domingo, 26 de agosto de 2018

Adeus a Claudiomiro, o centroavante rompedor


 Há cinco anos, na cerimônia de remodelação do Estádio Beira-Rio, o então centroavante do Internacional (RS), Claudiomiro Estrais Ferreira, ajudou no plantio de grama. Na entrevista à FWTV gaúcha reafirmou simplicidade na fala, reflexo de reduzida escolaridade.

 Logo não aprendeu que palavras terminadas em ditongo ‘eu’ fazem plural com o acréscimo da desinência ‘s’. Por isso, em vez da citação troféus conquistados falou ‘troféis’. Pior foi quando perversos debocharam da fala dele às vésperas de um jogo do Inter contra o Remo, nos anos 70. “Tenho o maior orgulho de jogar aqui em Belém do Pará, a terra onde nasceu Jesus Cristo”.

 Já que Claudiomiro ganhou a vida trombando com zagueiros e empurrando a bola à rede, o conteúdo da fala é secundário. Ele morreu na noite de 24 de agosto aos 68 anos em Canoas (RS), onde morava, ficando como principal registro na carreira ter marcado o primeiro gol do Estádio Beira-Rio em 6 de abril de 1969, na vitória do Inter sobre o Benfica de Portugal por 2 a 1.

 Lançado no time colorado em 1967, conquistou seis títulos estaduais na trajetória inicial até 1974, quando atuou neste time: Manga; Cláudio Duarte, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão e Carpegiani; Valdomiro, Escurinho, Claudiomiro e Lula. Aí o Inter optou pela contratação de Flávio Minuano para substitui-lo, mas ele retornou em 1979. Portanto, o histórico é de 424 jogos e 210 gols, atrás apenas de Carlitos (485 gols) e Bodinho (235 gols).

 Claudiomiro foi o típico centroavante de área sem intimidade com a bola. Prevalecia a força física de rompedor, destemido e finalizador, resultando no apelido de Bigorna. Catimbeiro, cavava pênalti e tinha aproveitamento na bola aérea, apesar da estatura mediana.

 Propensão para engordar e problemas no joelho abreviaram a carreira, encerrada aos 29 anos de idade. O currículo é acrescido por passagens no Botafogo (RJ), Flamengo, São Borja, Caxias, Novo Hamburgo e cinco jogos na Seleção Brasileira em 1971, com gol na vitória de 1 a 0 contra o Paraguai, em amistoso no Estádio do Maracanã.

 Ele chegou a ser candidato a deputado estadual, mas os 12 mil votos foram insuficientes para se eleger.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Búfalo Gil, o artilheiro da ‘máquina tricolor’ do Fluminense


 Nas entrevistas coletivas em clubes, jogadores medem palavras e o conteúdo basicamente é insignificante. Isso contrasta com espontaneidade do passado, quando o questionado dizia exatamente aquilo que pensava, como o mineiro de Nova Lima Gilberto Alves, conhecido nos anos 70 como Búfalo Gil, que ‘dedurou’ o saudoso presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desporto), João Havelange, antes da Copa de 1978, na Argentina. “Ele disse que estava muito feliz com a gente, mas nos revelou que queria que a Argentina fosse campeã. Ninguém entendeu nada.”

 Quando ousam citar-lhe que jogadores do passado não teriam espaço no futebol de hoje, a resposta é áspera: “Jogadores atuais não teriam condição nem de entrar no nosso vestiário. Eu era forte e batia bem na bola. Duvido alguém correr 100m em 11 segundos como eu fazia”.

 Búfalo Gil participou da ‘máquina tricolor’ do Fluminense bicampeã carioca em 1975-76, conduzida pelo revolucionário presidente Francisco Horta, que contava com jogadores como Rivellino, Paulo César Caju, Manfrini, Toninho e Marco Antonio.

 Lançamentos milimétricos de Rivellino não davam chances para que Gil fosse alcançado pelos adversários, fazendo a diagonal a partir da ponta-direita. O apelido Búfalo foi justificado pela rapidez e compleição física. Assim foi goleador da equipe naquele biênio: 58 gols, o que permitiu desforrar àqueles que o chamavam de ‘bonde’ na chegada ao clube, quando atuava como centroavante. De 1974 e 1976, ele jogou 172 partidas e marcou 75 gols.

 Sem papas na língua, comparou o gramado das Laranjeiras como pasto, e agrediu o companheiro Cléber após discussão. A partir de 1977 atuou três temporadas no Botafogo. Depois seguiu para Corinthians, Coritiba, Múrcia (ESP), Farense (POR), novamente Botafogo, Avaí, Sport, Fortaleza e Alianza (PER). A carreira de 20 anos foi encerrada em 1986, totalizando 569 gols.

 Após início no Villa Nova (MG), Uberlândia e patinar no Cruzeiro, o Comercial (MS) deu-lhe a chance para decolar na carreira e se transferir ao Fluminense. Foram 40 jogos e 12 gols pela Seleção Brasileira, entre 1976 e 1978, inclusive titular na Copa do Mundo da Argentina. Foi treinador de Botafogo e até no exterior. Na véspera do próximo Natal vai completar 68 anos de idade.

Dinamite, ídolo que fracassou na presidência


 É raridade ex-atleta e ídolo da torcida encarar desafio de presidir o clube em que atuou. Pois estimulado por amigos vascaínos o então atacante Roberto Dinamite assumiu a empreitada em junho de 2008, sem chances de reestruturar erros no futebol provocados pela gestão Eurico Miranda, resultando em rebaixamento da equipe à Série B do Campeonato Brasileiro.

 Em dezembro de 2013, quando o torcedor vascaíno viu a repetição do filme, e atribuiu-lhe responsabilidade integral, a desolação dele implicou em distância do Estádio São Januário.

 São mágoas que ele não esconde, mas repete que o Vasco não lhe deve nada, assim como ele - enquanto jogador - nada deve ao clube, fato confirmado pela história com títulos do Campeonato Brasileiro de 1974 e das competições estaduais de 1977, 1982 e 1987.

 Ele jogou 1.100 partidas pelo Vasco, das 1.201 na carreira. O histórico é de 744 gols desde 1971, inicialmente como centroavante rompedor e consciente das limitações. Aí trabalhou para aprender ocupar espaços nos lados do campo, construir jogadas, e foi identificado pela frieza para enfrentar goleiros, pegar forte na bola em cobranças de faltas, e explorar a estatura de 1,86m de altura para cabeceio. O Corinthians provou desse ‘veneno’ em 1980, quando ele marcou cinco gols na goleada sofrida por 5 a 2, no Rio de Janeiro. Logo, era nome obrigatório em convocações à Seleção Brasileira.

 Na temporada seguinte, com 62 gols marcados, superou o meia flamenguista Zico, com 45 gols. Perseverante, Dinamite suplantava adversidades como a da morte da esposa Jurema, que tinha participação ativa em sua carreira. Por se intrometer e endurecer em renovações de contratos do marido, era tida como macumbeira pelos cartolas.

 Na presidência, no primeiro mandato, dois fatos marcantes para Dinamite: imagens de um jovem torcedor ameaçando se jogar da marquise do Estádio São Januário, após derrota para o Vitória (BA) por 2 a 0, que implicou em queda à segunda divisão. Foi quando apreensivos torcedores estenderam um bandeirão com finalidade de amortecer eventual queda, enquanto em outra linha de atuação bombeiros conseguiram imobilizá-lo.

 Depois, o imediato retorno à Série A do Campeonato Brasileiro, desmobilização da tímida oposição capitaneada pelo ex-presidente Eurico Miranda, e conquista da Copa do Brasil de 2011.

Tobias, destaque no Corinthians nos anos 70


 Décadas passadas, quando comerciais da marca Bozzano eram veiculados no rádio, ouvia-se através do vozeirão do saudoso radialista Oliveira Neto essa mensagem: ‘Lembram-se de minha voz? Ela continua a mesma. Mas os meus cabelos! É que para eles tem o creme rinse colorama. Um produto: Bozzano’.

 Pois o goleiro Tobias, de cabelos compridos e encaracolados, se transformou em ídolo do Guarani nos primeiros quatro anos da década de 70. E depois do encerramento da carreira no Bangu, em 1986, os cabelos rarearam até que a calvície ficasse acentuada.

 Tobias chegou ao Corinthians em 1975, respaldado pela característica de goleiro ágil. A permanência no clube se estendeu durante cinco anos, mas o marcante foi em 1976. Na fase semifinal do Campeonato Brasileiro, contra o Fluminense, foi um dos heróis da classificação à finalíssima contra o Inter (RS), ao praticar duas defesas na definição através dos pênaltis, após empate por 1 a 1 no tempo normal, no Estádio do Maracanã.

 O jogo entrou para a história como ‘invasão corintiana’ no Rio de Janeiro, com 70 mil torcedores, que na ocasião contava com esse time: Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Givanildo (Basílio), Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão (Lance) e Romeu.

 No desjejum de títulos do Corinthians em 13 de outubro de 1977, Tobias já não era absoluto da meta na final do Campeonato Paulista, contra a Ponte Preta. O treinador Oswaldo Brandão havia programado revezamento de goleiros, mas por sorte ele foi titular nas vitórias da primeira e terceira partida, enquanto Jairo atuou na derrota por 2 a 1.

 Dois anos depois, durante repetição dos finalistas do Campeonato Paulista, Tobias estava na reserva de Jairo, em outro título corintiano contra a Ponte, ano em que foi transferido ao Sport Recife, clube que já havia defendido num rápido empréstimo em 1971, quando vinculado ao Guarani.

 Ainda adolescente, Tobias tinha inclinação pelo basquete e apenas se divertia no futebol em time varzeano. Foi quando dirigentes do Noroeste de Bauru o levaram às categorias de base. Depois o Guarani o contratou para suceder o saudoso Sidney Poli. Os últimos clubes foram Fluminense, Rio Negro (AM) e Bangu. Ele já completou 69 anos de idade.