domingo, 29 de janeiro de 2023

Kaká, o último brasileiro melhor do mundo

Na passagem pelo São Paulo em 2001, o saudoso treinador Oswaldo Alvarez, o Vadão, não titubeou ao lançar o meia-atacante Kaká - à época com 19 anos de idade - no time principal, e já prognosticando que o atleta entraria para a história como um dos principais do clube de todos os tempos.

De certo Vadão jamais imaginava que Kaká fosse avançar no futebol bem além daquilo que havia projetado, ao constatar que o seu então atleta brilharia no exterior e ganharia a disputa do argentino Lionel Messi e português Cristiano Ronaldo na honraria de melhor jogador de futebol do mundo em 2007, através da Fifa, prêmio não atingido posteriormente por qualquer outro jogador brasileiro.

Aquele molecão de cabelos caídos na testa, 1,86m de altura, arrancava rapidamente com a bola em direção ao gol adversário, pronto para assistência ou ele mesmo completar as jogadas. Assim, o prêmio para aquela desenvoltura foi ser chamado pelo treinador Luiz Felipe Scolari, o Felipão, em 2002, para integrar a Seleção Brasileira e participar do grupo que conquistou o título da Copa do Mundo, disputada simultaneamente no Japão e Coréia do Sul.

E a cadeira cativa no selecionado foi esticada de forma contínua até 2010, ocasião em que participou pela terceira vez de Copa do Mundo, as duas últimas como titular. Com aquela camisa atuou 93 partidas e marcou 29 gols, número igualmente aproximado de jogos pelo São Paulo na primeira passagem de dois anos - total de 91 -, quando marcou 47 gols. Reflexo disso foi o reconhecimento internacional, contratado pelo Milan (ITA) por 8,5 milhões de euros.

No clube italiano marcou época em duas passagens, com 307 partidas e 104 gols. Lá conquistou a competição nacional e Liga dos Campeões, contrastando com o momento vivido no Real Madrid de 120 jogos, 29 gols, ocasião em que foi ofuscado pelo ídolo Cristiano Ronaldo, seu companheiro de clube.

Natural de Gama, Distrito Federal, registrado como Ricardo Izecson dos Santos Leite, Kaká vai completar 41 anos de idade em abril próximo, e foi marcado fora dos gramados por trabalho humanitário. Em 2004 tornou-se embaixador da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Programa Alimentar Mundial. Foi considerado pela revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009, período que também foi eleito uma das personalidades mais influentes no mundo pela Time 100.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Giovanni, meia clássico dos anos 90

Jogador com característica aparentemente lenta, como foi o caso do meia-atacante Giovanni Silva de Oliveira, na lista dos camisas dez mais famosos que passaram pelo Santos, só consegue espaço no futebol se a compensação for através de estilo de jogo clássico, dribles que escondem a bola do adversário, visão apurada do gramado e 'fazedor' de gols, quer pela inquestionável pontaria, quer pelo estilo cabeceador.

Pois Giovanni se enquadrava em todas conotações citadas, e por isso foi ganhador de títulos por onde passou, a começar pelo Santos, após breve passagem por Tuna Luso, Paysandu e Remo - clubes paraense de Belém -, sua cidade natal. Pelo time santista foi eleito o melhor jogador do Brasileirão de 1995, ocasião em que a sua equipe foi vice-campeã da competição, e o histórico dele foi de 17 gols, em ano que chegou à Seleção Brasileira.

Na temporada seguinte marcou 24 gols pelo Campeonato Paulista e, entre os diversos pretendentes pelo seu futebol, no exterior, a melhor oferta foi a do Barcelona (ESP), clube que também se destacou a partir de 1996, com repasse a outras agremiações da Europa e Oriente Médio, como no Olympiacos da Grécia - onde chegou à artilharia da edição nacional - e Al-Hilal e Ethnikos.

Nas outras duas vezes que retornou o Santos não ratificou aquilo que havia feito anteriormente. Os respectivos períodos foram intercalados com contratos assinados no Sport Recife e Mogi Mirim. Pela equipe pernambucana, em 2007, ficou apenas 12 dias. Rescindiu o contrato em razão da saída do treinador Alexandre Gallo, que havia se transferido ao Inter (RS). Na ocasião, do próprio bolso, Giovanni pagou a multa rescisória.

Aí decidiu aceitar convite do amigo Rivaldo, à época presidente do Mogi Mirim, para dar sequência à carreira. Depois, sem jogar uma partida sequer durante nove meses, acertou seu segundo retorno ao Santos, em dezembro de 2009, com desconfiança da maioria. Na prática, não se firmou como titular e optou pelo encerramento da carreira, meses depois.

Assim, retornou à capital paraense, a fim de cuidar dos negócios. Hoje, aos 50 anos de idade, nas resenhas com amigos ressalta a passagem pela Seleção Brasileira e histórico de 20 jogos e seis gols, estendida até 1999, sendo que um ano antes foi vice-campeão Mundial. Também lembra que foi ele quem levou Paulo Henrique Ganso para o Santos.

domingo, 15 de janeiro de 2023

Adeus ao então meia Jair Bala

O 27 de dezembro passado marcou a morte do ex-meia-direita Jair Bala, nomenclatura de posição simplificada apenas para meia ou então meia-atacante, àquele com característica mais ofensiva. Ele enfrentava problemas de saúde e havia sofrido um AVC nas últimas semanas. Nas passagens por vários clubes, foi no América Mineiro, nos biênios 1964/65 e 1970/71 que atravessou a melhor fase na carreira. Ali marcou 78 gols em 144 jogos. O reconhecimento foi o contorno de seus pés gravados em cimento no hall da fama do Estádio Mineirão.

Jair Félix da Silva, 79 anos de idade, mineiro de Cachoeiro de Itapemirim, que passou pelas categorias de base do clube que leva o nome da cidade, foi enterrado com bala de revólver alojada na virilha, que percorreu a coxa esquerda quando atuava pelo Flamengo, onde chegou em meados dos anos 1960, ainda juvenil, para posterior profissionalização.

Isso foi resultado de uma brincadeira de funcionário do clube que, ao fingir ameaçá-lo com arma em punho, quando da cobrança de bicho atrasado, surpreendentemente ocorreu disparo acidental, ocasião em que a bala ricocheteou no chão e atingiu na coxa esquerda dele, sem atingir parte vital. Por isso, médicos optaram por não retirá-la.

Aquela brincadeira que quase termina em tragédia deu origem ao apelido de Jair Bala, que estava com a saúde arruinada desde 2020, vítima de infecção pulmonar e problemas cervicais, que haviam resultado em longo período de internação. Foi quando teve que se afastar da bancada de cronistas esportivos da TV Alterosa Esporte, emissora afiliada do SBT em Minas Gerais.

Do Flamengo para o Botafogo (RJ), atuou ao lado de ídolos como Garrincha, Nilton Santos, Gérson e Jairzinho e Zagallo, na conquista do primeiro troféu internacional do clube, o Torneio de Paris de 1963. Todavia, persistentes oscilações na carreira fizeram dele um cigano da bola, em passagens por clubes como Comercial de Ribeirão Preto (SP), Ponte Preta, Cruzeiro, Palmeiras, Santos, XV de Piracicaba (SP), Bahia, Paysandu, além do América Mineiro. Ele encerrou a carreira em 1971.

Jair Bala também fez carreira como treinador, com conquista do título do Campeonato Brasileiro da Série B pelo Londrina, em 1980. Também foi servidor público na Prefeitura de Belo Horizonte e fundador da Associação dos ex-jogadores do América Mineiro, a primeira do País a representar atletas que pararam de jogar.

Adeus a Roberto Dinamite, aos 68 anos de idade

Morreu no Rio de Janeiro Carlos Roberto de Oliveira, batizado no futebol como Roberto Dinamite, aos 68 anos de idade, tido como o maior jogador da história do Vasco da Gama, vítima de um tumor no intestino, diagnosticado em 2021. Ele nasceu no dia 13 de abril de 1954, em Duque de Caxias (RJ).

A carreira dele enquanto atleta começou em 1970 no clube cruzmaltino, a principio como centroavante rompedor, que dividia a bola com zagueiros na área adversária, para empurrá-la às redes, assim como explorava a estatura de 1,86m de altura para aceitável aproveitamento no jogo aéreo, no cabeceio.

Consciente das limitações, trabalhou para melhorar o condicionamento técnico, aprendeu a explorar os lados do campo para construir jogadas, e aliou o útil ao agradável.

Consequência: participação decisiva nas conquistas dos títulos vascaínos do Campeonato Brasileiro de 1974 e das competições estaduais de 1977, 1982 e 1987.

Em final de carreira, jogou na Portuguesa em 1989, e no Campo Grande (RJ) em 1991, além de uma meteórica passagem pelo Barcelona da Espanha em 1980. Em 1992 voltou ao Vasco para encerrar sua vitoriosa carreira, com trajetória de 708 gols.

Uma das principais vítimas de Dinamite foi o Corinthians, como na goleada que o time sofreu para o Vasco por 5 a 2, no Rio de Janeiro em 1980, cinco gols do atacante vascaíno. No ano seguinte, o goleador marcou 62 gols na temporada, superando o flamenguista Zico, que havia marcado 45 gols.

Dinamite foi nome obrigatório em convocações à Seleção Brasileira durante as edições das Copas do Mundo de 1978 e 1982, mas os treinadores preferiram escalar outros centroavantes, como foi o caso do saudoso Telê Santana, que optou por Serginho Chulapa no Mundial da Espanha.

Ele também foi presidente vascaíno no rebaixamento do clube à Série B do Campeonato Brasileiro em 2008, porém com retorno imediato ao Brasileirão na temporada seguinte.

A partir de 1992 foi eleito vereador e posteriormente deputado estadual no Rio de Janeiro, filiado ao PSDB e MDB. Outra particularidade na vida dele foi a intromissão da esposa Jurema, tida como macumbeira, que ‘quebrava’ o pau’ com cartolas, principalmente sobre renovações de contratos. Jurema morreu precocemente de câncer.


Argentino preconceituoso? Nem tanto!

 Este terceiro título mundial conquistado pela seleção da Argentina, na competição do Catar, nos remete à discussão polarizada sobre alegada soberba daquele povo. E minha estada de quatro dias na capital Buenos Aires, em 2013, serviu para derrubada do conceito preconceituoso do argentino em relação ao brasileiro, exceto quando o assunto é futebol.

 A missão foi reportar o título da final da Copa Sul-Americana para o portal Futebol Interior, conquistado pelo Lanús sobre a Ponte Preta, na vitória por 2 a 0, em dois dias reportando fatos do mandante naquela cidade que dista 12 quilômetros da capital da Argentina. E colado ao Estádio Néstor Díaz Pérez, o La Forteleza, a constatação do Centro de Treinamento do Lanús com cinco campos, um deles com atividade recreativa do elenco aos olhos até de abelhudos, porém com suspense sobre escalação do time.

 Convicção sobre o título tinha a diretoria daquele clube, pois havia contratado uma empresa para decorar o salão de festa no próprio estádio, conforme documentei o fato à época. E por que tanta convicção? Bom, isso fica por conta do imaginário de cada um. E quem se dispusesse a conhecer o estádio na véspera do jogo, encontraria o portão principal aberto, o que se transformou em 'convite' para repórter atrevido entrar e se surpreender com o fosso que divide gramado à dependência social do estádio com água empoçada até o 'pescoço', por causa de algas que entupiram a canalização.

 Três horas antes do início da partida, uma concentração gigantesca de torcedores do Lanús em área de enorme extensão, tingida de bordô - uma das cores do clube -, com barulho de fogos de artifício e banda animada, com instrumentos de sopro. Aí, uma hora antes de a bola rolar, aqueles fanáticos se deslocaram cerca de 800 metros ao estádio, onde a festa continuou.

 Calhou, antes da despedida, conferir a festa de comemoração ao 'Dia do Torcedor do Boca Junior', 12 de dezembro, defronte ao Obelisco. E que aglomeração! Que fanatismo! E documentar o Boca Junior sem fazer referência ao rival River Plate seria um despropósito, mas o presidente do clube à época - o ex-zagueiro Daniel Passarela - condicionou entrevista a pré-agendamento.

 Assim, naquele passeio de metrô aos bairros Belgrado e Nuñez, para chegada ao Estádio Monumental, apenas sessão de fotos daquele campo que justifica o termo monumental.

Primeiro grito de 'Pelé morreu' foi fake; segundo, infelizmente, é verdadeiro

  • O grito 'Pelé morreu' eu ouvi pela primeira vez no dia três de dezembro de 1967, quando, no Estádio Brinco de Ouro, o então ponteiro-esquerdo Edu Jonas cruzou e Pelé mergulhou na bola. Ou melhor: ficou na horizontal, em situação paralela ao gramado.

    Ao se atirar na bola, em tempo de encontrá-la e mandá-la ao fundo das redes do finado goleiro Dimas, do Guarani, naquele empate por 1 a 1, provocou susto.

    Detalhe: após a testada, a cabeça do 'rei' continuou 'voando' e colidiu violentamente contra a antiga trave de madeira do lado esquerdo, sentido cabeceira norte.

    Desacordado, silêncio generalizado no estádio. Quase cinco minutos depois, ainda estático no gramado, alguém nas dependências vitalícias do Guarani gritou: 'Pelé morreu'.

    Pior é que o dito cujo da fake news estava com radinho de pilha colado ao ouvido, aumentando a suspeita de informação possivelmente colhida por repórter, no gramado.

    Pronto. Semblantes constritos de torcedores. Lágrimas começaram a brotar de quem já imaginava o pior, pela proporção do choque.

    E quando Pelé 'ressuscitou', aqueles, como eu, já precipitadamente 'enlutados', o aplaudimos de pé.

    Nesta quinta-feira, 29 de dezembro, como gostaríamos que aquele grito de 'Pelé morreu' fosse mais um igual ao de três de dezembro de 1967, mas quis o destino que não fosse.

    Aos 82 anos de idade, em decorrência de um câncer no colo ter avançado para outros órgãos, Pelé partiu para outro destino, na certeza que jamais será superado enquanto mundo for mundo.

    Dele, com a singular voz grave, já não mais ouviremos a palavra mais repetida durante as entrevistas: 'entendeu?'.

    FICHA TÉCNICA

    E pra matar saudade daquele grito mentiroso 'Pelé morreu', de dezembro de 1967, vamos à ficha técnica daquele jogo, que à época começava às 15h45.

    Santos, do técnico Antoninho, com Gylmar; Lima, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Clodoaldo e Buglê; Edu, Toninho, Pelé e Abel.

    Guarani, de Alfredinho Sampaio, com Dimas; Miranda, Paulo, Tarciso e Diogo; Tonhé e Milton; Carlinhos, Osvaldo, Parada e Wagner.

    Num frangaço do goleiro Gylmar, Milton empatou para o Guarani, com arbitragem de Etelvino Rodrigues.