segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Juventus já contou com 137 mil associados


 Se hoje treinadores são impiedosamente demitidos, outrora o dirigente não se influenciava por correntes externas, e dava apoio ao profissional até o limite. Afora isso, sem verbas publicitárias e da televisão, também sabia gerir finanças com receita de bilheteria e respaldo na outrora lei do passe, que abastecia os cofres nas vendas de passes de jogadores.

 Exemplo de sobrexistência sólida de clube até os anos 80 foi o Juventus, com imponente sede administrativa de cinco mil metros quadrados de área construída, distribuída em seis pavimentos. Ela, o complexo poliesportivo e estádio ficam na zona oeste de São Paulo. O Conde Rodolpho Crespi - popularmente conhecido por Rua Javari -, sequer comporta dez mil pessoas. E nem precisa ser maior, pois apenas as costumeiras testemunhas vão aos jogos.

 A inigualável marca de 137 mil associados, alcançada até meados da década de 80, era formada por torcedores de grandes clubes paulistas, que se valiam da ótima localização. Se à época o quadro social ajudava a abastecer o deficitário departamento de futebol, hoje 'piscineiros' migraram para entretenimento em condomínios residenciais, casas de campo, praias, e assim provocaram esvaziamento no fichário de cadastros. E isso se aplica, por extensão, aos demais clubes.

 Outrora presidido pelo saudoso José Ferreira Pinto, o Zé da Farmácia, o Juventus tinha influência em decisões do Conselho Arbitral da Federação Paulista de Futebol, com reflexo benéfico quando da iminencia de rebaixamento. Apesar disso, nas modestas montagens de suas equipes, o Juventus surprendia grandes clubes, e por isso foi identificado como Moleque Travesso. Lembram-se de Ataliba? Foi um ponteiro-direito catimbeiro, veloz e imprevisível. Tanto perdia gols feitos, como também marcava outros de raríssima beleza. O clube foi campeão da Taça de Prata de 1983 - equivalente à série B do Brasileiro -, ao ganhar do CSA por 1 a 0 no Estádio do Parque São Jorge, com Candinho como técnico.

 O Juventus foi fundado em 20 de abril de 1924 por funcionários do Contonifício Rodolpho Crespi com o nome Extra São Paulo. Em 1928 foi chamado de Contonifício Rodolpho Crespi Futebol Clube. Só em 1930 se transformou em Clube Atlético Juventus, campeão do Campeonato Amador de São Paulo de 1934. O clube disputou o último Campeonato Paulista da Série A2.

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domingo, 15 de setembro de 2019

Conga, argentino que furava defesas no drible


 A rotina no futebol, quando um time está sem a bola, é se postar atrás, enquanto o adversário roda a bola no ataque - de uma lateral a outra - a espera da brecha para 'espetar'. É aí que o saudosista lembra do quão faz falta o driblador. Do jogador cuja bola cola aos pés, e vai enfileirando marcadores até chegar na cara do gol pra completar jogadas.

 Quem fazia isso com sabedoria era o meia argentino Dario Leonardo Conca, principalmente na primeira passagem pelo Fluminense no quadriênio a partir de 2008. Não bastassem arranques em velocidade com a bola, mesmo com defesas fechadas, recebeu benão divina para bater na bola até de fora da área, e se caracterizou como preciso cobrador de faltas.

 Dirigentes do Fluminense já haviam observados essas virtudes quando Conca foi adversário atuando pela Universidad Católica do Chile em 2004, emprestado pelo Rosário Central da Argentina. No entanto foi o Vasco quem primeiro conseguiu trazê-lo ao Brasil em 2007, sem que repetisse aquilo que dele se esperava. Por sinal, dos quatro clubes do Rio de Janeiro que atuou, até na segunda passagem pelo Fluminense, em 2014, o rendimento já não foi tão satisfatório.

 Na ocasião ele havia retornado da China, na passagem pelo Guangzhou Evergranda, a época considerado um dos jogadores mais bem pagos do planeta. Aí uma lesão no joelho começou atormentá-lo, e por isso a carreira foi se arrastando até abril desta temporada, quando ainda havia tentado jogar pelo Austin Bold F.C., dos Estados Unidos.

 Como Conga não quer se dissociar do futebol, projeta iniciar a carreira de treinador, embora ainda deslocado da realidade. Nas entrevistas fala da preferência em dirigir clubes como River Plate, Boca Junior e Fluminense, desconsiderando o imprescindível estágio em elencos medianos para ganhar bagagem.

 Enquanto a vez não chega, melhor que conte histórias gloriosas dos tempos de atleta, como o título brasileiro do Fluminense de 2010. Muricy Ramalho era o treinador num time formado por Ricardo Berna; Mariano, Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Valência, Diguinho, Júlio César e Conga; Sheik e Fred.

Adeus ao então goleiro argentino Andrada


 Quando anunciaram a morte do então goleiro argentino Andrada, neste quatro de setembro, a caracterização básica foi de quem sofreu o milésimo gol de Pelé em novembro de 1969, quando atuava pelo Vasco contra aquele poderoso Santos, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, no Estádio do Maracanã. Edgard Norberto Andrada morreu em Rosário (ARG), aos 80 anos de idade.

 A passagem de Andrade pelo futebol brasileiro remete à era em que se admitia goleiros de estatura mediana. Com 1,78m de altura, valia-se de elogiada colocação e elasticidade, virtudes que resultaram no apelido de 'El Gato'. Foi época em que o futebol brasileiro importava goleiros argentinos, independentemente do tamanho.

 Saudoso José Poy, vindo do Rosário Central ao São Paulo em 1948, tinha 1,72m de altura, e mesmo assim manteve titularidade até 1963, quando se transformou em treinador. Igualmente torcedores palmeirenses nada tinham a reclamar de seu goleiro Valdir Joaquim de Moraes, apesar de 1,70m de altura, enquanto o mexicano Jorge Campos jogou até no selecionado de seu país, com 1,68m de altura.

 A fama de goleiro argentino para saída da meta, em período que os brasileiros eram criticados nesse expediente, motivou o Santos a buscar no Racing, em 1970, o saudoso Agustin Cejas, morto em 2015, aos 70 anos de idade. Ele explorava a estatura de 1,93m para socar bola levantada contra a sua meta, e depois ainda jogou no Grêmio (RS).

 Andrada também era corajoso para interceptar cruzamentos. E teve carreira estendida no Vasco até 1975, anos em que atuou com jogadores como Fidélis, Alcir, Zanata, Jorge Carvoeiro, Roberto Dinamite, Renê e Gílson Porto. Ele participou do time que conquistou o Campeonato Brasileiro de 1974, após vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, no Estádio do Maracanã.

 Na sequência passou por Gama (DF) e Vitória (BA), antes de completar a carreira em clubes argentinos, por último no Renato Cesarino, aos 43 anos de idade. Foi quando o denunciaram por participação em assassinatos de dois opositores do regime militar argentino. Todavia, sem provas, acabou inocentado. Ele ainda foi preparador de goleiros.

Mesmo gordo, Marião jogou em grandes clubes


 Quando chegou ao Corinthians, em 2009, o atacante Ronaldo Fenômeno pesava 115 quilos. Rigorosa dieta alimentar e exercícios serviram para que reduzisse a gordura e completasse o biênio projetado. Atacante Rodrigão, 92 quilos distribuídos em 1,86m de altura, concorre à artilharia pelo Coritiba. Alex Mineiro, do Vila Nova (GO), ainda briga para murchar a barriga.

 Inter (RS), São Paulo, Sport e Atlético Paranaense bancaram o zagueiro Mário Gomes Amado, o Marião, mesmo com variação de peso entre 97 a 100 quilos. Quando atuou pelo Grêmio Santanense, de São José dos Campos (SP), onde encerrou a carreira, pesava 107 quilos. Ele morreu no dia 24 de agosto de 2011, aos 59 anos de idade, em decorrência de problemas cardíacos.

 Se foi zagueiro ‘cintura dura’, fama de grosso, reconhecia-se a sabedoria ao usar a caixa torácica avantajada para evitar drible da vaca do adversário, em época que a arbitragem interpretava esse estilo como jogo de corpo e jogada normal. Assim, ele teve o seu espaço nas décadas de 70 e 80, quando admitia-se zagueiros gordos.

 Jornalistas gentis definiam Marião como zagueiro forte, de ótimo vigor físico, sem contudo esconder a lentidão. Isso se caracterizava ao enfrentar atacantes rápidos como Juari, do Santos. Numa das raras vezes que levou a melhor naquele duelo, o São Paulo venceu por 2 a 1, em partida válida pelo terceiro turno do Campeonato Paulista de 1979, com 73.803 pagantes no Estádio do Morumbi.

 Naquela vitória são-paulina jogaram Waldir Peres; Getúlio, Marião, Tecão e Antenor (Estevam); Chicão, Teodoro e Dario Pereyra; Edu Bala, Serginho (Viana) e Zé Sérgio. Vinculado ao São Paulo, ele atuou 50 vezes de 1978 a 1980, até a chegada de Oscar Bernardes. Foi quando o consideraram sortudo por atuar ao lado de craques, sem que se negassem as qualidades dele como pessoa.

 Na passagem pelo Sport Recife a partir de 1980, Marião foi campeão pernambucano duas vezes nos anos subsequentes. Há registro que teve atuação regularíssima na vitória sobre o Náutico por 2 a 0 em 1981, na primeira comemoração, época em que os clubes não dispunham de tecnologia sofisticada para dimensionar a capacidade física dos atletas. Os métodos adotados pelos profissionais careciam de cunho científico.

Jorginho, atleta de sucesso e treinador que patina


 Diminutivo ‘inho’ era frequente em jogadores do passado, e o carioca Jorge de Amorim Campos não fugiu à regra quando foi aprovado em treino peneira do infantil do América (RJ), aos 13 anos de idade, deslocado à lateral-direita, e não à zaga central onde havia proposto ser testado.

 A trajetória vitoriosa dele enquanto atleta, campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1994, contrasta com a carreira de 14 anos como treinador, basicamente em clubes do bloco intermediário, apesar de chances para decolagem no Vasco e Flamengo. Nesta temporada, de volta à Ponte Preta, foi demitido neste 25 de agosto.

 Dos 55 anos de idade completados neste 17 de agosto, a história de Jorginho é realçada como atleta. Quando o Flamengo o contratou em 1984, estava convicto no investimento de um lateral que dificilmente errava passes, que ao entrar em diagonal preferia o passe ao cruzamento, e tanto sabia marcar ponteiros como fazer cobertura no meio da área. Logos, essas virtudes implicaram em carreira na Europa e Ásia. Nos seis anos de Alemanha, inicialmente no Bayer Leverkusen, foi deslocado para o meio de campo. No Bayer de Munique foi premiado pela Fifa com o troféu ‘fair-play’, justificado como exemplo de lealdade em campo.

 Na passagem pela Alemanha ocorreu a conversão ao grupo ‘Atletas de Cristo’, quando em um culto testemunhou a cura de um irmão alcoólatra. Logo, criou a comunidade Evangélica Brasileira de Munique, e cedia o porão de sua casa para a realização de cultos.

 Nos gramados Jorginho passou a engolir seco provocações de adversários do tipo “você está pecando”, quando entrava mais duro em jogadas. E não bastasse isso, a partir de 2005 a Fifa os proibiu de usarem mensagens alusivas ao cristianismo em camisetas abaixo das camisas tradicionais em dias de jogos.

 No Japão jogou no Kashima Antlers, e ao regressar ao Brasil em 1999, os seus últimos clubes foram São Paulo, Vasco e Fluminense em 2002, período em que propagava a palavra de Deus a companheiros de equipes adversárias, presenteando-os com uma Bíblia. Três anos depois, ao iniciar na função de técnico do América (RJ), provocou polêmica ao sugerir mudança do mascote do clube, um diabinho, por uma águia. Ano seguinte, a convite do treinador Dunga, passou a integrar a comissão técnica da Seleção Brasileira.