segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Aldair, um senhor zagueiro

 Há boleiros que custam a acreditar que a carreira no futebol acabou. Sabem que as pernas já não respondem aos comandos do cérebro, mas insistem. Já o zagueiro Aldair preferiu que o torcedor brasileiro ficasse com a impressão de um consagrado tetracampeão mundial pela Seleção Brasileira nos Estados Unidos, em 1994, ao abandonar o futebol em plena forma.
 Esse baiano de Ilhéus, lançado no time do Flamengo em 1986, logo ganhou admiradores. Das qualidades exigidas para zagueiros, Aldair Nascimento dos Santos, 49 anos de idade, tinha velocidade, raramente era driblado, se adaptava a quaisquer dos lados da zaga, sobressaía-se no jogo aéreo e mostrava qualidade no passe.
 Não fossem essas virtudes jamais disputaria 13 temporadas como titular intocável da Roma, da Itália. Apesar disso, ainda teve que engolir seco a bobagem dita pelo presidente Franco Sensi, do clube italiano, em 2002, de que ele era velho para continuar no time.
 Na época, com 36 anos de idade e retrospecto superior a 300 partidas pela Roma, Aldair se irritou, mas fez questão de provar em campo que Sensi havia se precipitado. Até então, a sua biografia mostrava títulos e regularidade.
 Em 1987 Aldair foi campeão da Copa União pelo Flamengo. Dois anos depois saboreou a conquista da Copa América pela Seleção Brasileira, sediada pelo País. Já em 1990, além da transferência para o Benfica, de Portugal, também integrou o selecionado brasileiro na Copa da Itália. Depois, a Roma entrou em sua vida e quis o destino, em 1994, que fosse chamado pelo técnico Carlos Alberto Parreira à Seleção Brasileira por causa de uma contusão do zagueiro Mozer, antigo companheiro de Flamengo.
 De certo, a maioria já esqueceu que o time tetracampeão foi formado por Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Mazinho, Dunga e Zinho; Bebeto e Romário. O ex-goleiro Gilmar Grimaldi - hoje coordenador de futebol do selecionado - era reserva, a exemplo do lateral Cafu, meia Paulo Sérgio, atacante Viola e zagueiro Ronaldão, entre outros.
 Na época, o predestinado Aldair foi uma grata surpresa. Com a contusão de Ricardo Rocha, foi titular daquela Copa nos Estados Unidos ao lado de Márcio Santos, hoje radicado em Santa Catarina, onde administra seu shopping no balneário de Camburiú, adquirido com parte do dinheiro ganho nas passagens por Inter (RS), São Paulo, Fiorentina da Itália, Bordeaux da França, Ajax da Holanda, futebol do Catar e até no antigo Etti Jundiaí (hoje Paulista), onde também fez bom contrato.

 Aldair foi absoluto no selecionado até 1998, na Copa da França, quando participou de um grupo questionável como a do goleiro Carlos Germano, lateral-direito Zé Carlos, zagueiro Gonçalves e volante Doriva. Hoje, pode-se dizer que Aldair ‘está com o burro na sombra’, mas não quer se manter distante do futebol.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Zagueiro Válber, o rei do sumiço

 Tiba, ponteiro-direito com passagens por Vasco, Guarani, Portuguesa e Corinthians nos anos 90, tinha o hábito de faltar em dias programados para reapresentação de jogadores. Desculpas de ônibus quebrado no caminho e morte de avós já não colavam.
Atacante Adriano, o imperador, escancarava seus atos de indisciplina e nem que quisesse mentir não podia. Era baladeiro incorrigível e por isso arrumou incontáveis confusões ao longo da carreira. Até no Inter de Milão provocou sumiço de três dias em 2009. Enquanto atleta profissional, o último registro de indisciplina foi falta a treino do Atlético Paranaense para assistir show da cantora Anita no Rio de Janeiro, em 2014.
 No mesmo ano, o atacante Jô participou da Copa do Mundo de 2014, mas a boa fase foi efêmera. Ficou com imagem de baladeiro que faltava em treinos no Atlético Mineiro.
 No quesito sumiço de treinos, difícil imaginar que o título de recordista não esteja com o ex-zagueiro Válber, bicampeão da Libertadores e Mundial de Clubes pelo São Paulo no biênio 1992-93. Como o repertório de desculpas havia se esgotado, o saudoso treinador Telê Santana só o tolerava porque considerava-o utilíssimo ao time são-paulino. Se preciso, Válber não estranhava improvisações nas laterais. Não havia queda de rendimento se escalado como volante. Todavia, era na zaga que se sobressaía. Compensava a estatura de 1,76m de altura, inadequada à posição, pela invejável impulsão. Também tinha excelente colocação para o jogo aéreo. No chão era fantástico. Raramente o driblavam. E ao desarmar o adversário, geralmente antecipando-o, limpava a jogada e se aventurar com bola dominada ao campo de ataque.
 Aquelas virtudes foram comprovadas no bicampeonato do mundial, na vitória por 3 a 2 sobre o Milan, no Japão, num time formado por Zetti; Cafu, Válber, Ronaldão e André Luiz; Doriva, Dinho, Cerezo e Leonardo; Palhinha e Muller.
 Evidente que jogador com citadas virtudes teria lugar certo na Seleção Brasileira, e Válber cumpriu o histórico de 12 partidas no selecionado. O desligamento foi originado pela rebeldia em 1993, após fugir da concentração.
 Antes de se destacar no São Paulo, a biografia de Válber mostrava passagens recomendáveis por Vasco e Botafogo. Assim, quando a imagem ficou desgastada no elenco são-paulino, o Flamengo ignorou os problemas extra-campo e bancou a contratação por empréstimo. Na prática, não houve a repetição do futebol de São Paulo e por isso foi devolvido.

 Sem espaço para reintegração no São Paulo, a transferência para o Vasco fez-lhe bem. Em 1997, improvisado na lateral-direita, conquistou o título do Campeonato Brasileiro, num time formado por Carlos Germano; Válber, Odvan, Mauro Galvão e Felipe; Luisinho, Nasa, Juninho Pernambucano e Ramon; Edmundo e Evair. Válber ainda passou pelo Fluminense.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Narciso, um exemplo de superação

 Na antevéspera do Natal o treinador Narciso dos Santos - sem clubes - vai completar 42 anos de idade, com histórico de quem venceu a leucemia mielóide crônica (câncer no sangue) em 2003, nos tempos de jogador polivalente. Indistintamente atuava quer no miolo da zaga, quer como primeiro volante na equipe do Santos. A volta aos gramados ocorreu em partida contra o Coritiba, na capital paranaense, pelo Campeonato Brasileiro.
 A doença, diagnosticada três anos antes, implicou em risco de morte. Médicos projetaram que teria de 30% a 40% de chances de sobreviver. Por isso se submeteu a sessões de quimioterapia até que uma das irmãs fosse doadora de transplante.
 Grato pela benção recebida, Narciso promove jogos beneficentes para entidades de Santos, e, como exemplo de fé e superação, frequentemente é requisitado para palestras a pessoas vitimadas de doenças graves. Ao repetir a sua heróica história de perseverança, estimula pacientes. Nem por isso deixa de esclarecer que o transplantado é monitorado pelo resto de sua vida. Habitualmente também grava vídeos para propagar o Dia Nacional do Doador de Órgãos em 27 de setembro.
 Qualquer transplantado fica mais debilitado e exposto a enfermidades. Todavia, no caso específico de Narciso, o que pesou na decisão de encerrar a carreira em 2004 foi ter jogado apenas cinco vezes em seis meses após a cirurgia. Ficava incomodado com a reserva determinada pelo treinador Vanderlei Luxemburgo.
 Restou, portanto, a biografia de um sergipano nascido em Neópolis, 1,84m de altura, com rápidas passagens por Corinthians de Alagoas e Paraguaçuense (SP), antes de se transferir ao Santos em 1994. Dois anos depois foi medalha de bronze na seleção olímpica do Brasil em Atlanta, nos Estados Unidos, e atuou oito vezes na seleção principal, entre 1995 e 1998.
 Também atuou na decisão do Campeonato Brasileiro de 1995 contra o Botafogo do Rio, e ainda contesta a arbitragem de Márcio Rezende de Freitas, que prejudicou o Santos e resultou no vice-campeonato. O time era formado por Edinho; Marquinho Capixaba, Ronaldo Marconato, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Giovanni, Robert e Jamelli; Camanducaia e Marcelo Passos. No biênio 1999-2000 foi emprestado ao Flamengo. Na volta ao Peixe foi adaptado à função de volante.

 Como treinador, foi auxiliar de Márcio Fernandes no elenco de juniores do Santos. Efetivado no cargo, alcançou o vice-campeonato da Copa São Paulo de Júnior em 2010. No Corinthians, na mesma competição, conquistou o título dois anos depois. Entre equipes profissionais, no interior paulista, levou o Penapolense à semifinal do Paulistão de 2014, após eliminar o São Paulo. Por fim, o histórico de campanha discreta no Linense. Nos últimos meses optou por estágio no Santos com o treinador Dorival Júnior.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Picasso, goleiro acusado de não enxergar à noite

 Em 2002 o ex-meia Alex de Fenerbahçe da Turquia, Palmeiras e Coritiba assumiu publicamente o uso de lentes de contato para correção de astigmatismo e miopia. Idem para o também meia Kaká, da Seleção Brasileira, diferentemente de boleiros de décadas passadas que viam tudo embaçado à frente e se recusavam usar às tais lentes.
 Bastava o saudoso goleiro Orlando Gato Preto, da Portuguesa, ser traído por bolas defensáveis em jogos noturnos para ser acusado de não enxergar direito. Suspeitaram de deficiência visual do também goleiro Wendell após a segunda partida do Guarani na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982 contra o Flamengo, em Campinas, ao ‘aceitar’ chute relativamente fraco do ex-meia Zico, do meio da rua.
 O goleiro Picasso foi vítima de mesma acusação nos tempos de Grêmio portoalegrense no triênio de 1972 a 1975. A cada gol sofrido de longa distância à noite reabria-se o polêmico discurso. A contrapartida era a concordância de que em jogos diurnos o reflexo era apuradíssimo, aliado a colocação sempre adequada.
 Embora com histórico de sete derrotas, cinco empates e uma vitória em Grenais, Picasso ficou 611 minutos sem sofrer um gol sequer no tricolor gaúcho, num time formado por Picasso; Everaldo, Anchieta, Beto e Jorge Tabajara; Carlos Alberto e Ivo; Catarina, Oberti, Lairton e Loivo.
 O encerramento da carreira foi no Santa Cruz (PE) em 1976. Ficou a biografia com o título do Campeonato Paulista pelo Palmeiras em 1963, após goleada por 3 a 0 sobre o Noroeste, nesse time: Picasso; Djalma Santos, Djalma Dias, Carabina e Vicente; Zequinha e Ademir da Guia; Julinho, Servílio, Vavá e Gildo. Nos dois anos subseqüentes foi reserva de Valdir Joaquim de Moraes.
 Amargurado com a carreira de atleta sem prosperidade, decidiu abandonar o futebol ao término do contrato com o Palmeiras, quando optou pelo trabalho como metalúrgico na Volkswagem. Três meses depois foi convencido voltar aos gramados pelo treinador do Juventus, Sylvio Pirilo. Pronto. Reacendia ali o Picasso predestinado a fazer sucesso no futebol, tanto que o São Paulo foi buscá-lo em 1967.
 Quando Picasso já estava se acostumando com convocações à Seleção Brasileira, eis que numa partida do tricolor paulistano contra o Santos foi vítima de fratura no pé. Aí, a lesão voltou a travar-lhe a carreira. Dirigentes do São Paulo foram buscar no Paulista de Jundiaí o goleiro Sérgio Valentin - que já havia passado pelo clube - para substitui-lo. E quando recuperado, Picasso constatou a impossibilidade de reassumir o posto de titulares e aceitou transferência para o Bahia em 1970, ano que foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Brasileiro.

 Hoje, aos 76 anos de idade, radicado em Porto Alegre, Picasso trabalha como representante comercial e assina documentação com o nome de registro: Ronei Paulo Travi.

domingo, 29 de novembro de 2015

João Paulo do Guarani: o driblador

 Alcides Romano Júnior, o zagueiro Cidinho dos anos 60 do Guarani, treinava o time juvenil do clube no final dos anos 70 quando, por acaso, descobriu o melhor ponteiro-esquerdo dos elencos bugrinos de todos os tempos. Ao participar de uma pelada, num campo de várzea de Campinas, foi entortado várias vezes pelo então franzino Sérgio Luís Donizetti, e se apressou levá-lo para o seu grupo, identificando-o como João Paulo, pelo estilo semelhante ao ‘Papinha da Vila’.
 O saudoso treinador Zé Duarte, no comando da equipe principal do Guarani em 1981, ousou lançar aquele garoto de 17 anos porque se encantou com o estilo de ponta agressivo, driblador e extremamente habilidoso. Só que na época João Paulo foi vencido pela timidez. Ao primeiro grito de companheiros experientes para que passasse a bola esmorecia. Então, o jeito foi emprestá-lo ao Anapolina (GO) e posteriormente ao Goiânia para que ganhasse experiência.
 De volta ao Guarani em 1984, aos 20 anos de idade, ele se transformou no caminho mais curto para o time chegar aos gols. Entortava laterais e quem surgisse na cobertura. Pará-lo só na base da falta, muitas vezes dentro da área adversária. Foi assim na final do Campeonato Brasileiro de 1986 contra o São Paulo, em lance que fez fila. Todavia, o então árbitro José de Assis Aragão ignorou o pênalti cometido pelo são-paulino Vagner Basílio.
 Fosse fominha certamente João Paulo disputaria artilharia de competições, mas preferiu se caracterizar como auxiliar de goleadores. Como servia-os com precisos passes, seu histórico no Guarani foi de 22 gols em 88 jogos até 1989, quando os italianos do Bari vieram buscá-lo interessados na capacidade de criação dele.
 Na Itália, a resposta em campo resultou na eleição de melhor jogador estrangeiro na temporada seguinte. Passou a ser conhecido no Bari como ‘Il Diavollo Che sorride’ (o diabo que sorri), o que dá bem a dimensão de seu estilo. Não fosse uma fratura de tíbia e perônio - que implicou em queda de rendimento - a tendência seria prolongar a passagem naquele país além de cinco anos.
 No Brasil, novamente, João Paulo foi acolhido inicialmente pelo Vasco. Depois passou por Ponte Preta, Goiás, Corinthians, Sport Recife, Bahia até que inevitavelmente atingisse a fase descendente em clubes de menor expressão. O encerramento da carreira de atleta ocorreu na Inter de Limeira (SP) em 2004, aos 40 anos de idade.

 Depois isso, João Paulo foi visto novamente em campos varzeanos disputando campeonatos de veteranos até surgir a oportunidade de comandar o ‘Projeto Bugrinho’, da escolinha de futebol para filhos de associados do Guarani. Ali, além de transmitir experiência aos meninos, conta um pouco de sua história de jogador injustiçado pelo treinador Sebastião Lazaroni da Seleção Brasileira de 1990, que o deixou de fora da Copa do Mundo da Itália, assim como outras passagens esporádicas pelo selecionado.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Paulinho McLaren, 483 gols na carreira

 Outrora comissões técnicas de futebol eram enxutas: treinador, preparador físico, supervisor e preparador de goleiros. Hoje os três primeiros têm auxiliares e o grupo de profissionais que respaldam boleiros foi ampliado com jornalista, nutricionista, fisiologista, psicólogo e uma equipe médica geralmente com três integrantes.
 A ampliação do quadro de profissionais é justificada pela modernidade do futebol, mas os dirigentes fingem não ouvir reiteradas cobranças do ex-atacante flamenguista Nunes sobre criação do cargo de preparador de atacantes. Apesar da rejeição, continuam reclamando dos tais gols incríveis perdidos por seus jogadores.
 Nunes havia proposto que ex-atacantes talhados para empurrar a bola na rede pudessem transmitir à atual geração detalhes fundamentais que os consagraram no passado. E neste contexto de transmissão de experiência não é exagero inserir o ex-centroavante Paulo César Vieira, paulista de Iguaçu do Tietê, 1,80m de altura, que carimbou a assinatura de Paulinho McLaren em março de 1991 por causa de comemoração de gol santista imitando piloto de carro de Fórmula 1, uma semana após vitória de seu ídolo, o falecido Ayrton Senna.
 Paulinho McLaren marcou gols de todo jeito. Foram 483 em 18 anos de carreira, decolada quando já estava rodado na bola. Passou a ser notado em 1989 nas passagens por Atlético Paranaense e Figueirense. Depois, registro para a trajetória em grandes clubes como Santos, marcada por artilharia no Campeonato Brasileiro de 1991, com 15 gols.
 Foi o bastante para que o futebol português viesse buscá-lo. E em duas temporadas pelo Futebol Clube do Porto a resposta foi medalha de artilheiro da Super Copa de Portugal pelo Porto. Nem por isso quis ficar por lá e aceitou proposta para jogar na Portuguesa em 1994, quando ratificou a fama de artilheiro no Paulistão da temporada seguinte, com 20 gols.
 O último bom momento na carreira dele foi no Cruzeiro até 1997, com a marca de 22 gols em 53 partidas. Foi lá que a irreverência na comemoração de gols provocou tremenda polêmica em vitória sobre o rival Atlético, quando imitou uma galinha.  Paradoxalmente passou pelo Galo mineiro ano seguinte sem marcar um gol sequer nas dez partidas disputadas, período em que seu futebol havia sucumbido e assim se arrastou até o encerramento da carreira em 1999 no Santa Cruz.

 Paulinho McLaren não conseguiu ficar fora do meio e arriscou empresariar jogadores. Todavia, nas reflexões sobre a trajetória difícil de início de carreira de atleta no interior paulista, a partir de 1989, por Bandeirantes de Birigui, Serra Negra, Sãocarlense, Comercial, Barretos e Votuporanguense, decidiu enfrentar o desafio na função de treinador. E o histórico é ‘rodagem’ pelo interior de São Paulo e Uberaba sem que desse o salto para equipes de maior expressão.

domingo, 15 de novembro de 2015

Hilton Oliveira, ponteiro auxiliar de artilheiros

 Outrora jogador de futebol era identificado pelo prenome ou apelido. Em caso de coincidência de jogadores de mesmo nome em um clube, geralmente aquele que chegava por último era citado como ‘fulano de tal’ segundo. Uma das exceções à regra foi no São Paulo no final dos anos 60, quando Antonio Pedro de Jesus, o Toninho, já integrava o elenco e passou a ser chamado de Toninho II para se diferenciar do centroavante Toninho Guerreiro, recém transferido do Santos.
 Com uma leva de Toninhos espalhada por clubes de todo país, décadas passadas, quebraram o ‘protocolo’ para identificá-los. Em vez da citação Toninho II, adotavam nomes compostos. Entre os Toninhos, o Santos teve Oliveira e Carlos. No Palmeiras passaram Cecílio, Vanusa e Catarinense. Até a Seleção Brasileira contou com o lateral-direito Toninho Baiano.
 O Cruzeiro dos anos 60 preferia usar nomes compostos em casos de homônimos em seu elenco. Com a chegada do ponteiro-esquerdo Hilton ao clube em 1958, o jeito foi identificá-lo como Hilton Oliveira para se diferenciar do volante Hilton Chaves que lá estava.
 Do ataque cruzeirense campeão da Taça Brasil de 1966, com vitórias por 6 a 2 e 3 a 2 sobre o Santos de Pelé na final, respectivamente nos estádios do Mineirão e Pacaembu, o ponteiro-esquerdo Hilton Oliveira era o jogador de menor notoriedade, embora habilidoso e rápido. A falta de ambição para marcar gols era um defeito, já que o ponteiro-direito Natal funcionava como auxiliar de artilheiros que também marcava gols regularmente.
 A preferência de Hilton Oliveira era levar a bola ao fundo do campo e cruzar geralmente rasteiro para conclusões quer dos atacantes Tostão e Evaldo, quer do meia Dirceu Lopes, todos de média estatura. Assim, o estilo trouxe-lhe prejuízo com histórico de míseros 33 gols em 330 jogos com a camisa do Cruzeiro até 1970, debitando-se o hiato no biênio 1961-62 quando defendeu o Fluminense por empréstimo, período que intercalou a titularidade com o também ponteiro-esquerdo Escurinho, e não escondia a preferência para atuar nos aspirantes.
 A história de Hilton Oliveira no futebol terminou em 1971 na passagem pelo América Mineiro. Há registro de três jogos contra o Uruguai pela Seleção Brasileira em 1967, e confissão de liberdade para abusar de dribles quando o Cruzeiro excursionava ao exterior.

 Depois disso admitiu ter enjoado de futebol e até optado pelo ramo de vendas na continuidade de atividade profissional. Por isso, bem antes da morte em março de 2006, aos 65 anos de idade, vítima de pneumonia, já dizia que raramente assistia partidas até pela televisão. Justificava a desmotivação pelo empobrecimento do nível técnico e torcia o nariz ao deparar com salários de R$ 80 a $ 100 mil mensais para jogadores rigorosamente comuns. “Quem mandou a gente nascer em época errada no futebol?”

domingo, 8 de novembro de 2015

Quarentinha, artilheiro que não comemorava gols

 Gol, momento sublime do futebol e de comemorações insólitas. Em 14 de julho de 1996 os argentinos Caniggia e Diego Maradona lascaram um beijão na boca na abertura da goleada do Boca Junior sobre o arquiinimigo River Plate por 4 a 1, no Estádio La Bombonera. No passado, quando orelhões de telefonias fixas eram instalados em gramados, boleiros corriam em direção deles para teatralizar ligações a ente querido. Pior quando o autor do gol se atirava no gramado e seus companheiros se amontoavam com inevitáveis encoxadas.
 Há relatos de que o soco no ar foi inventado por Pelé, assim como há casos de comemorações comedidas, uma delas protagonizada pelo saudoso Sócrates nos tempos de Corinthians. O comportamento dele era braço erguido e punho cerrado.
 Tem aumentado a incidência de atletas que deixam de comemorar gols quando marcados contra seus ex-clubes, quer por gratidão, quer pelo declarado amor. O atacante Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, age assim quando vai às redes contra o Manchester United.
 Diferente de todos eles foi o saudoso atacante Quarentinha, do Botafogo (RJ), que ignorava qualquer comemoração de gol após aquele chute potente de canhota ao se desvencilhar de zagueiros, ou em cobranças de faltas que aterrorizavam adversários que ficavam na barreira.
 A cada um dos 313 gols marcados no Botafogo, em 442 jogos disputados de 1954 a 1964, ele apenas caminhava lentamente ao meio de campo. Quando indagado pela indiferença, respondia que apenas cumpria a sua obrigação. Que era pago para isso.
 Não fosse a rebeldia de um cartola botafoguense que decidiu emprestá-lo ao Bonsucesso em 1956, por causa de desentendimento entre ambos, a marca de maior artilheiro do Bota seria aumentada com os 21 gols marcados naquela temporada, como segundo artilheiro da competição regional com 21 gols, atrás do atacante Valdo, do Fluminense.
 No retorno ao Botafogo em 1957, sempre de bigode ralinho e contratos assinados em branco, ele participou do time campeão carioca com goleada na final sobre o Fluminense por 6 a 2, dia 22 de dezembro, cinco gols de Paulinho Valentim, um deles de bicicleta, em jogo com público pagante de 89.100. Eis a formação do Bota: Adalberto, Beto e Tomé; Servilio, Pampolini e Nilton Santos; Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Edilson e Quarentinha. Treinador: João Saldanha.
 Nas três temporadas subseqüentes, Quarentinha foi artilheiro estadual e deixou histórico de 17 gols em 19 jogos pela Seleção Brasileira. Lamentação foi uma lesão no joelho que o tirou na Copa do Mundo de 1962, no Chile.

 A carreira dele se completou em 1968 no Almirante Barroso (SC), após início no Paysandu de Belém (PR) - onde nasceu - e passagens por Vitória da Bahia e Colômbia. Com nome de registro de Waldir Cardoso Lebrego, ele morreu de insuficiência respiratória em fevereiro de 1996.

domingo, 1 de novembro de 2015

Adeus a Barbosinha, goleiro queimado no Corinthians

 Pode-se dizer que o goleiro Barbosinha, com passagem pelo Corinthians basicamente em 1967, morreu duas vezes. A primeira foi no futebol, após acusações de ter sido responsável direto pela derrota para o Palmeiras por 2 a 0, no dia 17 de novembro daquela temporada, no Estádio do Pacaembu. A morte física ocorreu no dia 20 de outubro passado aos 74 anos de idade, na capital paulista, vítima de câncer.
 Barbosinha surgiu no Corinthians após fase de instabilidade dos goleiros Mário, Heitor, Cabeção e Marcial em 1966. Na prática ele nunca se firmou como titular, alternando-se na meta corintiana com Marcial. Por isso, segundo o almanaque do clube, totalizou apenas 34 jogos com a camisa corintiana, um dos últimos deles naquela fatídica derrota para o Verdão, quando o saudoso presidente Wadih Helu o acusou diretamente pelos dois gols de faltas marcados pelo atacante palmeirense Tupãzinho, também falecido, em partida apitada por Olten Aires de Abreu.
 Na prática a postura do dirigente foi um desserviço prestado ao Corinthians na trajetória de dez anos como presidente, a partir de 1961. Apesar disso, seu prestígio com o torcedor corintiano só foi abalado com a torcida organizada Gaviões da Fiel, pela resistência para que se criasse a facção.
 Paralelamente à atividade clubística, Wadih atingiu a 13ª legislatura na Assembléia Legislativa de São Paulo, inicialmente eleito pela Arena (Aliança Renovadora Nacional), partido político atrelado do governo federal no período da ditadura militar. Ele morreu em 2011 aos 89 anos de idade.
 Convenhamos, todavia, que Barbosinha esteve longe de ser o goleiro ideal para o Corinthians, embora rotulado de ‘Nego Gato’, apelido parodiando título de música do cantor Roberto Carlos. Na época ele era mais citado pelos saltos e semelhança física com o goleiro Barbosa da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950, culpado pelos gols sofridos e marginalizado perda do título no Estádio do Maracanã, com a derrota para o Uruguai por 2 a 1.
 Na temporada de 1967 o time do Corinthians mandava jogos no Estádio Alfredo Schurig, o Parque São Jorge, era comandado pelo saudoso treinador Zezé Moreira, e formado por Barbosinha (Marcial); Galhardo (Jair Marinho), Ditão, Clóvis e Maciel; Dino Sani e Rivellino; Bataglia, Nair, Flávio e Gilson Porto.
 Com espaço encurtado no Corinthians, Barbosinha seguiu trajetória no Atlético Paranaense que havia montado time de medalhões, entre eles o lateral-direito Djalma Santos, zagueiro Belini, volante Zequinha e ponteiro-direito Gildo. Depois Barbosinha passou discretamente pelo Tiradentes do Piauí antes de encerrar a carreira e fixar residência novamente em São Paulo, onde se aposentou exercendo a função de fiscal da prefeitura com o crachá indicando o verdadeiro nome de Lourival de Almeida Filho.


domingo, 25 de outubro de 2015

Lidu e Eduardo, vítimas de tragédia em 1969

 O saudoso narrador de futebol Fiori Gigliotti produzia um quadro imortalizado no rádio brasileiro intitulado ‘Cantinho de Saudade’, quando mergulhava na poesia para enaltecer jogadores do passado. Assim, não seria exagero se pinçasse frases bonitas de escritores para relatar as trágicas mortes do lateral-direito Lidu e ponteiro-esquerdo Eduardo do Corinthians em 1969, decorrentes de acidente de automóvel na capital paulista.
 O Timão havia empatado com o São Bento por 1 a 1 no dia 27 de abril daquela temporada, no alçapão do extinto Estádio Humberto Reali, de Sorocaba, mando de jogos do time da casa até 1979. No retorno a São Paulo, Lidu, recém habilitado como motorista, entrou em seu Fusquinha na área de estacionamento do Estádio Parque São Jorge e foi jantar, em companhia de Eduardo.
 Diria Fiori que, quando vazava o seio negro da noite, ambos retornavam à residência pela Marginal do Tietê ocasião em que o veículo, desgovernado, capotou várias vezes, chocou-se contra pilastra da ponte da Vila Maria, matando-os. É possível que o narrador tenha acrescentado que Lidu morreu na flor dos anos, pois havia completado um mês antes 22 ‘primaveras’, justamente quando a felicidade transbordava-lhe a alma como titular absoluto do Timão em 36 jogos.
 À torcida corintiana enlutada, Fiori lembraria que a espada impiedosa da dor atravessou-lhe o coração. E descreveria Lidu, o Ludgero Pereira da Silva, como o moço que veio de Presidente Prudente, que no primeiro ano de Prudentina, em 1966, havia mostrado raça e firmeza na marcação, despertando interesse do Londrina que o contratou. A chegada ao Corinthians deu-se no início de 1969.
 Sobre Eduardo Neves certamente Fiori enfeitou um pouco mais. Afinal foi um ponteiro-esquerdo habilidoso que se destacou no América (RJ) em quatro temporadas a partir de 1964, e já no Corinthians foi convocado à Seleção Brasileira oito vezes. Não passou batido no relato de Fiori que Eduardo fez parte do time corintiano de 1968 que quebrou tabu de dez anos sobre o rival Santos, na vitória por 2 a 0 no Estádio do Pacaembu.
 Aquele Corinthians de 1969, no Campeonato Paulista, já havia vencido Santos, São Paulo, Palmeiras e a então respeitada Portuguesa até a tragédia que vitimou os dois jogadores. Depois, a incerteza sobre os substitutos. Na lateral-direita foi improvisado o lateral-esquerdo Pedro Rodrigues, Alvacir e até o deslocamento do zagueiro Mendes. Na ponta-esquerda passaram Adnan, Reinaldo, Buião e o deslocamento do centroavante Benê.

 Assim, do time base de Lula; Lidu, Ditão, Luís Carlos e Pedro Rodrigues; Dirceu Alves e Rivellino; Paulo, Tales, Benê e Eduardo ocorreram várias modificações e queda na classificação. Na época o clube mandava jogos no Estádio Alfredo Schurig, conhecido como Parque São Jorge e Fazendinha.

domingo, 18 de outubro de 2015

Pelé chega aos 75 anos com saúde recuperada

 Até 2012, aos 72 anos de idade, o ex-jogador Pelé tinha saúde de ferro e não havia registro de internação hospitalar. Aí começou a se queixar de dores quando jogava tênis e em caminhada. Por isso se submeteu à cirurgia no quadril para colocação de prótese de titânico e cerâmica no Hospital Israelita Alberto Einstein, na capital paulista.
 Claro que Pelé jamais imaginava permanência mais freqüente nas alas de pacientes daquele hospital. Em novembro do ano passado foi operado para retirada de cálculos renais. Neste ano retornou ao local duas vezes para outros procedimentos. Em maio, diagnosticado com hiperplasia benigna na próstata, passou por nova cirurgia. Voltou a ser operado dois meses depois para correção na coluna.
 Neste outubro, quando completa 75 anos no dia 23, Pelé voltou às manchetes com a língua afiada para criticar a corrupção na Fifa. Também cobra na Justiça R$ 2,1 milhões devido pelo Santos, por atraso de pagamento do contrato vitalício de direito de exploração de sua imagem.
 Pelé, registrado como Edson Arantes do Nascimento, jamais deixou de freqüentar o noticiário mesmo depois que pendurou definitivamente as chuteiras em 1977 no New York Cosmos (EUA), quando recebeu o equivalente a R$ 7 milhões por contrato de dois anos.
 Depois disso foi ministro dos Esportes no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, divorciou-se de Resemeri Cholbi e casou-se mais duas vezes: com Assíria Nascimento e Márcia Aoki. Ainda em família, recorreu enquanto pôde para evitar o reconhecimento de paternidade de Sandra Regina, filha de um relacionamento extraconjugal com Anísia Machado.
 Por causa da resistência, Sandra havia lhe mandado um recado curto e grosso em entrevista no dia do aniversário dele, quando indagada sobre o presente que lhe daria: “Um olhinho de peroba para lustrar bem aquela cara de pau dele”.
 Exames de DNA foram implacáveis e a Justiça obrigou o reconhecimento da paternidade em 1996. Eleita vereadora de Santos em 2000, Sandra não completou a segunda legislatura com a morte em 2006, vítima de câncer aos 42 anos de idade. Pelé preferiu enviar coroas de flores a ir ao velório, mas a família dela optou por devolvê-las.
 Títulos pelo Santos F.C., tri na Seleção Brasileira e histórico de 1.281 gols condizem com procedimento da imprensa francesa ao coroá-lo ‘rei do futebol’ em 1961 e defini-lo como ‘atleta do século [passado]’ 20 anos depois. Isso inspirou narradores de televisão a criar bordões para identificá-lo. Todas as vezes que pegava na bola o saudoso Walter Abrahão o definia como ‘Ele’. Para o também falecido Geraldo José de Almeida era ‘o craque Café’, que ‘mata no peito e baixa na terra’. O igualmente saudoso jornalista Nelson Rodrigues dizia ‘aquele garoto de cor também possui a sanidade mental de um Mané Garrincha’.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Gilberto Sorriso, lateral de São Paulo e Santos

 Qual jogador de futebol tem histórico de 73 partidas consecutivas como titular da mesma equipe durante todo tempo regulamentar de confrontos? Qual? Pois o detentor desta marca - provavelmente recordista de todos os tempos no Brasil - é o então lateral-esquerdo Gilberto Ferreira da Silva, identificado no meio da bola como Gilberto Sorriso, e por motivos óbvios.
 O histórico foi cravado nos tempos de São Paulo, de 1968 a 1977. Ele havia sido aprovado em treino peneira dos juvenis do tricolor paulistano, após reprovação nos testes feitos no terrão do Corinthians.
 Destro, Gilberto Sorriso começou a carreira como lateral-direito, mas a ingrata disputa de posição com o botinudo e temido uruguaio Forlan serviu para que aceitasse a improvisação na lateral-esquerda, alternativa do então treinador José Poy para que ocupasse o lugar do decadente lateral Tenente.
 As campanhas mais expressivas de Gilberto no São Paulo foram no biênio 1970-71, com os treinadores Zezé Moreira e Oswaldo Brandão, respectivamente. No título de 70, o time são-paulino era formado por Sérgio; Forlan, Jurandir, Roberto Dias e Gilberto Sorriso; Edson Cegonha e Gérson; Paulo Nani, Terto, Toninho Guerreiro e Paraná.
 Gilberto Sorriso revelou que naquele período áureo do São Paulo pessoas influentes no clube não davam importância à Libertadores. “Valorizavam campeonatos Brasileiro e Paulista”, contou.
 No primeiro ano de Santos, em 1978, Gilberto Sorriso já comemorou título paulista participando de um grupo treinado pelo saudoso Chico Formiga e identificado como ‘Meninos da Vila’. Eis a formação: Flávio; Nelsinho Baptista, Joãozinho, Neto e Gilberto Sorriso; Toninho Vieira, Rubens Feijão e Pita; Claudinho, Juari e Célio. Detalhe: na segunda partida daquela final contra o São Paulo, no Estádio do Morumbi, o público foi de 107.485 pagantes.
 Mesmo na reserva, o gostinho de faixa de campeão se repetiu em 1984, no time santista comandado pelo também saudoso Carlos Castilho e formado por Rodolfo Rodrigues; Chiquinho, Márcio Rossini, Toninho Carlos e Toninho Oliveira (Gilberto Sorriso); Dema, Paulo Isidoro, Lino e Humberto; Serginho Chulapa e Zé Sérgio.
 Quando parou de jogar em 1989 na Portuguesa Santista, já sem a cabeleira black power e barba, Gilberto Sorriso revelou que nunca bebeu ou fumou, mas confessou que gostava da noite. Dez anos depois enfrentou injusta acusação de que teria cometido homicídio em 1999, com decretação de prisão preventiva, e o caso rendeu-lhe muita dor de cabeça até provar a inocência. Tudo porque ele havia perdido documentos que foram utilizados pelo real homicida.

 Hoje, aos 64 anos de idade completados em setembro passado, paradoxalmente ele trabalha como empregado de empresa de propriedade da ex-esposa. Os cabelos rarearam, mas o sorriso continua o mesmo.  

domingo, 4 de outubro de 2015

Kita, primeiro pé amputado, agora a morte

 Em junho de 2011, ao se submeter a uma cirurgia para reconstruir os ligamentos do tornozelo esquerdo, o atacante Kita foi vítima de infecção hospitalar, agravada pelo diabetes. Por isso foi amputado o pé. Neste três de outubro, aos 57 anos de idade, o ex-jogador morreu e deixou uma rica história no futebol.
 Centroavante que se preza chuta com os dois pés, naturalmente um de cada vez para não cair. E para o gaúcho Kita, natural de Passo Fundo, era indiferente a bola cair na direita ou na canhota. O giro sobre o zagueiro era quase certo e, incontinente, o chute forte em direção ao gol adversário.
 Por causa desse estilo e do bom aproveitamento no jogo aéreo foi cobiçado e contratado por grandes clubes do futebol brasileiro como Flamengo, Inter (RS), Grêmio e Atlético Paranaense. Em nenhum deles, entretanto, atormentou tanto os zagueiros como nos tempos de Internacional de Limeira em 1986, quando foi decisivo para que o clube conquistasse o título inédito do Campeonato Paulista, e com direito à artilharia: 24 gols.
 Outro duro golpe que custou a absorvê-lo foi a esculhambação no governo Fernando Collor de Melo de confisco de dinheiro da poupança do povo brasileiro nos anos 90. Duro porque ele havia votado no homem para presidente.
 Chega de coisa ruim. Melhor ficar com a imagem positiva que Kita, ou João Leithard Neto, no futebol. Inquestionavelmente a principal lembrança dele no segmento foi no dia 3 de setembro de 1986, quando a Inter de Limeira (SP) sagrou-se campeã paulista ao vencer o Palmeiras por 2 a 1 no Estádio do Morumbi.
 Na época o time interiorano era treinado por José Macia, o Pepe, e contava com Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista (Alves); Tato, Kita e Lê (Carlos Silva).
 Três anos antes Kita despontou para o futebol com os 15 gols marcados no Juventude, no Campeonato Gaúcho. Em 1984 já estava no Inter (RS), e conta ter sentido indescritível emoção ao colocar a medalha de prata no peito quando atuava pela seleção olímpica brasileira, em Los Angeles (EUA).
 A estréia com a camisa do Flamengo em 1986 foi emocionante. De cara marcou dois gols contra o Corinthians, ano em que conquistou o título carioca. Outras conquistas ocorreram no Grêmio e Atlético Paranaense, sempre com gols. O final da carreira foi em 1995 no E.C. Passo Fundo (RS).  Nem por isso fez bons contratos na carreira.
 “Pena que nos anos 80 não se ganhava tanto dinheiro como hoje”, lamentou reiteradas vezes. Por isso, depois do confisco na poupança do governo Collor, o máximo que conseguiu foi montar um pequeno empreendimento de vídeo locadora.

 Antes de ter o próprio negócio foi funcionário da Secretaria de Esportes de Passo Fundo durante oito anos, mas foi pra rua com a mudança na cadeira no Executivo, após eleição municipal.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Edu Bala, de volante a ponteiro velocista

 Aos 17 anos de idade Edu Bala jogava na várzea paulistana na posição de volante e fazia o vaivém constantemente. Logo, jogando contra o juvenil da Portuguesa despertou atenção do comando da categoria de base do clube em 1965. E os lusos tiveram percepção do desperdício deixá-lo no meio de campo com aquela velocidade. Por isso o efetivaram como ponteiro-direito.
 Três anos depois, já profissionalizado, foi improvisado na ponta-esquerda para fugir da concorrência com o ágil ponteiro-direito Ratinho, que posteriormente se transferiu para o São Paulo, abrindo caminho para que ele se apoderasse da camisa sete da Lusa. Foi quando Carlos Eduardo da Silva ganhou apelido de Edu Bala por causa de seus piques endiabrados. Todavia corria de cabeça baixa e, por vezes, aplicava drible da vaca correndo até fora de campo e alcançando a bola à frente.
 Se chegar à linha de fundo era missão relativamente fácil para Edu Bala, o problema era a qualidade dos cruzamentos. Ainda bem que treinadores do passado tinham paciência para correção de deficiências, com repetição de treinamentos. Assim o ponta-de-lança Leivinha pôde explorar sua virtude no cabeceio no ataque luso de Edu Bala, Leivinha, Ivair e Esquerdinha.
 Como a Portuguesa era clube transitório para jogadores que se destacavam, com posterior repasse aos chamados grandes do futebol paulista, o passe de Edu Bala foi negociado com o Palmeiras, e bravamente ele ganhou a concorrência com Gildo e Copeu da mesma posição. A estréia foi marcada com goleada sofrida para Inter (RS) por 3 a 0, no dia 14 de setembro de 1969.
 No Verdão foram 472 jogos durante dez anos recheados de títulos e participação da segunda fase de academia do clube no biênio 1972-73. Na ocasião ele atuou num time formado por Leão; Eurico, Luiz Pereira, Alfredo Mostarda e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu Bala, Leivinha, César e Nei. “O Leão continua meu melhor amigo daquela turma. Recentemente o convidei para brincar um pouco com o pessoal do máster do Palmeiras e ele chamou a gente de louco’, revelou Edu Bala à Rádio CBN de Ribeirão Preto (SP).
 Na entrevista, o ex-atleta informou sobre a passagem de três jogos pela Seleção Brasileira em 1976 e confessou a proximidade de acerto com o Guarani no início de 1978. Como o São Paulo atravessou o negócio, ele interpreta que ficou marcado pelo treinador Carlos Alberto Silva, que o barrou no tricolor paulistano em 1980, porque Silva o havia indicado para o Guarani.
 Nas andanças posteriores de Edu Bala há registro de passagem pela Universidad Católica do Chile. O encerramento da carreira ocorreu aos 40 anos de idade no Sãocarlense. Assim, na iminência de completar 67 anos dia dez de outubro, Edu se orgulha de ter aplicado bem o dinheiro ganhado no futebol. É proprietário de quatro casas alugadas e ainda conta com dois apartamentos.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Didi, o folha seca

 Antigamente o chamado meia de armação era o cérebro do time. A bola passava obrigatoriamente pelos seus pés. Jair da Rosa Pinto, Zizinho, Didi, Gérson e Rivelino foram maestro no setor. Colocavam companheiros de ataque na cara do gol adversário com lançamentos milimétricos de 30 ou 40 metros.Também era cobradores oficiais de faltas de suas equipes.
 O meia de armação era conhecido também como meia-esquerda, porque a maioria da posição era canhoto. Alguns vestiam a camisa 10 e outros a 8. Valdir Pereira, o Didi, foi camisa 8 daquele lendário time do Botafogo do Rio na década de 60, e morreu no dia 12 de maio de 2001, aos 71 anos de idade.
 Que baita time tinha o Botafogo nas décadas de 50 e 60! Abastecia Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo e era só correr para o abraço. Foi ele também o inventor da folha seca, estilo que consiste na colocação de efeito da bola provocando mudança na trajetória, traindo goleiros adversários. Foi assim que cansou de fazer gols jogando no Fluminense, Botafogo e Seleção Brasileira.
 Didi também costumava pegar a bola nas redes quando seu time sofria gols e, ao levá-la ao meio de campo, estimulava companheiros de equipe: “O placar tá zero a zero. Vamos lá e virar este jogo”, dizia.
 O currículo dele foi recheado de títulos. Os mais significativos foram na Suécia em 1958, e Chile em 1962, quando sagrou-se bicampeão mundial pela Seleção Brasileira, em Copas.
 Em 1965, aos 36 anos de idade, ainda comandava o time do São Paulo em campo. Orientava o posicionamento de seus companheiros e mostrava aptidão para o cargo de treinador. No Brasil, quase não teve chances de mostrar o seu trabalho como treinador, mas foi aplaudido na Arábia Saudita e principalmente no Peru.
 Pouco antes de adoecer, Didi morava no Canadá com a sua filha Rebeca. Ensinava futebol para garotos nas faixas etárias sub11 e sub13 e criticava a onda de violência no Rio de Janeiro. “No Canadá, a gente pode passear pelas ruas e as crianças andam de bicicletas nas calçadas. Volto ao Rio só para fugir do inverno na América do Norte” justificava na época.

 De fato Didi não tinha moradia fixa. De repente estava no Rio de Janeiro e logo mudava de idéia e ficava uns tempos na Europa, Ásia ou Canadá. E em uma das últimas entrevistas, horrorizado com treinadores que aplicavam forte pegada no meio de campo, reafirmava sua identidade com o futebol de criatividade. Defendia a opção do jogador talentoso adaptado à marcação no setor, para fechar os espaços do adversário, ao especialista na função. “Claro que cada partida tem de ser analisada de forma diferente. De modo geral, um pegador como cabeça-de-área basta”, ensinava, e a justificava era detalhava: “Dá para adaptar alguém para ajudá-lo. Assim, quando a gente tiver posse da bola, terá um jogador a mais que sabe conduzi-la bem”, recomendava.

Solitinho enfrenta novo e duro desafio

 No imaginário do ‘mulherio’, jogador de futebol já é belo independente da feiúra. Imaginem um garotão esbelto, alto, loiro, cabelos caídos nos olhos e goleiro do Corinthians? Assim era Carlos Alberto Solito, que nas categorias de base ganhou apelido de Solitinho, conquistou medalha de ouro pela seleção olímpica no Pan-Americano de 1979, e no biênio 1980/81 foi titular da equipe principal do Timão.
 Faltou-lhe, todavia, a cobrada regularidade. Por isso em 1982 paradoxalmente perdeu a posição no time corintiano para o irmão Cláudio Roberto Solito, três anos mais velho de que ele, igualmente revelado nos juvenis do clube, e que voltava de empréstimo ao Náutico.
 Transformado em reserva, Solitinho entrou para a história insólita de irmãos goleiros buscando o mesmo espaço em um time, numa concorrência sadia. E se no Corinthians foi relegado, a carreira se prolongou no Santo André, Inter de Limeira e XV de Piracicaba, períodos que soube se esquivar de mulheres assanhadas e evitou virar noite em baladas ou fama de farrista.
 Na curta carreira de atleta, Solitinho procurou se habilitar à função de preparador de goleiros e a exerceu no Corinthians. Em 2012 ele estava empregado no Audax quando foi diagnosticado com câncer na cavidade nasal, disseminado para coluna e medula. Por isso perdeu movimentos nas pernas, faz uso de cadeira de rodas, mas está convicto da cura e retorno às atividades.
 Neste processo de recuperação, Solitinho conta com a solidariedade do irmão Solito, 58 anos de idade, bem sucedido empresário do ramo de confecção, e que ‘roubou-lhe’ a posição em 1982, quando retornou ao Corinthians com bagagem adquirida após sucessivos empréstimos, um deles ao Taubaté. E naquela temporada foi montado um elenco competitivo com proposta de ‘brigar’ pelo título do Campeonato Paulista. O objetivo foi alcançado no time formado por Solito; Alfinete, Mauro, Daniel Gonzalez e Wladimir; Paulinho, Zenon e Sócrates; Ataliba, Casagrande e Biro-Biro. Técnico: Mário Travaglini.
 Nem por isso Solito se consolidou como titular no ano seguinte. A pretexto de se contar no time com goleiro de mais experiência, dirigentes contrataram Emerson Leão. Claro que não dimensionaram o racha que ele provocaria no elenco por discordar da democracia corintiana na época. Assim, Solito ficou como reserva imediato e jogou a partida do título paulista de 1983. Já no ano seguinte a vaga foi perdida com a chegada do goleiro Carlos, da Ponte Preta.

 Outro exemplo de irmãos disputando mesma posição foi Luisinho e Caio Cambalhota no Flamengo em 1975, com vantagem para Luisinho. Exemplos de irmãos de posições diferentes jogarem juntos são maiores. Entre outros podem ser citados Pelé e Zoca no Santos, Alecsandro e Richarlyson no Atlético Mineiro, e os holandeses Frank e Ronaldo De Boer.

domingo, 6 de setembro de 2015

Terto, quase 500 jogos com a camisa do São Paulo

 O São Paulo é uma agremiação que dedica tratamento especial aos seus ex-ídolos. Em maio passado, quando enfrentou o Cruzeiro pela Libertadores no Estádio do Morumbi, a diretoria homenageou 15 ex-atletas em agradecimento pela dedicação ao clube. E naquela leva estava o atacante Tertuliano Severino dos Santos, o Terto, com histórico de 498 jogos e 87 gols marcados no tricolor paulistano de 1968 a 1977.
 Quando chegou ao São Paulo, com fama de baladeiro, Terto participou de um time formado por Picasso; Renato, Jurandir, Roberto Dias e Tenente; Nenê (Lourival) e Benê (Fefeu); Miruca, Terto, Babá (Téia) e Paraná.  Já no segundo ano de clube foi diagnosticado com verme, fez tratamento, e garantiu posição de meia-direita na equipe que em 1970 quebrou jejum de títulos de 13 anos com a conquista do Campeonato Paulista.
 A remontagem da equipe são-paulina implicou na tradição do clube de contratar um meia-armador veterano, caso do carioca Gérson, a exemplo daquilo que havia ocorrido com Sastre e Zizinho décadas anteriores. Gérson era o lançador. Da intermediária defensiva visava à velocidade de Terto.
 O jogo que encaminhou o São Paulo para aquele título foi contra a Ponte Preta dia cinco de dezembro, marcado por erro de arbitragem. Terto sofreu falta do zagueiro pontepretano Henrique a um metro da área, mas o árbitro Arnaldo César Coelho marcou pênalti, convertido por Toninho Guerreiro, que posteriormente ampliou a vantagem para 2 a 0. E com situação consolidada, o São Paulo, treinado pelo saudoso Zezé Moreira, venceu o Guarani em Campinas na última rodada, num time formado por Sérgio; Forlan, Jurandir, Roberto Dias e Gilberto Sorriso; Édson Cegonha e Gérson; Paulo Nani, Terto, Toninho e Paraná.
 No ano do bi, em 1971, a comemoração foi com vitória por 1 a 0 sobre o Palmeiras diante de 115 mil pessoas no Morumbi, com Arlindo no lugar de Dias e o uruguaio Pedro Rocha efetivado como meia-direita, o que provocou deslocamento de Terto à ponta-direita, com saída de Paulo Nani da equipe. Oswaldo Brandão já respondia pelo comando técnico.
 Terto era jogador de explosão, tinha facilidade para chegar ao fundo do campo, e fazia precisos cruzamentos visando o centroavante Toninho Guerreiro. Em 1977, quando as pernas já estavam cansadas, Terto fez companhia a Sócrates e Lorico no Botafogo de Ribeirão Preto. Depois passou por Ferroviário do Ceará e encerrou a carreira em 1982 no Catanduvense.

 Na iminência de completar 70 anos de idade, Terto trabalha em escolinha de futebol para sócios do São Paulo mantendo a postura dos tempos de atleta: educado, divertido e paciente para relatar sua biografia no futebol desde 1965, quando iniciou a carreira no Santa Cruz. Todavia não esconde que fica transtornado com falsidade de amigos. Já ‘voou’ na garganta de um ex-goleiro que pisou na bola com ele.

domingo, 30 de agosto de 2015

Cléber, zagueiro armário bom de bola

 A caixa torácica avantaja do ex-zagueiro Cléber do Palmeiras, da década de 90, rendeu-lhe habituais conotações de armário, guarda-roupa, muralha e até xerife, embora não fosse jogador botinudo. Fosse briguento, esmagaria o então destemperado Edmundo do Vasco, que lhe desferiu um coice na primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1997.
 A violência de Edmundo foi caso pensado das então tramóias do Vasco. Naquele primeiro jogo da finalíssima contra o Verdão, dia 14 de dezembro, em São Paulo, o atleta havia sido penalizado com o terceiro cartão amarelo, e logo surgiu orientação do banco de reservas para que provocasse expulsão, projetando-se facilidade para se obter efeito suspensivo nas costumeiras maracutaias da CBF. 
 O equilibrado Cléber, 1,82m de altura, não revidou a pancada e a partida terminou empatada sem gols, com repetição do placar no jogo de volta dia 21, no Rio de Janeiro, resultado que assegurou o título nacional ao Vasco. O vice-campeão Palmeiras teve essa formação: Veloso; Pimentel, Roque Júnior, Cléber e Júnior; Galeano, Rogério, Alex e Zinho; Euller e Viola (Oséas).
 Curioso é que Cléber e Edmundo haviam sido companheiros no Palmeiras em 1993, quando a co-gestora Parmalat propiciou montagem de renomada equipe. Antes disso a história de Cléber Américo da Conceição no futebol começou como atacante aprovado em teste no juvenil do Atlético Mineiro em 1986, mas perceberam a aptidão dele para a zaga, e assim chegou ao profissional três anos depois mostrando excelente impulsão, tempo de bola para antecipação e lucidez para sair jogando.
 Clébão teve histórico de 13 jogos na Seleção Brasileira quando atuava no Galo mineiro, Logroñes da Espanha e Palmeiras, após substituir o instável Tonhão. E lá ficou até 1999, ano marcado pelo título da Libertadores. Na final contra o Deportivo Cali, da Colômbia, os mandantes colombianos venceram por 1 a 0. Já os palmeirenses descontaram em São Paulo com vitória por 2 a 1. Na definição dos pênaltis deu Verdão: 4 a 3.
 Foi a Libertadores do goleiro ‘São Marcos’, que defendeu pênalti cobrado por Vampeta na definição através deste expediente pelas quartas-de-final. A vitória embalou o time do treinador Luiz Felipe Scolari, que tinha esta formação: Marcos; Arce, Júnior Baiano, Cléber e Júnior; Galeano, César Sampaio, Alex e Zinho; Paulo Nunes e Oséas.
 No Mundial de Clubes o Palmeiras perdeu para o Manchester por 1 a 0 com Clebão na reserva, visto que voltava de lesão. Em 2000 ele foi jogar no Cruzeiro e depois passou por Santos, Yverdon da Suíça e Figueirense, antes de encerrar a carreira no São Caetano. Em 2010 tentou ser treinador no Rio Claro, e ficou na função até 2013, no Poços de Calda.

 Cléber, nascido em 26 de junho de 1969, foi carregador em supermercado aos 13 anos de idade. Depois trabalhou em fábrica de linguiça.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Oreco, um reserva de luxo

 Em selecionado com lateral-esquerdo da qualidade do saudoso Nilson Santos, a chance do reserva jogar era mínima. Só em caso de contusão, porque nas décadas de 50 e 60 jogador expulso não cumpria suspensão automática. Só ficava de fora se, no julgamento, fosse penalizado.
 Assim, o gaúcho Oreco, também falecido, sabia que seria um turista na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, ano do primeiro título mundial em que ele fez parte de um grupo competente de reservas formado por Castilho; Djalma Santos (só jogou na final), Mauro, Zózimo e Oreco; Dino Sani e Moacir; Joel, Mazola, Dida e Pepe. E em 1962, na conquista do bi, embora esbanjasse vitalidade e se sobressaísse na marcação, Oreco perdeu o lugar de reserva para o alagoano Altair, jogador do Fluminense incluído no time B, que tinha Castilho; Jair Marinho, Belini, Jurandyr e Altair; Zequinha e Mengálvio; Jair da Costa, Coutinho, Amarildo (jogou no lugar de Pelé) e Pepe.
 Naquela época, presidentes de clubes esbravejavam quando julgavam que jogador selecionável de seu elenco havia sido injustiçado. Num período de acirrada rivalidade entre paulistas e cariocas, o então presidente do Corinthians, Wadih Helou, dizia que jogadores de clubes do Rio de Janeiro eram privilegiados pelo fato de a antiga CBD (Confederação Brasileira de Depostos) ter sede no Rio.
 Oreco morreu no dia 3 de abril de 1985 em Ituverava (SP), na iminência de completar 53 anos de idade. O coração travou e dele restou uma história de profissional aplicadíssimo no trabalho e com fatos inusitados ao longo da carreira. Um deles cita que o Inter de Santa Maria (RS) - clube que o revelou como zagueiro - concordou com a proposta do Inter portoalegrense de liberá-lo em troca da construção de um muro ao redor do campo.
 Lá, devidamente adaptado à lateral-esquerda, conquistou títulos durante sete anos e despertou interesse da Portuguesa, que enviou um cartola a Porto Alegre (RS) para desfecho da negociação em 1957. Só que o Corinthians foi mais ágil e atravessou o negócio com proposta melhor.
 Na capital paulista, o futebol de Oreco se consolidou e começaram a surgir convocações à Seleção Brasileira, embora tivesse pouca chance de jogar. Ele ficou no Corinthians até 1965 sem o gostinho de comemorar títulos. No histórico de 404 jogos a torcida o isentou de cobranças, apesar do jejum de títulos. A costumeira raça, inerente dos gaúchos, sempre foi reconhecida.
 Oreco marcava por zona e raramente um ponteiro ganhava o duelo nas disputas que travavam. E tinha vantagem de cobrir bem o miolo de zaga, aproveitando a boa impulsão para ganhar jogadas pelo alto. E mais: tinha relativa técnica para fazer a bola sair limpa de trás.

 O lateral jogou num time corintiano com um     quinteto ofensivo famoso, mas pouco prático: Roberto Bataglia, Silva, Nei, Rafael e Ferreirinha. 

domingo, 16 de agosto de 2015

Cinco anos sem Waldemar Carabina

 Este 22 de agosto marca o quinto ano da morte do zagueiro Waldemar Carabina, aos 78 anos de idade, vitimado por complicações do Mal de Alzheimer. Ele foi ídolo no Palmeiras porque chegava junto nas divididas, raramente levava desvantagem, e impunha-se no jogo aéreo.
 Inicialmente ele fez dupla de zaga com o clássico Aldemar, que desarmava adversários sem recorrer às faltas. Em 1959 o Palmeiras sagrou-se campeão paulista na final contra o Santos com esta formação: Valdir Joaquim de Moraes; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo Murolo e Romeiro.
 Foram três jogos extras para decisão do título, com empates nos dois primeiros - 1 a 1 e 2 a 2 - e vitória palmeirense, de virada, por 2 a 1, na derradeira partida no Estádio do Pacaembu, com 45 mil pagantes. O respeitado Santos tinha Laércio; Getúlio, Formiga, Dalmo e Feijó; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Na época a bola era marrom.
 A partir de 1963 o companheiro de zaga de Carabina passou a ser o talentoso Djalma Dias, vindo do América (RJ), ano em que o time havia sido parcialmente modificado e conquistou novamente o título paulista com Valdir; Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Vicente Arenari; Zequinha e Ademir da Guia; Gildo, Servilio, Vavá e Rinaldo. Na sequência vieram o lateral-esquerdo Ferrari, quarto zagueiro Minuca, volante Dudu e atacantes Tupãzinho e Ademar Pantera. Aquela leva foi eternizada como ‘academia palmeirense’.
 Carabina entrou para a história do Palmeiras como o quinto jogador que mais vestiu a camisa do clube: 581 jogos, superado apenas por Ademir da Guia (901), Leão (617), Dudu (609) e Valdemar Fiúme (601). Assim, escreveu uma história de 12 anos no Verdão, marcada por 333 vitórias, 116 empates, 135 derrotas e nove gols.
 O encerramento da carreira de atleta foi no Comercial de Ribeirão Preto (SP) em 1968, migrando para a função de treinador, com destaque em clubes do Norte e Nordeste até 2004. O Palmeiras lhe deu a chance de comandar a equipe em 1988, na Copa União e Campeonato Paulista, e o trabalho foi aceitável. No São José, em 1989, ele fazia campanha razoável até que intolerantes cartolas decidiram demiti-lo após quatro empates consecutivos. Na seqüência, o time joseense chegou à final do Paulistão e perdeu o título na disputa com o São Paulo, já com Ademir Mello no comando técnico.
 Nas andanças por Recife, o site esportivo Pernambola revelou um fato curioso no vaivém de Carabina pelo Santa Cruz. Após uma partida, no vestiário, o repórter Dalvison Nogueira esbarrou sem querer no treinador que, irado, explodiu: - Você tá cego, rapaz!

 Quando o repórter explicou que não enxergava de um olho, justificou que era um olho de vidro adaptado, Carabina, envergonhado, não se cansou de pedir desculpas.

domingo, 9 de agosto de 2015

Beto Fuscão, zagueiro discutível

 Historicamente chegam à Seleção Brasileira jogadores de condições técnicas discutíveis, e um dos exemplos foi o zagueiro Beto Fuscão, um negro alto e forte, com militância no futebol nas décadas de 70 e 80. Fuscão era um beque que se prevalecia nas jogadas pelo alto e tinha deficiências no chão. A lentidão nas coberturas era conseqüência da falta de velocidade para a função. Apesar disso, por sete anos consecutivos foi titular absoluto no Grêmio (RS) e, de 1977 a 1981, foi ídolo da torcida palmeirense, ora jogando ao lado de Alfredo Mostarda, ora de Jair Gonçalves.
 Em 1976, quando o técnico Osvaldo Brandão (já falecido) havia feito significativa renovação na Seleção Brasileira, visando preparação à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, apostou no vigor físico do catarinense Beto Fuscão, e o levou aos Estados Unidos para a disputa do Torneio Bicentenário. E na vitória do Brasil sobre a Inglaterra por 1 a 0, dia 25 de maio no Estádio Coliseu, em Los Angeles, com gol de Roberto Dinamite, Beto Fuscão formou dupla de zaga com o vascaíno Miguel.
 Posteriormente, Fuscão deixou o talentoso Amaral (ex-Guarani e Corinthians) no banco de reservas na vitória brasileira por 2 a 0 sobre os Estados Unidos, ocasião em que Brandão escalou Leão; Orlando, Miguel, Beto Fuscão (Amaral) e Marinho Chagas (Getúlio); Falcão (Givanildo), Rivelino e Zico; Gil, Roberto Dinamite e Lula. O ponteiro-direito Gil, autor dos dois gols, já se diferenciava dos tradicionais pontas que faziam jogadas de fundo de campo. O então jogador do Fluminense e depois do Botafogo (RJ) tinha características de fechar em diagonal e concluía as jogadas.
 O último bom momento de Beto Fuscão no futebol foi no bom time do Palmeiras de 1978, que chegou à final do Campeonato Brasileiro. Ele ficou de fora da primeira partida da decisão, na derrota palmeirense por 1 a 0 para o Guarani, no Estádio do Morumbi, gol de pênalti cobrado por Zenon, mas voltou à equipe na segunda e decisiva partida no dia 13 de agosto, no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, quando o placar se repetiu e o Bugre conquistou o título inédito em sua história.
 Na época, 27.087 torcedores se acotovelaram no Estádio Brinco de Ouro, pois ainda não havia sido construído o segundo lance de arquibancada à direita dos portões principais - batizado de Tobogã - que serviu para quase duplicar a capacidade de público do estádio.
 O carioca Jorge Vieira era o treinador do Palmeiras na época, e colocou em campo um time formado por Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão (Jair Gonçalves), Alfredo Mostarda e Pedrinho; Ivo, Toninho Vanusa e Jorge Mendonça; Sílvio, Escurinho e Nei. Daquela leva, meia Jorge Mendonça faleceu em Campinas aos 51 anos de idade, dia 18 de fevereiro de 1976, vítima de ataque cardíaco. Jorjão ou Coronel, como era conhecido, marcou 375 gols como jogador profissional, 104 deles pelo Palmeiras, 88 no Guarani, 41 na Ponte e o restante em outros clubes que passou.
 O atacante Toninho catarinense, hoje com 63 anos de idade, ficou de fora do jogo do vice-campeonato em Campinas e se fixou em São José, na Grande Florianópolis (SC), como criador de camarão. Já o meio-campista Toninho Vanusa está na capital paulista e é empresário do ramo de confecções.
 Rigoberto Costa, que nos tempos de Grêmio ganhou o apelido de Beto Fuscão, completou 65 anos de idade dia 13 de abril e está radicado em Florianópolis, sua cidade natal. Lá, ensina segredos da bola para a garotada em uma escolinha de futebol.
 Pode-se dizer que Beto Fuscão não soube dimensionar o tempo que deveria ter pendurado as chuteiras. Já sem o vigor físico a partir de 1981, quando trocou o Palmeiras pelo São José - clube do interior de São Paulo -, enfrentou a tenebrosa estrada da volta do futebol, com passagens por Araçatuba (SP), Ferroviária de Araraquara (SP), Uberaba (MG) e Tiradentes (DF) até 1984, naturalmente sem o rendimento de outrora. 

      

Geraldão, centroavante raçudo e goleador

 Está eternizada na cultura brasileira a troca do ‘ele’ pelo ‘erre’ em prenomes de pessoas. Se o cartório registra o recém nascido como Geraldo, irremediavelmente logo ele será identificado por Gerardo. E alguns anos depois, mesmo que o indivíduo não seja enorme será chamado pelo aumentativo: Gerardão.
 Claro que o centroavante Geraldo da Silva, nascido em julho de 1949, que fez sucesso no Corinthians na década de 70 e no Inter (RS) nos anos 80, seria mais um Gerardão, até porque valia-se da caixa torácica avantajada para trombar com a ‘becaiada’ e marcar gols.
 Gerardão entrou para a história dos ‘grenais’ como autor de cinco gols pelo Inter em dois confrontos decisivos pelo hexagonal regional de 1982, ano em que ele comemorou o título estadual. No primeiro marcou dois gols na vitória por 2 a 0, no Estádio Beira-Rio. Depois, outros três gols em pleno Estádio Olímpico, quando o seu time venceu por 3 a 1, com gols em que repartiu a bola com zagueiros quer no chão, quer pelo alto.
 Quis o destino que Geraldão detonasse o clube que o rejeitou, visto que na temporada anterior havia sido emprestado ao Grêmio e os cartolas não renovaram o contrato após passagem de três meses, apesar da forte campanha feita pelo jornalista Paulo San’tana para que permanecesse. Os gremistas preferiram apostar as fichas em Baltazar, o artilheiro de Deus.
 Geraldão foi um caneleiro assumido, até porque não precisava de habilidade para se consagrar. Como os típicos centroavantes de outrora tinha o faro de gol e foi artilheiro do “gauchão’ de 1982 com 20 gols, num time formado com Benitez; Edvaldo, Mauro Pastor, Mauro Galvão e André Luís; Ademir Kaefer, Cléo e Rubens Paz; Sílvio, Geraldão e Silvinho.
 Também artilheiro Geraldão foi do Paulistão de 1977 pelo Corinthians, ano do desjejum de título após 22 anos, na decisão contra a Ponte Preta. Eis o time comandado pelo treinador Oswaldo Brandão: Tobias; Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano Calhoada (Palhinha); Vaguinho, Geraldão e Romeu.
 Daquela formação só houve mexida basicamente em duas posições no ano anterior, quando o Corinthians provocou invasão de 70 mil torcedores ao Estádio do Maracanã para o jogo da semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Fluminense. Zé Eduardo era o quarto-zagueiro e Givanildo volante.

 Chegando ao Corinthians em 1975, o estilo raçudo de Geraldão agradou a torcida. Apesar disso, em 1978 foi emprestado o Juventus e voltou ao Timão no ano seguinte para reviver a dupla de ataque com Sócrates, de Botafogo de Ribeirão Preto. Todavia, a história dele no Corinthians durou mais um ano e a sequência foi no futebol gaúcho. Depois, a trajetória foi descendente até o encerramento da carreira em 1989 no Garça, mas ele continua ligado ao meio como professor de escolinha em São Paulo.

domingo, 26 de julho de 2015

Marcial, de goleiro para a medicina

 Décadas passadas jogador de futebol nem sempre tinha postura profissional. Varava madrugadas em ‘gandaias’ com mulherada, jogatina de baralho ou bebedeira em botecos. Dedicação aos estudos era raridade. Assim, quando pendurava as chuteiras vagava por aí sem profissão e ‘queimava’ o dinheiro juntado ao longo da carreira.
 As entrevistas eram inócuas ou marcadas pelo ‘decoreba’, com derrapadas na língua portuguesa. No rádio, as primeiras palavras eram ‘ouvintes meus cumprimentos’. E no pós-jogo, em caso de derrota, o discurso não fugia de ‘vamos erguer a cabeça e partir para a próxima’.
 Quem sugere que o saudoso meia Sócrates do Corinthians foi uma das raras exceções de doutorado entre boleiros, quando formado em medicina no final dos anos 70, tem que recorrer ao histórico da década de 60 na bola quando o rebelde e politizado Afonsinho, do Botafogo (RJ), também fez a mesma opção.
 O histórico de atletas-médicos aumenta no Atlético Mineiro. Mário de Castro jogou de 1926 a 1931 com o nome falso de Orian para driblar a exigente mãe, uma viúva que queria impedi-lo de jogador futebol. Assim, ele cursou medicina simultaneamente e foi clinicar quando parou de jogar. Já na década de 60 dois companheiros de equipe no Galo mineiro formaram-se médicos após o encerramento da carreira, casos do meio-campista Haroldo Lopes e goleiro Marcial de Mello Castro.
 Marcial foi profissionalizado no Galo mineiro em 1960, ameaçou parar na temporada seguinte, mas foi convencido pelo técnico Antoninho a voltar. E se destacou pela agilidade e boa colocação no time campeão estadual de 1962 formado por Marcial; Reginaldo, William, Procópio e Marcelinho; Dinare e Fifi; Toninho, Nilson, Afonsinho e Noêmio.
 Flamengo foi o destino de Marcial no ano seguinte e conquistou novo título regional, com a marca de ter sustentado o empate sem gols contra o Fluminense com brilhantes defesas. Aquela final, em fevereiro de 1963 no Estádio do Maracanã, registrou o recorde de público entre clubes no planeta, com 177.656 pagantes e 194.603 presentes. Eis a equipe rubro-negra: Marcial; Murilo, Luís Carlos, Ananias e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Airton, Geraldo e Osvaldo.
 Em 1966 Marcial já estava no Corinthians e se revezava na meta com Mário, Cabeção e Heitor. Eis o time: Marcial; Jair Marinho, Ditão, Clóvis (Galhardo) e Édson Ceconha; Dino Sani e Nair; Marcos, Nei, Tales, Rivelino e Gilson Porto. Lá ele encerrou a carreira no ano seguinte aos 26 anos de idade quando o revezamento no gol era com Barbosinha. Marcial preferiu destrancar a matrícula do terceiro ano curso de medicina quando morava em Belo Horizonte. E lá se especializou como anestesista.
 Agora, aos 73 anos de idade, ele acha tempo para freqüentar o Boteco do Chumba na capital mineira e adora pescar traíras em lagoas. 

domingo, 19 de julho de 2015

Atacante Parada, outro ‘rei do gatilho’

 Nos tempos de olho por olho e dente por dente também no futebol, décadas passadas, pessoas ligadas diretamente ao meio andavam armadas com revólveres como prevenção. O saudoso treinador-jornalista João Saldanha ameaçou Yustrich, técnico do Flamengo que já morreu, no Retiro dos Padres no Rio de Janeiro, após ter sido criticado duramente durante as Eliminatórias à Copa do Mundo de 1970. Anos depois surgiu no futebol o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia, já falecido, que chegava aos estádios com arma à mostra na cintura. O ex-jogador Mário Sérgio Pontes de Paiva justificou o apelido de ‘Rei do Gatilho’ porque em 1979 espalhou rodinha de torcedores do São José nas proximidades do ônibus que conduzia a delegação do São Paulo no Vale do Paraíba, ao sacar um revólver e disparar tiros para o alto após derrota do time são-paulino por 1 a 0.
 Exemplos estão aí aos montes de boleiros prevenidos com armas de fogo antes da vigência da lei 10.826 do Estatuto do Desarmamento, sancionada em dezembro de 2003. O centroavante Antonio Parada Neto, na passagem pelo Guarani em 1967, sacou um revólver e deu tiros para espantar torcedores da Portuguesa Santista que ameaçaram jogadores bugrinos após jogo no Estádio Ulrico Mursa, em Santos.
 Aos 66 anos de idade, Parada é um homem tranquilo que fixou residência na capital paulista, comportamento que contrasta com o seu tempo de atleta iniciado em 1957 no Palmeiras. Três anos depois, trocado pelo goleiro Rosan, foi jogar na Ferroviária de Araraquara (SP), mas a carreira decolou mesmo no Bangu a partir de 1963 quando atuou num time formado por Ubirajara; Élcio, Mário Tito, Zózimo e Nilton; Ocimar e Roberto Pinto; Paulo Borges, Bianchi, Parada e Matheus.
 Parada foi um atacante estilo clássico e com frieza para conclusões. Por isso teve passagem marcante no Botafogo (RJ) em 1966, ano do título do Torneio-Rio São Paulo no time dirigido por Admildo Chirol que tinha Manga; Paulistinha, Zé Carlos, Dimas e Rildo; Elton e Gérson; Jairzinho, Bianchini, Parada e Roberto. Na ocasião ele foi artilheiro da competição com oito gols. Na prática, Botafogo, Corinthians, Santos e Vasco terminaram a disputa com 11 pontos, mas o ‘Fogão’ se prevaleceu no critério saldo de gols que não constava inicialmente no regulamento.
 No Guarani em 1967, Parada estreou com gol contra a Ferroviária no empate por 1 a 1 em Araraquara, mas posteriormente foi criticado pela torcida por causa da lentidão. Foram 29 jogos e dez gols marcados, quatro deles de pênaltis. Eis o time da época comandado por Aparecido Silva: Dimas; Cido Jacaré, Paulo, Tarciso e Miranda; Bidon e Milton dos Santos; Osvaldo, Zé Roberto, Parada e Carlinhos.

 Parada voltou ao Bangu, teve passagem discretíssima pelo Corinthians e perambulou por clubes do Norte do país até 1975 quando encerrou a carreira.

domingo, 12 de julho de 2015

Um ano sem o árbitro Armando Marques

 Este 17 de julho marca o primeiro ano da morte do ex-árbitros de futebol Armando Nunes Castanheira da Rosa Marques, vítima de insuficiência renal aos 84 anos de idade. A última aparição dele em público em 2014 havia sido no dia 21 de abril entrevistado por Jô Soares na TV Globo, ocasião em que, embora fragilizado fisicamente, mantinha velocidade de raciocínio e confessou nunca ter medo na vida. “Eu agradeço a Deus porque ele me privou do sentimento do medo”.
 Fama e facilidade de comunicação deram a Armando Marques um programa de variedades na extinta Rede Manchete de Televisão em 1993, num esquema de rodízio entre apresentadores: o Show da Manchete. Ele o apresentava nas noites de segundas-feiras, enquanto nos outros dias o comando era alternado por Otávio Mesquita, Ivon Curi, Monique Evan e Rosana Hermman.
 Na ocasião, ao investir maciçamente em jornalismo, teledramaturgia, esportes e entretenimento, a TV Manchete incomodava a Rede Globo de Televisão. O jornal noturno da emissora, apresentado pelo casal Eliakim Araújo e Leila Cordeiro, tinha uma hora de duração. O programa Documento Especial era a marca do jornalismo investigativo. Atores consagrados como Maitê Proença e Gracindo Júnior alavancaram a audiência da novela ‘Dona Beija’, mas o pico no Ibope foi alcançado na dramaturgia Pantanal. O saudoso estilista Clodovil Hernandes e as apresentadoras Xuxa e Angélica participaram da grade da programação.
 Como árbitro, tecnicamente Armando Marques foi tido como um dos melhores nas décadas 60 e 70, apesar de erros crassos na carreira. Santos e Portuguesa dividiram o título do Campeonato Paulista de 1973, porque na definição através de cobranças de pênaltis o time santista vencia por 2 a 0 o árbitro deu a partida por encerrada quando a Lusa ainda tinha chances de sair vencedora. Assim, restou à Federação Paulista de Futebol premiar os dois clubes.
 Na decisão do Paulistão de 1971 Armando Marques anulou gol legítimo de cabeça do palmeirense Leivinha contra o São Paulo, interpretando que o atacante havia usado a mão. O erro foi determinante para que o Tricolor paulista ficasse com o título da competição.
 Num período em que atletas eram identificados predominantemente pelos apelidos, Armando Marques os chamavam pelo prenome. Pelé, por exemplo, era senhor Edson, que ele ousou expulsar num jogo contra o São Paulo em 1963.
 Embora educado, Armando Marques repreendia os atletas energicamente para manter a disciplina. Tinha o hábito de adverti-los com dedo em riste no rosto, e por isso levou um soco do lateral-esquerdo Nilton Santos, já falecido.

 Por causa de trejeitos nos gramados, o público nos estádios, predominantemente conservador, entoava o coro de ‘bicha’. Seja como for, o certo é que Armando Marques morreu solteiro.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Boleiros e técnicos argentinos se destacaram no Brasil

 O futebol argentino ganhou notoriedade pela exportação de treinadores para comandar selecionados de países sul-americanos na Copa América. Outrora o mercado brasileiro foi igualmente abastecido por treinadores e jogadores da Argentina. Nos anos 40, o São Paulo contava com o futebol elegante do zagueiro Armando Renganesch, que posteriormente se transformou em treinador qualificado na montagem de equipes, com refinado toque de bola. Mesmo destino seguiu o goleiro José Poy quando parou de jogar. O diferencial é que Poy, enquanto treinador, foi disciplinador. Exigia que o jogador estivesse em forma para render aquilo que era capaz.
 Da escola argentina também se destacaram no futebol brasileiro os técnicos Nelson Ernesto Filpo Nuñes, Jim Lopes e José Agnelli, já falecidos. O folclórico Filpo foi responsável pela academia do Palmeiras em 1965. E a identificação com o Verdão possibilitou que voltasse a comandar o time outras vezes. Lopes fez sucesso no São Paulo e Agnelli foi um ‘cigano’ no interior paulista até fixar residência em Ribeirão Preto.
 A migração de boleiros argentinos ganhou destaque nos anos 40. O Palmeiras foi buscar o clássico zagueiro Luis Villa, incapaz de dar um pontapé no adversário. Por isso, num clássico com o Corinthians, foi humilhado pelo meia Luizinho.
 O São Paulo não deixou por menos e trouxe o meia Sastre naquela mesma época para integrar um ataque formado por Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal. Na década de 60, na ganância de ganhar a Libertadores da América, o Palmeiras foi buscar em Buenos Aires o emérito cabeceador ‘Artime. O título não veio, mas Artime ratificou a fama de artilheiro.
 Acreditem: no mesmo período passou quase que despercebido no Juventus (SP) o então jogador Cesar Luis Menotti, que conquistou o título mundial como técnico da Seleção Argentina na Copa do Mundo de 1978.
 Os exemplos bem sucedidos de argentinos no Brasil animaram o Santos a contratá-los. Assim vieram o zagueiro Ramos Delgado e o goleiro Cejas entre as décadas de 60 e 70. Ramos Delgado tinha o tempo exato da bola para o desarme sem recorrer às faltas. Lembrava o estilo do saudoso Mauro Ramos de Oliveira, enquanto Agostín Mario Cejas trouxe a coragem dos goleiros platinos na saída da meta para interceptar cruzamentos na grande área.
 Na mesma época o Cruzeiro se garantia na defesa com o futebol eficiente do zagueiro Perfumo, enquanto o Flamengo dependia dos gols do centroavante Doval, que os comemorava próximo ao fosso da antiga geral do Maracanã com punhos cerrados e corpo curvado para frente.

 Curioso é que nas ‘peladas’ da molecada na Argentina Doval era goleiro, e saía driblando adversários após praticar defesas. Por isso foi deslocado ao ataque. Ele sofreu enfarte e morreu em outubro de 1991 aos 46 anos de idade.

domingo, 28 de junho de 2015

Saudoso treinador Carlinhos priorizava a técnica

 O estilo do saudoso treinador Luís Carlos Nunes da Silva, o Carlinhos, falecido dia 22 de junho passado, nada tinha a ver com a atual treinadorzada que esgoela a beira de gramados para transmitir instruções aos jogadores de suas respectivas equipes. A voz mansa e fina de Carlinhos só era ouvida, do banco de reservas, quando o boleiro de seu time aparecia para cobranças de laterais.
 Na concepção de Carlinhos mais valia a preparação do time no pré-jogo. Por isso trabalhava incessantemente a valorização de posse de bola. Como? Nos treinos havia predominância do tipo ‘dois toques’. E para aproximar os jogadores ele priorizava apenas metade do gramado nos trabalhos técnicos. Também sabia explorar pontos falhos de adversários aplicando exaustivos ensaios de jogadas.
 Carlinhos não se prendia basicamente a conceitos táticos. Aprimorava tecnicamente seus jogadores de forma que o desarme ocorresse sem praticar faltas. Em linhas gerais, orientava os seus marcadores que o bom posicionamento possibilitava o tempo exato para antecipação nas jogadas em vez de marcação implacável. E, de posse bola, cobrava que o passe feito corretamente.
 Isso ele fazia com extrema categoria nos tempos de jogador do Flamengo de 1958 a 1969, atuando como volante. E o estilo clássico, que fazia o time jogar por música, rendeu-lhe o apelido de violino, 23 gols em 517 partidas, e o prêmio Belfort Duarte destinado a jogadores sem expulsão na carreira.
 Por isso nunca escondeu a mágoa ao ter sido relegado pelo treinador Aimoré Moreira à Copa do Mundo de 1962 no Chile, quando o Brasil conquistou o bicampeonato. Considerava-se melhor que o palmeirense Zequinha - reserva de Zito - e por isso cobrava vaga entre os 22 relacionados naquela competição. A única oportunidade na Seleção Brasileira foi em 1964 num amistoso contra Portugal.
 Dois anos depois, foi um dos destaques do time flamenguista que perdeu o título do Campeonato Carioca na briguenta final contra o Bangu, com time base formado por Franz; Murilo, Ditão, Jaime e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Carlos Alberto, Almir Pernambuquinho, Silva e Osvaldo II. O público pagante na época foi de 143.978 torcedores no Estádio do Maracanã.
 Após pendurar as chuteiras como atleta, Carlinhos não deixou de freqüentar a sede da Gávea. Era viciado no baralho, com preferência pelo buraco. Assim, bastava o Flamengo enroscar em competições para que ele fosse chamado como técnico tampão. E isso se repetiu por cinco vezes a partir de 1983, sempre tentando fazer o time jogar ao seu estilo: futebol técnico e ofensivo.

 Carlinhos ainda teve passagens como treinador no Guarani e Remo, mas não conseguia se distanciar do Rio de Janeiro e degustar o chopinho com amigos. Aos 77 anos de idade sofria complicações no sistema circulatório e já havia perdido a memória.