segunda-feira, 16 de junho de 2014

Alemão Beckenbauer, da glória à punição

 O alemão Franz Beckenbauer, que em setembro completará 69 anos de idade, foi notícia no planeta pouco antes da largada da Copa do Mundo no Brasil
pela suspensão de 90 dias imposta pela Fifa, por ter recusado prestar declarações num inquérito sobre votação para o Mundial de 2022 no Catar, visto que participava do comitê executivo da entidade.
 Beckenbauer é um líder esportivo de muitas gerações e o maior jogador de todos os tempos da Alemanha. Ele participou daquele memorável time que arrancou vitória por 4 a 3 sobre a Itália, na semifinal da Copa de 1966, e, na final, ‘vendeu caro’ a derrota para a seleção inglesa. Quatro anos depois os alemães chegaram à semifinal da Copa do México e, em 1974, na Alemanha, o Kaiser - apelido que lembra o imperador alemão -, pôde finalmente repetir gestos de renomados capitães de selecionados, ao conquistar o título mundial.
 A Alemanha viveu períodos de glória quando ele esteve em campo, inicialmente como volante e posteriormente como o melhor líbero da história do futebol mundial, quer à frente, quer atrás da zaga. Por isso foi tido como um esbelto e clássico jogador com a bola nos pés.
 Assim, Beckenbauer realizou um sonho que acalentou desde menino, repetindo o feito de seus companheiros em 1954, na Suíça, com o título sobre a Hungria, tida como favorita por sua notável equipe e o futebol maravilhoso do meia Puskas, já falecido. Na prática prevaleceu a perseverança dos alemães, comandados pelo treinador Sepp Herberger, que derrotaram os magiares.
 Os alemães foram tricampeões mundiais em 1954, 1974 e 1990. Em 1974, o favoritismo era da Holanda - a fabulosa laranja mecânica - do idolatrado Cruyff, mas a vitória foi da Alemanha. Eles também foram vices em 1966, 1982, 1986 e 2002. Um cartel respeitável para um país que aprendeu que o futebol é a paixão do povo. E com o passar dos anos, discípulos de Beckenbauer foram se tornando habilidosos, maleáveis e bons chutadores. Uma escola de futebol que soube aliar a força a uma boa técnica.
 Antes do final da carreira de atleta, Beckenbauer ajudou a difundir o futebol nos Estados Unidos, jogando ao lado de Pelé, no Cosmos. Depois, em 1990, foi técnico alemão campeão da Copa da Itália, o primeiro do continente europeu que atingiu este patamar quer como jogador, quer como treinador.
 Em 1990, a Alemanha montou equipe versátil e veloz, que contava com astro Lottar Mathaeus. Ele marcou gols para oferecer ao seu avô Josef, que morava no lado oriental do país. Era o cérebro do time. Quando não jogava, seu selecionado parecia uma máquina emperrada. Tinha um físico privilegiado e resistiu às Copas de 1994 a 98.

 Depois da consagração como treinador em 1990, conforme prometido Beckenbauer deixou o comando da seleção alemã. Ele ainda foi presidente e manager de seu amado Bayern de Munique. 

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Joel Camargo, da bola às docas

  Há dez anos a coluna homenageou o quarto-zagueiro Joel Camargo, que participou dos tempos áureos de Santos, Seleção Brasileira, CRB de Alagoas e extinto Saad, de São Caetano do Sul (SP).  Na ocasião, ele trabalhou como estivador nas docas de Santos, para que o salário se juntasse ao da aposentadoria. Nem por isso se constrangia: “É um trabalho honesto e o pessoal lá me respeitava”.
 Joel Camargo morreu no dia 23 de maio em São Paulo aos 67 anos de idade, e deixou uma história de cinco títulos paulistas pelo Santos, porém perda de dinheiro nos investimentos em casas lotéricas. Assim, em dificuldade financeira, vendeu até a medalha de tricampeão mundial em 1970, quando foi relegado pelo treinador Mário Jorge Lobo Zagallo, que preferiu improvisar o volante Wilson Piazza na posição.
 A história de Joel Camargo foi insólita na Seleção Brasileira. Em 1969, durante as Eliminatórias à Copa do Mundo do México, foi titular do selecionado porque o treinador João Saldanha o considerava o melhor quarto-zagueiro do mundo. Paradoxalmente, naquele período ele ficava na reserva do time santista e Saldanha reprovava a postura do treinador Antoninho.
 A rigor, Saldanha chegou à Seleção Brasileira após efêmera passagem pelo time do Botafogo (RJ) em 1957. Ele era um jornalista respeitadíssimo pelo profundo conhecimento sobre futebol. Quer no rádio, quer no jornal, usava linguagem direta e criava frases imortalizadas: “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”. Outra pérola: “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”.
 Saldanha morreu no dia 12 de julho de 1990, na Itália, após a participação do Brasil naquela Copa do Mundo. Em 1970, o desligamento dele da Seleção Brasileira era iminente após se irritar com intromissão do presidente da República Emílio Médici em seu trabalho, sugerindo a convocação do atacante Dario. “Quem escala a Seleção sou eu; ele escala o seu ministério”, foi a resposta.
 Antes disso Saldanha havia invadido a concentração do Flamengo de forma intempestiva, com revólver em punho, a procura do técnico Yustrick, que o havia criticado duramente, mas não o localizou.

 Com a saída dele da Seleção e a chegada de Zagallo, Joel perdeu espaço. Apesar disso, manteve o estilo de jogar de braços abertos e desarmar a maioria das jogadas antecipando-se ao adversário. Curiosamente, na Seleção Brasileira ele fazia dupla de zaga com o também jogador santista Djalma Dias, que paradoxalmente o deixou na reserva no âmbito clubístico. Antes disso o Santos tinha esta formação: Cláudio; Lima, Ramos Delgado, Joel Camargo e Rildo; Clodoaldo e Negreiros; Edu, Douglas, Pelé e Abel. Edu era ponteiro-esquerdo, mas em determinado período atuou pelo lado direito, permitindo a fixação de Abel, na esquerda.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Adeus ao irreverente Marinho Chagas


 Se agora o desportista é bombardeado de informações de que o lateral-esquerdo Marinho Chagas perdeu a disputa e a vida para o alcoolismo neste primeiro de junho, fiquemos então com o relato do marcante jogador das décadas de 70 e 80 em coluna publicada há dez anos.
 Marinho era irreverente dentro e fora de campo no período em que exibia vasta cabeleira loira, usava pulseiras e vestia roupas extravagantes. Em 1981, quando jogava no São Paulo, mandou recado provocativo ao então árbitro carioca José Roberto Wright, escalado para apitar a final do Campeonato Brasileiro contra o Grêmio. “Agora que os clubes do Rio foram eliminados, apite direito”. E quando lhe avisaram que Wright era faixa preta de judô, ele ironizou: “Depois que inventaram aquela máquina que cospe chumbo, não existe mais homem valente nesse mundo".
 Nos tempos em que laterais tinham como principal atribuição marcar ponteiros, nas décadas de 60 e 70, o potiguar Marinho Chagas era um insubordinado assumido. Pouco se importava com ponteiros-direitos adversários e se mandava constantemente ao ataque.
 Essa mania de deixar o setor vulnerável gerou briga feia com o então goleiro Émerson Leão, após a derrota da Seleção Brasileira para a Polônia por 1 a 0, na disputa pelo terceiro lugar da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha.
 Marinho Chagas já se lançava ao ataque desde 1969, quando se profissionalizou no Riachuelo-RN, despertando interesse inicialmente do Náutico (PE) e Botafogo-RJ, onde ganhou o apelido de 'Bruxa'. Embora destro, deu certo pelo lado esquerdo do campo com passadas largas, habilidade, facilidade para fazer a diagonal, chutar forte e fazer gols. Se na Seleção Brasileira o histórico foi de quatro gols em 38 jogos, no Fluminense, o quarto clube de sua carreira, marcou 39 gols em 93 jogos, ocasião em que atuou ao lado do atacante argentino Doval, meia Rivelino e zagueiro Edinho. Ele se transferiu às 'Laranjeiras' incluído numa troca com o lateral Rodrigues Neto, ponteiro-direito Gil e meia Paulo César Caju.
 Claro que o estilo de vida de Marinho Chagas nada tinha a ver com moradia nos Estados Unidos, para jogar no Cosmos. Por isso não ficou por lá sequer um ano e topou proposta do São Paulo, mesmo informado da resistência do técnico Carlos Alberto Silva em aceitá-lo no elenco.
 Posteriormente, ele perambulou por Bangu, Fortaleza e América-RN, onde parou de jogar em 1988. E ainda tentou ser treinador, mas logo percebeu a falta de aptidão para o cargo. A cúpula do diretório municipal do PL de Natal (RN) conseguiu persuadi-lo a se lançar candidato a vereador, mas o eleitor potiguar não o elegeu.
 Assim, Marinho projetou uma empresa de aluguel de buggys e se envolveu em confusão ao ser flagrado em blitz policial com placas falsas no veículo. Depois disso, restou ganhar cachês participando de eventos.