segunda-feira, 28 de março de 2016

Cruyff, vitorioso como jogador e técnico

 Das incontáveis homenagens prestadas ao talentoso holandês Johan Cruyff em todo planeta, após a morte provocada por câncer no pulmão aos 68 anos de idade, dia 23 de março, a referência nas publicações foi à participação dele na fantástica seleção holandesa na Copa do Mundo de 1974, quando a equipe só se curvou diante da mandante Alemanha na finalíssima.
 Afinal, a Holanda havia revolucionado o futebol mundial com aquilo que se convencionou chamar de laranja mecânica, ou carrossel. Aquela identificação ocorreu devido à facilidade de os atletas girarem em campo sem posição definida. E tudo isso liderado pelo meia-atacante Cruyff, que se destacava pelos dribles, velocidade e sobretudo inteligência.
 Cruyff era afinadíssimo com o estudioso treinador Rinus Michels e conversavam longas horas sobre a melhor postura da equipe em campo. Nem por isso o amigo conseguiu convencê-lo a disputar a Copa do Mundo na Argentina, em 1978, e a justificativa foi trauma por causa de um assalto no ano anterior, quando ele e esposa foram amordaçados e ameaçados de morte.
 Ao armazenar conceitos táticos avançadíssimos, Cruyff torcia o nariz quando se deparava com ‘treineiros’ de discurso duvidoso. Na passagem pelo New York Cosmos, quase no final de carreira de atleta, Cruyff ficou em silêncio durante prolongava preleção do comandante, com direito a quadro negro para enfatizar detalhes táticos, visando jogo amistoso. Aí, após o encerramento da fala, ele limpou a ‘rabisqueira’ no quadro e avisou à boleirada: “É claro que faremos tudo diferente disso”.
 Insubordinação? Sim, mas Cruyff tinha até direito de ser insubordinado. Na época da ‘laranja mecânica’ ele era um líder de grupo que defendia boleiros levarem as suas respectivas mulheres à concentração. Também fumava e bebia abertamente. Tanto fumou que o cigarro provocou-lhe complicações cardíacas, exigindo que se submetesse à cirurgia.
 O câncer de pulmão que o vitimou está ligado ao tabagismo? Bom, ele deixou de fumar havia 25 anos. Assim, com a palavra os pneumologistas. O certo é a doença apareceu em outubro do ano passado, e nas últimas semanas o castigou até a morte.
 Ficou, portanto, a história de atleta com performance vitoriosa no Ajax da Holanda de 1964 a 1973. Depois mais cinco de anos de Barcelona, e na sequência rodagem por aí com término da carreira nos Estados Unidos, perfazendo-se 660 partidas e 369 gols marcados. A IFFHS (Federação Internacional da História do Futebol e Estatísticas) o considerou o maior jogador europeu do século XX.

 Curiosamente, a trajetória dele como treinador traçou os caminhos iniciais de atleta, voltando a passar por Ajax dois anos, e na sequência Barcelona, de 1988 a 1996. Atribui-se a ele a implantação do famoso tic-tac do Barça, naturalmente aprimorado pelo treinador Pepe Guardiola.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Chute forte marcou a carreira de Célio Silva

 O que não faz um chute forte na carreira de um jogador de futebol! Pois Vagno Célio do Nascimento Silva, nascido em Miracema (RJ) em 1968, foi um zagueiro-central apenas razoável e, apesar disso, vestiu camisas de Vasco, Inter (RS), Corinthians, Flamengo, Atlético Mineiro e Seleção Brasileira. Ele também marcou passagens por clubes do exterior como Universidad Católica do Chile e Caen da França.
 A forte potência nos chutes em cobranças de falta criava temor para adversários ficarem na carreira. Num dos treinos do Corinthians, o zagueiro Cris levou bolada à queima-roupa e ficou com a marca da bola uns 20 dias, contou Célio Silva: “O Cris era branco demais, e na hora que ele levantava o shorts a gente via até os gomos da bola que estavam marcados na perna dele”, revelou em entrevista ao portal UOL.
 O ex-meia Marcelinho Carioca, quando jogava contra, recusava-se ficar na barreira quando o zagueiro ajeitava a bola em cobrança de falta, pois sabia que o alvo era sempre a barreira. “Se a bola passasse ficaria para o goleiro ou entraria”, contou Célio Silva, que não nega o prazer ao acertar bolada na barreira.
 Justamente aquele chute forte serviu para despertar interesse do Vasco em 1988, quando o atleta surgiu no Americano de Campos (RJ). Depois a transferência para o Inter (RS), que culminou com o título da Copa do Brasil em 1992, e a experiência internacional no Caen da França, que apostou no chute que aterrorizava goleiros.
 Como os franceses constataram que apenas o chute forte era insuficiente, que precisavam de zagueiro de regularidade, buscaram outra opção. Foi aí que o Corinthians entrou no circuito para trazer Célio Silva em 1994, e lá ele ficou quatro anos, disputou 157 jogos, com 73 vitórias, 45 empates e 39 derrotas. E passou boa parte daquele período formando dupla com o quarto-zagueiro Henrique.
 Em 1995, na conquista de novo título da Copa do Brasil com a vitória corintiana por 1 a 0 sobre o Grêmio, no Estádio Olímpico, o time dirigido pelo treinador Eduardo Amorim tinha esses jogadores: Ronaldo; André Santos (Vitor), Célio Silva, Henrique e Silvinho; Zé Elias, Bernardo, Souza e Marcelinho Carioca; Viola e Marques (Tupãzinho). Depois mais dois títulos paulista: 1995 e 1997.
 Com a chegada de Vanderlei Luxemburgo ao Timão em 1988, foi dispensado. Aí transferiu-se provisoriamente ao Goiás, visto que Flamengo e Galo (MG) optaram por levá-lo em seguida. Por fim, um histórico de 19 gols pró e quatro contra na carreira.

 De 2009 a 2012 Célio Silva tentou investir na função de treinador em equipes do Espírito Santo, Paraná e juniores de Paulista de Jundiaí e Noroeste, sem que prosperasse. Assim, canalizou sua participação no futebol apenas em projeto social para jovens do Esperança Esporte Clube, no bairro da Mooca em São Paulo, onde reside e é dono de uma funilaria.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Marinho com jeito de Marião

 O jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo já nos brindou com delicioso texto sobre diminutivo. Em determinado trecho citou que no Brasil usa-se o diminutivo principalmente em relação à comida. Também em mesa de bar é natural o pedido de cervejinha e bem geladinha. São diminutivos devidamente incorporados ao cotidiano. Estranho, convenhamos, é se chamar um brutamonte de Marinho como foi o caso do ex-zagueiro flamenguista dos anos 80.
 Digamos que na infância e adolescência em Londrina (PR), cidade natal, Mário Caetano Filho fosse franzino, induzindo o apelido no diminutivo. Quando adulto, com quase 1,90m de altura, ombros largos e caixa torácica avantajada, evidentemente estava mais para Marião. Paradoxalmente no futebol os “ão” se transformam em “inho” e vice-versa.
 Após ter sido mal avaliado pelo São Paulo em 1977, Marinho se deu bem no Flamengo de 1980 a 1984, e conquistou todos os títulos cobiçados por um atleta. Em 1981 foi campeão carioca, da Libertadores e Mundial de Clubes. Colocou faixas três vezes no Brasileirão: em 80, 82 e 83.
 Tanto na finalíssima da Libertadores como no Mundial formou dupla de zaga com Mozer. Na competição sul-americana, Flamengo e Cobreloa do Chile duelaram na final e venceram em seus domínios. Aí, conforme o regulamento, foi realizado jogo extra no Uruguai, tão conturbado como no Estádio Nacional em Santiago, capital chilena.
 No Chile, o árbitro uruguaio Ramon Barreto fez de conta que não viu o zagueiro chileno Mario Soto abrir o supercílio de Marinho, cortar uma das orelhas de Lico e acertar o olho de Tita. Por isso o Flamengo foi para o terceiro jogo com espírito vingativo. O meia Zico marcou os dois gols da vitória por 2 a 0, e imprudentemente o técnico Paulo César Carpegiani recomendou ao atacante Anselmo que entrasse em campo aos 42 minutos do 2º tempo para ajustar contas com Mario Soto.
 Ao substituir Nunes, o obediente Anselmo desferiu forte soco no rosto do chileno, nocauteou-o, e saiu no pique. O Flamengo estava vingado na bola e no tapa.
 Emoção maior de Marinho ocorreu no título mundial no Japão, na goleada por 3 a 0 sobre o Liverpool, da Inglaterra, com dois gols de Nunes e um de Adílio, naquele melhor Flamengo de todos os tempos: Raul: Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.
 Aquele time extremamente ofensivo contava basicamente com a pegada de Andrada no meio-de-campo. Adílio, Lico e Zico priorizavam a criação e os laterais Leandro e Júnior apoiavam sistematicamente o ataque, deixando os zagueiros Mozer e Marinho mano a mano com atacantes adversários. E eles davam conta do recado.

 Com a saída de Mozer, Marinho formou dupla de zaga com Figueiredo. Depois ele passou por Botafogo (RJ) e encerrou a carreira em Londrina, onde está radicado e completou 61 anos de idade em fevereiro.