sábado, 28 de abril de 2018

Denílson, o primeiro cabeça-de-área



 A Copa do Mundo da Rússia está ‘batendo às portas’ e, diferentemente de outras ocasiões, ainda não se respira o clima da competição. Todavia, alternadamente a coluna vai enfocar atletas que participaram da Seleção Brasileira em Mundiais, um deles o volante Denílson, do Fluminense, na vexatória participação em 1966, na Inglaterra.

 O nome de Denílson constou da pré-relação dos 45 chamados pelo técnico Vicente Feola a três meses daquela Copa, resistiu à sequência de cortes de jogadores, ficou entre os 22 inscritos à competição, e jogou duas das três partidas do Brasil: vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária e derrota por 3 a 1 para Portugal, que implicou na eliminação. Ele ficou de fora da partida contra a Hungria.

 Denílson Custódio Machado, que em março passado completou 75 anos de idade e mora no Rio de Janeiro, entrou para a história do futebol brasileiro como a primeiro cabeça-de-área. O inventor da função foi o saudoso treinador Élbua de Pádua Lima, o Tim, quando comandava o Fluminense em 1964.

 Tim foi um estudioso do futebol e por isso ganhou reconhecimento como estrategistas, fazendo uso de jogo de botão para mostrar o adequado posicionamento de seus jogadores. Ele pretendia dar mais respaldo aos zagueiros, e por isso criou a função do jogador que dava o primeiro combate no ponta-de-lança adversário, de forma que um dos zagueiros marcasse o centroavante e o outro ficasse na sobra.

 Denílson, o ‘Rei Zulu’, teve ótima estatística de desarme, mas faltava-lhe recurso técnico de outros meio-campistas da época para sair de trás com bola dominada. Assim, Tim acertou em cheio ao fixá-lo à frente dos zagueiros, liberando o também volante Joaquinzinho para trabalhar como meia-armador.

 O Fluminense da época sagrou-se campeão carioca num time formado por Castilho; Carlos Alberto Torres, Procópio, Valdez e Altair; Denílson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes. Na finalíssima diante do Bangu, o ‘Nense’ ganhou por 3 a 1, com gols de Joaquinzinho, Jorginho e Gilson Nunes.

 Ao sair das Laranjeiras em 1973, ele foi jogar no Rio Negro do Amazonas, onde ficou durante duas temporadas. A carreira foi encerrada na Bahia, jogando pelo Vitória em 1975. Com os dois primeiros anos como atleta do Madureira, antes de chegar ao Fluminense, ele jogou bola profissionalmente durante 14 anos.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Joãozinho, o bailarino nos tempos de Cruzeiro


 Jogador que marca gol decisivo em título da Libertadores só é exaltado? Errado. Pelo menos o ex-ponteiro-esquerdo Joãozinho, do Cruzeiro, correu risco de tomar uns ‘petelecos’ após conquista da competição, na vitória por 3 a 2 sobre o River Plate da Argentina, dia 30 de julho de 1976, em jogo extra no Estádio Nacional de Santiago (CHI).

 Por mais paradoxo que pareça, o treinador do Cruzeiro à época, o saudoso Zezé Moreira, correu atrás de seu jogador gritando ‘moleque irresponsável’, e pronto para agredi-lo, irritado que estava pela irresponsabilidade de seu comandado ter se antecipado ao cobrador oficial de faltas da equipe - o lateral-direito Nelinho - para a batida na bola.

 Eram 42 minutos do segundo tempo, e a expectativa ficava por conta do especialista Nelinho para que o Cruzeiro desempatasse. Aí, inesperadamente, Joãozinho partiu pra bola e a chutou sobre a barreira e fora do alcance do goleiro argentino. Os heróis cruzeirenses à época foram Raul; Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Wilson Piazza (Valdo), Zé Carlos e Eduardo Amorim; Ronaldo Drummond, Palhinha e Joãozinho.

 A lembrança de Joãozinho ocorre porque foi um excelente driblador, qualidade em falta a todos jogadores que estiveram em campo no empate sem gols de Ceará e São Paulo, em Fortaleza, pelo Campeonato Brasileiro.

 Joãozinho conduzia a bola quase colada aos pés, com balanço que desconcertava marcadores. Logo, era plenamente justificado o apelido de ‘Bailarino da Toca da Raposa’. Embora destro, aprendeu a bater na bola com a canhota, e havia confessado de não gostar de treinos físicos e ouvir palestras. “Gosto é de jogar”, revelou à revista Placar.

 Na chegada no juvenil do Cruzeiro dizia ser meia-esquerda, mas foi adaptado na ponta. E para ficar no clube teve que se curva à exigência de abandonar o vício do cigarro. Assim, lá ficou de 1973 a 1982, debitando-se um ano de recuperação, por causa de fratura exposta na perna direita.

 Ao voltar ao clube, em 1984, o rendimento não era o mesmo, a exemplo da passagem anterior pelo Inter (RS), assim como posteriormente no Palmeiras, Atlético Paranaense e Coritiba até 1987, quando encerrou a carreira.

 João Soares de Almeida Filho morou em Boston (EUA), mas agora está radicado em Contagem (MG), onde tem negócios. Ele completou 64 anos de idade em fevereiro passado.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Adeus ao treinador José Teixeira


 Disseminou rapidamente a notícia da morte do ex-treinador de futebol professor José de Souza Teixeira, 13 de abril passado, vítima de infarto fulminante, em São Paulo, aos 82 anos de idade. No conteúdo das mensagens nas redes sociais houve até exagero entre aqueles que pretenderam realçar competência do profissional.


 Claro que no conjunto de valores de um treinador, não pode ser creditado ao professor Teixeira o rótulo de profundo conhecer de futebol, mas certamente havia compensação pela postura de líder de grupo e usar psicologia convincente de relacionamento humano nos clubes que trabalhava.

 Como convém ao paizão, ele sabia conduzir conversa ao pé do ouvido, separadamente, com os jogadores. Explicava os reais motivos que o levavam a ‘sacá-los’ do time titular, assim como levantava astral daqueles que estavam deprimidos.

 Evidente que soube assimilar esse comportamento quando ainda era preparador físico do Corinthians, na comissão técnica do treinador Oswaldo Brandão, quando o clube encerrou um jejum de títulos de 22 anos em 1977, fato que o inspirou a escrever um livro sobre aquele tabu, assim como foi autor da publicação ‘50 anos Por Dentro do Futebol: Histórias e Bastidores’. Também presidiu o Sindicato dos Treinadores de São Paulo.

 Embora tivesse trabalhado como treinador do Corinthians em 1978, e tantos outros clubes brasileiros, a marcante passagem foi no Ituano, quando sagrou-se campeão da então denominada segunda divisão paulista, na disputa de título com a Ponte Preta, em 1989. Na ocasião, ambos conquistaram acesso ao Paulistão.

 O retrospecto dos 67 dias comandando o Guarani, em 1982, em 18 jogos, foi de oito vitórias, cinco empates e cinco derrotas. Na carreira internacional, registro de passagens pelo Milionários da Colômbia, Universitário de Lima (Peru), Al Nasr (Arábia Saudita), Al Shabab (Dubai) e Tokio (Japão). Além do Corinthians, registro de participação em grandes clubes como Santos e Coritiba.

 Professor Teixeira teve duas passagens pela Seleção Brasileira. Primeiro como preparador físico na Copa do Mundo da Argentina, em 1978. Depois, quase no encerramento de sua carreira como treinador, no selecionado feminino. Na disputa da Copa da Paz, na Coreia do Sul, venceu o time da casa e empatou com a Itália, com equipe restrita a jogadoras paulistas. Também trabalhou no feminino do Saad.

Rincón, do talento para a prisão


 O vaivém do Brasil a Colômbia gera dúvida onde o ex-volante Fred Euzébio Gustavo Rincón Valencia teria fixado residência. Estaria em São José dos Campos (SP), onde já foi treinador do time joseense, ou no país em que nasceu há 51 anos?

 Se experiências como treinador não prosperaram nas passagens pelo sub20 do Corinthians, São Bento, Flamengo e Guarulhos e São José – todos de São Paulo -, como meio-campista de clubes brasileiros mereceu elogios desde que chegou ao Palmeiras em 1994, após passagens pelo futebol da Colômbia.

 Na época, Fred Rincón era meia ofensivo que despertou interesse do Nápoli, e na Itália disputou 28 partidas e marcou sete gols na temporada 1994-95. Lá atuou ao lado do quarto-zagueiro André Cruz, revelado pela Ponte Preta.

 Na temporada seguinte, quando sugeriu que daria passo para avançar na carreira, com transferência ao Real Madrid, se equivocou. Na curta passagem pelo futebol espanhol saiu resmungando de racismo, e não titubeou aceitar convite para retornar ao Palmeiras e depois Corinthians, período que retomou o tema racismo, quando disse ter sido atingido pelo então palmeirense Paulo Nunes.

 Com perfil de quem não leva desaforo pra casa, cuspiu no rosto do desafeto. Sequer poupou companheiros no Corinthians. Quando a discussão com o atacante Mirandinha ficou ácida, saiu no braço. Também teve encrenca com o meia Marcelinho Carioca, nos tempos em que o quarteto corintiano de meio de campo era formado por Vampeta, Rincón, Marcelinho e Ricardinho.

 Em 1997 já havia concordado com o então treinador Joel Santana, que tratou de moldá-lo à função de volante, considerando que além da técnica para valorizar a saída de bola, era guerreiro na marcação.

 Lógico que um meio-campista atlético como Rincón teria lugar cativo na seleção colombiana, onde atuou nas Copas de 1990 a 98. Já na virada do século, ao deixar o Corinthians, foi natural a queda de rendimento nas passagens por Santos, Cruzeiro e retorno ao Corinthians em 2004.

 O pior na vida esta por vir três anos depois, quando ficou quatro meses preso, quando foi executado pedido da Justiça do Panamá, acusado de lavagem de dinheiro e associação ao narcotraficante Pablo Montaño.

Outros dias amargos foram em 2013, quando a caminhonete que dirigia em alta velocidade capotou em estrada da Colômbia, provocando fraturas múltiplas no corpo.

Doze anos sem Telê Santana


 Enquanto a treinadorzada por aí se irrita quando o seu time enfrenta adversários retrancados, o saudoso treinador Telê Santana não estava nem aí. Colocava o seu time no ataque, mesmo que o preço de uma defesa aberta custasse a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Sua equipe precisava apenas de um empate diante da Itália, mas perdeu por 3 a 2.

 Certa ocasião, instigado a criticar tais retrancas, Telê surpreendeu na resposta: "Se o adversário fica lá atrás, meu time tem o domínio do jogo, cria mais chances, e basta ter competência para marcar gol e ganhar a partida".

 Nos tempos de São Paulo, na década de 90, sabiamente ele criava opções para se chegar ao gol, além das convencionais. Entre as variáveis, exigia que laterais chegassem ao fundo do campo e cruzassem para trás. Preparou o ex-meia Raí - de estatura elevada - para o cabeceio.

 Nas montagens de equipes, exigia dribladores. Projetava que cavariam faltas de média e curta distância. Aí, nos treinos exaustivos, preparou Raí para a função. E seus conceitos foram recompensados ao sagrar-se bicampeão mundial pelo São Paulo. Ele morreu no dia 21 de abril de 2006.

 Depois de cinco magníficos anos na função, no Tricolor do Morumbi, teve de abandonar aquilo que era mais sagrado em sua vida: trabalhar no futebol.  Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde 1995, com feição apagada e sensação de angústia. Não aceitava a distância dos gramados, de gritar com seus jogadores e resmungar com juízes. Ali sentia a emoção típica do futebol.

 A esperança de driblar a doença e voltar ao trabalho havia sido descartada pelos médicos. Por isso restava-lhe distrair em atividades agropecuárias no seu sítio em Belo Horizonte, ou defronte à televisão acompanhando futebol, novelas e programas de auditório.

 Como jogador, vestiu a camisa sete do Fluminense exercendo dupla função: de posse da bola fazia jogadas de fundo de campo, mas sem ela recuava no meio-de-campo para fechar os espaços do adversário.

 Em meados da década de 60 aportou em Campinas e jogou no Guarani ao lado de Eraldo e os saudosos Dimas e Osvaldo, entre outros. Na ocasião justificou o apelido de ‘mão de vaca’. Morava na casa do técnico Elba de Pádua Lima, o Tim (falecido), comia e bebia e não desembolsava um tostão sequer.