófica arbitragem do mineiro Márcio Rezende de Freitas, constaria em seu currículo o título do Campeonato Brasileiro. Naquele jogo, no Estádio do Maracanã, foi anulado um gol legítimo do Santos, através do ponteiro Camanducaia. Paradoxalmente o árbitro validou um gol impedido do então botafoguense Túlio. O Santos jogou com Edinho; Marquinho Capixaba, Ronaldo, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Marcelo Passos e Robert (Macedo); Jamelli, Giovanni e Camanducaia.

Aquela foi a segunda passagem de Cabralzinho como técnico do Santos. A primeira vez foi em 1991. A última dez anos depois, ao regressar da Arábia Saudita, do Al Qasisiyah. E por ter cravado seu nome na região do Golfo Pérsico, Rayan e Al Shamal do Catar também o contrataram, além de treinar a seleção juvenil daquele país. No Brasil Cabralzinho comandou Atlético (PR), Figueirense, Goiás, Portuguesa Santista, Mogi Mirim, São Bento e São José, os quatro últimos do interior paulista.

Antes disso foi boleiro, e dos bons. Se nos primeiros anos de Santos ficou na reserva de Pelé e Coutinho, seu futebol habilidoso apareceu no São Bento de Sorocaba (SP). Na sequência, discreta passagem pelo Fluminense e encantou naquele inesquecível Bangu de 1966, que conquistou o título estadual perseguido há 33 anos. O time, comandado por Alfredo Gonzáles, chegou aos 3 a 0 com três minutos do 2º tempo, calando a maioria de flamenguistas daqueles 140 mil pagantes no Maracanã. Vinte e dois minutos depois, o banguense Ladeira catimbou em cima do lateral-esquerdo adversário, Paulo Henrique, fato que resultou em pancadaria, com expulsões de cinco jogadores do Flamengo e quatro do Bangu. O jogo foi encerrado e Ladeira levado a hospital, após chute na cabeça desferido por Almir Pernambuquinho, assassinado sete anos depois em porta de bar de Copacabana, no Rio.

O Bangu tinha Ubirajara; Fidélis, Mário Tito, Luís Alberto e Ari Clemente; Jaime e Ocimar; Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim. Cabralzinho ainda jogou no Flamengo e Palmeiras.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Maldito Alzheimer

Dezembro é mês de luz, fraternidade, reflexão e retrospectiva. E quem tem memória razoável logo vai lembrar que o maldito Alzheimer castigou e originou mortes de três ex-jogadores, ou melhor, três ex-zagueiros em 2010: Ramos Delgado, Waldemar Carabina e Francisco Sarno. O ano ainda foi marcado pelas mortes de mais dois ex-boleiros famosos: o polivalente Urubatão Calvo Nunes e o atacante Washington, ex-Guarani e Corinthians.

O Mal de Alzheimer varre a memória das pessoas. Na maioria das vezes o drama começa com a procura de um objeto mantido no lugar costumeiro. Remédio é apenas paliativo para retardar o agravamento da doença.

O argentino Ramos Delgado, que morreu no dia 3 de dezembro aos 75 anos de idade, deixou uma história de cinco anos na Vila Belmiro. Foi entre as décadas de 60 e 70, como absoluto da camisa três do Santos. Também fez parte daquela geração o vigoroso palmeirense Waldemar Carabina, que morreu na noite do dia 22 de agosto, aos 78 anos de idade. Carabina gabou-se de ter anulado Pelé em algumas partidas: "Poucos o marcaram tão bem quanto eu".

Da turma da bola, Sarno foi a primeira vítima do ano das complicações do Mal de Alzheimer. Morreu em 17 de janeiro na capital paulista, aos 86 anos de idade, com biografia de zagueiro clássico, treinador supersticioso e ousadia para escrever o livro “A Dança do Diabo”, que revela desmandos no futebol dentro e fora dos gramados. Como atleta passou por clubes como Botafogo (RJ), Vasco, Palmeiras e Santos. Como treinador comandou Corinthians, Coritiba, Atlético (PR), Guarani e Ponte Preta. No Guarani, em meados da década de 60, tinha o hábito de carregar uma toalha durante os jogos, e a usava para indicar o canto que o goleiro de seu time deveria arriscar em cobranças de pênaltis para o adversário, colocando-a na mão direita ou esquerda. E se o goleiro contrariasse sua instrução seria sacado do time.

Urubatão Calvo Nunes, natural do Rio de Janeiro, não foi um jogador de futebol acima da média nos tempos do grande Santos das décadas de 50 e 60, quer na zaga, quer no meio-de-campo. Também foi um treinador apenas razoável e morreu no dia 24 de setembro, aos 79 anos de idade, vencido por um tumor cerebral e outro no pulmão.

Quanto a Washington Luiz de Paula, morreu aos 57 anos de idade no dia 15 de fevereiro, em decorrência de complicação renal. No ápice da carreira integrou a seleção brasileira juvenil no Torneio de Cannes, na França, e disputou a Olimpíada de Munique, na Alemanha, em 1972. Naquele período sua gingada era fantástica. Balançava o tronco magrelo de um lado e saía com a bola no sentido oposto. Por isso alguns apressados o projetaram como sucessor de Pelé, apesar do meia preferir a assistência ao companheiro de ataque a finalizações, ignorando a importância de se pontuar entre os artilheiros.



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Viola, carreira polêmica

A enxurrada de gols marcados nos anos 90 refletiu em bons contratos salariais para o ex-atacante Viola durante uma década após a virada do século. Os gols rarearam, as coreografias caíram no esquecimento, e nem por isso os cartolas deixaram de apostar nele como atração de bilheteria.

A polêmica carreira de Viola indica uma sequência de capítulos, um deles sobre a origem do apelido. Se nos tempos de ‘terrão’ – famoso campo de futebol da capital paulista – era identificado pelo nome de registro, Paulo Sérgio Rosa, bastou se apresentar às categorias de base do Corinthians com um par de chuteiras da marca Viola para ganhar o apelido. A marca superava a concorrente Gaeta, uma botina de bico duro que, desgastada pelo tempo, machucava pés de atletas com pregos que se soltavam na sola, obrigando sapateiros a entortá-los. Quanta diferença para a levíssima chuteira F50 adiZero da Adidas, que pesa 165g; ou a V1.10 Lightning da Puma, com peso de 150g!

Quis o destino que em 1988, aos 19 anos de idade, Viola substituísse o atacante Edmar na segunda partida da final do Corinthians contra o Guarani, pelo Campeonato Paulista, em Campinas, e marcasse o gol do título na prorrogação. E depois que saiu do anonimato caiu em desgraça com 105 dias sem balançar as redes. Por isso foi emprestado ao São José e Olímpia, equipes do interior paulista.

A volta triunfal ao time corintiano deu-se em 1993 como artilheiro do Paulistão com 20 gols, cada um comemorado com nova coreografia. A mais ousada delas foi documentada na primeira partida daquela final, na vitória sobre o Palmeiras por 1 a 0, quando imitou um porco chafurdando. O Palmeiras venceu o segundo confronto por 3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 na prorrogação, resultado que deu-lhe o título.

Viola integrou o grupo de jogadores brasileiros tetracampeões na Copa do Mundo dos Estados Unidos em 1994, época que havia se transferido ao Valencia da Espanha. Destemido, topou o desafio de jogar no Palmeiras em 1995, apesar do alto índice de rejeição dos torcedores, e por motivos óbvios.

Gols e títulos do Paulistão e Copa do Brasil calaram os críticos. E tudo ia bem até 1999, já como atleta do Vasco, quando sagrou-se campeão do Torneio Rio-São Paulo. Depois a fonte secou. Santos, Gaziontepspar da Turquia, Flamengo, Juventus (SP), Guarani, Uberlândia, Duque de Caixas, Rezende (RJ) e Brusque (SC) quase não usufruíram de seus gols na carreira encerrada na metade da temporada de 2010.

Viola já havia se despedido do futebol profissional em 2009 para ingressar no showbol, quando agrediu o árbitro Nilton José Romeiro com uma cabeçada após contestar a marcação de uma falta, num jogo do Corinthians contra o Botafogo (RJ). Depois voltou ao profissionalismo.

Sua última aparição foi através do really show ‘A Fazenda’ da TV Record, quando foi eliminado com 76% de votos.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ramos Delgado, descanse em paz

O zagueiro argentino Ramos Delgado foi amicíssimo de Pelé nos tempos de Santos, entre 1967 e 1972. Nos últimos anos de vida, já radicado em seu país, foi diagnosticado como paciente do Mal de Alzheimer, uma doença degenerativa que implica em perda total da memória em pacientes terminais. Assim, meses antes da morte, no dia 3 de dezembro, José Manuel Ramos Delgado não identificaria Pelé se lhe mostrassem a foto do ‘rei’ do futebol.

Em estado terminal, o paciente de Alzheimer perde massa muscular e mobilidade, situação que contrasta com a compleição física vigorosa do período de jogador de Ramos Delgado, quando levava a campo a raça argentina. Se o Alzheimer em estágio avançado limita o enfermo a pronúncias de apenas algumas palavras, sem concatenar frases, no auge da carreira ele comandava a defesa aos berros, se necessário. Posicionava seu parceiro de zaga Joel Camargo e orientava os laterais Carlos Alberto Torres e Rildo. Logicamente se impunha pelo estilo clássico. Sabia antecipar, tomar a bola do adversário e sair jogando com categoria.

Há quem o compare ao antecessor Mauro Ramos de Oliveira, no Santos. Convém lembrar ainda que praticava um futebol com relativa semelhança ao zagueiro Ricardo Rocha, ex-Santa Cruz (PE), Guarani, São Paulo e Seleção Brasileira.

Ramos Delgado participou dos Mundiais de 1958 e 1962 pela Argentina, período em que os platinos se transferiam regularmente ao Brasil. O mesmo Santos, em busca de um goleiro para interceptar cruzamentos na marca de pênalti, contratou Agostín Mario Cejas.

A imigração de ‘boleiros’ argentinos começou a ganhar destaque nos anos 40 quando o Palmeiras foi buscar o zagueiro Luis Villa, de estilo clássico e incapaz de dar um pontapé no adversário. Em seguida o São Paulo trouxe o meia Sastre, que integrou um ataque formado por Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal. O time também contava com o futebol elegante do então zagueiro Armando Renganesch, que posteriormente se transformou num treinador qualificado. Mesmo destino seguiu o goleiro José Poy, quando abandonou a carreira de jogador do São Paulo. O diferencial era a filosofia de técnico disciplinador.

Na década de 60, na ganância de tentar ganhar a Copa Libertadores da América, o Palmeiras foi buscar em Buenos Aires o ‘matador’ Luis Artime, um emérito cabeceador. No mesmo período passou quase que despercebido no Juventus - clube da capital paulista - o então jogador Cesar Luis Menotti, que posteriormente conquistou o título mundial como técnico da Seleção Argentina na Copa do Mundo de 1978. Na mesma época, o Cruzeiro se garantia na defesa com o futebol eficiente do zagueiro Perfumo, enquanto o Flamengo dependia dos gols do centroavante Doval, que morreu aos 46 anos de idade, em 1991, ao sofrer enfarte fulminante.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Jacozinho, ‘bicão’ e folclórico

Conta a lenda que na passagem pelo CSA (Centro Sportivo Alagoano) o atacante Jacozinho dirigia-se ao clube num fusquinha velho, caindo os pedaços. Há quem jura que o fato é real e ainda acrescenta que, quando alguém fitava o veículo com desaprovação, o folclórico jogador debochava dele mesmo. “Esse coitado é a minha cara”.

O dinossauro do Fusca tinha apelido de ‘Maestro’. Por quê? A justificativa do zombeteiro Jacozinho era um conserto a cada esquina. É prudente que se esclareça a classificação de conserto entre os homônimos na significação das palavras: mesma pronúncia, mas sentidos diferentes. Maestro rege concerto musical, diferentemente de conserto para reparação de objetos danificados.

Se soa como arrogância quando alguém diz que chega a determinado clube para ser campeão, exclui-se Jacozinho desse contexto. Em 1998, ao chegar no ABC de Natal (RN), avisou que levantaria o caneco e que chegaria ao estádio no clássico com o América (RN) montado em um jumento. O objetivo de motivar o torcedor potiguar foi atingido, mas em campo foi anulado e seu time perdeu para o rival por 2 a 0.

Convenhamos que Jacozinho passou dos limites quando entrou de ‘bicão’ no jogo festivo que marcou o retorno do meia Zico ao futebol brasileiro em 1985, deixando o ídolo contrariado: “Infelizmente tem pessoas que querem aparecer mais que os homenageados”. O recado tinha endereço do sergipano Jacó Santos Vasconcelos, 1,65m de altura e de condição técnica até razoável. Jogava pelas extremidades do campo, sabia driblar e tinha relativa velocidade. Jacozinho naturalmente não se perturbou com o ‘pito’ do dono da festa, que havia retornado ao Flamengo após dois anos de futebol italiano, no Udinese. Gabava-se na descrição do gol que marcou naquele jogo, após entrar em campo quando faltavam vinte minutos para o final. “O Maradona me lançou, driblei o goleiro Cantarelli e fiz o gol”.

Jacozinho só conseguiu uma vaguinha entre os amigos de Zico por ingerência da TV Globo, após brincadeira do sarcástico repórter Mário Canuto, pedindo a inclusão dele na festa. O fato teve ressonância popular e ele se juntou a ídolos como Maradona, Edinho, Mario Kemps, Rumennigge e Falcão no time dos amigos de Zico, cuja volta à Gávea foi antecipada após problemas com o fisco italiano.

Passados 25 anos, a vida de Jacozinho mudou da água para o vinho. Se com farra e mulheres jogou no lixo o patrimônio construído na carreira, agora é um cidadão responsável, fixou residência em Vila Velha (ES), coordena escolinha de futebol para garotada, e converteu-se ao segmento ‘Atletas de Cristo’. Assim, as gozações do passado foram trocadas pela seriedade nos sermões sobre o evangelho. Seu sonho é se tornar pastor e levar mensagens divinas na China.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bahia, da fogueira à glória

Esse E.C. Bahia que hoje ressurge das cinzas, com retorno à elite do futebol nacional, já se queimou na fogueira do Campeonato Brasileiro da Série C durante o biênio 2006-2007. Ele também já fez tremer a Praça Castro Alves, de Salvador, com o histórico título do Brasileirão em fevereiro de 1989, ainda correspondente à edição de 1988. Nessa trajetória, a comemoração do acesso à Série B em 2007 perdeu impacto com a tragédia no Estádio Fonte Nova, na partida contra o Vila Nova (GO). É que um lance da precária estrutura da arquibancada do estádio ruiu e o desabamento provocou morte de sete pessoas.

O ápice do E.C. Bahia foi em 1989 com o título inédito. Ao som estridente de trios elétricos, milhares de fanáticos torcedores improvisaram o Carnaval mais prolongado de Salvador. Na final daquela competição contra o Inter (RS), os valentes baianos arrancaram empate sem gols em Porto Alegre, e ganharam de virada, por 2 a 1, em Salvador.

O comandante daquele grupo foi o experiente treinador Evaristo Macedo, um dos craques das décadas 50/60 no Flamengo e Real Madrid da Espanha. O principal líder e jogador decisivo do time baiano em 1989 foi o meia Bobô, justamente quem mais festejou a conquista "É nossa, é nossa", gritava enquanto exibia e beijava a taça. E quando questionado sobre a grande virtude de seu time, destacou a humildade. Evidentemente também realçou o talento de alguns, velocidade de outros e aplicação de todos.

A unidade daquele predestinado time do Bahia dispensava os tradicionais trabalhos extra campo de macumbeiros. Paradoxalmente, foram torcedores do Inter, na partida no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre, que fizeram despachos com galinha preta, garrafa de pinga, farofa e outros ingredientes indispensáveis para o "servicinho". Tudo isso bem à frente da porta do vestiário do time visitante.

Claro que o folclórico torcedor "Loirinha", do Bahia, jamais dispensaria outro "servicinho", para que seu time não corresse risco na decisão em casa. Contudo, nem precisava evocar qualquer ajuda do além. O time baiano "voava" em campo e dava canseira em qualquer adversário com os meias Bobô e Zé Carlos, atacante Charles e volante Paulo Rodrigues.

Como tudo era festa no Estádio da Fonte Nova. Até o então prefeito de Salvador Fernando José Guimarães Rocha, ex-narrador esportivo, não resistiu à tentação e voltou ao microfone. Narrou os 15 minutos finais do primeiro tempo da decisão para a Rádio Sociedade da Bahia.

Quem supõe que o Bahia montou aquele time por acaso se engana. O planejamento começou em 1986 com a chegada da equipe nas oitavas-de-finais do Brasileirão. Depois a base foi reforçada.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Coritiba, o time ioiô

A definição gramatical do substantivo masculino ioiô é “brinquedo constituído de um carretel a que se enrola um cordel e se dá um movimento de rotação. Na linguagem popular essa palavra significa brinquedinho do sobe e desce. Trocadilho a parte, nos últimos anos o Coritiba FC tem sido um ioiô. Caiu à Série B do Campeonato Brasileiro em 2005. Voltou à Série A dois anos depois. Nova queda e traumática em 2009 e ‘ressurreição neste 2010.
O coritibano é um torcedor fiel. Na Série B em 2007, a média de público foi de 17.377. Ano seguinte, na elite, aumentou para 19.254. E reduziu só para 16.817 em 2009, apesar da fraca campanha que culminou com o rebaixamento após aquele empate em 1 a 1 com o Fluminense. Enfurecido, o apaixonado partiu para a selvageria. Invadiu o gramado do Estádio Couto Pereira e o alvo era jogadores do time e arbitragem. Policiais militares, no cumprimento do dever, foram protegê-los e acabaram atingidos com pedaços de madeira e pedras, um deles até desmaiando.
Aqueles baderneiros foram responsáveis pela severa punição imposta pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), com suspensão de 30 mandos de jogos do Campeonato Brasileiro e multa de R$ 610 mil. A pena foi abrandada após recurso, com redução da multa para R$ 100 mil e dez jogos fora, marcados para Joinville (SC), provocando prejuízo de R$ 12 milhões após perda de borderô, número de associados, placas publicitárias e gastos com viagens. Apesar disso, o time se manteve sempre entre os melhores e o sonho do acesso se concretizou com a volta dos jogos em casa a partir de 18 de setembro passado, quando 30.114 torcedores acompanharam a vitória sobre a Portuguesa por 2 a 0.
Renasce, portanto, o grande ‘Coxa’, que marcou história no futebol brasileiro com o título nacional de 1985, na disputa em casa com o Bangu (RJ). Se no tempo normal foi registrado um empate em 1 a 1, o time paranaense foi mais eficiente na definição através dos pênaltis, venceu por 6 a 5, e a partir daí ídolos como os atacantes Lela, Zé Roberto e o goleiro Rafael Cammarota integraram a galeria de outros inesquecíveis nomes como os dos meio-campistas Tostão nos anos 80 e Dirceu Krüger nas décadas de 60/70.
A rigor, em 1970, vítima de jogada violenta, ele quase morreu após ruptura das alças intestinais. Por sorte, voltou aos campos justamente num período dourado da equipe, que contou com o irreverente ponta-de-lança Zé Roberto, carrasco do Coritiba quando passou pelo rival Atlético-PR. Hoje, radicado em Serra Negra - estância mineral do interior paulista -, ele não mente quando esnoba para os garotos de sua escolinha de futebol que foi um invejável cabeceador. Integrou um dos melhores times do Coritiba na temporada de 1973.

Pode-se dizer que o goleiro Rafael, que chegou ao clube na década de 80, foi superior a Jairo. Rafa, na iminência de completar 57 anos de idade, não deu certo no Corinthians, onde desabrochou para o futebol, mas se identificou com o Coritiba nos sete anos em que lá esteve. Ele ainda é lembrado pelo arrojo, boa colocação e sobretudo pela regularidade.

O que falar do bauruense Reinaldo Felisbino, o Lela, que além de pai dos boleiros Richarlyson, do São Paulo, e Alecsandro, do Inter (RS), fez história no Coritiba, culminando com a faixa de campeão brasileiro em 1985? Ele jogou num time formado por Rafael; André, Gomes, Heraldo e Dida; Almir, Marildo e Tóbi; Lela, Índio e Edson. Lela é um baixinho de pernas curtas com histórico de atacante hábil, veloz e boa finalização.
Apesar da "ressaca" pela conquista do título brasileiro, os cartolas não se descuidaram de reforços. Foram buscar no futebol matogrossense o talentoso e goleador meia Tostão em 1986, cujo nome de batismo é Luís Antônio Fernandes, natural de Santos (SP).Tostão recebeu o apelido pelas características semelhantes ao consagrado Tostão, do Cruzeiro.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dorval, boleiro da noite

O folclórico ex-centroavante Dadá Maravilha estava cheio de razão quando eternizou a frase “uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa”. Se nos gramados, há 50 anos, o ponteiro-direito Dorval foi aplaudido pelo futebol ágil e veloz, convenhamos que agora fiscais de portaria da FPF (Federação Paulista de Futebol) não têm a obrigação de reconhecê-lo e distingui-lo dos demais torcedores, franqueando o acesso dele em estádios de futebol.
Em abril passado, quando o time do Santos decidiu o título do Campeonato Paulista contra o Santo André, a mídia alardeou que Dorval havia sido barrado por homens da FPF quando tentava entrar no Estádio do Pacaembu, e que foi preciso a intervenção do presidente do clube, Luís Álvaro de Oliveira. Chateado com a situação, Dorval lembrou que em outras ocasiões teve que pegar fila e comprar ingresso. “Dá pra acreditar? Não é pelo dinheiro do ingresso. Será que por tudo que os ex-jogadores fizeram pelos clubes não mereciam ter esse privilégio?”
Justo seria se a própria FPF e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) expedissem credenciais a ex-atletas de futebol com relevantes serviços prestados em seus clubes, para que tenham livre acesso nos estádios. Evitaria constrangimentos.
Dorval Rodrigues, nascido em Porto Alegre (RS), foi mais um dos boleiros que fez história no futebol pela obstinação. Na adolescência foi engraxate antes de ser aprovado em testes no juvenil do Grêmio (RS). A profissionalização ocorreu no extinto clube gaúcho Esporte Clube Força e Luz, aos 17 anos de idade. Aos 19 anos desembarcou em Santos sabendo que de imediato não substituiria Alfredinho Sampaio. Assim, concordou com o empréstimo do passe ao Juventus, para se familiarizar com o futebol paulista.
Ainda em 1957 assumiu a camisa sete do Peixe. Posteriormente integrou o melhor quinteto ofensivo do futebol mundial de todos os tempos: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Eles tiveram participação decisiva na conquista do bicampeonato mundial interclubes do Santos, no biênio 62-63, época em que editores de jornais priorizavam publicações de fotos posadas de equipes a flagrantes de lances ilustrativos. E naquelas fotos, quando Dorval geralmente aparecia sentado na bola, as variações de jogadores se incidiam mais na lateral-direita com Olavo, Ismael e Lima. A defesa era completada com Mauro, Calvet e Dalmo. Zito era o volante, por vezes substituído pelo coringa Lima.
Naquele período o Santos jogava em intervalos até inferiores de 48 horas, para cumprir agendas de excursões no exterior. A rigor, o que Dorval mais sentia falta do Brasil naquelas viagens era a ‘trégua’ forçada da vida de boêmio. Como na época treinava-se apenas no turno vespertino, o sono perdido nas madrugadas era compensado durante as manhãs. E Dorval confessa que ainda hoje, aos 74 anos de idade, gosta de baile da saudade.
Em 1964, o passe do ponteiro foi negociado com o Racing da Argentina. Na despedida da Vila Belmiro, confessou a decepção por não ter disputado uma Copa do Mundo. “Em 1962, eu e o Garrincha éramos os melhores pontas do país, mas só ele foi convocado pelo técnico Aimoré Moreira”, lamentou, ficando o histórico de apenas 13 partidas pela Seleção Brasileira. Um ano antes, paradoxalmente, Dorval foi incumbido de marcar Mané Garrincha após expulsão do lateral-esquerdo Dalmo, do Santos, em partida contra o Botafogo (RJ). “Dei conta do recado”, gabou-se o jogador santista.
Com o calote parcial da dívida do Racing, o Santos recebeu Dorval de volta em 1965, e lá ele ficou por mais dois anos. Depois teve rápida passagem pelo Palmeiras e queimou os ‘últimos cartuchos’ no Atlético (PR) até 1971.
Dorval ainda precisa trabalhar para garantir o seu sustento. Sua atividade é orientar garotos de até 16 anos de idade no Clube Escola Temático de Futebol Ferradura, no bairro do Jabaquara, na capital paulista. E os fundamentos principais que ensina são chute e passe.

sábado, 30 de outubro de 2010

Bebeto, da bola à política

O consagrado Bebeto, tetracampeão mundial da Seleção Brasileira de Futebol em 1994, será identificado como o nobre parlamentar José Roberto Gama de Oliveira a partir de 1º de fevereiro de 2011. Os 28.328 votos recebidos na eleição à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, no último dia 3 de outubro, renderam-lhe o 62º lugar entre os 70 eleitos, na disputa com 1.643 candidatos.
Bebeto receberá tratamento de V. Ex.ª e nobre deputado. Será cortejado pela base aliada para votar projetos enviados pelo Executivo, e de certo a sua assessoria vai implementar propostas como a de resgate de meninos de rua de 6 a 16 anos de idade, como prolongamento do Instituto Bola Para Frente que criou em 2000, em companhia do colega Jorginho, ex-auxiliar técnico de Dunga na Seleção Brasileira.
Baiano de Salvador e filiado ao PDT desde 2009, Bebeto não tinha projeto de ingresso imediato na vida pública. A prioridade era ‘decolar’ na carreira de treinador de futebol, e o primeiro degrau da escala foi no América (RJ), através da oportunidade dada pelo então coordenador técnico Romário. Os resultados de jogos não foram satisfatório, Bebeto acabou demitido, e aí se explica o desafio de disputar eleição legislativa, se bem que já havia aflorado o comportamento político ao acender uma vela para o Flamengo e outra ao Vasco. “A camisa do Flamengo realmente é um manto sagrado”. “Na infância, eu tinha admiração pelo Vasco, um clube espetacular”.
Sua aparição no futebol deu-se no Vitória (BA) em 1983, onde retornou em 1997, patrocinado pelo Banco Excel-Econômico. A transferência ao Flamengo pouco depois da profissionalização deu-lhe visibilidade nacional e os títulos do carioca em 1986 e da Copa União em 1988. Na época já havia se especializado em marcar gols de voleio.
O contrato que assinou com o Vasco em 1989 ainda não foi bem digerido por flamenguistas. Isso foi perceptível na segunda passagem pela Gávea em 1996.
No Vasco ganhou o Brasileirão em 1989 e o Campeonato Carioca em 1992, ano em que se transferiu ao La Coruña. Ele ficou na Espanha durante três temporadas, e ainda no exterior jogou no Sevilla da Espanha, Toros Neza do México, Kashima Antlers do Japão e Al-Ittihad da Arábia Saudita em 2002, quando encerrou a carreira aos 38 anos de idade.
Como atacante hábil e oportunista teria lugar certo na Seleção Brasileira. Isso aconteceu de 1986 até 1998 na Copa do Mundo da França, ano em que também defendeu o Botafogo (RJ) e faturou o título do Torneio Rio-São Paulo. Antes disso passou pelo Cruzeiro e depois foi registrada a segunda passagem pelo Vasco.
Agora Bebeto torce pelo filho Matheus, ídolo do juvenil do Flamengo, homenageado quando nasceu em 1994. No gol marcado contra a Holanda, na Copa dos EUA, ele lançou a coreografia embala-neném.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

50 anos de Diego Maradona

Uma verdade que o brasileiro tem que reconhecer: Diego Armando Maradona foi o segundo melhor jogador de futebol do mundo de todos os tempos. E ao completar 50 anos de idade neste 30 de outubro, o argentino deveria refletir que poderia ter evitado muitas polêmicas, que empanaram um pouco o brilho de sua carreira de 692 jogos oficiais e 353 gols.
Como o ídolo serve de espelho aos fãs, pega mal o envolvimento dele com drogas. Em 1990, quando jogava no Napoli, a Federação Italiana de Futebol o puniu com suspensão de 15 meses por uso de cocaína em um jogo. Flagrado também na Argentina com o pó maldito, a sentença indicou que se submetesse a tratamento terapêutico.

Adiantou? Claro que não. Em 1994 - radicado novamente na Argentina - prometeu reviravolta na Copa dos Estados Unidos. Promessa apenas. Bastou ser indicado ao exame antidoping para que localizassem efedrina em sua urina. E lá se foram mais 15 meses de suspensão.

Em 1996 ele concordou com internação em uma clínica para reabilitação de viciados na Suíça, e projetava assinar alguns bons contratos em clubes argentinos e equatorianos. Um ano depois se envolveu no terceiro escândalo de doping, por cocaína, quando jogava no Argentino Junior. Assim decretou o fim da carreira como jogador, e continuou a fase de turbulência com a separação conjugal.
Amigo do ex-presidente cubano Fidel Castro, concordou com internação em clínica de reabilitação de Havana, em 2000. Depois, submeteu-se a uma cirurgia para redução de estômago, que implicou na perda de 27 quilos. A recompensa foi a recuperação da auto-estima, contrato como apresentador de programa de televisão, projeto para lançamento de um livro sobre a sua vida, e o comando técnico da seleção argentina para as Eliminatórias e Copa do Mundo de 2010. Aí viu-se um Maradona com a velha irreverência, ao afirmar que desfilaria pelado pelas ruas de Buenos Aires caso o seu selecionado conquistasse o título.
Melhor, então, ficarmos com a bela história de ‘cracasso’ de bola, que começou a ser construída aos 16 anos de idade no Argentino Junior. Aos 17 anos já integrava a seleção argentina, e no ano seguinte foi injustiçado pelo técnico Cesar Luiz Menotti, que não o convocou à sua seleção à Copa do Mundo de 1978, com a infundada justificativa de que era um atleta muito jovem.
O troco veio um ano depois. Com a tarja de capitão, levou seu país ao título mundial de juniores, no Japão. Em 1982, com 22 anos, jogava no Barcelona, da Espanha. A partir de 1984 encantou o mundo com a camisa do Napoli, da Itália. Assim, não foi surpresa quando carregou sua seleção nas costas na Copa de 1986, no México, levando-a ao bicampeonato mundial. Em 1990, na Copa da Itália, quase repetiu o feito com jogadas geniais, e saiu com o honroso vice-campeonato.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Rondinelli, o ‘Deus da Raça’

Crianças e adolescentes das décadas de 50 e 60 cresceram e amadureceram convivendo com o indispensável conceito de ‘raça’ durante partidas de futebol. A bola já era disputada como um faminto em busca de prato de comida. Metaforicamente dizia-se que saía ‘faísca’ em bola dividida, e quem tirava o pé era chamado de ‘pipoqueiro’.
Naqueles tempos prevalecia a chamada bola de capotão, de cor marrom, com tamanho diversificado. Circunferência e peso aumentavam gradualmente, de forma que a de número cinco - numa escala que começava do um - era considerada a bola de maior tamanho e mais resistente. As menores nem sempre suportavam o impacto das chamadas ‘prensadas’ e estouravam para tristeza da molecada.
Se você imagina ter visto tudo nessas divididas, talvez desconheça que o ex-zagueiro Rondinelli, do Flamengo, tenha sido o único jogador de futebol profissional que ousou dividir a bola com a cabeça contra o pé esquerdo de Roberto Rivellino, na época atleta do Fluminense, num Fla-Flu dos anos 70. E devido aquela entrega até desmedida, pelo estilo vigoroso sem usar violência, e a concepção de que em futebol não se tem bola perdida, passou a ser identificado como ‘Deus da Raça’.
Não bastassem as aplaudidas virtudes, levou o torcedor rubro-negro ao delírio aos 42 minutos do segundo tempo da decisão do título do Campeonato Carioca de 1978, contra o Vasco, quando acertou uma testada fulminante e indefensável para o então goleiro Leão, após cobrança de escanteio do meia Zico. Aquela cabeçada no dia 4 de dezembro mais parecia um chute e foi repetida dezenas de vezes, entrando para os anais do futebol.
Rondinelli comemorou efusivamente aquele título com companheiro como Raul Plasmman, Marinho, Adílio, Júnior e Zico. As imagens que correram o mundo também mostraram a antiga dependência do Estádio do Maracanã batizada de ‘geral’, com agitação incontida da ‘galera’. Ali, podiam se aglomerar mais de 30 mil pessoas até o dia 25 de abril de 2005, num jogo entre Fluminense e São Paulo. Por imposição da Fifa e cumprimento sintomático da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o setor foi desativado provocando lamentação de assíduos freqüentadores. Inconsolados, muitos beijaram o chão do local após aquele jogo, discordando da lei vigente da Fifa que impede qualquer torcedor de assistir jogos de futebol em pé.
Rondinelli foi convocado cinco vezes à Seleção Brasileira. Em 1981 foi jogar no Corinthians, sem o mesmo sucesso dos tempos de Flamengo. Jogou ainda no Vasco, Atlético (PR), Goiânia, Goiás e Bonsucesso, onde encerrou a carreira de jogador, sem contudo sair do meio. Tentou se treinador, mas sua grande tacada foi a escolhinha de formação de atletas na cidade natal de São José do Rio Pardo (SP). Lá revelou o meia Andrezinho, atualmente no Inter (RS), levando-o inicialmente ao Flamengo, quando ele tinha apenas nove anos de idade.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mané Garrincha faria 77 anos

Fosse vivo, Mané Garrincha completaria 77 anos de idade neste dia 28 de outubro. Eis aí uma história de um dos dez melhores jogadores do planeta de todos os tempos que chegou ao fim da vida de pileque em pileque. Ele foi se destruindo até a morte no dia 20 de janeiro de 1983, deixando um exemplo que não deve ser seguido por boleiros: refúgio no álcool quando param de jogar futebol.
Há quem exagere ao citar que Mané foi melhor que Pelé. O jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues - já falecido - costumava dizer que “Mané era a única sanidade mental do país”. Por quê? “Ele não precisava pensar”, justificava o jornalista.
Na prática Mané não suplantou Ronaldo Fenômeno e Pelé, entre os brasileiros, cujas histórias no futebol são mais longas. No entanto, o carioca foi um driblador inigualável e irônico, pois todos os marcadores eram chamados de ‘João’. Com as suas pernas tornas os infernizavam aplicando dribles desconcertantes. A esquerda era cinco centímetros mais curta que a direita.
Mané Garrincha ‘explodiu’ na Copa do Mundo na Suécia, em 1958. Chegou à competição como reserva do flamenguista Joel, e entrou na equipe brasileira só na terceira partida, contra a extinta União Soviética. Aí, ‘arrebentou’ com o jogo. Posteriormente teve participação decisiva na conquista daquele título mundial e, folclore ou não, em meio às comemorações, dizem que se aproximou do capitão Belini e murmurou: “Eta torneinho curto e sem graça. Não tem nem segundo turno!”
Mané vivia a vida intensamente e de forma irresponsável, jamais dimensionando que o ídolo é mirado como exemplo. No auge da fama abandonava os treinos do Botafogo do Rio de Janeiro para caçar passarinhos e tomar cachaça com amigos de infância no distrito de Pau Grande, município de Magé, interior do Rio de Janeiro. Foi lá que nasceu e foi registrado no cartório civil com o nome de Manoel Francisco dos Santos.
Pode-se dizer que Mané vivia o hoje sem se importar com o amanhã. Não se apegava a bens materiais e gastava o dinheiro de salários e bichos sem dó. Sustentava pais, irmãos, parentes e torrava o resto com amigos em noitadas, bebedeiras e mulheres. Durante a farra contava piava e sorria à-toa. Era dos tais que socava a mesa e alardeava que em sua companhia ninguém pagava conta de bar.
Sem consciência dos malefícios de jogar contundido, as lesões em seu joelho foram se agravando e a queda de rendimento foi sintomática. Depois, quando as pernas já não obedeciam ao cérebro, teimava entrar em campo e passava vergonha. Era anulado com facilidade pelos adversários.
Corinthians e Flamengo acreditaram que pudesse repetir em campo algumas das incontáveis boas jogadas, porém sem sucesso.
Desportistas na faixa etária dos 40 anos de idade que não puderam ver os dribles de Mané Garrincha sequer em filmagens também reconhecem que ele foi ‘a alegria do povo’.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Urubatão, um disciplinador

Urubatão Calvo Nunes não foi um jogador de futebol acima da média nos tempos do grande Santos das décadas de 50 e 60. Também foi um treinador apenas razoável. Apesar disso, cravou uma história na carreira para merecer algo além de um mero registro, se tanto, quando de sua morte no dia 24 de setembro passado.
Urubatão tinha 79 anos de idade quando foi vencido por um tumor cerebral e outro no pulmão. Antes de adoecer transformou-se em comentarista de futebol no rádio de Santos, cidade onde estava radicado quando deixou de treinar clubes.
Nascido no Rio de Janeiro, Urubatão jogou no pequeno Bonsucesso até ser descoberto pelo Santos em 1954, onde disputou posição com o volante Zito e o zagueiro Formiga. Lá foi bicampeão paulista em 1955/56 na condição de reserva. Eis os titulares: Manga; Hélvio e Ivan; Ramiro, Formiga e Zito; Tite, Jair da Rosa Pinto, Pagão, Del Vechio e Pepe.
Já em 1959, ainda no Santos vice-campeão regional, após derrota para o Palmeiras por 2 a 1, foi titular na patota formada por Laércio; Getúlio, Dalmo, Formiga e Feijó; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Urubatão deixou o Santos em 1961 com histórico de títulos e caminho facilitado para chegar à Seleção Brasileira, onde atuou uma vez: dia 7 de junho de 1957, na derrota para a Argentina por 2 a 1, no Estádio do Maracanã, em jogo que marcou a estréia de Pelé no selecionado. Sílvio Pirilo era o técnico.
Depois disso, foi destaque na mídia quando integrava o time da Ponte Preta no Campeonato Paulista da segunda divisão de 1964, com término somente no dia 7 de março de 1965, no Estádio Moisés Lucarelli, em Campinas, na derrota da Ponte para a Portuguesa Santista por 1 a 0, gol do atacante Samarone, na finalíssima. Aquele time pontepretano tinha Aníbal (Fernandes); Valmir e Antoninho; Ivan, Sebastião Lapola e Jurandir; Jair, Ari, Da Silva, Urubatão e Almeida.
Como treinador, Urubatão foi rigoroso no aspecto disciplinar nas passagens por Portuguesa, Coritiba, Colorado (atual Paraná Clube), Londrina, Fortaleza e principalmente clubes do interior de São Paulo como Noroeste, América e Araçatuba. Não permitia intimidade dos comandados, e exigia boa aparência e pontualidade nos treinos. Supersticioso, impedia que jogadores tomassem banho antes dos jogos, com a infundada justificativa que isso atrapalhava o aquecimento.
Arrogante, às vésperas dos jogos afirmava que a sua preocupação não era com o adversário, e sim com o seu time. A justificativa pode ser interpretada em uma repetida frase: “Quem sabe me ensina. Quem sabe igual me lembra. Quem sabe menos bate palmas”.
No banco de reservas, Urubatão dava mau exemplo ao acender um cigarro com o ‘toco’ de outro. A boleirada não reclamada daquela famaceira por motivos óbvios, se bem que a maioria também era fumante naquela época. Hoje, no Brasil, quem fica no banco com os jogadores evita o cigarro.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

De Sordi fica fora da foto

Se o São Paulo já foi um clube modelo por contratar ou formar em casa bons laterais-direitos, paradoxalmente continua improvisando o volante Jean na função. Já abasteceu a Seleção Brasileira com os laterais Cicinho, Cafu, Zé Carlos e De Sordi. Também contou, na década de 70, com o botinudo uruguaio Pablo Justo Forlan - absoluto no selecionado celeste -, e o regularíssimo Nelsinho Batista, hoje treinador de futebol.
Da leva de bons laterais-direitos do passado do São Paulo, um deles vive de sombra e água fresca: o piracicabano Nilson de Sordi, que em fevereiro passado completou 79 anos de idade. Recentemente ele trocou o sossego na fazenda da família em Bandeirantes - interior do Paraná - pela vida pacata em João Pessoa, capital da Paraíba, cidade fundada em 5 de agosto de 1585, a segunda mais verde do planeta, superada apenas por Paris, capital da França.
A convivência com os receptivos paraibanos serviu para De Sordi ouvir incontáveis histórias de pescadores, que exercem uma das principais atividades econômicas de João Pessoa. Lá também pôde se aproximar de dois filhos agrônomos.
Embora vitimado pelo Mal de Parkinson e tenha dificuldade para falar, está lúcido. Lembra que em 1952 trocou o XV de Piracicaba (SP) pelo Tricolor paulista aos 18 anos de idade. Não se cansa de repetir a história da final da Copa do Mundo de 1958, quando ficou de fora do time e da foto oficial do título mundial brasileiro em decorrência de uma contusão muscular na fase semifinal, contra os franceses. “Teve gente que falou que eu amarelei. Na verdade levei em conta a temeridade de entrar em campo machucado. Na época, a Fifa não permitia substituição. Caso arriscasse, podia prejudicar o time”, explicou.
Azar de De Sordi, sorte de Djalma Santos que jogou apenas na final contra a Suécia, em Estocolmo, na goleada brasileira por 5 a 2, e foi considerado o melhor jogador da posição daquele Mundial. Terminava ali a trajetória de De Sordi na Seleção Brasileira, com 25 jogos. Depois, ficou no São Paulo até 1965, onde comemorou os títulos do Paulistão de 1953 e 1957. Aquele São Paulo de 1957, campeão após vitória por 3 a 1 sobre o Corinthians, era formado por Poy, De Sordi e Mauro; Sarará, Vitor e Ribeiro; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro.
Na época o treinador era o húngaro Bela Gutman, que logo na chegada fixou estacas de madeiras no gramado e pediu aos jogadores que acertassem a bola em cada uma delas, com chutes de 20m de distância. E só o provocador Gutman acertou todos os alvos.
De Sordi sobressaía-se na marcação, a exemplo dos laterais da época. Pouco se atrevia passar da linha demarcatória do meio-de-campo. Com vigor físico invejável, ganhava a maioria dos duelos com ponteiros e adicionava ainda coberturas no miolo de zaga. Apesar da estatura mediana - 1,71m de altura -, explorava a boa impulsão para rebater bolas de cabeça.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E o rádio hein?

Outrora locutores sugeriam aos ouvintes que ficassem com o som do rádio e imagem da televisão em partidas de futebol. Alegavam que o rádio era mais emotivo e informativo. Hoje, já não podem repetir a sugestão. O alto custo de uma transmissão interestadual praticamente a inviabiliza ‘in loco’ para a maioria das emissoras, que adotou o sistema denominado ‘off-tube’, ou seja: narrador, comentarista e repórter reunidos no estúdio de sua rádio com TV ligada no dito jogo. Ali descrevem lances e comentam. Esta é a dura realidade da categoria que não teve muitos motivos para comemorar o Dia do Radialista neste 21 de setembro.
Não bastasse esse retrocesso, o rádio esportivo de hoje perdeu a descrição perfeita de Pedro Luiz, romantismo de Fiori Giglioti, Valdir Amaral e Jorge Cury, empolgação do paranaense Lombardi Júnior e a criatividade de Osmar Santos, o divisor de água da categoria com frases marcantes do tipo “é ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha”. Um acidente de automóvel no interior paulista, em dezembro de 1994, tirou aquilo que ele tinha de mais precioso: a voz. Osmar fez sucesso nas rádios Jovem Pan, Record e Globo de São Paulo.
Jorge Cury se envolveu em um acidente que provocou a sua morte, aos 65 anos de idade. Foi em Caxambu, interior de Minas Gerais, no dia 23 de dezembro de 1985, pouco depois de ter se transferido da Rádio Globo para a Rádio Tupy, ambas do Rio de Janeiro, onde ficou marcado pelo vozeirão. Nas décadas de 70 e 80, Jorge Cury fazia dobradinha com o goiano Valdir Amaral, inventor de bordões para definir melhor os jogadores, um deles “Zico, o Galinho de Quintino”. E quando você ouvir o bordão “o meu relógio marca”, saiba que o locutor o está plagiando.
Em São Paulo, nos anos 50 e 60, a Rádio Panamericana liderava a audiência nas transmissões de futebol com a dupla Pedro Luiz e Edson Leite. Pedro Luiz teve uma leva de seguidores porque descrevia com fidelidade as jogadas. Seu estilo essencialmente descritivo permitia ao ouvinte a noção exata do local da bola, quem a conduzia, aquele que recebia o passe ou desarmasse a jogada. Essa riqueza de detalhes exigia dos repórteres capacidade para ganchos diferenciados visando a complementação do relato do lance. Ora retransmitiam o falatório da boleirada, ora precisavam a forma que o atacante pegou na bola. Afinados com os comentaristas, não se constrangiam em perguntar por que fulano jogou tão mal.
Ainda em São Paulo, a década de 70 foi do narrador Fiori Gligliotti, já falecido, na Rádio Bandeirantes. Sua marca registrada quando a bola rolava era “abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”. Quando se referia ao ponteiro-esquerdo Edu, do Santos, o bordão era “Era, o moço que veio de Jaú”.
Histórias de profissionais talentosos permanecem no rádio, mas saudosistas cobram transmissões com revalorização do passado ou a busca de algo novo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Joel Santana, beque grosso

Joel Natalino Santana completará 62 anos de idade no dia de Natal. Seu perfil como treinador é daqueles que jogam com o time. Fica agitado à beira do gramado, e na maioria das vezes extrapola o espaço no retângulo demarcado como área de atuação. Aos berros, alerta a boleirada para cercar espaços do adversário, e não perde a mania de ‘cantar’ jogadas aos comandados. Por vezes esquece de anotações de praxe na indispensável prancheta que carrega embaixo do braço.
Joel foi boleiro durante aproximadamente 15 anos nas décadas de 60 e 70. Consta de seu currículo quatro títulos estaduais na passagem pelo América de Natal (RN) e dois quando defendia o Vasco. Nem por isso faz jus à inclusão de seu nome na galeria de ídolos. Realista, confessou ao apresentador de televisão Jô Soares que foi um zagueiro lento e sofria com os atacantes. Saudosistas o identificaram como jogador viril e lembraram de um entrevero quando ele marcou Pelé. Irritado com as botinadas, o atacante santista derrubou Joel com cotovelada, pediu que se levantasse, e avisou que “quem gosta de bater tem que aprender a apanhar”. Claro que teve troco na primeira oportunidade.
A rigor, não se pode dizer que Joel tenha sido titular absoluto ao longo da carreira. No título do Campeonato Carioca do Vasco de 1970, sequer apareceu na foto. A vitória histórica sobre o Botafogo por 2 a 1, no Estádio do Maracanã, significou a interrupção de jejum de títulos de 12 anos. Élbua de Pádua Lima, o Tim, técnico vascaíno na época, escalou a dupla de zaga com Renê e Moacir, num time formado por Andrade; Fidélis, Renê, Moacir e Eberval; Alcir e Bugle; Luís Carlos, Ferreira, Silva (Valfrido) e Gilson Nunes. No primeiro turno daquela competição Joel atuou apenas nas primeiras partidas contra Bonsucesso e Madureira.
Quatro anos depois o Vasco comemorou o título do Campeonato Brasileiro com Joel Santana novamente fora do time, bastante modificado: Andrade; Fidélis, Moisés, Miguel e Alfinete; Alcir e Carlos Alberto Zanata; Jorginho Carvoeiro, Ademir, Roberto Dinamite e Luís Carlos. O jogo da final contra o Cruzeiro foi igualmente no Estádio do Maracanã, com 112.933 espectadores. O volante Alcir Portela morreu no dia 29 de agosto de 2008, vítima de câncer.
Como treinador, Joel repassou dezenas de clubes no Brasil e exterior. Tem mercado consolidado no futebol asiático e treinou a Seleção da África do Sul até pouco antes da Copa do Mundo de 2010. Foi lá que acabou ironizado por causa de seu derrapante inglês.
Joel é tido como ‘rei do Rio’ por causa de títulos conquistados no comando de Botafogo, Flamengo, Vasco e Fluminense. Tem fama de recuperar equipes ‘caindo pelas tabelas’ pelo trabalho, carisma e confiança que transmite ao grupo. Na concentração não dorme antes de percorrer os quartos e desejar boa noite à boleirada.

Menores nos estádios

Maldosamente, há mais de uma década, botaram ‘tramelas’ em bocas de locutores de serviço de som de estádios, para divulgação de público e renda dos jogos. Coordenadores dos setores de arrecadação também já não levaram tais informações à beira de gramados para repórteres de rádio, que tampouco se esforçaram em buscá-las. Sites e jornais, na maioria das vezes, também não informam. Por comodismo ou dificuldade, citam ‘renda e público’ não informados.
Coincidência ou não, o fato passou a ser registrado bem antes da vigência do Estatuto do Torcedor em 2003. O artigo 5, parágrafo único, inciso 4, cita a obrigatoriedade de entidades promotoras de campeonatos oficiais de futebol pela divulgação de borderôs completos em seus respectivos sites, como se a maioria dos freqüentadores de estádios tivesse conexões de internet.
Convenhamos que a divulgação de público pagante bem inferior ao real já não causava perplexidade aos torcedores, face às constantes repetições do erro. “O estádio encolheu”, ironizavam alguns. “Mais uma vez passaram a mão na renda”, era a frase característica dos céticos.
Na época, no ‘olhômetro’ era possível projetar o público aproximado de uma partida. Nas rodinhas os torcedores arriscavam prognósticos do total de espectadores nos estádios e a diferença entre eles era pequena. Talvez o último grande público em jogos do Campeonato Brasileiro foi na finalíssima de 1980, no Estádio do Maracanã, com 154.355 pagantes e não pagantes, que acompanharam o título conquistado pelo Flamengo sobre o Atlético Mineiro, após vitória por 3 a 2.
Neste mesmo Maracanã foi registrado o recorde de público de jogos no Brasil, com 199.854 pessoas na final da Copa do Mundo de 1950, na vitória dos uruguaios sobre os brasileiros por 2 a 1. E hoje, por questão de segurança, o estádio encolheu. A lotação não excede 82.238 torcedores.
No recorde de público do Estádio do Morumbi, dia 9 de outubro de 1977, pagaram ingressos 138.032 pessoas, exceto os 8.050 menores credenciados que na época tinham livre acesso. Isso contrasta com o atual momento. Na maioria das vezes é cobrado deles a meia entrada, com 50% do valor integral do ingresso.
Bons tempos em que o menor de 12 anos não pagava ingresso, desde que acompanhado de pai ou responsável. Dizia-se que o acesso gratuito servia de estímulo para formar futuras gerações de torcedores. E parte da molecada de periferia ‘adotava’ um pai nas imediações das catracas dos portões de acesso dos estádios. “Moço, posso entrar com o senhor?”, implorava o garoto descalço e maltrapilho.
Evidente que os porteiros não se enganavam com a discrepância da dupla, mas faziam vista grossa. Aí, o menino desaparecia rapidamente na multidão, na doce ilusão de que havia enganado o porteiro.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ferroadas em palmeirenses

Com o aparecimento das torcidas organizadas na década de 70, começou a crescer os conflitos entre torcedores adversários. Os visitantes, geralmente em número inferior, levavam desvantagem nas brigas de braços, pernas, pedaços de paus e pedradas. Aí, quem apanhava prometia e cumpria desforra no jogo da volta, quando seu time era mandante.
A rivalidade fora de campo entre Ponte Preta e Palmeiras era maior do que no confronto entre palmeirenses e lusos. Como o público nos estádios totalizava quase o dobro se comparado à média atual, a segurança fugia do controle do policiamento, principalmente pós jogo nas imediações dos estádios.
Em julho de 1977, com o Estádio Moisés Lucarelli interditado por 30 dias pelo TJD (Tribunal de Justiça Desportiva) da FPF (Federação Paulista de Futebol), o jeito foi a Ponte Preta alugar o estádio do rival Guarani, o Brinco de Ouro, para mando dos jogos contra Palmeiras e São Bento.
A vitória do Palmeiras por 4 a 3 foi marcada por gol em posição de impedimento do polivalente Jair Gonçalves, e principalmente pelas ferroadas de abelhas em dezenas de palmeirenses concentrados na cabeceira norte, a de entrada do estádio.
Um torcedor pontepretano se vingou literalmente. Arquitetou um plano de transportar uma colméia em caixa de isopor, driblou a vigilância de portaria passando-se por sorveteiro, e levou a tal caixa aos últimos degraus do lance de arquibancada. Lá, descaradamente, pediu a torcedores que vigiassem seu isopor, com desculpa que sairia a procura de troco.
Curiosos de plantão esperaram o ‘sorveteiro de araque’ desaparecer na multidão para destaparem o isopor. Aí, o plano de surrupiar picolé saiu pela culatra. Depararam com furiosas abelhas que, ao sobrevoarem o local, deixaram nas vítimas as marcas do ferrão.
O consolo do palmeirense foi ver seu time vencer. Com três gols de Dicá a Ponte empatava em 3 a 3 até que Jair Gonçalves marcou o quarto gol do Verdão. Os outros foram anotados por Toninho Catarina (2) e Edu Bala.
A Ponte jogou desfalcada do goleiro Carlos, dupla de zaga formada por Oscar e Polosi, e atacante Rui Rei. O técnico Zé Duarte, já falecido, escalou Rafael: Jair Picerni, Eugênio, Élcio e Odirlei; Wanderlei Paiva, Marco Aurélio e Dicá; Lúcio (Wilsinho), Parraga e Tuta.
No Palmeiras atuaram Bernardinho; Romerito, Beto Fuscão, Mario Sotto e Zeca; Pires, Ademir da Guia e Jorge Mendonça; Edu Bala, Toninho e Vasconcelos (Jair Gonçalves).
Na época as competições regionais eram prioritárias no calendário anual brasileiro. O Paulistão de 1977, com 19 clubes, começou no dia 6 de fevereiro e se estendeu até 13 de outubro, quando o Corinthians quebrou um jejum de título de 23 anos, ao ganhar da Ponte por 1 a 0, gol de Basílio, na terceira e decisiva partida. Todavia, o recorde de público no Estádio do Morumbi foi registrado no segundo jogo daquela final: 138.806 pagantes e 8.058 menores credenciados. O público total foi de 146.864 espectadores.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Adeus a Waldemar Carabina

Há três anos a coluna cumpriu a sua missão de homenagear, em vida, o zagueiro Waldemar Carabina. No começo da noite do dia 22 de agosto, aos 78 anos de idade, quis o destino que ele reforçasse a seleção do céu. Morreu em decorrência do Mal de Alzheimer, e nada mais justo que a recapitulação de seu histórico.
Saudosistas dizem incansavelmente que o quarto-zagueiro Aldemar, do Palmeiras, foi o melhor marcador de Pelé. Estilo clássico, costumava tomar a bola do adversário sem fazer faltas. Morreu atropelado em Recife, em 1977.
Waldemar Carabina valia-se da força física para se prevalecer. Chegava junto nas divididas, e raramente levava desvantagem. Impunha-se também no jogo aéreo. No Palmeiras, passou da zaga central à quarta zaga com a chegada de Djalma Dias, em 1963. E gabou-se de ter anulado Pelé em algumas partidas: "Poucos o marcaram tão bem quanto eu".
Carabina entrou para a história do Palmeiras como o quinto jogador que mais vestiu a camisa do clube: 581 jogos, superado apenas por Ademir da Guia (901), Leão (617), Dudu (609) e Valdemar Fiúme (601). Assim, escreveu uma história de 12 anos no Verdão, marcada por 333 vitórias, 116 empates, 135 derrotas e nove gols. Fez parte do memorável time de 1959 que sagrou-se campeão paulista na final contra o Santos. Eis os campeões: Valdir Joaquim de Moraes; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo Murolo e Romeiro.
Foram três jogos extras para decisão do título, com empates nos dois primeiros - 1 a 1 e 2 a 2 - e vitória palmeirense, de virada, por 2 a 1, na derradeira partida, no Estádio do Pacaembu, com 45 mil pagantes. O grande Santos tinha Laércio; Getúlio, Formiga, Dalmo e Feijó; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Detalhe: naquela época a bola era marrom.
Outra saborosa experiência para o vigoroso Carabina foi em 1963, quando um time parcialmente modificado conquistou novamente o título paulista, formado por Valdir, Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Vicente Arenari; Zequinha e Ademir da Guia; Gildo, Servilio, Vavá e Rinaldo. Depois vieram o lateral-esquerdo Ferrari, quarto zagueiro Minuca, volante Dudu e atacantes Tupãzinho e Ademar Pantera, com a formação de um grupo que eternizou a academia palmeirense.
Carabina encerrou a carreira no Comercial de Ribeirão Preto. Foi lá, também, o início na função de treinador, marcada por significativo período em clubes de Norte e Nordeste até 2004. O Palmeiras lhe deu a chance de comandar a equipe em 1988 na Copa União e Campeonato Paulista, com trabalho aceitável. No São José, em 1989, fazia campanha razoável até que os intolerantes cartolas decidiram demiti-lo após quatro empates consecutivos. Na seqüência, o time joseense chegou à final do Paulistão e perdeu o título na disputa com o São Paulo, já com Ademir Mello no comando técnico.
Nas andanças por Recife, o site esportivo Pernambola revela um fato curioso no vaivém de Carabina pelo Santa Cruz. Após uma partida, no vestiário, o repórter Dalvison Nogueira esbarrou sem querer no treinador que, irado, explodiu: - Você tá cego, rapaz!
Quando o repórter explicou que não enxergava de um olho, justificou que era um olho de vidro adaptado, Carabina, envergonhado, não se cansou de pedir desculpas.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Picolé, um e-mail diferente

Semanalmente a coluna recebe dezenas de e-mails de toda natureza, um deles do ex-atacante Picolé, revelado pelo Noroeste de Bauru (SP), com passagem pelo Palmeiras de 1976 a 1979. A sequência do currículo ele mesmo conta na mensagem. O apelido de Picolé foi eternizado, mas na assinatura de documentos se identifica como o empresário de futebol José Manoel Ricardo, 54 anos de idade, radicado em Curitiba (PR). Ele fez comentários sobre o texto referente ao sexto ano da morte do lateral-direito Mauro Cabeção, transcrito textualmente abaixo.
“Ariovaldo, queria parabenizá-lo pela lembrança do meu grande amigo Mauro Cabeção. Estivemos juntos na seleção olímpica de 1976. Os laterais eram ele (Mauro) e Rosemiro. É muito bom quando alguém lembra dos ex-jogadores. Em um país sem memória, quando alguém faz esse tipo de reportagem, é de ser louvado. Grande trabalho. Só assim poderemos resgatar o passado de um clube. Veja que quando o clube não reverencia seu passado não tem presente. E se tem é deplorável.
Parabéns uma vez mais. Fiquei feliz, mesmo sendo uma homenagem póstuma. É muito legal ver histórias dos grandes ídolos. Infelizmente vivemos, como já dizia Teseu na mitologia grega, ‘rei morto, rei posto’, principalmente no futebol, onde aquele bonequinho com números nas costas é reverenciado, amado e querido enquanto joga. Passa de bestial a bestial (ditado espanhol) em apenas 90 minutos. Depois que pára começa o esquecimento, dependendo de pessoas humanas, como você, para resgatar o que de bom passou pelo nosso esporte bretão.
O que nos faz refletir é que com 32 anos de idade o atleta de futebol é velho. Com 35 é jurássico rsss. É a única profissão que aos 35, 36 anos se torna ‘ex’. Por isso se entende quando alguns não pensam no futuro. É tão rápido que, quando dão por si , já são ‘ex’.
Obrigado pela atenção. Sou José Manoel Ricardo (Picolé). Comecei no Noroeste de Bauru, depois Palmeiras, Grêmio Maringá, Puebla do México,Taubaté, Atlético Paranaense. Como ‘ex’, rssss , técnico no Sul . Fique com Deus, e obrigado pelo carinho com os ‘ex’”.
No comentário, Picolé interpreta o pensamento da maioria dos ex-boleiros, como se a grandiosidade de uma história fosse apagada. Infelizmente isso é fruto da cultura brasileira. Por isso, neste modesto espaço, busca-se resgate de valores, sem se restringir a biografias. As histórias são apimentadas com descrição de fatos curiosos, hilariantes e trágicos.
Por que o apelido Picolé? Tudo porque o então Zezinho, já uniformizado com a camisa do infantil do Pirajuí - sua cidade natal - comprou um sorvete de cana e começou saboreá-lo com a bola em jogo.
- Passa bola Picolé – gritou um companheiro.
- Picolé é a mãe – retrucou o atacante. E porque esbravejou, de pirraça o time inteiro passou a chamá-lo de Picolé. Assim, braveza seria perda de tempo. Já não dava para remar contra a maré.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mauro Cabeção, boleiro da noite

Entre outras coisas, este agosto marca o sexto ano da morte do polêmico lateral-direito Mauro Campos Júnior, o Mauro Cabeção de Guarani, Portuguesa, Santos, Grêmio (RS) e Cruzeiro, de 48 anos de idade. A história dele na bola se prolonga na Seleção Brasileira. Participou dos Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá, em 1976, e três vezes na equipe principal, na década de 70.
Segundo versão do delegado de polícia de Nova Odessa (SP) da época, Antonio Donizete Braga, seis disparos tiraram a vida do ex-jogador no dia 6 de agosto de 2004. Braga citou que o crime foi passional e encomendado. Revelou também que dias antes do homicídio a vítima havia registrado boletim de ocorrência com relato de um triângulo amoroso, com envolvimento de sua companheira e uma outra mulher.
O pintor Felipe Delgado aceitou a oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa. E mais: receberia um adicional de R$ 100 por cada disparo. Claro que escondeu o rosto com um capuz, mas a polícia desvendou o assassinato qualificado, e a Justiça do município o condenou a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.
Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se divertia com a mulherada em boates. Apesar de noites mal dormidas, tinha disposição para o trabalho, e marcava bem hábeis ponteiros-esquerdos. Alguns abusados têm cicatrizes de botinadas.
O vigor físico permitia que Mauro também atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo no campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o gol.
Curiosamente não foi a vida desregrada que encurtou a sua vida no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos, como não fazia o vaivém constante, optou pela fixação no miolo de zaga, e deu conta do recado, a exemplo dos laterais Carlos Alberto Torres, Leandro e Djalma Santos. Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no meio da área.
Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), até que arrumaram-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo clube, e ensinava a molecada carente como se bate na bola.
À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas. Assim foi tocando a vida até a morte.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Baixinhos perdem espaço

As brincadeiras dos ‘meninos da vila’ chamam atenção pela irreverência e desproporção de altura entre a maioria e o atacante Madson Santos, 24 anos de idade completados em maio passado. Esse carioca do elenco santista, habituado a condição de reserva desde os tempos de Vasco da Gama, mede 1,59m de altura, estatura raramente observada nos atuais jogadores do futebol brasileiro. Isso contrasta com décadas passadas quando tamanho ‘não era documento’ para se pleitear vagas em elencos.
Na década de 60 surgiu para o futebol o rápido e habilidoso ponteiro-direito Ratinho, de 1,63m de altura. Como ele fazia salseiro pelo setor nas passagens por clubes catarinenses como Joinville e Marcílio Dias, a Portuguesa foi buscá-lo em 1965, e a sua torcida não cansou de aplaudi-lo.
Na Lusa, Ratinho jogou em companhia do zagueiro e volante Ulisses, falecido em maio passado, vítima de infarto. Ambos participaram do time de 1968 formado por Félix; Zé Maria, Jorge, Marinho Perez e Augusto; Ulisses e Lorico; Ratinho, Leivinha (Basílio), Ivair e Rodrigues.
As atuações convincentes premiaram Ratinho com a lembrança do nome entre os 40 pré-relacionados pela comissão técnica à Copa do Mundo de 1970, no México. Dois anos depois trocou a Portuguesa pelo São Paulo, e o encerramento de carreira foi no Joinville em 1978.
Justamente quando passou a dedicar mais tempo à família, e profissionalmente se identificava como o empresário Heitor Martinho de Souza, morreu tragicamente após colisão frontal com envolvimento de seu veículo Gol, que se transformou num amontoado de lata retorcida. A motorista de um automóvel Golf perdeu a direção e invadiu a pista contrária em uma curva de uma estrada que dá acesso ao Balneário Barra Sul, de Santa Catarina. Resultado: dos passageiros no veículo dirigido por Ratinho, o único sobrevivente foi seu filho Heitor Martinho de Souza Filho, hoje com 33 anos de idade. O balanço foi de seis mortos, cinco deles da família do ex-jogador: ele, esposa e três netos. O acidente ocorreu no dia 11 de fevereiro de 2001.
Dois outros exemplos de jogadores baixinhos que brilharam no futebol são o meia Edu - irmão de Zico- e Osni, ponteiro-direito que brilhou no Bahia de 1978 a 1985. Eduardo Antunes Coimbra marcou 212 gols apenas com a camisa do América (RJ) e entrou para a história do clube como um dos maiores craques de todos os tempos. Com 1,64m de altura e canela fina, entortou adversários de 1966 a 1974 no clube ‘vermelhinho’. Depois ainda passou por Vasco e Bahia antes de encerrar a carreira.
Osni Lopes, hoje radicado em Salvador (BA), tem estatura inferior a Madson: 1,56m de altura. Desabrochou no Vitória (BA) em 1971, e lá ficou durante cinco anos. Transferido para o Flamengo, sequer completou duas temporadas no Rio de Janeiro e já retornou à ‘boa terra’, só que na ocasião no rival Bahia, com os mesmos dribles e arrancadas fulminantes.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Muricy, recusa polêmica

Quem supõe que o técnico Muricy Ramalho seja o primeiro profissional do futebol a recusar convite para trabalhar na Seleção Brasileira está equivocado. Em 1986, quando o selecionado estava concentrado na Toca da Raposa, em Belo Horizonte (MG), o atacante Renato Gaúcho e o lateral-direito Leandro deram uma escapada para curtir a noite. Telê Santana (já falecido), treinador na época, cortou Renato do grupo e Leandro, em solidariedade ao companheiro, recusou disputar a Copa do Mundo do México.
O caso de Muricy Ramalho é diferente e controvertido. Se a maioria dos treinadores objetiva o topo na carreira, então como recusar convite da Seleção Brasileira? A justificativa de que o Fluminense não o liberou, que é homem de palavra, não é totalmente convincente, principalmente quando assegura que o contrato de dois anos de meio com o clube é verbal.
Discussão a parte, o certo é que Muricy tem currículo vencedor como técnico e jogador. Não esperem dele resultados imediatos. Aprendeu, desde os tempos de treinador de juniores do São Paulo, que o trabalho tem de ser planificado, e que as metas devem ser atingidas gradativamente. É um especialista no lançamento de garotos. Os exemplos estão aí, aos montes, desde as categorias de base e expressinho do Tricolor: goleiro Rogério Ceni e atacante Denílson são alguns.
Muricy aprendeu com mestre Telê Santana que não se pode abrir mão da disciplina. Adota com sabedoria uma cartilha de como o jogador deve se comportar disciplinarmente. Exige profissionalismo e determinação. Também tem disposição fantástica para o trabalho, principalmente no aspecto técnico. Assim, consegue corrigir defeitos e aprimorar virtudes de jogadores.
O reflexo do trabalho se traduz em títulos. Levantou caneco no Náutico (PE), conduziu o São Caetano à conquista do primeiro título do Paulistão, saboreou o título gaúcho de 2005 e foi vencedor no São Paulo. Claro que teve percalços na carreira de treinador, principalmente no interior paulista, nas passagens por Guarani e Botafogo de Ribeirão Preto.
Dos mais de 30 anos envolvido no futebol, passou a maior parte no São Paulo. Primeiro como jogador - e dos bons - na década de 70. Foi um ponta-de-lança de habilidade e tinha o hábito de partir com bola dominada sobre adversários. Embora finalizasse bem não era fominha. Servia o atacante Serginho Chulapa em jogadas de gols.
Coincidência ou não, Muricy participou de uma patota de boleiros com vocação para ser treinador de futebol, alguns com maior e outros com menor destaque. Jogou com o goleiro Waldir Peres, lateral-direito Nelsinho Baptista, zagueiro Arlindo, meio-campistas José Carlos Serrão, Chicão (já falecido) e Pedro Rocha, e o atacante Serginho Chulapa. Nesse período, era o típico jogador ranheta. Encrencava facilmente com treinadores, sem ser punido. Também ‘batia boca’ constantemente com companheiros de equipe, sem ser desleal.
Não é um estrategista de variações táticas que modificam resultados de jogos, mas compensa com trabalho planificado nos dias que antecedem as competições.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Di Stefano, ídolo mundial

Ainda em festa pela conquista inédita da Copa do Mundo da África do Sul, a Espanha reconta histórias de seus ídolos imortalizados, um deles Alfredo di Stefano Laulhe, centroavante categorizado e goleador entre os anos 40 até 1966. Ele fez história no Real Madrid, e sua grande frustração foi não ter disputado uma Copa do Mundo. No ápice da carreira ficou de fora do Mundial de 1962, no Chile, por causa de uma lesão muscular na perna.
Com currículo recheado de glórias, foi inserido na galeria dos principais jogadores do planeta de todos os tempos. Segundo a revista France Football, da França, só foi superado por Pelé, Maradona e o holandês Johan Cruyff. Isso o credencia a opinar sobre temas polêmicos, com grande repercussão na mídia européia.
Antes de completar 84 anos de idade, dia 4 de julho passado, Di Stefano pediu aos jogadores espanhóis que o presenteassem com o título do Mundial no continente africano, e o sonho se tornou realidade. Também fez questão de isentar o meia argentino Messi da responsabilidade de decidir partidas, embora o considere o melhor jogador de futebol do mundo na atualidade. Mesmo na fase de ‘oba-oba’ aos argentinos, alertava sobre deficiências do conjunto, transferindo culpa ao técnico Maradona, também considerado prepotente.
Apesar dessas restrições, reafirma opinião de 2008 quando o considerou o melhor jogador de futebol do mundo de todos os tempos, polemizando com a maioria dos desportistas que elegeu Pelé como inigualável.
Di Stefano justifica que Maradona ganhou o Mundial de 1986 no México, para a seleção Argentina, jogando em uma equipe apenas razoável, enquanto Pelé atuou em companhia de craques. “Quando alguém está ao lado de bons jogadores seu futebol cresce. É o caso de Pelé”, compara.
Também o jornal inglês ‘The Time’ colocou Maradona no pedestal no ranking dos dez mais de todos os tempos em Copas. Pelé ficou logo atrás, apesar do retrospecto de 1.284 gols marcados ao longo da carreira de 1.375 jogos. Em terceiro vem o alemão Franz Beckenbauer. E o outro brasileiro da relação é o atacante Ronaldo em oitavo lugar.
Controvérsia a parte, Di Stefano, filho de imigrantes italianos, surgiu por acaso no futebol. Nascido na Argentina, quando tinha 17 anos de idade foi chamado para completar um time de bairro e marcou três gols. Em 1945 encantou torcedores do River Plate. Dois anos depois integrou o selecionado argentino. Na sequência fez sucesso no Milionário da Colômbia, ocasião em que integrou a seleção de futebol daquele país, num período em que os colombianos foram banidos de competições no âmbito da Fifa.
Em 1952, Real Madrid e Barcelona brigaram pela compra do passe dele. O impasse só foi equacionado num acordo para que alternasse uma temporada para cada clube durante quatro anos. Naturalizado espanhol, vestiu a camisa da seleção do país a partir de 1957, totalizando 31 jogos e 23 gols. Depois foi bem sucedido como treinador.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Dunga, quatro Mundiais

Pelo menos provisoriamente sai de cena o polêmico Dunga, com currículo de quatro Mundiais de futebol, os três primeiros como jogador. Inicialmente ele carregou o estigma do derrotismo em 1990, na Itália. Depois foi campeão em 1994 nos Estados Unidos, vice em 1998 na França, e a sua última página foi na Copa do Mundo da África do Sul, ainda viva na memória de todos.
Em 1990 Dunga sofreu perseguição implacável com a geração perdedora do técnico Sebastião Lazaroni. Coube ao técnico Carlos Alberto Parreira dar-lhe chance de reabilitação em 1994. Com o futebol brasileiro pautado em rigorosa precaução defensiva e Romário se encarregando de decidir no ataque, o time, através do volante, levantou o caneco.
Aí seus defensores alardearam que o tempo havia se encarregado de fazer justiça a um jogador raçudo e com espírito de liderança invejável, contrapondo posição do treinador Mário Sérgio Pontes de Paiva, na função de comentarista da TV Bandeirantes: “Com Dunga escalado, o Brasil entra em campo com dez jogadores”, radicalizava, interpretando o pensamento de milhares de brasileiros que identificavam o volante como um dos principais responsáveis pelo fracasso na Copa da Itália.

A partir de 1994 Dunga não só respirou aliviado como se considerou dono do time, a ponto de extrapolar na Copa de 1998. Durante áspera discussão com o atacante Bebeto, na goleada sobre Marrocos por 3 a 0, deu-lhe uma cabeçada, e deveria ter sido expulso de campo.
Outro momento eternizado na carreira do volante foi quando, jogando novamente pelo Inter (RS), o meia Ronaldinho Gaúcho, na época meia do Grêmio, aplicou-lhe um desmoralizante chapéu num grenal histórico. Ali começava a despedida de Dunga como jogador de futebol. Saía de cena um meio-campista tido como ‘cabeça-de-bagre’ para alguns e personificação da garra para outros.
Dunga teve ascensão rápida no futebol. Em meados da década de 80 começava a saborear títulos estaduais pelo Internacional gaúcho. Em 1984, participou da seleção olímpica de futebol que foi vice-campeã em Los Angeles, nos EUA. Depois, jogou no Corinthians, Pisa, Pescara e Fiorentina da Itália. Na Alemanha também foi chamado de ‘xerifão’ na passagem pelo Stuttgar. E, em 1995, atuou no futebol japonês.
Anos depois de pendurar as chuteiras, ainda provocava controvérsia. Para alguns, peitadas, ‘carrinhos’, pontapés, desarmes e liderança exercida sobre o grupo - dentro e fora de campo - foram vitais para a conquista do tetra. Outros críticos não recuaram um milímetro sobre a posição formada sobre ele: lento e incapaz de passar bem a bola.

Antes da eliminação do Brasil na África do Sul, o dia mais triste de Dunga no futebol havia sido em 20 de março de 2000, quando assinou rescisão de contrato com o Inter (RS) e doou o cheque de R$ 372.560,31 para uma instituição de caridade. Aflorava, ali, o espírito benevolente do jogador, que criou o Instituto Dunga para ajudar crianças e adolescentes carentes do Rio Grande do Sul.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Paulo César, o Caju

Quando a Seleção Brasileira passou às oitavas-de-finais da Copa do Mundo da África do Sul, o ex-jogador Paulo César Caju botou a boca no ‘trambone’: “Tô de saco cheio. Esse não é o futebol brasileiro, com jogadores brucutus”.
Careca e barbudo, Caju interpretou o pensamento de milhares de brasileiros avessos ao futebol pragmático que o técnico Dunga havia programado para o seu selecionado. E falou com a autoridade de um tricampeão mundial na Copa do Mundo do México, em 1970, e um dos principais ídolos entre os anos 60 a 80, com passagens por Botafogo (RJ), Flamengo, Paris Saint-Germain (França), Fluminense, Corinthians e Grêmio (RS).
Caju é mais um exemplo de menino bom de bola dos morros do Rio de Janeiro que dá certo no futebol. E confessou seu instinto perverso e racista na adolescência, quando, nas brincadeiras de rua, chutava a bola de propósito para quebrar vidros de casas de vizinhos brancos.
A mãe, uma empregada doméstica, bem que o aconselhava a fazer uso de ferro quente para alisar os cabelos, mas ele preferiu acompanhar o modismo da época de cabelo black power, tingindo-o de amarelo, um disparate que resultou no apelo de Caju.
No auge da fama foi um boêmio incorrigível na alta roda do Rio de Janeiro. Usava perfumes importados e adorava jóias. Revistas de fofocas o flagravam em companhia de loiras belíssimas.
Quando deixou o futebol foi um consumidor de drogas durante 15 anos. Depois, recuperado do vício, passou a dar palestras a jovens, instruindo-os sobre os malefícios da maconha, crack e cocaína.
Uma das histórias marcantes na carreira do jogador foi no dia 16 de abril de 1970, no Estádio do Morumbi. O então técnico da Seleção Brasileira, Mário Jorge Lobo Zagallo, ousou escalá-lo no lugar de Pelé, no jogo amistoso contra a Bulgária, o penúltimo antes do embarque para o México, visando a Copa do Mundo.
Pelé atravessava o pior momento na carreira profissional, e enfrentava a dureza da reserva pela primeira vez, um castigo inaceitável para a torcida. E quando Caju apontou no gramado foi vaiado, não se abateu, mas o time só empatou sem gols. Na sequência, a equipe venceu a Áustria por 1 a 0, antes do embarque ao México.
A projeção de Caju foi na função de falso ponteiro-esquerdo nas categorias de base do Botafogo-RJ. Conduzia a bola grudada aos pés, e a colocava onde bem entendia. O chute não era forte, porém com direção. Por isso fez muitos gols em cobranças de falta. Embora destro, sabia trabalhar bem a bola com a perna esquerda. Às vezes fazia jogadas de fundo, com precisos cruzamentos.
Em 1967 já participava do grupo de renovação da Seleção Brasileira. Na Copa de 70, por exemplo, fez a torcida brasileira esquecer o meia Gérson nas partidas contra Inglaterra e Romênia, com atuações marcantes. Até 1977 teve cadeira cativa na Seleção Brasileira.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

França, quanta saudade!

Zinédine Zidane, consagrado astro do futebol francês, deixava a bola bem miúda, como se diz na gíria do futebol. Fazia dela aquilo que bem entendia. Batia de três dedos, peito de pé e até de bico quando, solidário aos companheiros de marcação, recuava para ajudar no desarme. Sabia usar as pernas compridas para distanciar o adversário da bola. E com a estatura de 1,85m de altura, podia se esperar dele bons índices de aproveitamento no jogo aéreo. A rigor, o Brasil teve o desprazer de ser uma das vítimas de sua mortífera cabeçada, quando goleado por 3 a 0 em 1998, na final da Copa do Mundo da França.
Zidane abandonou o futebol subitamente, por culpa do destemperado jogador italiano Materazzi, na final da Copa do Mundo de 2006. O francês não dominou os nervos após ofensa pessoal no jogo entre os selecionados europeus, descontando com uma reprovável cabeçada no peito. Foi expulso de campo, e depois viu seus companheiros perderem a disputa na definição através de cobranças de pênaltis: 5 a 4.
Astro também da Juventus de Turim e Real Madrid, eleito três vezes o melhor jogador de futebol do planeta, Zidane desaprovou a performance da decadente seleção francesa nesta Copa do Mundo da África do Sul, despachada ainda na primeira fase. Todos aqueles que admiraram a escola futebolística francesa dos finais dos anos 90 ficaram perplexos ao constatarem um time ‘amarrado’ em campo nos três jogos da etapa classificatória. Um ritmo lento e previsível, apesar da ousadia na escalação, com dois atacantes abertos e um enfiado na área adversária para complementação de jogadas. Na prática, faltaram ‘peças’ qualificadas para a execução da proposta ofensiva.
A França do zagueiro Tigana e o meia Michael Platini, dos anos 80, e a geração de Thuran, Desailly, Djorkaeff, Deschamps, Lizarazu e Petit, da década de 90, não merecia tamanha humilhação. E para juntar os cacos e refazer o planejamento, é indispensável que recorra ao passado de glória e tradição.
Tigana foi um zagueiro de boa compleição física e com incrível capacidade de antecipação. Tomava a bola do adversário com categoria e tinha vocação para agilizar o início dos contra-ataques. Saía da defesa em velocidade e aí projetava-se ao ataque.
Tão forte quanto Tigana foi Thuram, que atuou quer no miolo de zaga, quer na lateral-direita até os 36 anos de idade, na temporada passada. Na seleção francesa ele jogou num time com meio de campo compacto. Deschamps foi um volante de bom desarme, coadjuvado por Youri Djorkaeff que fechava os espaços dos adversários. De posse de bola, ele sabia tocá-la com rapidez e se deslocava para receber a devolução. A rigor, esse meia teve a quem puxar: seu pai Jean Djorkaeff também integrou o selecionado francês nos anos 50 e 60 como lateral-direito dos bons.
Jogadores com a garra do lateral-esquerdo Lizarazu e o meio-campista Vieira também deixaram saudade aos franceses.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Retrancas na Copa lembram Juventus

As rígidas retrancas na Copa do Mundo da África do Sul nos remetem a décadas passadas quando treinadores de clubes de poucos recursos técnicos usavam o expediente na tentativa de evitar derrotas para adversários de maior potencial técnico. É prudente ressaltar que naquele período a pontuação por vitória era de apenas dois pontos. Logo, o empate tinha boa aceitação, principalmente fora de casa ou contra os chamados grandes clubes. Depois, para estimular o futebol mais ofensivo, a Fifa ampliou para três pontos os resultados de vitórias, a partir da Copa do Mundo de 1994, desestimulando, assim, as retrancas descaradas.
O primeiro exemplo claro que se tem informação de esquema tático retrancado foi o ‘ferrolho suíço’, usado por aquele país nas Copas de 1938 e 1954, implantado pelo austríaco Karl Rappan, o treinador. No Brasil, o Clube Atlético Juventus foi tido como o mais retranqueiro na década de 70, dirigido pelo técnico Milton Buzetto.
Antes do ingresso nas funções de treinador, Buzetto foi um zagueiro rebatedor, que também ‘fungava no cangote’ de atacante adversário. Sem espaço no Palmeiras - clube que o revelou - transferiu-se para o Juventus na década de 60, e lá formou dupla de zaga com o quarto-zagueiro Clóvis, ex-Corinthians. Sempre falante, orientava o sistema de marcação com recuo de volante, meias e ponteiros, de forma que o adversário encontrasse dificuldade de penetração.
Quando parou de jogar, já estava apto para ser técnico do próprio Juventus, exigindo que o time fosse a sua imagem: guerreiro e retranqueiro. Não se acanhava de aglomerar quase todo time nas imediações de sua própria área para evitar o gol do adversário. No papel, seu time tinha um ‘esqueleto’ de 4-3-3, mas na prática a variação atingia o 4-5-1, com os irmãos Brida e Brecha compondo o meio-de-campo, setor onde também participou Adnan, coadjuvado por Ziza. Carlos e Osmar formaram dupla de zaga, sucedidos por Cedenir e Deodoro, que havia sido deslocado da lateral-esquerda para o miolo de zaga. O ‘ferrolho juventino’ era transposto quando o time enfrentava adversários que sabiam usar bem as jogadas de fundo de campo. Edu Bala, nos tempos de Lusa e Palmeiras, cruzava para trás e alcançava as cabeçadas certeiras de Leivinha.
Antes da adoção dessa postura defensivista, o Juventus foi um time atrevido e até conquistou o Campeonato Paulistinha de 1971, organizado pela Federação Paulista de Futebol. Fez bonito, também, numa excursão ao Japão em 1974, quando sagrou-se campeão do Torneio Internacional da cidade de Tóquio, ao vencer o selecionado japonês por 2 a 0, na final.
Depois disso foi implantado a tal retranca, com opção do uso do contra-ataque. Assim, de vez em quando o time fazia as suas travessuras, surpreendendo até adversários poderosos, resultado no batismo de ‘Moleque Travesso’. O alvo principal era o Corinthians, castigado na maioria das vezes com gols do carrasco Ataliba. A rigor, por causa disso os cartolas corintianos o contrataram.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Treinadores que ensinam

Às vésperas da largada da Copa do Mundo, durante treino de finalizações dos argentinos, o técnico Diego Maradona franziu a testa com o baixo índice de aproveitamento da boleirada, e fez questão de mostrar como de bate na bola. E como quem sabe nunca esquece, mostrou aos comandados como se faz. Chutou com precisão e colocou a “pelota” onde a coruja dorme, como se diz na gíria do futebol.
Naquele treino, Maradona repetiu aquilo que fazem dezenas de técnicos que jogaram futebol. A vantagem sobre companheiros de profissão que não jogaram é que explicam, na prática, como deve ser feito. O treinador Valdir Pereira, o Didi – já falecido – aperfeiçoava os lançamentos dos meias. Ensinava-os como melhorar o efeito na bola em cobranças de faltas, com a autoridade de quem foi o inventor da folha seca, tipo de finalização em que a bola faz curva e cai repentinamente, surpreendendo o goleiro adversário.
Dino Sani foi outro treinador que se preocupava em melhorar o condicionamento técnico do atleta. E quando o boleiro não cumpria a tarefa corretamente nos treinos, pegava a bola e ensinava como devia ser feito.
Quando passou pela Ponte Preta, em 1982, Dino comandou um time de medalhões como Dicá, Mário Sérgio e Jorge Mendonça (já falecido). Certa ocasião, Mário Sérgio (hoje técnico de futebol), para provocá-lo, fez questão de chutar a bola com força e bastante efeito em direção dele, para que dominasse. E o destemido Dino a amorteceu com categoria e ganhou confiança definitiva do discípulo.
A cada final do treino, Dino chamava os atacantes e mostrava como se pega de primeira em levantamentos do fundo do campo. Batia de sem-pulo e avisava o goleiro o canto que chutaria, sob olhares atônitos de seus comandados, que viam a bola ‘morrer’ na ‘gaveta’.
Dino já não tolerava trabalhar com jogadores de poucos recursos técnicos e de dificuldade de assimilação. Por isso foi perdendo a paciência, até que na segunda passagem como treinador da Ponte Preta abandonou o cargo no intervalo de um jogo contra o Novorizontino (clube já extinto), inconformado com a derrota por 2 a 0. “Não dá para trabalhar com tanto cabeça-de-bagre”, justificou. E cumpriu a promessa da aposentadoria.
Também pudera: foi um médio-volante que dava show nos gramados, e a recompensa foi o título na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, como reserva de Zito. No XV de Jaú atuava na meia de armação. Foi recuado como volante no São Paulo, passando, ainda, por Milan da Itália e Boca Junior da Argentina. E encerrou a carreira no Corinthians, formando dupla de meio-de-campo com Rivelino, na década de 60. Para tomar bola do adversário valia-se do bom posicionamento, tempo certo de bola e capacidade de antecipação.
Com essas virtudes, a passagem de jogador para treinador foi sintomática no final da década de 60, com trabalho marcante no Inter (RS), Coritiba e Fluminense.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Rogério, de boleiro a pastor

Rogério, Gerson, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo Cesar Caju formaram uma das mais respeitáveis linhas de frente do Botafogo do Rio no biênio 1967/68, culminando com a conquista do bicampeonato estadual. Desse quinteto, só Rogério não integrou o grupo de jogadores tricampeões mundiais pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México. Não jogou, mas esteve lá. Uma lesão muscular, às vésperas da competição, implicou em seu corte dos selecionados, e o técnico Zagallo chamou o então goleiro Emerson Leão para sucedê-lo.
Rogério estava tão integrado ao grupo de jogadores brasileiros naquela Copa que acabou remanejado para a função de olheiro dos adversários. Desde aquela época mostrava-se comunicativo e pormenorizava detalhes observados.
Recuperado da contusão e de volta ao Botafogo, a torcida regozijou-se com o seu futebol hábil e veloz. O arranque era impressionante. Com passadas largas chegava facilmente ao fundo do campo ou fechava em diagonal rumo ao gol adversário. O estilo era semelhante ao de Renato Gaúcho, que fez sucesso no Grêmio e principais clubes cariocas.
O apelido de Rogério Ventilador foi decorrente dos movimentos com o braço quando driblava. Propositalmente ou não, muitas vezes mantinha seus marcadores distantes.
Dos tempos de Botafogo Rogério guarda um histórico de glórias e poucas derrotas. Uma das marcantes foi para o Flamengo no dia 31 de maio de 1969, por 2 a 1, no eternizado ‘jogo do urubu’.
Na década de 60, torcedores flamenguistas eram chamados de urubus pelos rivais. Motivo: a maioria era afro-descendente e pobre. Assim, um grupo de rubro-negros levou a ave escondida para o Estádio do Maracanã e, ao soltá-la, ela debandou para o setor dos torcedores botafoguenses, naquele confronto em 1969. Pronto. A partir daí o Flamengo adotou o símbolo do urubu.
O destino reservou passagem de Rogério também pelo Flamengo, clube escolhido para o encerramento da carreira em 12 de dezembro de 1973, na vitória sobre o Olaria por 2 a 1. E diferentemente dos companheiros que preferem prosseguir no futebol em outras funções, Rogério cursou Direito e foi advogar.
Depois enfrentou o duro golpe da perda do filho com cinco dias de vida. Claro que a cabeça entrou em parafuso, e ele só se reencontrou após ingresso na Igreja Messiânica, cuja doutrina é vida mais espiritualista. E de simples membro atingiu o posto de pastor, identificado como reverendo Rogério Hetmanek. Ele ensina, nos sermões, o conceito de Meishu-Same, que “quando alguém morre e tem muito apego a este mundo, se reencarna mais cedo. Mas isso não traz bons resultados, porque no mundo espiritual a purificação é mais rigorosa e, quanto mais tempo o espírito lá permanecer, mais será purificado”.
Pois é, as pessoas mudam. Se há 37 anos Rogério repetia nos microfones a obrigatória introdução “ouvintes meus cumprimentos”, hoje, como palestrante em universidade e currículo de quem publicou o livro ‘o Patriarca’, seu vocabulário faz inveja aos mais cultos dos boleiros.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dirceu Lopes, um dos injustiçados

Dirceu Lopes, ex-meia do Cruzeiro (MG), ainda não digere a passagem de apenas 19 jogos pela Seleção Brasileira e um amargo corte entre os jogadores relacionados à Copa do Mundo do México, em 1970. Na ocasião, teve de ceder o lugar para Dadá Maravilha, uma convocação política imposta pelo então presidente da República Emílio Médici, que o técnico Zagallo teve de engolir, diferente de seu antecessor João Saldanha, que havia projetado um lugar de destaque para Dirceu naquele Mundial.

Quando Dirceu estava no auge da forma, na década de 70, recebeu a visita do fenômeno Mané Garrincha – já falecido -, na concentração do Cruzeiro, em hotel de São Paulo, e ficou com o ego bem massageado. "Olha, Dirceu, vim te dar um abraço porque você é o melhor jogador de futebol do mundo".

Claro que Mané Garrincha exagerou, mas aquelas pernas curtas de Dirceu Lopes, 1,63m, nascido em 3 de setembro de 1946, entortaram adversários. Foram 224 gols registrados em 14 anos de Toca da Raposa, marca que o coloca como segundo maior artilheiro na história do clube, atrás apenas de Tostão, que marcou 248 gols.

Dirceu tinha a frieza dos goleadores e visão de jogo dos antigos boleiros de armação. Fez parte daquele lendário time do Cruzeiro que desbancou o grande Santos em novembro de 1966, com a conquista da Taça Brasil, hoje Taça do Brasil.

Naquela época, o Cruzeiro goleou o Santos por 6 a 2, no Mineirão, na primeira partida, e Dirceu fez três gols. No segundo confronto, no Pacaembu, outra vitória do time mineiro: 3 a 2, para delírio de Raul Plassmann, Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Wilson Piazza, Dirceu Lopes e Tostão; Natal, Evaldo e Hilton Oliveira, os titulares.

Dez anos depois, Dirceu viveu outro momento de glória na carreira com a conquista da Copa Libertadores da América sobre o River Plate, da Argentina, após a vitória do Cruzeiro por 3 a 2, em Santiago, no Chile, na "negra" - terceira partida da final.

O gol da consagração foi marcado pelo ponteiro-esquerdo Joãozinho, um renomado driblador, que se antecipou a Nelinho - cobrador oficial de faltas da equipe - e bateu com perfeição, quase no final do jogo. Nem por isso Joãozinho recebeu só cumprimentos. O exigente treinador Zezé Moreira – já falecido - o classificou de "moleque irresponsável".

Claro que se viesse o título no mundial interclubes, contra os alemães do
Bayern de Munich, a festa seria completa, mas Joãozinho, Jairzinho, Dirceu e cia. não se abateram com a perda.

A partir daí, Dirceu começou a trilhar a velha estrada da volta. Foi reserva de Rivelino no Fluminense, jogou no Uberlândia (MG) e encerrou a carreira no Democrata de Governador Valadares (MG) em 1981.

Aí, tímido e sem liderança para coordenar grupos de jogadores, trocou a bola pela vida de empresário, como dono de uma fábrica de jeans em Pedro Leopoldo, sua cidade natal.

Parreira: ‘o gol é apenas um detalhe’

Outros tempos era raro um profissional prosperar na carreira de treinador sem currículo de jogador. Havia um velado preconceito da categoria, e poucos cartolas se aventuravam a desafiar a lógica.
Outros tempos dizia-se que Carlos Alberto Parreira, 67 anos de idade, um graduado homem do Exército brasileiro, era um intruso no comando de clubes, a despeito do histórico de tricampeão mundial no México na Copa do Mundo de 1970, como auxiliar de Cláudio Coutinho - já falecido -, na preparação física. Principalmente a imprensa paulista cobrava dele qualificação para o exercício da função, desconsiderando a invejável bagagem teórica. Parreira, contudo, foi obstinado e não se curvou ao desafio. De certo, o que não esperava era que ‘caísse no colo’ o comando da Seleção Brasileira tão prematuramente, em 1983. Aí, com o vice-campeonato de sua equipe na Copa América realizada no Brasil, recebeu uma ‘enxurrada’ de críticas.
Com a fortaleza de poucos soube absorvê-las e recomeçou a trajetória de treinador no Fluminense, em 1984. Quis o destino que assumisse um time bem montado pelo antecessor José Luiz Carbone, e o resultado foi a conquista do título do Campeonato Brasileira daquela temporada.
Talvez fosse o momento para que seus detratores dessem uma trégua, mas eles não se renderam. Assim, em 1991, inteligentemente, Parreira bolou uma estratégia para calá-los. Com ajuda do homem forte do Bragantino, o patrono Nabi Abi Chedid - já falecido -, assumiu o comando técnico daquele clube com missão de dar continuidade ao elogiado trabalho de seu antecessor Vanderlei Luxemburgo. E deu.
De fato Parreira pensava longe naquela empreitada. Pavimentava uma trajetória triunfal na carreira, que culminaria com retorno à Seleção Brasileira. E com a sua indisfarçável filosofia de “futebol de resultados” conquistou o tetracampeonato mundial nos Estados Unidos, em 1994, quebrando um jejum de 24 anos sem conquista.
Parreira habilmente soube o momento de sair e deixar escancaradas as portas da CBF para retorno à Seleção, o que ocorreu em 2006. Antes disso, em 1998, uma dolorosa dispensa da Seleção da Arábia Saudita após a segunda rodada da primeira fase. Saiu amargurado, porém com cuidado para não ferir suscetibilidade após a derrota para a Dinamarca por 1 a 0. O técnico da equipe no jogo seguinte, contra a África do Sul, foi Mohamed Al-Kharashi.
Nesta Copa da África do Sul é o comandante dos anfitriões, após trégua durante pouco mais de um ano, quando o técnico Joel Santana assumiu o seu lugar. Parreira já dirigiu as seleções de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuait. A rigor, no ranking de treinadores com maior repasse de seleções de diferentes países em Copa do Mundo, só perde para o sérvio Borá Milutinovic. Em 1986 ele levou o México às quartas-de-final, perdendo para a Alemanha na disputa de pênaltis. Dirigiu, ainda, Costa Rica, Estados Unidos, Nigéria e China.
Parreira também ficou marcado por uma inoportuna frase: “O gol é apenas um detalhe”.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Goleiros de Seleção

Tradicionalmente goleiros brasileiros disputam mais que uma Copa do Mundo. Nos últimos 60 anos observou-se uma cultura de que jogador da posição tem que adquirir experiência na primeira competição. Projeta-se que já amadurecido não vai sentir o peso da responsabilidade quando escalado.
Pode-se dizer que o primeiro estagiário nesse quesito foi Carlos Castilho - já falecido - convocado sucessivamente de 1950 a 1962 nas competições disputadas no Brasil, Suíça, Suécia e Chile. Paradoxalmente seu melhor desempenho sempre foi em clube - caso do Fluminense -, o que resultou na identificação como “leiteria”. Nas Copas de 1958 e 1962 foi reserva de Gilmar, goleiro que disputou ainda o Mundial de 1966 na Inglaterra.
A filosofia de “ganhar experiência” teve continuidade em 1970 com Emerson Leão, quando a Seleção Brasileira fez opção de relacionar três goleiros. O receio era a perda de titular e reserva imediato motivada por contusão ou cartões vermelho e amarelo. Naquela Copa do México foi implantada punição a jogadores com cartão amarelo, três deles, cumulativamente, resultando em suspensão automática.
Dessa inclusão do terceiro goleiro se aproveitou o então garoto Leão, do Palmeiras, para respirar clima de Seleção Brasileira. Quatro anos depois - mais ‘canchado’ e precedido de atuações regularíssimas - foi titular absoluto no gol brasileiro na Copa da Alemanha. Na ocasião, os comandados do técnico Zagallo foram surpreendidos pela máquina holandesa na semifinal, e também pela Polônia na disputa pelo terceiro lugar.
Leão continuou intocável na Seleção em 1978, na Copa da Argentina. Depois, já com Telê Santana como treinador, foi relegado na competição disputada na Espanha, para voltar ao ‘antigo ninho’ em 1986, outra vez no México. Assim, completou quatro Copas, uma a menos que Carbajal da seleção mexicana.
A bem sucedida experiência foi repetida com Valdir Peres, Carlos, Taffarel, Dida e Júlio César. Valdir foi terceira opção na Alemanha em 1974. ‘Esquentou’ banco em 1978. E foi titular em 1982.
Trajetória semelhante foi a de Carlos, desde 1978 entre os convocados. Chance real, mesmo, só em 1986 no México.
Taffarel foi partícipe da precoce eliminação brasileira na Copa do Mundo da Itália, em 1990, quando o grupo escolhido pelo técnico Sebastião Lazaroni deu vexame. A redenção desse gaúcho deu-se quatro anos depois nos Estados Unidos, quando o Brasil sagrou-se tetracampeão mundial ao bater a Itália nos pênaltis, na final. Por fim, na terceira experiência, foi eximido de culpa na goleada por 3 a 0 que a sua equipe sofreu para os franceses.
Quanto a Dida, se foi considerado ‘verde’ em 1998 na França, quando era reserva de Taffarel, só não foi titular em 2002 no Japão e Coréia do Sul devido à excelente fase do concorrente Marcos. Assim, teve de esperar a Copa de 2006, novamente sediada pela Alemanha.
Agora a história se repete com Júlio César. De estagiário em 2006, deu um salto extremamente qualitativo. É reconhecido como um dos melhores do planeta, na posição.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Everaldo, tricampeão há 40 anos

Com a fartura de reminiscências sobre Copa do Mundo, às vésperas do maior evento de futebol do planeta programado para a África do Sul, o tricampeonato brasileiro no México, em 1970, será recontado muitas vezes.
Há 40 anos, entre os 22 campeões, estava o gaúcho Everaldo Marques da Silva, um lateral-esquerdo eficiente na marcação e só. Consciente das limitações para apoiar o ataque, preferia o passe curto aos companheiros.
Naquele período jogador de futebol era idolatrado por fãs mesmo quando parava de jogar. Alguns sabiamente exploravam a popularidade e enveredavam para cargos políticos, principalmente no Legislativo, mesmo sem aptidão. A certeza da votação maciça os encorajava a enfrentar as urnas, e são incontáveis os exemplos daqueles que foram eleitos com folga.
Mesma sorte não teve Everaldo. Em 1974, quando pendurou as chuteiras, tinha como certa uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, e se engajou na campanha política de tal forma que podia ser visto em até dois comícios no mesmo dia. E tudo ia bem até que perdeu a vida em acidente de automóvel, na BR-286, justamente quando voltava de um comício, por volta das 22h30 do dia 27 de setembro daquele ano. O automóvel Dodge Dart do jogador entrou sob uma jamanta e ficou quase irreconhecível. Na ocasião, também morreram a esposa Célia e a filha Denise Marques.
Revelado pelo Grêmio e com flagrantes limitações técnicas, Everaldo ganhou a posição de Marco Antonio - veloz e de características ofensivas - às vésperas da Copa do México. Já no Mundialito de 1972, no Brasil, o técnico Zagallo optou por não convocá-lo, para ira dos gaúchos. Afinal, o Rio Grande do Sul tinha histórico de furar o domínio do eixo Rio-São Paulo em convocações de jogadores para Copas. Em 1950, na competição disputada no Brasil, Nena, do Grêmio, e Adãozinho, do Internacional, foram vice-campeões mundiais. Na malfadada Seleção Brasileira de 1966, na Inglaterra, lá estava o atacante Alcindo Bugre, do Grêmio. E em Mundiais subseqüentes, o Estado quase sempre esteve representado. Em 1974, na Alemanha, foram o meio-campista Paulo César Carpeggiani e o ponteiro-direito Valdomiro, ambos do Inter. Em 1978, na Argentina, o volante Batista foi o representante do time colorado. Falcão – ex-Inter (RS) - jogou os Mundiais de 1982 e 1986. Ainda em 1986 foram o zagueiro Mauro Galvão e o meia Valdo, de Inter e Grêmio, respectivamente. Depois, o goleiro Taffarel, em 1990, na Itália; e o zagueiro Ângelo Polga, em 2002, no Japão e Coréia do Sul - jogadores de Inter e Grêmio, respectivamente. Em 2006 foram os ex-gremistas Ronaldinho Gaúcho e Emerson.
O deslize na carreira de Everaldo foi a besteira feita num jogo contra o Cruzeiro em 1972, no Estádio Olímpico, quando deu um soco no árbitro paulista José Faville Neto. Na época, a suspensão de um ano foi reduzida para seis meses.