segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Alzheimer matou três ex-boleiros em 2010

 Há seis anos, por ocasião da morte do talentoso zagueiro argentino Ramos Delgado, num três de dezembro, publiquei texto sobre esse maldito Mal de Alzheimer que varre a memória das pessoas. Agora, é oportuno recapitulá-lo, visto que dezembro é mês de fraternidade, retrospectiva e reflexão.

 Quem tem memória razoável vai se lembrar que o Alzheimer castigou e originou mortes - além de Ramos Delgado - de ex-jogadores como Waldemar Carabina e Francisco Sarno naquele 2010. Na maioria das vezes, o drama começa com a procura de um objeto mantido no lugar costumeiro e depois se agrava gradativamente.

 O argentino Ramos Delgado, que morreu aos 75 anos de idade, deixou história de cinco anos na Vila Belmiro, entre as décadas de 60 e 70, como absoluto da camisa três do Santos. Também fez parte daquela geração o vigoroso zagueiro palmeirense Waldemar Carabina, que morreu na noite do dia 22 de agosto, aos 78 anos de idade. Carabina gabou-se de ter anulado Pelé em algumas partidas: "Poucos o marcaram tão bem quanto eu".

 Da turma da bola, Sarno foi a primeira vítima daquele ano com complicações do Mal de Alzheimer. Morreu em 17 de janeiro na capital paulista, aos 86 anos de idade, deixando biografia de zagueiro clássico, treinador supersticioso e ousadia para escrever o livro “A Dança do Diabo”, que revela desmandos no futebol dentro e fora dos gramados. Como atleta passou por clubes como Botafogo (RJ), Vasco, Palmeiras e Santos. Como treinador comandou Corinthians, Coritiba, Atlético (PR), Guarani e Ponte Preta. No Guarani, em meados da década de 60, tinha o hábito de carregar uma toalha durante os jogos, e a usava para indicar o canto que o goleiro de seu time deveria arriscar em cobranças de pênaltis para o adversário, colocando-a na mão direita ou esquerda. E se o goleiro contrariasse a sua instrução seria sacado do time.

 Urubatão Calvo Nunes, natural do Rio de Janeiro, não foi um jogador de futebol acima da média nos tempos do grande Santos das décadas de 50 e 60, quer na zaga, quer no meio-de-campo. Também foi um treinador apenas razoável e morreu no dia 24 de setembro, aos 79 anos de idade, vencido por um tumor cerebral e outro no pulmão.
 Ainda em 2010 morreu Washington Luiz de Paula, aos 57 anos de idade, em decorrência de complicação renal. Ele foi revelado pelo Guarani e apontado como provável sucessor de Pelé.


Do Inter do saudoso Fernandão só restou lembança

Esteja aonde estiver, de certo o saudoso meia-atacante Fernando Lúcio Costa, o Fernandão, deve estar perplexo com aquilo que fizeram com o seu Internacional portoalegrense, pela primeira em sua história rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro.
Quanta discrepância técnica do time colorado do tempo em que ele atuava comparativamente ao atual, com atletas do nível do zagueiro Paulão, lateral-esquerdo Gefferson, volante Rodrigo Dourado e atacantes Eduardo Sascha e Nico Lopez.
Paradoxalmente, daquele time que conquistou o mundo em 2006, com Fernandão como capitão, conseguiram transformá-lo em chacota dos rivais gremistas. Mais ainda: do orgulho a dor profunda, como verificado após consumado o rebaixamento da equipe neste 11 de dezembro, depois do empate por 1 a 1 com o Fluminense.
Há dez anos, um 17 de dezembro em Yokohama, no Japão, Fernandão levantou a taça de campeão após o Inter vencer o favorito Barcelona de Ronaldinho Gaúcho por 1 a 0, gol do meia Adriano Gabiru aos 36 minutos do segundo tempo, após passe do atacante Iarley. Curiosamente, o contestado Gabiru pelo torcedor colorado havia entrado em campo cinco minutos antes, em substituição a Fernandão, com câimbras.
Na época, comandado pelo treinador Abel Braga, o time do Inter contou com Clemer; Ceará, Fabiano Eller, Índio e Rubens Cardoso; Wellington Monteiro, Edinho, Alex (Vargas) e Fernandão; Iarley e Alexandre Pato.
Fernandão sabia explorar a estatura de 1,90m para marcar gols de cabeça, além do reflexo apurado para definição das jogadas ofensivas. Naquela decisão, o desempenho dele foi tímido, mas ele explodiu de emoção a ponto de sequer admitir troca de camisa com qualquer adversário. “Esta camisa simboliza um troféu a ser guardado pelo resto da vida”, justificou na ocasião.
O que jamais se presumia era que a vida dele fosse abreviada aos 36 anos de idade no dia sete de junho de 2014, quando morreu em Goiás, vítima de acidente de helicóptero que transportava cinco pessoas. Apesar de resgatado com vida, morreu no hospital, e a equipe do SporTV não pode contar com os comentários dele na Copa do Mundo realizada no país.

Ficou, portanto, a história dele como atleta de Inter, Goiás, São Paulo, Olympique de Marselhe e Toulouse da França e Al-Gharlafa do Catar. Foi treinador e gerente de futebol no próprio Inter, e pretendia seguir nessas funções.

Calou pra sempre a voz do talentoso atleta e comentarista Mário Sérgio

Morreu Mário Sérgio Pontes de Paiva, o Vesgo, no acidente de avião que vitimou a delegação da Chapecoense, na Colômbia. Morreu aquele que, enquanto boleiro, olhava para um lado e tocava a bola para o outro. Aquele que, enquanto treinador, não paparicava boleiro. No seu time tinha camisa apenas aqueles que cumpriam regiamente as determinações.
Como comentarista de televisão, não tinha papas na língua. Era reconhecido como um dos comentaristas esportivos que mais ‘sacavam’ futebol nesse país. Falava exatamente aquilo que pensava. Em 1994, corajosamente falou que a Seleção Brasileira entrava em campo com dez jogadores com a escalação do volante Dunga. A justificativa era que o então atleta já não tinha vigor físico de outrora para o desarme, porque tecnicamente tinha limitações.
 Exagero ou não, Dunga levantou o caneco como capitão do Brasil naquela Copa do Mundo nos Estados Unidos. Nem por isso Mário Sérgio diminuiu a capacidade de observação sobre o ex-volante.
 No Flamengo, a partir de 1969, já driblava e lançava. No Vitória da Bahia deixava companheiros na cara do gol e também fazia os seus golzinhos. E isso se repetiu no Fluminense, Botafogo (RJ), São Paulo, Inter (RS), Ponte Preta, Grêmio e Palmeiras, sempre com a camisa 11 e desempenhando a função de falso ponteiro-esquerdo.
Três passagens são marcantes na carreira dele. Em 1979, quando jogava no São Paulo, ganhou apelido de ‘rei do gatilho’. Intolerante e imprudente sacou o seu revólver e deu alguns tiros para o alto para assustar torcedores do São José, no Vale do Paraíba, que se manifestavam na saída da delegação são-paulina do Estádio Martins Pereira.
 No Grêmio portoalegrense, trazido pelo treinador Valdir Espinosa, foi campeão do mundo em 1983 na vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo, no Japão. No Palmeiras foi flagrado em exame antidoping e ficou suspenso durante seis meses. Ainda em 1983, contratado pela Ponte Preta, jogou ao lado dos talentosos Dicá e Jorge Mendonça.
 Mário Sérgio ainda enveredou para a carreira de treinador. Estudioso e bagagem assimilada com bons treinadores recomendavam nova carreira brilhante, mas patinou nas passagens por Corinthians e São Paulo. O perfil de comandante enérgico não permitiu que prosperasse na carreira, alongada alternadamente até 2010 no Ceará.