segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Adeus ao atleta e treinador José Luiz Carbone

 No futebol atual, treinadores de conceitos táticos inovadores são tidos como referência. Eles exigem dos subordinados que cumpram à risca o determinado, e isso contrasta com os tempos em que José Luiz Carbone atuou na função, até a década passada. A geração dele, enquanto treinador, tinha como principal preocupação melhorar a condição técnica do atleta através de treinos específicos.

Carbone morreu na noite deste 27 de dezembro em Campinas (SP), vítima de câncer hepático descoberto recentemente. Ele deixa vasta folha de serviços prestados ao futebol como atleta, treinador e coordenador técnico. Coincidência ou não, iniciou e terminou a carreira de jogador do Nacional da capital paulista, clube em que igualmente deu os primeiros passos como treinador.

Como atleta foi um volante clássico nos tempos de São Paulo, Inter (RS) e Botafogo (RJ), fato que permitiu chegada à Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha. Além da precisa colocação para desarmar adversários, seu passe era recomendável.

Como treinador, dirigiu mais de duas dezenas de clubes, entre eles Fluminense, Inter (RS), Cruzeiro, Palmeiras, Bahia, Ponte Preta e Guarani, simpatizando-se pela cidade de Campinas, onde decidiu fixar residência quando deixou de cortar o Brasil na direção de clubes.

Na Ponte Preta em 1984, Carbone introduziu experiência insólita em treinos coletivos, pois nos primeiros 20 minutos o time titular ficava sem goleiro. A intenção era forçar laterais a evitarem cruzamentos, e tanto volantes como zagueiros travarem finalizações de jogadores do time reserva. Assim, a primeira preocupação era ajuste do sistema defensivo, para posteriormente acertar outros compartimentos.

Por duas vezes foi vice-campeão paulista. A primeira na decisão do Palmeiras contra a Inter de Limeira em 1986; posteriormente no comando do Guarani dois anos depois diante do Corinthians. E depois voltou três vezes ao clube, quer para dirigi-lo, quer como coordenador técnico. Das experiências internacionais, destacam-se duas passagens pelos Emirados Árabes, Catar, Peru e Bolívia, além de pequenos clubes como o Sertãozinho (SP).

Facilidade de comunicação reservou-lhe emprego como comentarista de futebol na Rádio Brasil Campinas, antes de se aposentar. Por se manter ligado ao futebol, era consultado para opinar sobre jogadores.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Éverton, posição do antigo meia-direita

Uma das mais belas vozes do rádio brasileiro, do saudoso Oliveira Neto, em jingle de creme de pentear cabelos, ainda da década de 70, dizia: 'Você lembra de minha voz? Continua a mesma, mas os meus cabelos! É que para ele eu uso o creme' … E fazendo trocadilho, a voz do ex-meia Éverton, de São Paulo, Guarani, Corinthians e Atlético Mineiro, continua a mesma, mas os seus longos cabelos rarearam devido à implacável calvície que atormenta sessentões como ele, ou melhor: 61 anos de idade completados neste 12 de dezembro.

Éverton Nogueira, natural de Florestópolis (PR), é do tempo em que se convencionava chamar de meia-direita jogador que fazia ligação entre meio de campo e ataque. Foi assim que se despontou no Londrina em 1976 e foi buscado pelo São Paulo quatro anos depois, no inconfundível estilo de condutor de bola em velocidade e arremates ao gol de média distância. Assim, participou do título do Campeonato Paulista de 1981, e dois anos depois acabou envolvido em negociação com o Guarani, que resultou na ida de Careca ao elenco são-paulino.

Todavia, durante o quadriênio no Galo mineiro, a partir de 1984, foi transformado no autêntico camisa nove, o centroavante próximo da área adversária para complemento de jogadas, com histórico de 198 jogos, 92 gols, e participações decisivas na conquista do bicampeonato mineiro de 1985/86. No clube atuou ao lado de jogadores como Nelinho, Reinaldo, Elzo, Paulo Isidoro, Renato Morungaba e Zenon.

Já no Corinthians em 1988, integrou o elenco na conquista do título paulista em duelos na final contra o Guarani, para depois experimentar carreira internacional, inicialmente no Porto de Portugal, com a sina de conquista de título, para escolha como término dela no futebol japonês. Os primeiros cinco anos foram no Yokohama Marinos - antes chamado de Nissan FC - com títulos da Recopa Asiática, Copa do Imperador e Campeonato Japonês. A sua última temporada no Japão foi no Kyoto Sanga.

Falante, Éverton tinha cacoete de completar cada pergunta de seu entrevistador com outra pergunta: 'Entendeu?' Certa ocasião, um espirituoso repórter da cidade de Campinas sacou essa: 'Entendi perfeitamente, Éverton'. Hoje o ex-atleta coordena as categorias de base do Atlético Mineiro.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Claudir, becão do Bahia no ano do título nacional

Longe de recomendáveis campanhas no Campeonato Brasileiro deste 2020, o Esporte Clube Bahia já protagonizou histórias marcantes no cenário nacional. Primeiro quebrou a hegemonia do Santos no antigo torneio Taça Brasil - sem o 'da' -, quando conquistou o título em 1959. Depois levou os seus torcedores à loucura com a conquista do título do Campeonato Brasileiro de 1988, que se estendeu até fevereiro da temporada seguinte. E no compasso da modernidade, nesta década foi transformado em sociedade anônima, com presidente remunerado.

Na final do título de 88, seu estádio - Fonte Nova - recebeu público recorde de 110.438 pessoas, quando venceu o Inter (RS) por 2 a 1, e confirmou vantagem em Porto Alegre, quando arrancou empate sem gols, nesse time comandado pelo treinador Evaristo Macedo: Ronaldo; Tarantini, João Marcelo, Claudir e Paulo Robson; Paulo Rodrigues, Gil Sergipano, Zé Carlos e Bobô; Charles e Marquinhos.

À época, sem a vigência da Lei Pelé, clubes eram detentores de passes dos jogadores, e lucravam em negociações. Dirigentes catimbavam em renovações de contratos de atletas, e o então presidente do Bahia, Paulo Maracajá, abusava dessa prerrogativa, tanto que no ano do título ignorou proposta do quarto-zagueiro titular Pereira para renovação de contrato, durante a competição, o que possibilitou Claudir a ocupar a posição, se fixar como titular com atuações seguras, no velho estilo viril da 'zagueirada' do passado.

A recomendável estatura permitia que se impusesse no jogo aéreo, aliada à precisa cobertura no lado esquerdo do campo, visto que o lateral Paulo Robson tinha características de atacar. Assim, no Bahia desde 1986, Claudir teve trajetória de quatro anos, e surpreendentemente deixou uma equipe de capital, na elite do cenário nacional, para atuar em time do interior paulista, caso do Rio Branco de Americana, à época integrante da Série A-2 como postulante ao acesso ao Paulistão, com objetivo conquistado.

Depois Claudir percorreu a estrada da volta do futebol e parou no Noroeste (SP) em 1993. Ao retornar à sua cidade natal, Vitória da Conquista, tentou ser treinador da equipe local, porém sem prosperar. Assim, aos 59 anos de idade, comanda escolinha de futebol e não foi preciso ser incluído no projeto do Bahia de ajuda financeira a ídolos do passado, como ocorre com o ex-lateral-direito Zanata.

Atacante André justificava apelido de 'Catimba'

Apelidos de jogadores faziam parte do folclore do futebol, mas empresários deles e dirigentes passaram a proibi-los, e ainda exigiram que fossem identificados por nomes compostos. Assim, um dos últimos ídolos citado pelo pseudônimo foi o atacante Luís Fabiano, conhecido por Fabuloso.

Na década de 50, narradores de futebol do Rio de Janeiro raramente identificavam o centroavante Ademir de Menezes pelo nome, nas jogadas do Vasco. Falavam Queixada, apelido dele por motivos óbvios. Saudoso goleiro Castilho foi Leiteria. Centroavante Dario o 'peito de aço'. E o meia kléber - ex-Grêmio e Palmeiras - Gladiador.

Nos anos 70 o baiano de Salvador, Carlos André Avelino de Lima, justificou o apelido de André Catimba por ter sido considerado um centroavante que provocava seus marcadores e, por conta disso, causava expulsões. Afora esse destempero, colaborava em vitórias das equipes que atuava pelos gols advindos do estilo brigador e oportunista.

Um dos fatos marcantes na carreira dele foi erro no salto quando comemorava o gol do título do Grêmio (RS) no Campeonato Gaúcho de 1977, conhecido como 'voo de André Catimba'. Na comemoração durante Grenal - vitória por 1 a 0 -, ele projetou cambalhota, mas erro no movimento fez com que caísse com o rosto no chão, e se contorceu em dor. Assim acabou substituído por Alcindo, em jogo que marcou quebra da hegemonia de oito anos do Inter na competição. À época o time gremista foi esse: Corbo; Eurico, Cassiá, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu Ricci e Iúra; Tarciso, André Catimba e Éder Aleixo.

Dois anos depois, tido como prescindível pelo Grêmio, foi emprestado ao Bahia, Estado em que iniciou trajetória no futebol no Ypiranga, em 1966, equipe que tinha um torcedor ilustre: o escritor Jorge Amado. Cinco anos depois chegou ao Vitória (BA) e completou o quadriênio antes de se transferir ao Guarani.

A passagem pelo Argentino Junior em 1980 foi a última de relevância na carreira, quando foi parceiro do saudoso Diego Maradona. Em seguida, tido como cigano da bola, passou por Pinheiros (PR), Comercial (SP), Náutico, voltou ao Ypiranga e pendurou as chuteiras no Fast Club de Manaus em 1985. Em outubro passado ele completou 74 anos de idade, e o histórico da carreira marca passagem pela Seleção Brasileira que enfrentou combinado estrangeiro em 1973.


domingo, 29 de novembro de 2020

Já são dez anos sem o zagueiro Ramos Delgado

Este três de dezembro marca o décimo ano da morte do zagueiro argentino Ramos Delgado, na passagem de 1967 a 1972 pelo Santos F.C., quando comparado ao antecessor Mauro Ramos de Oliveira. Ele disputou os Mundiais de 1958 e 1962 pelo selecionado argentino e se impunha pelo estilo clássico. Sabia se antecipar, tomar a bola do adversário e sair jogando com categoria, como fazia o zagueiro Ricardo Rocha, ex-Santa Cruz (PE), Guarani, São Paulo e Seleção Brasileira.

Nos últimos anos de vida, já radicado em seu país, foi diagnosticado como paciente do Mal de Alzheimer, doença degenerativa que implica em perda total da memória em pacientes terminais. Assim, meses antes da morte não identificaria Pelé se lhe mostrassem a foto dele.

Em estado terminal, paciente de Alzheimer perde massa muscular e mobilidade, situação que contrasta com a compleição física vigorosa do período de jogador de José Manuel Ramos Delgado, quando levava a campo a raça argentina. Se o Alzheimer em estágio avançado limita o enfermo a pronúncias de apenas algumas palavras, sem concatenar frases, no auge da carreira ele comandava a defesa aos berros, se necessário.

Ramos Delgado chegou ao Santos no período em que os platinos se transferiam regularmente ao Brasil. A imigração começou a ganhar destaque nos anos 40 quando o Palmeiras foi buscar o zagueiro Luis Villa, de estilo clássico. Em seguida o São Paulo trouxe o meia Sastre, que integrou um ataque formado por Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal. O time também contava com o futebol elegante do então zagueiro Armando Renganesch, que posteriormente se transformou em treinador. Mesmo destino seguiu o goleiro José Poy, quando abandonou a carreira de jogador do São Paulo.

Na década de 60, na ganância de tentar ganhar a Copa Libertadores da América, o Palmeiras foi buscar em Buenos Aires o ‘matador’ Luis Artime, um emérito cabeceador. No mesmo período passou quase que despercebido no Juventus - clube da capital paulista - o então jogador Cesar Luis Menotti, que posteriormente conquistou o título mundial como técnico da Seleção Argentina na Copa do Mundo de 1978. Na mesma época, o Cruzeiro se garantia na defesa com o futebol eficiente do zagueiro Perfumo, enquanto o Flamengo dependia dos gols do centroavante Doval, que morreu aos 46 anos de idade, em 1991, ao sofrer enfarte fulminante.

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Gil Baiano, outro que jogou depois do 40 anos

Até metade da década de 70 jogadores de futebol eram chamados de veteranos aos 32 anos de idade, e raros eram aqueles que emplacavam 36 anos nos gramados. Medicina esportiva ainda não atravessava processo de evolução e lesões em joelhos implicavam em abandono prematuro da modalidade.

Na virada do século foram incontáveis os atletas que se mantiveram em campo depois dos 40 anos, um deles José Gildásio Pereira de Matos, o lateral-direito Gil Baiano, que em 2002 retornou aos gramados quatro anos após a decisão de pendurar as chuteiras. Ele topou vestir a camisa do Ceilândia, do Distrito Federal, por um ano.

Quando chegou nas categorias de base do Guarani em 1985, o lateral era identificado apenas como Baiano, por ter vindo de Tucano, interior da Bahia. Após a profissionalização, optaram por chamá-lo como Gil Baiano, e assim prosseguiu na trajetória seguinte no Bragantino, clube que conquistou o título do Paulistão em 1990, ano em que chegou à Seleção Brasileira com histórico de sete jogos, um deles em que se orgulha de ter atuado ao lado de Pelé, em partida comemorativa.

Ápice da carreira dele foi no Palmeiras durante o biênio 1993-94, sendo que na primeira temporada já participou da conquista do Campeonato Brasileiro, quando o time ganhou do Vitória (BA) por 2 a 0, dia 19 de dezembro, na final. Eis o time comandado pelo treinador Vanderlei Luxemburgo: Sérgio; Gil Baiano, Antonio Carlos, Cléber (Tonhão) e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho e Edílson Capetinha; Edmundo, Evair (Sorato) e Zinho.

Curiosamente, ao sair do Palmeiras foi jogar no Vitória, mas a carreira foi marcada por idas e vindas em clubes como Bragantino e Paraná Clube. O estilo de lateral com rápida transição ao ataque e potente chute de pé direito ao gol adversário serviu para que despertasse interesse do futebol português, com passagem pelo Sporting. Ele jogou ainda no Ituano, Comercial de Ribeirão Preto e XV de Piracicaba.

Se pudesse apagaria da carreira a suspensão por seis meses em 1998, devido ao seu exame antidopagem acusar a substância proibida femproporex. Hoje, aos 54 anos de idade completados em três de novembro passado, está aposentado do futebol após atuar em comissões técnicas, com registro de experiências como auxiliar-técnico de Bragantino e Atibaia, e comando do sub-20 do Comercial de Ribeirão Preto.

Luizão

 Luizão

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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Emerson Sheik, auge da carreira foi no Corinthians

Sheik, o polêmico ex-atacante de grandes clubes do futebol brasileiro, nasceu Marcio Passos de Albuquerque, segundo registro de cartório Nova Iguaçu (RJ), em setembro de 1978, portanto 42 anos de idade. Sabe-se lá por quais motivos passou a ser identificado como Emerson quando se profissionalizou no São Paulo em 1998. E assim fez carreira de dez anos no Japão, Catar, Rennes da França e Al Ain dos Emirados Árabes, sempre com contratos milionários.

Foi quando cansou do mundo fora de suas raízes e resolveu bancar multa rescisória para retorno ao Brasil, abrigado inicialmente pelo Flamengo em 2009, quando o apelido de Sheik foi inevitável devido à naturalidade catariana, tendo inclusive participado de quatro jogos eliminatórios da Copa do Mundo de 2010 por aquele país.

Curioso que quando se transferiu ao Fluminense, no ano seguinte, acabou dispensado após acusação de ter cantado fank com referência ao Flamengo, em ônibus da delegação que transportava atletas a um jogo pela Libertadores na Argentina, versão que posteriormente provocou desmentido do então jogador: “A música fazia referência aos quatro principais clubes do Rio de Janeiro, e na roda havia mais gente cantando”.

Quem lucrou com a dispensa foi o Corinthians, que passou a contar com aquele guerreiro atacante de beirada de campo a partir de 2011, quando reeditou títulos do Campeonato Brasileiro conquistados em Flamengo e Fluminense. No Timão, foi funcional como garçom de artilheiros, além de seus golzinhos. Lógico que sequer imaginava que ali fosse atingir o ápice da carreira, com direito a gols decisivos na conquista do primeiro título da Libertadores do clube em 2012, sobre o Boca Junior, e posteriormente comemorar o Mundial de Clubes diante do Chelsea, além da Recopa Sul-Americana no ano seguinte. Aí já havia perdido espaço na equipe e optou por seguir carreira em Botafogo (RJ) e Ponte Preta, até o desejo de encerrá-la no próprio Corinthians em 2018, com histórico de 177 jogos e 28 gols.

Ainda no Corinthians teve aversão à experiência como diretor de futebol e preferiu o desligamento, com justificativa de que não leva jeito para a coisa. Sua prioridade é cuidar do Instituto Emerson Sheik, que programa a cada final de ano arrecadação de alimentos para doações, e tratar com carinho de sua macaquinha, alimentada com iogurte, ração e frutas.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Yustrich, o 'homão' que se impunha na marra

Meu leitor João Teixeira quer saber a história do saudoso treinador Yustrich, já contada aqui há quase quatro anos. Como a passagem dele pelo futebol foi polêmica, cabe sim recapitulação daquele que berrava à beira do gramado, que impunha seu estilo disciplinador na marra, com mais contundência de que o também falecido comandante Flávio Costa, que em 1950, vinculado ao Vasco, esbofeteou seu jogador Ipojucan, só porque ele havia pedido substituição em partida contra o América-RJ, pelo Campeonato Carioca.

Dorival Knipel, o Yustrich, teve rico histórico como goleiro do Flamengo nas décadas de 30 e 40, quando conquistou os títulos em 1939 e 1942, o que lhe abriu portas como treinador nos principais clubes do Rio de Janeiro.

Metido a valentão, Yustrich comprava brigas com jogadores, imprensa e até companheiros de profissão. Ganhou o apelido de ‘homão’ porque era alto e forte. Se inovou ao exigir mesa farta de frutas para boleiros após treinos e jogos, impunha contestável estilo militar no comando dos grupos e arrumava encrencas.

Em 1971, por exemplo, quando foi treinador do Flamengo, barrou o talentoso e saudoso atacante argentino Doval, porque não admitia jogadores de cabelos compridos. Yustrich desconsiderou habilidade, velocidade, boa impulsão e gols daquele ponteiro-direito, um gringo loiro, olhos azuis e que fazia sucesso com a mulherada nas boates da zona sul do Rio de Janeiro. Acreditem: Doval voltou ao futebol argentino por empréstimo e Yustrich - que também tinha ojeriza por barbudos - ficou na Gávea.

Dois anos antes, Yustrich só escapou da ira do igualmente saudoso técnico João Saldanha porque não estava na concentração do Flamengo, time que treinava. Saldanha comandava a Seleção Brasileira e, de temperamento explosivo, já estava irritado com frequentes críticas, entre elas de Yustrich, após derrota do selecionado por 2 a 0 durante amistoso por 2 a 0 contra o Atlético Mineiro. E não é que Saldanha, com revólver na cinta, invadiu a concentração do Flamengo, em São Conrado, para ajuste de contas!

Na década de 70, quando treinava o Cruzeiro, Yustrich substituiu o então zagueiro Brito durante uma partida, sem imaginar a reação de seu comandado, que se vingou ao se aproximar do banco de reservas e atirar a camisa suada no rosto dele e correr. Seria suicídio enfrentar aquele brutamente, mesmo envelhecido.

Gol voador de Pelé, no Brinco de Ouro, ficou fora dos arquivos

 Oitenta anos de Pelé, cravados no próximo dia 23, são contados de incontáveis maneiras, desde que se transformou no maior jogador de futebol do mundo. Do repertório de títulos e gols, um deles, emblemático, ficou fora dos arquivos, e só pode ser contado de boca em boca para quem não viu. À época não havia transmissão ao vivo pela televisão, e sabe-se lá que emissora teria feito gravação, pois o lance jamais foi repetido nos últimos 53 anos.

Ocorreu em três de dezembro de 1967, numa tarde de domingo, no empate de Santos e Guarani por 1 a 1, no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas. Aos 14 minutos do primeiro tempo, Edu Jonas, ponteiro-esquerdo santista, fez cruzamento que mais parecia finalização de tão forte que bateu na bola. Aí, só um mágico como Pelé arriscaria mergulho ao encontro dela, chegando a tempo de empurrá-la com a cabeça para a rede, em lance registrado defronte à cabeceira sul do estádio, onde está instalado o placar eletrônico.

Até entre torcedores santista a comemoração foi tímida. Pelé havia sido nocauteado. Suspeitava-se que após o cabeceio tivesse se chocado no roliço poste esquerdo de madeira, o bastante para informações desencontradas, com suspeita até que teria morrido. Assim, ficou desacordado entre três a cinco minutos, até que se restabelecesse, quando fez questão de se encaminhar com a bola ao centro do gramado, alvo, então, de aplausos até de torcedores bugrinos.

Um gol com tal singularidade não se pode perdê-lo no tempo e espaço. Provavelmente não se tenha informação de repetição no mesmo formato, com vôo literalmente na paralela do gramado. Por isso não cabia ao saudoso volante Zito, do Santos, cobrar mesmo rendimento dele na sequência da partida, desconsiderando a dupla marcação que recebeu dos zagueiros bugrinos Paulo Davoli e Tarciso.

O empatou ocorreu aos 28 minutos do segundo tempo através do ex-meia Milton dos Santos, em chute de longa distância e falha do goleiro Gylmar. A mídia rotulou o lance como frangaço do santista, em jogo visto por 13.500 torcedores, calculados de acordo com o valor do ingresso.

De certo, nas dezenas de reportagens sobre os 80 anos de idade de Pelé, não estará incluso esse registro. Certamente vão lembrar do milésimo gol contra o goleiro Andrada do Vasco em 1969, os oito gols marcados na goleada por 11 a 0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto cinco anos antes, e na despedida do futebol no Brasil em 1974, contra a Ponte Preta.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Diabetes, que matou Escurinho, continua sem cura

Quando da morte do atacante Escurinho, em 27 de setembro de 2011, aos 61 anos de idade, discutia-se se o diabetes que o aniquilou teria cura total a médio prazo. Nove anos se passaram, estudos realizados na Índia indicavam que a doença poderia ser combatida com moléculas encontradas na urina da vaca, mas por ora nada.

A perna direita de Escurinho, que lhe deu apoio extraordinário para magnífica impulsão nos cabeceios, havia sido amputada do joelho para baixo dois anos antes. Posteriormente foi a vez da perna esquerda igualmente cortada. Em ambos os casos a justificativa foi insuficiência renal e diabetes não controlados com tratamentos para regularizar o funcionamento vascular.

Hoje já não se admite apelido como o de Escurinho, registrado como Luiz Carlos Machado, até porque teria respaldo da lei contra o racismo em caso de denúncia. No caso dele, jamais censurou o apelido que ganhou aos sete anos de idade, em Porto Alegre, por ter sido negro. Seu negócio era jogar futebol, e a sua história começou a ser contada no Inter (RS) quando fez parte daquele elenco formado por jogadores altos e fortes na década de 70, comandados pelo técnico Rubens Francisco Minelli.

O time foi pentacampeão gaúcho de 1971 a 76 e bicampeão brasileiro em 75/76. Nele atuaram jogadores como o goleiro Manga, o zagueiro chileno Elias Figueiroa, lateral-esquerdo Vacarias, meio-campistas Batista, Caçapava, Falcão e Bráulio, e atacantes definidores como Valdomiro, Dario e Claudiomiro. Logo, não lhe sobrou lugar entre os titulares. Tinha a sina de entrar no segundo tempo e decidir jogos, invariavelmente com gols de cabeça.

Escurinho também jogou no Palmeiras e fez os costumeiros gols de cabeça no segundo tempo. E quando eles começaram a se rarear perdeu espaço no Verdão. Aí foi castigado com a tradicional estrada da volta no futebol, jogando no interior paulista na Inter de Limeira e Bragantino. A experiência no futebol equatoriano foi coroada com título, jogando no Barcelona de Guayaquil, em 1981. A carreira foi encerrada no Caxias do Rio Grande do Sul, em 1985.

Uma de suas últimas aparições na mídia foi em dezembro de 2009, ao compor o hino do centenário para o Internacional (RS), exibido em vídeo no site do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Na letra, enfatizou que “ganhamos tudo”, quando alardeou seu amor ao clube colorado.

domingo, 4 de outubro de 2020

Morre Silva, o 'batuta' que regia a orquestra do Flamengo

 

A morte do centroavante Silva Batuta no último dia 30 de setembro remete à reflexão de como brotavam irmãos jogadores de futebol décadas passadas. Tão cabeceador quanto ele foi o seu mano Wanderley, que passou por Corinthians e Guarani, e morreu quando estava em campo atuando pelo Operário de Campo Grande (MS), em 1973.

Por que o apelido Batuta? Numa excursão do Flamengo à Argentina, com vitória sobre a seleção local, Silva foi considerado o maestro do time. Logo, em referência à vareta com que os regentes conduzem a orquestra, surgiu o apelido.

Paulista de Ribeirão Preto, 80 anos de idade, Walter Machado da Silva estava internado no hospital Pró-Cardíaco, na zona sul da capital fluminense, onde morreu, deixando o histórico de ídolo no Corinthians nos primeiros anos da década de 60, mas foi no Flamengo que o seu futebol ganhou repercussão nacional, ao conquistar título do Campeonato Carioca e ter histórico de 70 gols em 132 partidas em duas passagens, intermediadas por vínculo ao Santos, quando fez dupla de área com Pelé em 1967.

Silva Batuta foi atacante extremamente técnico, com capacidade de dribles, tabelinhas, cabeceador e sobretudo artilheiro. Essas virtudes o credenciaram a integrar o selecionado brasileiro na Copa do Mundo da Inglaterra em 1966, e despertar interesse do Barcelona da Espanha, que o contratou, mas ele ficou pouco tempo por lá em decorrência da dificuldade de adaptação e reclamação de preconceito racial.

Apesar disso admitiu passagem pelo Racing da Argentina e se destacou como um dos principais artilheiros daquele campeonato nacional. Ele ainda jogou no Botafogo (RJ) e Vasco. Em 1970 ajudou o clube a encerrar tabu de 12 anos sem título estadual e integrou o elenco campeão brasileiro de 1974. Todavia, no ano anterior participou do Campeonato Brasileiro pelo Rio Negro (AM). Últimos clubes foram Barranquila Junior da Colômbia e Tiqueres Flores da Venezuela.

Quando do término da carreira de atleta, continuou ligado ao Flamengo em diferentes funções, a última delas no setor de eventos do clube, apesar de diplomado pela faculdade de Direito no Rio de Janeiro. E embora torcesse pelo sucesso do filho Wallace no futebol, o também atacante não decolou, após passagens por Bangu (RJ), América de Rio Preto (SP), Nacional (AM), Rio Branco (ES) e Anapolina (GO).


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Adeus ao artilheiro Bira Burro

Após travar luta contra um câncer de fígado, morreu no último 14 de setembro o amaparense Ubiratã Silva do Espírito Santo, aos 65 anos de idade, transformado no futebol em Bira Burro. Ele fez parte daquela escola de centroavantes cobrados apenas para empurrar a bola à rede, independentemente de qualidade técnica. Pois o raçudo, trombador e corpulento Bira Burro tinha identificação com o gol.

Como o futebol é um mundo a parte, Bira Burro não só consentia a divulgação do apelido como zombava dele, ao justificar a origem em entrevista à Rádio Gaúcha de Porto Alegre, em 1979. “Ganhei este lindo nome porque escolhi vir para o Inter (RS) e não para o Flamengo. O Mengo tinha Zico, Adílio, Tita, Junior, mas eu queria jogar com Falcão, Mário Sérgio e Valdomiro. Aí os caras começaram a me chamar de Bira Burro”.

Naquela década, o Inter priorizava centroavantes rompedores do tipo Claudiomiro, Flávio Minuano e Dadá Maravilha. E trouxe Bira Burro pelo histórico de artilheiro na passagem pelo Remo, quando marcou cinco gols na goleada por 5 a 1 sobre o Guarani em 1978, e atingiu marca inigualável de 32 gols em edições do Campeonato Paraense, na temporada de 1979, ocasião em que teria surgido outra versão para se incorporar o formato da palavra burro como adjetivo, ao citar o desejo de chegar a Roma (ITA) “para ver a loba que amamentou Romeu e Julieta”.

Tivesse nascido décadas depois e com nível de escolaridade da boleirada de hoje, de certo Bira Burro teria se mirado em publicação como do site conjur.com.br, datada de janeiro de 2008, que discorreu sobre o tema em que empregado chamado de burro pelo patrão tem direito a indenização.

O texto reproduz entendimento do juiz Denílson Bandeira Coelho, da 4ª Vara do Trabalho do Distrito Federal, que havia determinado ao Sindjus-DF (Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário no Distrito Federal) pagamento de R$ 70 mil de indenização por assédio moral para um auxiliar de divulgação chamado de 'burro e incompetente' pela chefe.

Como o negócio de Bira era comemorar gols, isso ocorreu no Paysandu, Remo, Inter (RS), Atlético Mineiro, Náutico, Chivas Guadalajara (MEX), Juventus (SP), Novo Hamburgo e Aimoré, ambos no Rio Grande do Sul, até se aposentar no Remo em 1988. Depois ingressou na função de treinador, assumiu os rivais Paysandu e Remo, porém sem o mesmo destaque dos tempos de atleta.


domingo, 20 de setembro de 2020

Paulo Isidoro, um meio-campista competitivo

Até meados da década de 90, meias e atacantes do futebol brasileiro arrumavam confusões com treinadores que recomendavam que ajudassem na marcação. Quem mostrava-se diferente da maioria foi o então ponta-de-lança Paulo Isidoro, mineiro que completou 67 anos de idade em agosto passado. Como driblador e condutor de bola nos dez primeiros anos de carreira, o histórico dele foi de 98 gols em 398 jogos. Apesar disso, mostrava espírito competitivo para combater adversário e desarmá-lo.

Por isso se adaptou à função de volante no Guarani a partir de 1987, num meio de campo que contava ainda com Barbieri e Neto, e perdeu a disputa da final do Paulistão de 1988 para o Corinthians. Depois passou por XV de Jaú, Cruzeiro, Inter de Limeira (SP) e Valeriodoce (MG). E foi na função de volante que encerrou a carreira aos 43 anos de idade, atuando em clubes do Norte e Nordeste.

Com carreira iniciada no Atlético Mineiro em 1974, participou do time que perdeu o título do Campeonato Brasileiro de 1977 para o São Paulo, na definição através dos pênaltis, e que contava com essa formação: João Leite; Alves, Márcio, Vantuir e Valdemir (Romero); Toninho Cerezo, Ângelo e Paulo Isidoro; Marinho (Serginho), Marcelo (Caio) e Ziza.

A regularidade encurtou-lhe o caminho à Seleção Brasileira, nos preparativos à Copa do Mundo de 1978, na Argentina. No Mundialito de 1981, quando o Uruguai - que sediou a competição - venceu o Brasil por 2 a 1 e conquistou o título, o técnico Telê Santana também apostou as fichas nele na final, num time que tinha João Leite; Edevaldo, Oscar, Luizinho e Júnior; Batista, Cerezo e Paulo Isidoro; Tita (Serginho Chulapa), Sócrates e Zé Sérgio (Éder). E na Copa de 1982, na Espanha, foi o 12º jogador, pois entrou em quase todas as partidas.

Em 1980 o Atlético (MG) o trocou pelo ponteiro-esquerdo Éder, do Grêmio, mas quatro depois, já no Santos, conquistou o título paulista, num time comandado pelo saudoso treinador Carlos Castilho. À época também era identificado pelo apelido de Tiziu, ganhado na infância, referência a um passarinho negro comum em todo país.

Sabedoria para empregar o dinheiro ganhado no futebol permitiu que fosse colecionador de sete veículos Mercedes Benz guardados em sua fazenda, em Belo Horizonte. Lá também fez investimentos em gado e criação de peixes.

domingo, 13 de setembro de 2020

Irreverente Paulo Nunes agora comenta na TV

Saudoso narrador de futebol Luciano do Valle teve coragem de 'peitar' corporativismo das classes de jornalistas e radialistas ao abrir espaço a ex-jogadores para comentarem futebol na televisão nos anos 80. Lógico que inicialmente Luciano já esperava contemporização deles em relação a erros daqueles que estavam no gramado, mas sabia que o tempo se encarregaria para que repassassem aos telespectadores as experiências vividas nos gramados.

E da leva de ex-boleiros na televisão insere-se Paulo Nunes, goiano de Pontalina, que atua no time da Rede Globo. Ali ele retrata com fidelidade situações de jogo. E isso é possível porque foi jogador acima da média e ganhador de títulos na maioria dos clubes que passou, com ênfase para o Grêmio: Libertadores, Brasileirão, Recopa Sul-Americana, Copa do Brasil e dois Campeonatos Gaúchos.

Com 17 gols foi artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1996, e liderou a artilharia da Copa do Brasil de 1997 com nove gols. O histórico o levou à Seleção Brasileira à Copa América na Bolívia, e posteriormente ao Benfica, de Portugal. Contudo não emplacou por lá devido à lesões e encrencas com companheiros.

Claro que propostas para retorno ao Brasil não lhe faltaram, e a preferência foi o Palmeiras pela remontagem do ataque em 1998. Assim, outros títulos foram conquistados, ênfase novamente para a Libertadores na temporada seguinte, ano em que se envolveu em confusão com o meia Edílson, do Corinthians, cujo desdobramento foi briga generalizada de rivais. Irônico, ele protagonizou polêmica ao comemorar gol contra o Santos com imitação da máscara usada pela artista de televisão Tiazinha.

Paulo Nunes foi atacante de beirada rápido e hábil, que fazia a diagonal como poucos, mas por gostar da noite e abusar de umas goladas a mais o Palmeiras não se opôs para que voltasse ao Grêmio, sem que lá repetisse o futebol da primeira passagem. Isso facilitou transferência ao Corinthians, mesmo a contragosto de torcedores, que o hostilizavam constantemente.

Aí, projetou retorno ao Flamengo, onde iniciou a trajetória no futebol, mas quem o acolheu foi o Gama (DF). Apesar de seguidas lesões no joelho ainda passou pelo Al Nassr da Arábia Saudita, e o encerramento da carreira ocorreu no Mogi Mirim em 2003, aos 32 anos de idade. Em tempo: o nome dele é Arílson de Paula Nunes.

domingo, 6 de setembro de 2020

Goleiro Wagner, herói no título do Botafogo de 95

Economista Carlos Augusto Montenegro preside a empresa Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), uma das maiores no segmento de pesquisas da América Latina. Também presidiu o Botafogo de Futebol e Regatas no triênio a partir de 1994, época em que conseguiu reaver a sede social General Severiano e tirou o clube do jejum de títulos do Campeonato Brasileiro, ao conquistá-lo em 1995.

Naquela temporada Montenegro protagonizou decisão insólita após derrota de sua equipe para o Cruzeiro por 5 a 3 no Estádio do Mineirão, na nona rodada da competição. Ao entrar apressadamente no vestiário após a partida, a boleirada esperava por bronca. Todavia a surpresa foi comunicar que pagaria bicho.

Para que não pairasse desconfiança, o dirigente abriu o malote de dinheiro e avisou: “Hoje vocês jogaram como campeões. O dinheiro do bicho está aqui”, bradou, jamais imaginando que aquele gesto resultaria em pacto da boleirada à luta pelo título, com coroação no dia 17 de dezembro. Três dias antes, o time havia conquistado vitória por 2 a 1 sobre o Santos no Estádio do Maracanã, e dependia apenas do empate para conquistar o objetivo, alcançado com o resultado de 1 a 1 no Estádio do Pacaembu.

Na ocasião, o time botafoguense treinado por Paulo Autuori foi esse: Wagner; Wilson Goiano, Wilson Gottardo, Gonçalves e André Silva; Leandro Ávila, Jamir, Beto e Sérgio Manoel; Donizete e Túlio. E um dos heróis desse time foi o goleiro Wagner, que na finalíssima operou milagre em chute à queima-roupa do meia Geovanni. O predestinado tinha tanta convicção do título que após a vitória sobre o Santos arriscou encomendar a compra de um veículo Tempra zero km, com projeção de parte do pagamento advindo da premiação aos atletas.

A regularidade na meta botafoguense resultou em prolongamento de contratos no clube até 2002, com títulos da Conmebol, bi-estadual e Torneio Rio-São Paulo, ocasião em que manifestou gratidão aos zagueiros Gottardo e Gonçalves, que intercederam para a sua permanecesse no clube em 1994, quando seria dispensado pela fase irregular que atravessava.

Sebastião Wagner de Souza e Silva ainda jogou no Santo André e Madureira até 2004. Tentou a decolagem como treinador no Boavista e São Cristóvão, porém sem sucesso. Por isso entrou no ramo de restaurante no mercado de peixes de Niterói. 


domingo, 30 de agosto de 2020

Roger Machado, profissional do futebol que luta contra o racismo

Se jogadores da NBA lideraram protesto contra o racismo nos Estados Unidos, percebe-se a dimensão que o assunto atingiu naquele país. Na Europa, notadamente na Inglaterra, foram registrados mais manifestações contra discriminação racial no último final de semana, e o assunto tem gerado discussões no Brasil. No futebol, o negro treinador Roger Machado, do Bahia, tem sido participativo nestas discussões, com cobrança de igualdade de tratamento para as raças.

A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Ah, não falar sobre democracia racial? Minha posição como negro na elite do futebol é para confirmar o racismo. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou ao restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim”, desabafou.

Ano passado, apenas dois treinadores negros integraram clubes do Campeonato Brasileiro da Série A: Roger Machado e Marcão, do Fluminense. E a postura de Roger de se posicionar sobre racismo estrutural existente no Brasil e no futebol teve eco na Câmara de Vereadores de Salvador (BA), que o condecorou com a medalha Zumbi dos Palmares, honraria concedida pelo destaque na luta contra o racismo.

Esse Roger Machado com posições definidas sobre comportamento não tem 'papas na língua' sobre relacionamento no elenco do Bahia, ao não poupar críticas ao atacante Marco Antonio. A justificativa para afastá-lo em uma semana foi falta de profissionalismo. “O Marco Antonio estava gordo. Aí emagreceu, entrou nos eixos e está de volta”, informou o treinador, exigindo dos comandados que se pautem pela imagem dele enquanto atleta, quando trilhou trajetória de seriedade.

O Roger atleta foi lateral-esquerdo com firmeza na marcação e força física para levar a bola ao ataque. A trajetória no Grêmio de nove anos, a partir de 1994, foi de títulos regionais, Copa do Brasil, Libertadores e Recopa. Nos dois anos de Fluminense igualmente manteve regularidade, e a sonhada carreira no exterior durou apenas uma semana, quando foi acusada lesão lombar no D.C. Unitad dos Estados Unidos.

Como treinador, oscilou em grandes clubes. Foi terceiro colocado no Brasileirão com o Grêmio, campeão estadual no Atlético Mineiro, sucumbiu no Palmeiras, e tem sido criticado no Bahia.

domingo, 23 de agosto de 2020

Sylvinho, lateral-esquerdo ganhador de títulos

Mídia brasileira grafava o apelido do então lateral-esquerdo Sylvio Mendes Campos Júnior como Silvinho, desprezando o 'y' durante os cinco anos de Corinthians, a partir de 1994. Sylvinho com 'y' passou a ser grafado quando ele se transferiu à Inglaterra para atuar no Arsenal e construir carreira internacional.

Lá assimilou a língua inglesa e posteriormente a espanhola nos oito anos divididos entre Celta de Vigo e Barcelona. Por fim, a andança na Europa foi completada na volta à Inglaterra, vinculado ao Manchester City, com discreta passagem e participação em apenas dez partidas pela Premier League. Assim, o encerramento de carreira ocorreu no dia sete de julho de 2011, aos 37 anos de idade.

Os 17 anos como atleta profissional foram coroados de títulos, a começar pela Copa do Brasil em 1995 e Brasileirão três anos depois pelo Corinthians, em vitória sobre o Cruzeiro por 2 a 0, na antevéspera daquele Natal, quando atuou nesse time: Nei: Índio, Batata (Cris), Gamarra e Sylvinho; Ricardinho (Amaral), Vampeta, Rincón e Marcelinho; Edílson e Mirandinha (Dinei). E despediu-se do Timão, ano seguinte, após o título no Campeonato Paulista.

Aquele estilo de jogador técnico para levar a bola ao ataque teve o devido reconhecimento em convocações à Seleção Brasileira a partir de 1997, diante da Rússia. E quando se presumia que fosse relacionado à Copa do Mundo da França, na temporada seguinte, o então treinador Zagallo optou por levar Zé Roberto na reserva de Roberto Carlos.

Se nos primeiros anos de Europa Sylvinho não 'beliscou' títulos, eles vieram em abundância na chegada ao Barcelona em 2004, quando se juntou aos brasileiros Deco, Belletti, Thiago Motta e Ronaldinho Gaúcho. Não se pode dizer que pendurou as chuteiras em 2011, pois incontinenti voltou a vesti-las na função de auxiliar técnico de Vágner Mancini no Cruzeiro, e depois Sport. Isso até 2013, quando foi anunciado no posto de auxiliar técnico fixo do Corinthians, para atuar na equipe do treinador Tite, que em 2016 o levou à comissão técnica da Seleção Brasileira, função que Sylvinho só se desligou para assumir o selecionado olímpico.

Todavia, o imediato desafio para que assumisse como treinador do Lyon (FRA) o fascinou. Na prática foi demitido após fracasso em onze rodadas no Campeonato Francês, em outubro do ano passado.

domingo, 16 de agosto de 2020

Treze anos sem o zagueiro Waldemar Carabina

Este 22 de agosto marca o 13º ano da morte zagueiro e treinador Waldemar Carabina, aos 78 anos de idade. Cita o site esportivo Pernambola fato curioso em uma das passagens dele como comandante do Santa Cuz. Após uma partida, no vestiário, o repórter Dalvison Nogueira esbarrou sem querer nele que, irado, explodiu: - Você tá cego, rapaz! Quando o repórter explicou que não enxergava de um olho, justificou que havia sido feita adaptação de olho de vidro, Carabina, envergonhado, não se cansou de pedir desculpas.

Na carreira de atleta ele jogou no Palmeiras entre as décadas 50 e 60, época em que cultura do futebol implicava que cada time tivesse um zagueiro estilo técnico e outro raçudo. Carabina enquadrava-se na segunda hipótese quer quando formou dupla com o clássico Aldemar, quer com o talentoso Djalma Dias.

Saudosistas dizem incansavelmente que o quarto-zagueiro Aldemar foi o melhor marcador de Pelé. Ele tomava a bola do adversário sem recorrer às faltas e morreu em 1977 no Recife, após ter sido atropelado. Já Waldemar Carabina impunha-se no jogo aéreo e valia-se da força física. Chegava junto nas divididas, e por vezes era até botinudo. E gabava-se de ter anulado Pelé em algumas partidas: “Poucos o marcaram tão bem quanto eu”.

Carabina morreu em decorrência do Mal de Alzheimer, mas seu histórico de quinto jogador que mais vestiu a camisa do Palmeiras será sempre realçado. Foram 581 jogos em 12 anos de clube, superado apenas por Ademir da Guia (901), Leão (617), Dudu (609) e Valdemar Fiúme (601).

Ele fez parte do memorável time de 1959 que sagrou-se campeão paulista na final contra o Santos. Eis os campeões: Valdir Joaquim de Moraes; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo Murolo e Romeiro.

Foram três jogos extras para decisão do título, com empates nos dois primeiros - 1 a 1 e 2 a 2 - e vitória palmeirense, de virada por 2 a 1, na derradeira partida, no Estádio do Pacaembu, com 45 mil pagantes. O grande Santos tinha Laércio; Getúlio, Formiga, Dalmo e Feijó; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Detalhe: naquela época a bola era marrom.

Outra saborosa experiência dele foi em 1963, quando um time parcialmente modificado conquistou novamente o título paulista, formado por Valdir Joaquim de Moraes, Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Vicente Arenari; Zequinha e Ademir da Guia; Gildo, Servilio, Vavá e Rinaldo. Depois vieram o lateral-esquerdo Ferrari, quarto zagueiro Minuca, volante Dudu e atacantes Tupãzinho e Ademar Pantera, com a formação de um grupo que eternizou a academia palmeirense.

Carabina encerrou a carreira no Comercial de Ribeirão Preto. Foi lá, também, o início na função de treinador, marcada por significativo período em clubes de Norte e Nordeste até 2004. O Palmeiras lhe deu a chance de comandar a equipe em 1988 na Copa União e Campeonato Paulista, com trabalho aceitável. No São José, em 1989, fazia campanha razoável até que intolerantes cartolas decidiram demiti-lo após quatro empates consecutivos. Na seqüência, o time joseense chegou à final do Paulistão e perdeu o título na disputa com o São Paulo, já com Ademir Mello no comando técnico.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Dida, goleiro maior pegador de pênaltis

 Em outubro próximo o ex-goleiro Dida vai completar 47 anos de idade. Tido como maior pegador de pênaltis do futebol brasileiro, teve brilhante carreira prolongada até os 42 anos, mas continua ligado ao meio como preparador de goleiros do Milan, da Itália. Nascido na cidade baiana de Irará, foi registrado em cartório local como Nelson de Jesus da Silva.

Aos discípulos de clube não precisa contar os dez anos como absoluto da meta a partir de 2000, visto que presenciaram a elasticidade para defesas à queima-roupa, facilidade para explorar a estatura de 1,95m de altura em interceptações de bolas cruzadas à sua área, e liderança para organização do compartimento defensivo.

Dida conquistou o Campeonato Italiano quando pegou três penalidades na final de 2003 contra a rival Juventus. Também ganhou duas vezes a Liga dos Campeões. E na sua simplicidade informa aos comandados que o segredo para defesas neste estilo é perseverança no trabalho. Foi por isso que em partida contra o São Paulo, em passagem pelo Corinthians, praticou duas defesas neste expediente através de cobrança do ex-meia Raí.

Quando iniciou a carreira no Vitória (BA) em 1992, Dida já dava mostras de futuro promissor, que se concretizou dois anos depois na trajetória pelo Cruzeiro até 1998, com conquistas da Copa do Brasil, Libertadores e quatro vezes o Campeonato Mineiro. Na sequência, se a experiência no Lugano da Suíça não foi a esperada, o Corinthians serviu de reencontro da fama com títulos do Campeonato Brasileiro, Mundial de Clubes, Copa do Brasil e Torneio Rio-São Paulo. Em 2010, de volta ao Brasil, anunciou aposentadoria. Todavia, dois anos depois arriscou reinício na Portuguesa, e completou o ciclo nos rivais gaúchos: Grêmio e Inter (RS).

Na Seleção Brasileira, o histórico de onze anos é de 91 partidas. Foi reserva de Taffarel e Carlos Germano na Copa do Mundo da França. Na edição seguinte - Japão e Coreia do Sul - foi reserva direto de Marcos, enquanto na Alemanha garantiu posição de titular. Conquistou títulos de Copa do Mundo, Copa América, duas vezes Copas das Confederações e medalha olímpica de bronze.

Em abril passado foi noticiado que teria utilizado passaporte português falso, sem que tivesse tirado proveito da suposta cidadania portuguesa. A investigação judicial teria começado há dois anos.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Petkovic, talento iugoslavo no futebol brasileiro

Se hoje dá contar nos dedos quantos gols de faltas são registrados no Paulistão, décadas passadas brotavam em cada clube talentosos cobradores, que faziam diferença em jogos. E um deles é o iugoslavo Dejan Petkovic, que em setembro vai completar 48 anos de idade, que encantou-se com o Brasil logo na chegada em 1997, para jogar no Vitória (BA), e que entre os diversos clubes brasileiros que atuou o auge foi no Flamengo nas passagens entre 2000/02 e 2009/11.

Pet, assim apelidado pelos amigos, cresceu em Majdanpek, na Sérvia, ouvindo histórias sobre o potencial técnico da extinta seleção da Iugoslávia, quarta colocada da Copa do Mundo de 1962 no Chile. Já profissionalizado no Crvena Zvezda em 1992, assistiu, um ano antes, o início da desintegração de seu país em conflitos armados entre sérvios, croatas, eslovenos, bósnios e albaneses. Também foi informado da matança de cerca de 140 mil pessoas e desalojamento de mais de quatro milhões na região dos Bálcãs.

Logo, não hesitou trocar o seu país pela Espanha em 1995, para ser vinculado ao Real Madrid. Contudo, sem espaço na equipe, acabou emprestado a clubes espanhois, até que em 1997 aceitou jogar no Vitória, em dois anos bem-sucedidos, quando jurou que bastaram dois meses para que aprendesse a falar português. “Ficou mais fácil porque eu já tinha o domínio da língua espanhola. Estranhei vestiário sem água quente para o banho”.

Em seguida ele intercalou passagens pela Itália, Arábia Saudita e China, antes do retorno ao Brasil para jogar em Fluminense, Goiás, Santos, Galo mineiro e Flamengo, onde encerrou a carreira em 2011, aos 38 anos de idade, cravando o repertório de 216 gols em 539 jogos ao longo da carreira.

Três anos depois o Atlético Paranaense abriu-lhe caminho para iniciasse a carreira de treinador. Depois ainda passou por Criciúma (SC) e Sampaio Corrêa (MA) sem que prosperasse. E mesmo a chance como coordenador técnico do Vitória não foi aproveitada, restando-lhe, como alternativa para se manter ligado ao futebol, atuar na equipe de comentaristas do canal SporTV.

Por sinal, em junho passado foi criticado no twiter pelo sotaque carregado, de difícil compreensão. Polêmico, em um dos programas da emissora, contrariado com comentário de um colega ao considerar Neymar o melhor jogador brasileiro pós-Pelé, Pet desabafou: “É melhor escutar isso do que ser surdo”.


domingo, 26 de julho de 2020

Índio, lateral-direito que voltou às origens em aldeia


José Satiro do Nascimento é um índio que jamais perdeu a sua essência. Criado na aldeia Xucuru Kariri, no município alagoano de Palmeiras dos Índios, passou a infância na roça em plantações de milho e feijão, estudou até a sexta série, e tinha loucura pra correr atrás de bola. Quando mudou para o município baiano de Paulo Afonso, olheiros do Vitória indicaram que se submetesse a teste na categoria infantil, quando já era pai aos 13 anos de idade, e viajou sozinho de ônibus à capital baiana.

Aprovado como lateral-direito que desafogava a defesa em passadas largas ao ataque, capaz de incessante vaivém, compensava quem argumentasse carência de técnica no futebol dele. Já profissionalizado seis anos depois, transferiu-se ao Corinthians por indicação do volante Vampeta, que havia sido seu companheiro no futebol baiano. E a troca de ares foi coroada com a conquista do Brasileirão de 1998 e Mundial de Clubes em 2000.

Na época, ele alegou ter recebido o menor salário do clube, de R$ 1,5 mil mensais, compensados com gordos bichos de premiação. “Eu não raciocinava. Assinava tudo que via pela frente. Até dirigia sem carteira de habilitação. Quando era parado em blitz, subornava guardas de trânsito”, confessou.

Do Corinthians, a sequência da carreira foi no Goiás e experiências internacionais na Coreia do Sul, Grécia e Peru, antes do retorno ao Vitória no biênio 2007/08. Depois disso enfrentou a penosa estrada da volta no futebol, principalmente em clubes do interior paulista como Grêmio Osasco, Noroeste e Francana. A carreira se estendeu até 2015 no Sport Clube Genus de Porto Velho, capital de Rondônia.

Incontinente ingressou na função de treinador do Gavião Kyikatêjê F.C, primeiro clube de futebol profissional composto por índios, da segunda divisão de Marabá (PA), mas que em 2014 integrou a primeira divisão daquele Estado. E ao não prosperar como comandante, projetou voltar a jogar, mas com a idade já avançada e sem espaço mudou-se para a cidade mineira de Caldas, próxima de Poços de Caldas, infiltrando-se em aldeia indígena. Ali comanda escolinha de futebol para garotos de dez a 15 anos.

Como os índios sofrem reflexo da retração na economia, neste período de pandemia do coronavírus, Índio usa a sua influência para conseguir cestas básicas, até porque conta com sete filhos e cinco netos.

domingo, 19 de julho de 2020

Volante Josué, uma carreira com 23 títulos

Que pais optam colocar nome do filho de Josué? Os fatos evidenciam que sejam religiosos e tementes a Deus. Geralmente são aquele que se inspiram em profetas bíblicos do velho testamento, como Moisés e o assessor dele Josué, que depois o sucedeu, e se transformou no responsável por liderar o povo de Israel na conquista da terra prometida.

Sabe-se lá se os pais do ex-volante Josué Anunciado de Oliveira se encaixam no perfil citado, mas como moravam em Vitória de Santo Antão, interior de Pernambuco, quando do nascimento do filho, de certo tomaram conhecimento do significado do religioso Antão, nascido no Egito, ano 251, e órfão aos 20 anos de idade. Foi quando, em postura de desprendimento de coisas materiais, doou parte da herança para estudos da irmã, e o restante dividiu aos pobres. Ele optou pelo deserto para vida penitencial, eremita, e isso se estendeu até os 105 anos de idade.

Seja como for, a inclinação do volante Josué para o futebol foi mostrada inicialmente no Atlético do Porto de Caruaru (PE). Era indício de trajetória vitoriosa que se consumou com conquistas de 23 títulos nos 20 anos de carreira, como volante talhado para desarme e acerto de passes, apesar de 1,69m de altura. A sequência no Goiás rendeu-lhe dez títulos em sete anos, em diferentes competições. A mania de levantar canecos se prolongou no São Paulo com bi do Brasileiro, Libertadores, Mundial e Paulista entre 2005 e 2007.

Após a última conquista no Tricolor paulistano, surgiram desafios mais ambiciosos na carreira: Seleção Brasileira no período de 28 jogos e transferência ao Wolfsburg da Alemanha, quando igualmente colocou faixa de campeão antes do retorno ao Brasil em 2013, para atuar pelo Atlético (MG). E pra quem já estava na vitrine do futebol, a história foi completada com dois títulos do estadual, Libertadores, Recopa Sul-Americana e Copa do Brasil.

Ao se caracterizar como vencedor no futebol, não foi incômodo para Josué encerrar a carreira em 2015, no Galo, embora reconhecesse que aos 36 anos de idade ainda poderia continuar. Foi quando regressou a Goiás para cuidar dos negócios já encaminhados, como fazenda de gado e produção de soja, loja de veículos, e empresariar jogadores de futebol e cantores sertanejos, com desistência desta última opção ao detectar que não levava jeito pra coisa.

Três anos sem o goleiro Waldir Peres

Portal gruposulnews.com.br publicou em outubro passado que 592 pessoas morrem diariamente no Brasil vitimadas por infarto e AVC (acidente vascular cerebral), segundo informação da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Neste contexto foi enquadrado o goleiro Waldir Peres, morto em 23 de julho de 2017, em Mogi Mirim, sem que apresentasse na ocasião qualquer problema de saúde. Ele havia almoçado e se preparava para uma festa de aniversário quando sofreu infarto fulminante.

Waldir estava com 66 anos de idade e não havia definido um caminho sólido pós-atleta, com carreira encerrada no Santa Cruz em 1988, e marcada por 650 jogos. Tudo começou na Ponte Preta em 1970 como reserva de luxo de Wilson Quiqueto. Depois passou por São Paulo, América (RJ), Guarani, Corinthians, Portuguesa e Santa Cruz, ocasião em que se julgava habilitado a desempenhar função de treinador, e a Inter de Limeira abriu-lhe as portas dois anos depois, para trajetória que se arrastou por 23 anos, sem decolar.

Ele chegou a comentar futebol em rádio e televisão, e até postulou ingresso na carreira política ao se filiar ao PRP, para disputar vaga de vereador na cidade de São Paulo, nas eleições de 2016, mas o prestígio no futebol não foi repassado às urnas, pois obteve infrutíferos 1.341 votos.

Melhor, então, o registro como goleiro revelado pela Ponte Preta e ápice no São Paulo de 1973 a 1984, quando mostrou elasticidade e reflexo para defesas difíceis. Um dos raros defeitos era na saída da meta, corrigido parcialmente na sequência.

No período conquistou o título paulista de 1975, e dois anos depois o Brasileiro, em decisão contra o Atlético (MG). Foi a época em que participou de três Copas do Mundo, a primeira chamado de última hora como terceiro da posição, para substituir o lesionado Wendel, cortado em 1974. Em 1978, no Mundial da Argentina, foi reserva imediato de Leão. Em 1982, na Espanha, titular. Aquela convocação gerou polêmica por causa da boa fase de Leão, então no Grêmio.

Dois anos depois Waldir Peres caiu em desgraça no São Paulo, e acabou topando transferência ao América (RJ). Foi o período em que recuperou a confiança, despertou interesse do Guarani, e no clube ficou marcado positivamente no jogo contra o Flamengo no Estádio do Maracanã, em 1985, pelo Campeonato Brasileiro, quando defendeu três pênaltis, no empate por 1 a 1.


Ronaldo Giovanelli, um história no Corinthians

Nos dez anos de Corinthians, marcados como ganhador de títulos, o goleiro Ronaldo Giovanelli exibia vasta cabeleira, modismo comum entre a boleirada décadas passadas. Hoje, comentarista esportivo da TV Bandeirantes, aparece no vídeo com cabeça raspada, justificada pela queda de cabelos em decorrência da doença alopécia areata, que provoca queda de fios de cabelo, devido à fatores emocionais, como o estresse, ou alterações da glândula tireoide.

A explicação foi necessária para não se gerar especulação de que estaria com câncer, cujos sinais apontam queda de cabelo quando o paciente se submete a tratamento de quimioterapia. Segundo Ronaldo, quando do diagnóstico da alopécia areata, bastaram 15 dias para que ficasse careca, mas encara a situação com normalidade. A doença afeta no máximo 2% da população, e com maior predominância em pacientes jovens.

A trajetória dele enquanto atleta precisa ser subdividida em antes de depois do Corinthians. No primeiro ano de clube, em 1988, era terceiro goleiro. Carlos, o titular, estava lesionado e com transação encaminhada ao futebol da Turquia. Como o saudoso Waldir Peres, reserva imediato, foi dispensado, surgiu a chance dele ser titular, e correspondeu na conquista do título paulista daquela temporada.

Dois anos depois, jogou naquele time corintiano que conquistou o primeiro título brasileiro, ao vencer o São Paulo por 1 a 0, na finalíssima, gol de Tupãzinho. O treinador era Nelsinho Baptista e a equipe base essa: Ronaldo Giovanelli; Giba, Marcelo Djian, Guinei e Jacenir; Márcio, Wilson Mano e Neto; Fabinho, Tupãzinho e Mauro. Aí, com a chegada do treinador Vanderlei Luxemburgo ao clube em 1998, houve imposição para desligamento de Ronaldo, que assim contabilizou 602 partidas com a camisa corintiana, considerado, portanto, o terceiro que mais a vestiu, atrás apenas de Wladimir e Luzinho.

O segundo estágio dele no futebol foi marcado por instabilidade, embora até o final daquela década se mantivesse em grandes clubes como Fluminense e Cruzeiro. A partir do ano 2000 a experiência foi em clubes de portes médios e pequenos, quando começou a trilhar a chamada estrada da volta no futebol. Passou por Portuguesa, Ponte Preta, Gama (DF), ABC (RN), Portuguesa Santista (SP) e Metropolitano (SC).

sábado, 27 de junho de 2020

Treze anos sem o goleiro Orlando Gato Preto


Imaginem se hoje, quando o mundo contesta com veemência o racismo, alguém ousaria apelidar o saudoso goleiro Orlando de 'gato preto'. Pois assim ele era identificado nos anos 60, quando se revezava na meta da Portuguesa com o igualmente falecido Félix. O próximo 19 de julho marca o 13º ano da morte de Orlando, após quatro meses internado em São Paulo. Ele foi vítima de AVC (acidente vascular cerebral), quando faltavam seis dias para completar 67 anos de idade.

O carioca Orlando Alves Ferreira pode não ter sido goleiraço, mas pegava as bolas defensáveis na passagem pela Lusa de 1963 a 1974. Ele só foi fixado como titular com a transferência de Félix para o Fluminense, cuja trajetória culminou com ingresso na Seleção Brasileira e conquista do tricampeonato mundial na Copa de 1970.

Orlando jogou num período em que eram raros goleiros negros. Exemplos marcantes se resumiram a Barbosa, Veludo, Barbosinha, Mão de Onça. Dimas Monteiro, Tobias, Jairo e Ubirajara Alcântara de Flamengo e Botafogo (RJ), eleito pelo júri do programa de televisão ‘Discoteca do Chacrinha’ o negro mais bonito do Brasil em 1971.

Ubirajara também entrou para a história do futebol como o primeiro goleiro a marcar gol, em partida contra a Portuguesa carioca. Ao chutar a bola de sua área, o objetivo era que atingisse o campo adversário. Todavia, empurrada pelo forte vento traiu o goleiro adversário.

Antes disso, havia registro de gol de goleiro em circunstância diferente. Em 1964, numa excursão da Lusa pelos Estados Unidos, após o nono gol contra o Massachusetts, o goleiro Félix foi jogar de centroavante para permitir a entrada de Orlando na posição. E curiosamente ele marcou o décimo gol luso, numa partida que terminou 12 a 1.

Barbosa, morto em 2000, foi goleiro de inegáveis virtudes no Vasco, porém ficou marcado pelo gol que sofreu do atacante uruguaio Ghiggia, na Copa do Mundo de 1950, na derrota brasileira na final por 2 a 1, no Estádio do Maracanã.
Barbosinha esquentou o banco de reservas do Timão até 1967, quando foi fixado como titular. Um ano depois, taxado de frangueiro por torcedores, perdeu espaço no clube, que voltou a contar com goleiros negros com as chegadas de Tobias e Jairo nos anos 70, e posteriormente com o alagoano César, baixinho de qualidade técnica discutível, em meados da década de 80.

sábado, 20 de junho de 2020

Batata, de zagueiro vigoroso a motorista de lotação


Se no futebol de hoje é praticamente proibido escalação de zagueiro com menos de 1,80m de altura, saibam que o Corinthians conquistou o bicampeonato brasileiro 1998/99 com dupla de zaga de estatura inferior: paraguaio Gamarra tem 1,78m e Batata 1,76. Todavia, valiam-se da elogiada impulsão para se sobressaírem pelo alto. Foi o 'casamento' da técnica do estrangeiro com o espírito guerreiro do brasileiro.

O apelido de Batata 'colou' por ter sido flagrado algumas vezes comendo batatas escondido, enquanto a mãe as preparava. Fosse hoje, com aversão dos clubes por apelidos, de certo ele seria identificado pelo prenome do registro de nascimento constante como Wanderley Gonçalves Barbosa, que em novembro próximo vai completar 47 anos de idade.

Embora tivesse nascido em Barra do Piraí (RJ), o início da carreira foi na Inter de Limeira (SP) em 1993, dispensado três meses depois após rebaixamento da equipe às Série A2 do Paulista. Assim, seguiu trajetória no Ituano, esteve no Monterrey (MEX), até ganhar visibilidade a partir de 1998 no Corinthians, quando foi eleito o melhor zagueiro do Paulistão.

Lá ele ficou até 2002, com histórico de 164 partidas, registro de 84 vitórias, 45 empates e 35 derrotas. Marcou seis gols a favor e um contra. E os seus últimos anos de clube foram marcados por lesões. Assim quase não atuou nas conquistas do Mundial de Clubes em 2000 e Rio São Paulo em 2002, pois havia perdido a posição para Fábio Luciano.

Na temporada seguinte se transferiu ao Atlético Mineiro, sem contudo se firmar como titular. A partir daí começou a rodar clubes como Brasiliense (DF), Náutico (PE) e Pogón Szczecin (POL) em 2006, sem que se adaptasse. “Saí do Recife com 42 graus e cheguei na Polônia com menos 28. Quase enlouqueci”, confessou.

Após nova passagem pelo Náutico, ainda atuou no interior pernambucano no Central de Caruaru, até que o encerramento da carreira ocorresse no Salgueiro em 2008, aos 34 anos de idade. “Foi quando comecei a perceber que mais atrapalhava de que ajudava o time. Estava tirando espaço dos garotos. Cheguei a conclusão que estava na hora”.

A identificação com a cidade de Itu fez que lá voltasse a residir, pelo menos três anos atrás. E sem que tivesse migrado para outras atividades no futebol, trabalhava como motorista de lotação com sua perua Kombi.

sábado, 13 de junho de 2020

'Com Dadá em campo, não há placar em branco'


Futebol: quem te viu; quem te vê! Isso não se restringe ao aspecto técnico. Se no passado era permitido provocação de jogadores de um clube ao adversário, hoje isso é intolerável. Imaginem se alguém copiasse o ex-centroavante Dadá Maravilha? Na passagem pelo Inter (RS), véspera de jogo contra o Corinthians, ele mandou recado irônico ao saudoso zagueiro Moisés: “Não consigo ficar duas partidas seguidas sem jogar bem. Por isso você e o seu time vão pagar o pato”.
Também provocava ao prometer gols de Dadá nas partidas, e criava os respectivos nomes. Ao comemorar o 'gol PM', pulou nas costas de um policial e levou cacetada. Assim era Dario José dos Santos, 74 anos de idade completados em março passado, com passagens em Inter, Atlético Mineiro, Flamengo, Sport Recife e Ponte Preta, entre outros, após início de carreira no Campo Grande (RJ) em 1966, quando já havia saído da Febem pelo histórico de ladrãozinho. Ele jura ter marcado 926 gols até 1986 no Flamengo, ao cravar o rótulo de atleta mais folclórico do país, com produção de frases inesgotáveis, como as que seguem.
1 - "Nunca aprendi a jogar futebol, pois perdi muito tempo fazendo gols."
2 - "Com Dadá em campo, não há placar em branco."
3 - "Não existe gol feio. Feio é não fazer gol."
4 - “Três coisas que param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha.”
5 - "Pra fazer gol de cabeça era queixo no peito ou queixo no ombro."
6 -“Fui o máximo como cabeceador. Com estatura de 1,85m de altura, eu saía 90cm do chão para cabecear.”
7 - "Quando eu saltava o zagueiro conseguia ver o número da minha chuteira."
8 - "Chuto tão mal que no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol.
9 - "A área é o habitat natural do goleador, nela ele está protegido pela constituição. Se for derrubado é pênalti."
10 - "Se minha estrela não brilhar, vou lá e passo lustrador nela."
11 - "Não venha com a problemática que eu tenho a solucionática."
12 - "No futebol existem nove posições e duas profissões: o goleiro e o centroavante."
13 - “Marquei três gols de bunda, um deles proposital.”
14 - “Pelé, Garrincha e Dadá deveriam ser curriculum escolar”.
15 - “Não falem mal do Dadá e Frank Sinatra, senão é porrada.”
16 - “Se o gol é a maior alegria do futebol, foi Deus quem inventou Dadá, porque Dadá é a alegria do povo”.

domingo, 7 de junho de 2020

Seis anos sem Eduardo Farah, dirigente de inovações


O último 17 de maio marcou o sexto ano da morte do empresário e desportista José Eduardo Farah, aos 80 anos de idade, vítima de falência múltipla de órgãos. De 1988 a 2003 ele presidiu a FPF (Federação Paulista de Futebol), após substituir José Maria Marin. Em sua gestão foi construída nova sede da entidade e revolucionado conceitos, com implementação do marketing esportivo na competição estadual, reverberado favoravelmente aos clubes.

Em 1995 ele vendeu os direitos de exploração da competição à empresa VR por R$ 45 milhões. Outro aplaudido incremento foi a venda dos direitos de transmissões ao vivo de jogos através da TV aberta e por assinatura para a Rede Gobo, emissora que, segundo ele, teria sido responsável por seu afastamento da entidade, ao abrir espaço em 2003 para a concorrência do SBT.

Farah determinou numeração fixa nas camisas dos jogadores, com os respectivos nomes. Implantou a parada técnica e spray para marcar posição de bola e da barreira. Instalou a placa eletrônica de tempo de acréscimo nas partidas, e parecia não ter limite para criatividade. Partidas que terminavam empatadas sem gols, os vencedores eram definidos através de cobranças de pênaltis.

No auge de uma gestão bem-sucedida, Farah tentou 'tacada' supostamente revolucionária em 1998. Para repatriar o meia Marcelinho Carioca - que não havia se adaptado ao futebol espanhol, no Valência -, criou o Disk-Marcelinho, concurso entre torcedores dos quatro principais clubes paulistas para adquirir o passe do jogador. Criou uma central telefônica ao custo de R$ 3 para cada ligação, estendida por onze dias, de forma que aquele que tivesse maior percentual de discagem seria o vencedor.

Se Farah projetou que superaria os US$ 7 milhões (cerca de R$ 15 milhões na cotação da época), exigidos pelo Valência, na prática a promoção foi um fiasco, com 580 mil ligações. Assim, o valor arrecadado de R$ 1,74 milhão implicou em renegociação com os espanhois e participação do Corinthians com R$ 4 milhões, que o então presidente Alberto Dualib havia prometido quitar.

Corinthians foi o clube de maior adesão de torcedores, com 62,5%, seguido de São Paulo 20,3%, Santos 9,5% e Palmeiras 7,7%. Logo, Marcelinho pôde reviver no clube momentos marcantes com gols de falta em abundância, tanto que dos 206 marcados em 433 jogos, 59 deles foram naquelas cobranças.

Djalma Dias, injustiçado em Seleção Brasileira


Neste período de pandemia, quarentena prolongada, futebol paralisado, o noticiário esportivo fica encolhido, e isso exige imaginação de produtores de programas e edições de textos para pautas sugestivas, com finalidade de cativar atenção de leitores e ouvintes.
Como integro equipe de analistas de futebol da Rádio Brasil Campinas, a coordenadoria do programa criou o quadro 'Painel Campeão', ocasião em que são elaboradas perguntas sobre o futebol de todos os tempos, uma delas sobre qual atleta seria caracterizado como maior injustiçado, ao ser relegado na Seleção Brasileira à disputa de uma Copa do Mundo?
Em viagem ao passado uns dirão ter sido o meia cruzeirense Dirceu Lopes. Outros vão citar o saudoso centroavante Toninho Guerreiro, de Santos e São Paulo, cortado de última hora do Mundial de 1970, por causa do diagnóstico de sinusite. Na prática houve ingerência do então presidente da República Emílio Garrastazu Médico para convocação de Dadá Maravilha, e o treinador Zagallo curvou-se à exigência.
Há quem lembrará que o meia Neto em 1990, no Corinthians, atravessava fase singular, e que teria sido tremenda injustiça o treinador Sebastião Lazaroni não levá-lo à Copa do Mundo da Itália, com preferência por Bismark, ora no Vasco. Aquele foi considerado um dos piores grupos de Seleção Brasileira.
Diante do universo aparentemente infindável de exemplos, justifiquei que o saudoso zagueiro-central Djalma Dias foi o maior injustiçado, pois acabou cotado em duas ocasiões às vésperas de Copa. Em 1966, vinculado ao Palmeiras, foi pré-relacionado na lista dos 45 jogadores pelo treinador Vicente Feola, e inexplicavelmente foi cortado, considerando-se que atravessava o auge da carreira, enquanto Belini, aos 36 anos, já era jogador decadente no São Paulo. O outro zagueiro central convocado àquela Copa da Inglaterra foi Brito.
Três anos depois, já em defesa do Santos, Djalma Dias havia voltado em alto estilo à Seleção Brasileira, nas Eliminatórias à Copa do Mundo do México, em 1970, ocasião em que, titularíssimo nas feras do Saldanha, formava dupla de área com o também saudoso quarto-zagueiro Joel Camargo. E foi na troca de comando do selecionado, com Zagallo assumindo como treinador, que Djalma ficou de fora, num descaso pelo estilo clássico dele para valorização da saída de bola de trás, sabedoria para desarme ao adversário sem recorrer às faltas, além do preciso tempo de bola para antecipação da jogada.

Djalma Dias foi revelado pelo América (RJ), e em 1963, já no Palmeiras, havia substituído Waldemar Carabina, ano da conquista de título estadual. Ele participou da primeira academia palmeirense comandada pelo treinador Nelson Filpo Nunes, e o vínculo com o clube se estendeu até 1967, quando, em litígio, transferiu-se ao Galo mineiro, onde permaneceu durante um ano, até que no Santos readquirisse a boa forma, que se prolongou no Botafogo (RJ) durante o triênio a partir de 1971.
Vítima de AVC (acidente vascular cerebral), ele morreu em primeiro de maio de 1990, aos 41 anos de idade, no Rio. E deixou o herdeiro Djalminha, meia extremamente habilidoso que chegou à Seleção Brasileira, e teve trajetória brilhante em Flamengo, Guarani, Palmeiras, futebol japonês, europeu, australiano e mexicano.

sábado, 23 de maio de 2020

Adeus a Eli Carlos, meia de Cruzeiro e Flamengo


Dois xarás meio-campistas atuaram no Cruzeiro em épocas distintas. É preciso defini-los com precisão sobre divulgação da morte de um deles, no dia 22 de maio passado, após quase dois anos internado. Foi Eli Carlos - nome composto -, 66 anos de idade, aquele que em 1977, como ponta-de-lança, conquistou título estadual e artilharia da competição com 17 gols. Portanto, nada a ver com o prenome Elicarlos, o volante sergipano que passou pela Toca da Raposa no triênio a partir de 2008.

O Eli falecido também jogou no Flamengo quando da preparação de uma geração de ouro pelo saudoso treinador Cláudio Coutinho em 1978, porém enfrentando concorrência desproporcional na 'meiúca' dos talentosos Zico e Adílio. Lá também estavam o goleiro Raul, lateral-esquerdo Júnior e atacante Tita, entre outros.

Aí, no uso de sua rede social para registro do falecimento de Eli Carlos, a direção do Flamengo extrapolou com citação de que 'lamenta profundamente a morte', quando de certo a maioria de seus dirigentes nem se lembra mais de seu ex-atleta. Duvida? Não saberão descrever o início de carreira dele no Guarani como meia-armador de habilidade na condução da bola, lucidez nos lançamentos e complementador de jogadas.

Essas características passaram a ser aprimoradas no juvenil bugrino em meados dos anos 70, e posteriormente ele despertou interesses de grandes clubes. No Coritiba, por exemplo, sagrou-se bicampeão no biênio a partir de 1975, quando havia sido fixado como ponta-de-lança. No histórico de 132 jogos marcou 54 gols.

Já na década de 80 houve declínio técnico no futebol dele, e isso implicou na estrada da volta, com encerramento da carreira no Palmeirinha de São João da Boa Vista, em 1987. Com Beto Zini na presidência do Guarani no ano seguinte, Eli voltou ao velho ninho e na condição de auxiliar-técnico de José Luiz Carbone. Aí, quando da demissão do comandante, ele chegou a substitui-lo, sem contudo prosperar na função. Apesar disso, houve tentativa de prosseguimento em clubes como Uberlândia e Francana, mas na prática ele se revelou melhor nas funções de supervisor e adjunto de empresários de futebol.

Por um período Eli Carlos enveredou à atribuição de comentarista de futebol pela Rádio Bandeirantes-Campinas. E por ter vivenciado as imponderações da modalidade, ficou marcado pelo bordão que criou: 'O certo é o que dá certo'.

sábado, 16 de maio de 2020

Parreira: ‘o gol é apenas um detalhe’


Quem, um dia, não falou uma tremenda bobagem e depois se arrependeu? Diferentemente da maioria, o ex-treinador de futebol Carlos Alberto Perreira publicamente não dá a mão à palmatória quando um dia disse que ‘o gol é apenas um detalhe’. Falou em 1994, ano da conquista do tetracampeonato mundial brasileiro, mas na prática o trecho repercutido mundialmente foi extraído de um contexto, quando citou que “o gol é apenas um detalhe de tantos outros que levam um time à vitória”.

Intimamente é impossível imaginar que Parreira não se sinta desconfortável quando lembram-no sobre o assunto. Afinal, uma biografia marcada de sucesso deveria ser dissociada da marcante frase. Hoje, aos 77 anos completados em fevereiro passado, narra a sua trajetória de militar que surgiu para o futebol quando adjunto do saudoso professor Cláudio Coutinho na preparação física da Seleção Brasileira, que conquistou o tricampeonato mundial na Copa do Mundo de 1970, no México.

Parreira migrou à carreira de treinador em 1975, no Fluminense. Três anos depois foi trabalhar no Kuwait, jamais prevendo que precocemente caísse no colo o comando da Seleção Brasileira em 1983, ocasião em que soube absorver enxurrada de críticas pelo vice-campeonato da Copa América, com derrota e empate diante do Uruguai.

Por sorte, ano seguinte soube dar continuidade ao time do Fluminense montado pelo antecessor José Luiz Carbone, e conquistou o título do Campeonato Brasileiro. Embora não fosse intruso no meio, se apresentasse como homem graduado no Exército brasileiro, havia desconfiança da mídia paulistana dele prosperar na carreira de treinador sem currículo de atleta. Nem por isso fugiu do desafio de dirigir o Bragantino em 1991, em substituição a Vanderlei Luxemburgo, e calou os seus detratores com o vice-campeonato brasileiro daquela temporada.

Assim, pavimentou retorno ao comando da Seleção Brasileira que em 1994, após 24 anos de jejum, conquistou o tetracampeonato nos Estados Unidos. Lá, colocou em prática a sua indisfarçável filosofia de 'futebol de resultados', e habilmente se desligou da função, certo que as portas estariam escancaradas para retorno, que ocorreu em 2006.

Antes disso, em 1998, amargou dolorosa dispensa da Seleção da Arábia Saudita, após a segunda rodada da primeira fase, na derrota para a Dinamarca por 1 a 0. E saiu sem ferir suscetibilidade.

Há 102 anos torcedores já iam de máscaras a estádios


Subentende-se pela expressão mascarado no futebol o jogador posudo, que se considera a última bolacha do pacote.

De antigos seriados da televisão, a máscara do Zorro cobria-lhe os olhos e foi mantida curiosidade, apesar das tentativas de arrancá-la.

Do entretenimento 'Reis do Ringue' na televisão, que atingiu o auge nos embates de 'luta livre' nos anos 60, alguns não foram 'desmascarados'.

Futuramente, quando torcedores de clubes de futebol passarem a ser vistos com máscaras faciais na reabertura de portões dos estádios ao público, não suponha que isso será novidade.

GRIPE ESPANHOLA

Em 1918 a gripe espanhola assolou o país, provocando mortes de mais de 20 mil pessoas.

Estado do Rio de Janeiro foi afetado com contágio do vírus em 66% da população de 910 mil habitantes.

Com estrutura sanitária deficiente, foi aumentado rapidamente a incidência de mortes.

E mesmo quando a doença estava praticamente controlada, torcedores de clubes do Rio de Janeiro, que tiveram acesso a estádios, procuravam se proteger com máscaras para evitar contágio do vírus.

Naquele Estado, a competições regional teve paralisação de um mês, a partir de outubro, e o campeão Fluminense desprezou a última partida contra o Carioca F.C., porque o WO não provocaria modificação no cenário.

O jornalista capixaba Felipe Souza, de o jornal A Gazeta, de Vitória (ES), publicou que o Campeonato Paulista, interrompido em novembro de 1918, só foi reiniciado na temporada seguinte.

Espanha deu nome à gripe porque foi um dos primeiros países a divulgar aquela pandemia que se espalhava pela Europa e África, antes de chegar ao Brasil em setembro de 1918, em contágio provocado por marinheiros que desembarcaram em Recife.

ORTOGRAFIA ANTIGA

Embora a reforma ortográfica da língua portuguesa tivesse ocorrido no início da segunda década daquele século, jornais da época relutavam acompanhá-la, pois ainda preservavam as chamadas consoantes mudas como 'actuação e opportunidade', por exemplo.

À época, a reforma implicava na obrigatoriedade de acentuação das proparoxítonas, mas quer Jornal dos Sports, quer Jornal do Brasil insistiam em não acentuá-las, como a palavra 'p(é)ssima'.

Isso contrasta com quem se dispôs reproduzir documento do início do século XX sem observância da ortografia da época.