segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Raçudo Ezequiel caiu no gosto da fiel


 À torcida corintiana, o então volante Ezequiel Ataliba estará sempre em alta cotação. Caiu no gosto porque atendia ao requisito primordial: raça. Assim, chegou ao clube como reserva em 1990, para se transformar no camisa oito, titular absoluto até 1995, com histórico de 254 jogos, dez gols e títulos dos campeonatos Brasileiro, Paulista e Copa do Brasil.

 No auge da fama, Ezequiel foi mordido por cachorro da Polícia Militar em jogo contra a Ponte Preta, em Campinas. Pior que isso foi ter caído numa ‘teia de aranha’ chamada mulherio e boemia. Perigosos prazeres da noite causaram-lhe transtorno. Despedaçaram a sua condição financeira, até porque filhos fora do casamento implicaram em pagamentos de pensões alimentícias, com reflexo direto quando parou de jogar profissionalmente na virada do século.

 “Eu não parei, me pararam”, confessou, quando ainda se julgava em condições de continuar. Por sinal, pararam em termos. A identidade com o futebol simplesmente exigiu que optasse pela reversão do profissionalismo ao amadorismo em Campinas, inicialmente à categoria de veteranos, e agora na chamada faixa de máster, tanto que joga na equipe Higa-Ponte Preta de Campinas, a sua cidade natal, aos 56 anos de idade.

 Como a ocupação como entregador de remédios não rendia o suficiente para manutenção da família, o amigo Neto - companheiro nos tempos de Corinthians - organizou um jogo beneficente em 2009. Depois disso, o ex-centroavante Chicão - de Ponte Preta e Santos - o acolheu como instrutor de garotos em escolinha de futebol de Campinas.

 À garotada, Ezequiel recorda começo e encerramento da carreira de atleta profissional na Ponte Preta. Da base ao profissional, projetava-se que se firmasse como titular, mas acabou repassado ao Ituano em 1989, quando mostrou capacidade de antecipação e desarme nas jogadas, raramente recorrendo às faltas.

 Logo, a estatura de apenas 1,65m de altura não foi empecilho para que o Corinthians o contratasse, e em 1997 retornasse à Ponte Preta, onde ficou até 2000. Dez anos depois, apostava que filho de peixe, peixinho é. Alardeava que o filho Gabriel tinha vocação para vingar como centroavante, mas o garotão não prosperou.

Oséas marcou o gol contra mais bonito no mundo


 A história vitoriosa do Palmeiras ao longo das décadas tem sido escancarada após a conquista do Campeonato Brasileiro. E nessas histórias cabe recapitular inimaginável gol contra marcado pelo então centroavante Oséas Reis dos Santos em 1998 contra o Corinthians, tido como o mais bonito na característica de todos os tempos do futebol mundial.

 Em cobrança de escanteio favorável ao Timão pelo lado direito, em jogo válido pelo Paulistão, Oséas subiu livre, em alto estilo, e acertou forte cabeceada contra a sua própria meta. Inacreditável! Teria dado um ‘branco’ na cabeça dele? Imaginou que a sua equipe atacava, e não defendia?

 Hoje Oséas até brinca com aquela situação, ao citar que o mundo futebolístico que não o conhecia teve a oportunidade de conhecê-lo, mas à época o drama se intensificou com corintianos gritando o seu nome ironicamente no Estádio do Morumbi. Aí, para preservá-lo, o treinador palmeirense à época - o mesmo Luiz Felipe Scolari, Felipão - optou por sacá-lo no intervalo.

 A redenção ocorreu naquele mesmo ano quando marcou o segundo gol da vitória do Palmeiras por 2 a 0 sobre o Cruzeiro, na finalíssima da Copa do Brasil, aos 44 minutos do segundo tempo, em chute sem ângulo. Aí, balançaram aqueles cabelos longos de trancinhas.

 Oséas começou a marcar o seu nome no futebol na dupla de ataque com Paulo Rink, no Atlético Paranaense, a partir de 1995. Foi quando chegou à Seleção Brasileira, após cinco anos de ostracismo em clubes como Galícia (BA), Pontevedra (2ª divisão espanhola), Maruinense (SE) e Uberlândia (MG).

 Ao decolar na capital paranaense, despertou interesse da Parmalat, cogestora do Palmeiras, que bancou a contratação por US$ 7 milhões. No Cruzeiro, em 2000, o gostinho do título da Copa do Brasil, até a extensão da carreira por mais cinco anos no Japão, Santos e Inter (RS).

 Hoje, radicado na cidade natal de Salvador (BA), atua no ramo imobiliário. Provavelmente ele não saiba explicar a origem em hebraico do nome Oshea, que quer dizer salvo, traduzido como profeta Oseias - do Velho Testamento -, que se diferencia de seu prenome pela ausência da vogal ‘i’.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Dois Tatos brilharam no futebol


 O substantivo masculino tato deveria ser apenas um dos cinco sentidos, mas os humanos trataram de adaptá-lo como apelido, aparentemente sem critério lógico. No Paraná, por exemplo, tato é identificado como irmão mais velho. Seja como for, dois ‘Tatos’ brilharam por relativo período no futebol, e na esteira do sucesso fizeram consideráveis contratos, sem que correspondessem plenamente.

 O Tato de maior evidência foi o curitibano Carlos Alberto Araújo Prestes, tricampeão pelo Fluminense no triênio de 1983 a 85. Construtor de jogadas, foi o típico garçom de centroavantes. Faltou-lhe ambição para completá-las, tanto que o seu histórico de 242 partidas pelo Fluminense é de apenas 18 gols.

 Atacantes como os saudosos Assis e Washington usufruíram dos cruzamentos dele para marcarem gols. Ainda consta no currículo de Tato o título do Campeonato Brasileiro de 1984, ano que começou a ser chamado para integrar a Seleção Brasileira, com histórico de três jogos.

 Após seis anos de clube, transferiu-se ao Vasco e iniciou trajetória descendente nas passagens por Sport, Santos, Coritiba e Grêmio. E quando do encerramento da carreira de atleta, ingressou na função de auxiliar técnico do comandante Gílson Kleina, no Ipatinga (MG), porém a sequência o conduziu a uma espécie de faz de tudo em sua escolinha de futebol para garotos.

 No mesmo período em que Tato brilhava no Fluminense, um xará se destacava na Inter de Limeira, e basicamente com as mesmas características de auxiliar de artilheiros. Esse Ederval Luís Lourenço da Conceição foi atacante de beirada pelo lado direito, com atuações deslumbrantes por ocasião do título paulista inédito da Inter em 1986, com direito ao segundo gol de sua equipe na vitória sobre o Palmeiras por 2 a 1.

 Reflexo da performance foi transferência ao Palmeiras na temporada seguinte, porém sem a mesma regularidade. Apesar disso prosseguiu com contratos em Atlético Mineiro, Guarani, Osasuna (ESP), Udinese e Juventus (ITA), São Paulo e passagem pelos Estados Unidos. O encerramento ocorreu no Itumbiara (MG).

 Embora natural de São Bárbara d’Oeste - interior paulista -, a identificação com a cidade de Limeira pesou para que lá se radicasse e entrasse no ramo empresarial de fabricação de material esportivo. 

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

No Inter, outro Olavo conhecido como Vacaria


 Há prenomes de pessoas que caíram em desuso, e um deles é Olavo. São raros os cartórios de registros de nascimento que certificam pais com essa opção, contrastando com outras épocas. No século XIX, por exemplo, nasceu no Rio de Janeiro o renomado jornalista e poeta Olavo Bilac. Portuguesa Santista, Corinthians e Santos desfrutaram do futebol do raçudo zagueiro Olavo Martins de Oliveira, já falecido, que no título mundial do time santista de 1962 atuou como lateral-direito. O outro Olavo famoso no futebol ficou conhecido apenas pelo apelido: Vacaria, lateral-esquerdo do Inter (RS) na década de 70.

 Natural de Urussanga, interior catarinense, Olavo Dorico Vieira já mostrava na adolescência inclinação à carreira de jogador de futebol, e por isso foi levado ao juvenil do Glória de Vacaria (RS) aos 16 anos de idade. Como dois anos depois foi profissionalizado no 14 de Julho de Passo Fundo (RS), companheiros de clube preferiram chamá-lo de Vacaria, em alusão à cidade de passagem anterior. E assim foi identificado até a morte no dia 30 de julho de 2016, três anos após ter sido vitimado por um avc (acidente vascular cerebral), com agravamento de hepatite.

 Por ter se notabilizado como lateral-esquerdo marcador, do tipo carrapato, Vacaria foi contrato pelo Inter em 1970, aos 21 anos de idade. Em decorrência da inicial dificuldade de adaptação, acabou emprestado ao Figueirense de Santa Catarina, quando ratificou aptidão de lateral-esquerdo com capacidade para anular hábeis ponteiros-direitos.

 Vacaria não era driblado com facilidade. Também tinha velocidade para acompanhar arrancadas de adversários e persegui-los para que evitassem cruzamentos de fundo de campo, que visavam projeções de centroavantes e meias que acompanhavam a jogada para o cabeceio.

 Assim, no retorno ao Inter em 1973, foi titular absoluto durante quatro anos com os treinadores Dino Sani e Rubens Minelli, e participou do bicampeonato brasileiro no biênio 1975-76. Embora sempre sondado por clubes do eixo Rio-São Paulo, transferiu-se ao Palmeiras apenas em 1977, e integrou o elenco vice-campeão brasileiro de 1978. Aí, um ano depois decidiu abandonar a carreira de atleta, já mirando na função de treinador em clubes do Sul do país.

Lauro, história marcada por dois gols de cabeça

 Rogério Ceni, ex-goleiro recordista em marcação de gols com 137, pelo São Paulo, se inspirou no colombiano René Higuita e paraguaio Jose Luiz Chivalert para arriscar cobranças de faltas e pênaltis.

 Nos anos 70, ajudado pelo vento, o goleiro Ubirajara Alcântara, do Flamengo, marcou gol em cobrança de tiro de meta na vitória por 2 a 0 sobre o Madureira, enquanto pelo Campeonato Sul-Africano, ano passado, o goleiro Oscarine Masuluke marcou gol de bicicleta aos 50 minutos do segundo tempo, na vitória do Orlando Pirate sobre o Baroko.

 É praxe goleiros se aventurarem na área adversária em tentativa de cabeceio, nos minutos derradeiros de uma partida. Nesse expediente os ex-goleiros Hiran e Lauro marcaram dois gols de cabeça, cada um.

 Hiran no empate por 3 a 3 do Guarani diante do Palmeiras em 1997, pelo Campeonato Paulista; e posteriormente quando defendia o São Caetano, em jogo contra o Juventus.

 Coincidentemente, Lauro marcou duas vezes contra o Flamengo: no empate por 1 a 1 da Ponte Preta em 2003, aos 52 minutos do segundo tempo; e mesmo placar pela Portuguesa, dez anos depois, aos 47 minutos do segundo tempo.

 Revelado pelo Radium de Mococa em 1999, dois anos depois Lauro Júnior Batista da Cruz, 1,93m de altura, chegou à Ponte Preta inicialmente como reserva de Alexandre Negri.

Coincidência ou não, após duas derrotas consecutivas da Ponte em dérbis campineiros, na temporada de 2003, Lauro foi titular no terceiro confronto, historicamente marcado pelos três gols do argentino Gigena, que deram vitória ao seu time sobre o Guarani por 3 a 1, quando o treinador era Abel Braga.

 Lauro foi goleiro de regularidade na passagem pela Ponte Preta até 2005. Todavia, após andança em grandes clubes, retornou emprestado a Campinas em 2012, vinculado à época ao Inter (RS). Aí, devido às atuações irregulares, caiu em descrédito com a torcida e foi dispensado.

 Na condição de quarto goleiro do Inter, foi repassado à Portuguesa. E a carreira se alongou até 2016 no Atlético Mineiro, dez anos depois da passagem pelo Cruzeiro. Ele atuou ainda no Joinville, Chapecoense, Ceará, Bragantino, Lajead

Rosemiro, lateral que abusava no apoio ao ataque


 Nos tempos de campinhos de terra batida espalhados pelo país, olheiros descobriam jogadores sem interferência dos tais empresários de futebol, e os encaminhavam aos clubes para que se submetessem em chamados testes peneiras.

 Foi assim que o olheiro Vavá ganhou um cachezinho na indicação do lateral-direito Rosemiro Correia de Souza, paraense de Belém, ao Clube do Remo. Além do fôlego de sete gatos para fazer vaivém defesa ao ataque, o atleta driblava em progressão. Assim, ganhou notoriedade, vaga no selecionado dos jogos Pan-Americanos da cidade do México em 1975 - atuando como ponteiro-direito - e Olimpíada de Montreal (CAN) em 1976.

 Contratado pelo Palmeiras para substituir Eurico, Rosemiro se encaixou na filosofia do então treinador Dino Sani, que armava equipes para atacar. Assim, sem liberdade tolhida para avanços, se destacou, diferentemente do sucessor Olegário Tolói de Oliveira, o então volante Dudu, que o obrigou a jogar ‘plantado’.

 Foi quando o desobediente Rosemiro perdeu posição para Valdir, só recuperando-a com a chegada do saudoso treinador Jorge Vieira. E isso se prolongou quando o saudoso Telê Santana foi contratado em 1979, num time formado por Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polosi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho, César e Baroninho.

 Todavia, a ida do comandante à Seleção Brasileira, ano seguinte, provocou-lhe tormentos de outrora, na ocasião com o treinador Diede Lameiro. O epílogo foi numa partida diante do São Paulo, quando extravasou após ter sido substituído: “Com o Diede não jogo mais”, desafiou.

 E terminava ali o ciclo de 301 jogos pelo Palmeiras, que rendeu-lhe a 32ª colocação de jogador com mais atuações pelo clube em toda a história. A próxima parada foi Vasco da Gama até 1982, ano que comemorou título estadual ao lado do lateral-esquerdo Pedrinho, também parceiro antes da transferência.

 O complemento da carreira foi em clubes médios e pequenos como Bangu, Colorado, Noroeste, Chapecoense e Marcílio Dias. Depois montou escolinha de futebol na capital paulista. E de certo brinca com alunos que foi vencedor da pesquisa ‘jogador brasileiro mais feio’ feita pelo jornalista Marcelo Duarte da Rádio Bandeirantes de São Paulo, em seu programa matutino de sábado Você é Curioso.

Osmar Guarnelli chegou à Seleção aos 20 anos


 A história do futebol mostra que jogadores com carreira vitoriosa, facilidade de comunicação e liderança de grupo não são necessariamente transportadas quando migram à função de treinador, e exemplo típico é Jorge Osmar Guarnelli, que reunia o conjunto de valores citados enquanto atleta, mas não prosperou como treinador.

 Ele passou por pequenos clubes do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Al Jabalain da Arábia Saudita. Na Ponte Preta teve quatro passagens, três delas entre profissionais e a última nos juniores durante o triênio 2003 e 2005, quando ficou internado em coma induzido no Hospital Municipal Mário Gatti, em Campinas. Durante festa realizada na sede social do clube, ele sofreu uma queda, desmaiou e houve registro de traumatismo craniano.

 A trajetória do carioca Guarnelli enquanto atleta começou no Botafogo (RJ), quando no primeiro ano de profissionalismo formou dupla de zaga ora com Brito, ora com Leônidas. Na ocasião, chegou à Seleção Brasileira principal como reserva à Taça da Independência, e titular absoluto nos Jogos Olímpicos de Munique (ALE), aos 20 anos de idade.

 Ao deixar o Botafogo em 1979, teve trajetória vitoriosa no Atlético Mineiro, quando foi companheiro de Luizinho no miolo de zaga. Aí, em 1983, trocou a capital mineira pela Ponte Preta, com a responsabilidade de substituir o zagueiro central Juninho Fonseca, que havia se transferido ao Corinthians.

 E Guarnelli caiu de vez no gosto do torcedor pontepretano após atuação impecável em dérbi campineiro realizado no primeiro ano de clube, quando marcou o gol da vitória sobre o rival Guarani, com a singularidade de o jogo ter sido realizado no campo do adversário e a Ponte ficado com dez jogadores a partir dos 30 segundos de bola rolando. É que o lateral-direito Edson Abobrão foi expulso pelo árbitro Almir Ricci Peixoto Laguna por jogo violento sobre o meia Neto.

 Guarnelli alongou a carreira de atleta na Ponte Preta até 1986, quando decidiu migrar à função de treinador, inicialmente no Uberlândia, mas nada que lembrasse seguidos elogios dos tempos de atletas, quando era soberano no jogo aéreo e senso perfeito de cobertura.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Faltas na ‘pancada’

 Sem que haja estatística comparativa, está claro que hoje o aproveitamento de gols em cobranças de faltas é significativamente inferior em relação às décadas de 50 a 80. À época havia ‘fartura’ de boleiros que pegavam forte na bola, e com direção. O ponteiro-esquerdo Pepe, do Santos, furava redes. Por isso ficou conhecido como ‘Canhão da Vila’.

 Mesmo em faltas nas proximidades da área, a preferência recaía sobre chutes fortes. O meia Jair da Rosa Pinto, o Jajá do Palmeiras, aterrorizava goleiros adversários. Lelé, ex-Vasco e Ponte Preta, foi identificado como patada atômica. Igualmente Rivelino do Corinthians, Nelinho do Cruzeiro, e laterais-esquerdos Carlucci - Botafogo de Ribeirão Preto - e Roberto Carlos estufavam as redes com potentes chutes.

 Numa demonstração de força na perna direita para o chute, Nelinho colocou propositalmente a bola fora do Estádio do Mineirão. Oldair, volante do Atlético Mineiro, fez o meia são-paulino Gerson, na barreira, abaixar a cabeça para se proteger da bola, que foi pra rede, na vitória do Galo contra o São Paulo, no triangular final do Campeonato Brasileiro de 1971, no Estádio do Mineirão.

 Na ocasião, o saudoso Telê Santana era técnico do Atlético, e ficava furioso quando seus jogadores demonstravam medo de ficar na barreira. Na primeira passagem pelo São Paulo, em 1973, ele se irritou quando um jogador de seu time tirou a cabeça da bola num chute forte de um adversário, em cobrança de falta. Como a bola entrou, no treino do dia seguinte Telê ficou parado nas imediações da área, e mandou o jogador medroso chutar a bola com toda força na direção dele, desviando alguns chutes de cabeça. Depois, ficou de costas e mandou o mesmo jogador chutar com toda força no corpo dele. E quando o jogador acertou o alvo, Telê sorriu e disse que bolada não mata.

 O meia Didi - com passagens por Fluminense e Botafogo (RJ) - cobrava falta fora do alcance dos goleiros. Foi inventor da folha seca, que consiste em efeito na bola ao cair no gol. Zico, no Flamengo, foi quem mais se assemelhou ao chute de Didi. Neto, nos tempos de Corinthians, batia colocado ou com força.

Mauro Silva, tetracampeão que recusou nova convocação


Nos 50 anos de idade completados em janeiro passado, o ex-volante Mauro Silva tem três histórias distintas pra contar sobre Seleção Brasileira: primeiro a participação como titular absoluto do tetracampeonato mundial em 1994. Depois quando ousou recusar nova convocação em 2001. E, por fim, ao aceitar convite da CBF para integrar a comissão técnica do treinador Dunga.

 Mauro Silva sempre se pautou por posições incisivas. Quando esbanjava invejável forma física, aos 37 anos de idade, decidiu encerrar a carreira no La Coruña da Espanha, em 2005. Incontinenti, foi em vão o assédio do São Paulo para que adiasse o encerramento. "A imagem que ficou para o torcedor brasileiro é a do Mauro Silva campeão do mundo, em plena forma. Não quis correr o risco de arranhar essa imagem", justificou à época.

 Nascido em São Bernardo do Campo (SP), o início da carreira foi na base do Guarani, apelidado de Mauro Getulião, por causa da semelhança à grande cabeça do lateral-direito Getúlio, maldosamente identificado com GG da cara grande, nos tempos de São Paulo. Depois simplificaram o apelido para Tulião, considerado mais sorono. Isso até que o saudoso treinador dos juniores do Guarani, Pupo Gimenez, pedisse à imprensa que identificasse o atleta pelo nome de registro.

 A profissionalização em 1986 não indicou que se firmasse como titular do Guarani, e ainda sofreu lesões que o rotularam de jogador ‘bichado’. Assim, em 1990 teve o passe negociado por Cr$ 100 mil ao Bragantino, uma bagatela projetando-se atualização para a moeda corrente no Brasil.

 Pois no ‘Massa Bruta’ surgiu um Mauro Silva então desconhecido dos tempos de Guarani: exato tempo de bola para antecipação de jogadas, capacidade para desarme e acerto na maioria dos passes. Com aquela eficiência contribuiu ao vice-campeão brasileiro da equipe em 1991, ano em que o então treinador da Seleção Brasileira, Paulo Roberto Falcão, o convocou pela primeira vez. E isso abriu caminho para que se transferisse ao La Coruña.

 Mauro Silva mora em São Paulo e trabalha no ramo imobiliário. Em janeiro ele completou 50 anos de idade. Já em abril foi homenageado pela cidade de La Coruña, tendo rua batizada com o seu nome. Foi reconhecimento por ter sido o segundo jogador com maior número de partidas da história do clube: 471.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Alfinete, ponta-de-lança adaptado à lateral-direita


 Magrelão de 68 quilos, distribuídos na estatura de 1,82m de altura, o apelido de Alfinete se justificava plenamente para Carlos Alberto Dario de Oliveira quando chegou para treinar no juvenil do XV de Jaú em 1978, aos 17 anos de idade.

 Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, então treinador da equipe jaueense, tinha o hábito de programar treinos coletivos contra os juvenis, quando constatou aquele desengonçado garotão de pernas compridas na meia-direita. Logo, sugeriu que o recuassem à lateral-direita, para que a velocidade dele fosse explorada na transição ao ataque.

 Assim, não demorou para que Alfinete fosse promovido ao profissional, em conformidade com o processo de renovação da equipe, ao aproveitar a garotada da base. Foi quando o paciencioso Cilinho melhorou o seu lateral na marcação, mas faltou-lhe tempo para trabalhar cruzamentos, ainda com defeito.

 Lateral Zé Maia - super Zé -, em processo de despedida do futebol no Corinthians, indicou Alfinete para substitui-lo em 1981, mas a estreia dele deu-se no ano seguinte, no empate por 1 a 1 contra a Portuguesa, naquela formação: Rafael; Zé Maria (Alfinete), Gomes, Daniel Gonzales e Wladimir; Caçapava, Paulinho e Biro Biro; Eduardo, Casagrande e Magú.

 De temperamento forte, sem vícios do fumo e álcool, Alfinete entrou em rota de colisão com lideranças da democracia corintiana - principalmente o saudoso meia Sócrates -, e isso provavelmente tenha refletido no corte da delegação que excursionou ao Japão, a mando do então diretor de futebol Adilson Monteiro Alves.

 Logo, descartado do elenco, foi aberto o caminho para a chegada do lateral-direito Édson Abobrão, da Ponte Preta, em negociação que envolveu a ida dele ao clube campineiro, onde voltou a atritar. Foi expulso de treino pelo ex-treinador Carbone e negociado com o Joinville. Ao reencontrar o futebol produtivo, foram reabertos caminhos em grandes clubes como Grêmio, Atlético Mineiro e Fluminense, onde encerrou a carreira em 1994.

 Cilinho estendeu-lhe as mãos para iniciar na função de auxiliar técnico e lhe encaminhou à carreira solo no interior de Goiás e clubes paulistas, mas Alfinete não prosperou na função. Isso gerou essa afirmação: “Encarar ponta habilidoso era bem mais fácil do que levar a vida de treinador”.   

domingo, 23 de setembro de 2018

Éder, o canhão, trabalha no Galo mineiro


 Éder Aleixo de Assis honrou a tradição dos antigos ponteiros-esquerdos que pegavam forte na bola, como Pepe e Edu Jonas. No auge da carreira, na década de 80, soltava cachões do ‘meio da rua’, metáfora que caracterizava chute de longa distância ao gol adversário.

 Éder colocava efeito na bola, e assim os seus chutes eram mortíferos. Sem velocidade, raramente ia ao fundo de campo, porém tinha bom domínio de bola, escapava de marcadores, e arrancava aplausos ao esticar bola de 40m a outro companheiro. Assim, o colocava na ‘cara’ do gol.

 Esse rico histórico do futebol ele contou à garotada dos juniores do Atlético Mineiro quando participou do departamento, e ensinou segredos para bater na bola. Aí, chamado de professor, a correção era imediata. “Sou apenas o Éder. Nada de seu Éder”.

 Recentemente, promovido aos profissionais na função de auxiliar-técnico permanente, transmite experiência à boleirada que transcende o gramado. Narra seu temperamento explosivo, que resultou em 25 expulsões, a mais danosa em amistoso da Seleção Brasileira, às vésperas da Copa do Mundo de 1986. Na ocasião agrediu injustificadamente um adversário, foi cortado da relação dos convocados, e ficou de fora daquele Mundial, contrastando com a participação de 1982 quando foi titular absoluto e marcou gols na vitória por 2 a 1 sobre a extinta União Soviética e goleada por 4 a 1 diante da Escócia.

 Outra bobeira confessada foi quando ousou enfrentar ladrões armados de revólveres, em defesa de amigo assaltado, e foi vitimado por dois disparos no braço.

 Se hoje ele se rotula um ‘poço’ de humildade, capaz de pegar bola ou chuteira para ser levada a um jogador, no passado nem sempre acompanhava a delegação de retorno à cidade do clube em que estava vinculado. Amigos o esperavam em portas de estádios com o carro importado dele.

 Foi o período de descontrolável assédio das fãs, que o obrigava a se desvencilhar de agarrões. Afinal, além de craque era boa pinta, vestia-se elegantemente, e isso se repetiu nas passagens por Grêmio, Atlético, Palmeiras e Inter (SP). Foi mais discreto quando esteve no Santos, Sport (PE), Botafogo, Cerro Porteño (PAR), Fenerbach (TUR), União de Araras (SP), Monte Claro (MG), Atlético (PR) e Cruzeiro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Tostão II fez sucesso no Cruzeiro e Coritiba



Outrora, pessoas exageravam ao caracterizar semelhança de estilos de jogadores revelados com ídolos do passado. Insere-se nesse contexto Luís Antônio Fernandes, 59 anos de idade, natural de Santos, ponta-de-lança comparado erroneamente ao lendário cruzeirense Tostão, advindo, portanto, o mesmo apelido.

 Como o Tostão mineiro havia abandonado o futebol em meados da década de 70, não havia inconveniente chamar o garotão revelado pelo Peixe pelo mesmo apelido. Todavia ele não se firmou no clube e foi repassado ao Catanduvense, Goiás e Mixto de Cuiabá em 1980, despertando interesse do Cruzeiro dois anos depois.

 Dribles em progressão, visão de jogo e facilidade para enfrentar goleiros rendeu-lhe artilharia em dois anos consecutivos no Campeonato Mineiro. Por isso não se explica a transferência ao Coritiba, onde continuou com rendimento aceitável, com declínio na sequência em Atlético Paranaense, Inter de Limeira, XV de Piracicaba, Caldense, Inter de Lages, Rio Branco e Foz do Iguaçu.

 No Coritiba não faltam histórias singulares. O saudoso treinador Urubatão Calvo Nunes proibia atleta de tomar banho antes das partidas, com argumento que atrapalhava o aquecimento. Paradoxalmente, nas primeiras nove partidas na competição regional, o clube perdeu cinco.

 Diferente foi a terapia de grupo do treinador Valdir Espinosa: “Ele botou todo mundo em volta de uma mesa, mandou servir cerveja e perguntou o que estava havendo. Dissemos que estávamos estourados pelo excesso de exercícios físicos, e o ritmo dos treinos físicos diminuiu”, contou.

 No clima de guerra preparado pelo Guarani, na final do Campeonato Brasileiro da Série B de 1991, em Campinas, Tostou relatou que o ônibus do Coritiba foi parado uns 200m do Estádio Brinco de Ouro. “Enfrentamos pressão de seguranças e tivemos que arrombar a porta do vestiário. Lá dentro havia um cheiro insuportável de formol, e nos vestimos perto do túnel. Quando iríamos subir ao gramado, nos deparamos com grade fechada e tivemos que arrombá-la”.

 O Guarani vencia por 1 a 0 quando a arbitragem de José Roberto Wright foi contestada, ao anular gol considerado legítimo do atacante Chicão. Se confirmado, o Coritiba se beneficiaria do empate. Na definição através de cobranças de pênaltis, o Guarani venceu e garantiu acesso ao Brasileirão.

Dez anos sem o zagueiro Moisés


 O pensador Antonio Gomes Lacerda citou que ‘na estrada da vida uns passam deixando saudade; outros, alívio. Pois o saudoso zagueiro Moisés Matias de Andrade deixou saudade aos familiares, porém esquecimento do mundo esportivo quando dos dez anos da morte dele dia 26 de agosto passado.

 A causa da morte, aos 59 anos de idade, foi câncer no pulmão. Nem por isso houve detalhamento se a doença foi decorrente do tabagismo, embora haja registro de que em 90% dos casos as vítimas sejam fumantes. Por sinal, 29 de agosto é o ‘Dia Nacional de Combate ao Fumo’, sem que se registrassem campanhas propagando os malefícios do cigarro.

 Carioca de Rezende, Moisés justificava o apelido de xerife: viril e às vezes violento. Descia o ‘sarrafo’, e raramente era expulso. Ao matar a jogada no nascedouro, atingia meio gomo da bola e tornozelo do adversário. E para ludibriar a arbitragem, o grito era ‘fui na bola’, convencendo condescendentes árbitros a aplicarem cartão amarelo, na maioria das vezes. 
“Zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte”, referia-se ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desportos em 1945, e entregue a atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.

 Nas passagens por Bonsucesso, Vasco, Corinthians, Fluminense, Flamengo, Bangu, Paris Saint-Germain, Belenense, Atlético (MG) e América (RJ) preponderava-se no jogo aéreo. No Timão, de 1976 a 1978, participou da quebra de jejum de títulos de 22 anos em 1977, na final contra a Ponte Preta, neste time: Tobias; Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Wladimir; Ruço, Luciano e Basílio; Vaguinho, Geraldão e Romeu.

 No Vasco, foi campeão brasileiro em 1974. Um ano antes atuou pela Seleção Brasileira no dia 21 de junho contra a União Soviética. E como treinador, a única passagem destacada foi no Bangu em 1985: vice-campeão brasileiro, perdendo a decisão para o Coritiba, nos pênaltis.

 Ele chegou a trabalhar nos Emirados Árabes, mas nos últimos anos de vida preferiu curtir caça submarina e participação mais ativa no Carnaval, ao criar o ‘Bloco dos Piranhas’, com jogadores desfilando vestidos de mulheres pelas ruas da zona norte do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Zagueiro Gomes, um exemplo de superação


 Quando desistiu da função de auxiliar técnico - com histórico no Guarani em 2006 - o ex-zagueiro Gomes fixou residência em Campinas, e passou a atuar como representante comercial. Édson Gomes Bonifácio, que neste nove de setembro vai completar 62 anos de idade, é um exemplo de superação, pois da desconfiança inicial chegou à Seleção Brasileira em 1979, durante a Copa América.

 A trajetória de atleta desse capixaba de Vitória foi de 14 anos foi marcada por títulos, os principais do Campeonato Brasileiro de 1978 e 1985 no Guarani e Coritiba, respectivamente.

 No Guarani, a responsabilidade foi substituir Amaral, que havia se transferido ao Corinthians. Ele chegou em 1977 conhecido pelo apelido de ‘Nega’, mas o pedido para identificação pelo nome foi aceito. O segundo desafio foi se aplicar nos treinamentos e ser recompensado pela melhoria considerável de rendimento. Pelo clube ele disputou a Libertadores da América, desligando-se em 1980.

 No Coritiba, não se cansa de elogiar o trabalho do saudoso treinador Ênio Andrade, que extraiu o máximo possível da equipe com aquela formação: Rafael; André, Gomes, Heraldo e Dida; Almir, Marildo e Tobi; Lela, Índio, e Édson.

 Após empate por 1 a 1 no tempo regulamentar e prorrogação, a definição se estendeu às cobranças de pênaltis. Com acerto na primeira sequência de cinco para cada lado, o ‘Coxa’ teve aproveitamento na cobrança alternada através de Gomes, enquanto o Bangu desperdiçou com Ado.

 A carreira foi iniciada no extinto Saad de São Caetano do Sul em 1975 e prolongada até 1989 no Goiás, onde conquistou três títulos do regional goiano. Ele repetiu conquista regional no Sport (PE), assim como constam curtas passagens por Santos, Bragantino e Uberlândia.

 Contratado pelo Corinthians em 1981, o período na reserva recomentou empréstimo ao Criciúma (SC), mas no retorno participou do título paulista da temporada seguinte. Segundo o Almanaque do Corinthians, de Celso Dario Unzelte, ele disputou 71 partidas pelo clube, obtendo 36 vitórias, 24 empates e 11 derrotas. Marcou apenas um gol contra a Portuguesa de Desportos, em 1981.

domingo, 26 de agosto de 2018

Adeus a Claudiomiro, o centroavante rompedor


 Há cinco anos, na cerimônia de remodelação do Estádio Beira-Rio, o então centroavante do Internacional (RS), Claudiomiro Estrais Ferreira, ajudou no plantio de grama. Na entrevista à FWTV gaúcha reafirmou simplicidade na fala, reflexo de reduzida escolaridade.

 Logo não aprendeu que palavras terminadas em ditongo ‘eu’ fazem plural com o acréscimo da desinência ‘s’. Por isso, em vez da citação troféus conquistados falou ‘troféis’. Pior foi quando perversos debocharam da fala dele às vésperas de um jogo do Inter contra o Remo, nos anos 70. “Tenho o maior orgulho de jogar aqui em Belém do Pará, a terra onde nasceu Jesus Cristo”.

 Já que Claudiomiro ganhou a vida trombando com zagueiros e empurrando a bola à rede, o conteúdo da fala é secundário. Ele morreu na noite de 24 de agosto aos 68 anos em Canoas (RS), onde morava, ficando como principal registro na carreira ter marcado o primeiro gol do Estádio Beira-Rio em 6 de abril de 1969, na vitória do Inter sobre o Benfica de Portugal por 2 a 1.

 Lançado no time colorado em 1967, conquistou seis títulos estaduais na trajetória inicial até 1974, quando atuou neste time: Manga; Cláudio Duarte, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão e Carpegiani; Valdomiro, Escurinho, Claudiomiro e Lula. Aí o Inter optou pela contratação de Flávio Minuano para substitui-lo, mas ele retornou em 1979. Portanto, o histórico é de 424 jogos e 210 gols, atrás apenas de Carlitos (485 gols) e Bodinho (235 gols).

 Claudiomiro foi o típico centroavante de área sem intimidade com a bola. Prevalecia a força física de rompedor, destemido e finalizador, resultando no apelido de Bigorna. Catimbeiro, cavava pênalti e tinha aproveitamento na bola aérea, apesar da estatura mediana.

 Propensão para engordar e problemas no joelho abreviaram a carreira, encerrada aos 29 anos de idade. O currículo é acrescido por passagens no Botafogo (RJ), Flamengo, São Borja, Caxias, Novo Hamburgo e cinco jogos na Seleção Brasileira em 1971, com gol na vitória de 1 a 0 contra o Paraguai, em amistoso no Estádio do Maracanã.

 Ele chegou a ser candidato a deputado estadual, mas os 12 mil votos foram insuficientes para se eleger.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Búfalo Gil, o artilheiro da ‘máquina tricolor’ do Fluminense


 Nas entrevistas coletivas em clubes, jogadores medem palavras e o conteúdo basicamente é insignificante. Isso contrasta com espontaneidade do passado, quando o questionado dizia exatamente aquilo que pensava, como o mineiro de Nova Lima Gilberto Alves, conhecido nos anos 70 como Búfalo Gil, que ‘dedurou’ o saudoso presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desporto), João Havelange, antes da Copa de 1978, na Argentina. “Ele disse que estava muito feliz com a gente, mas nos revelou que queria que a Argentina fosse campeã. Ninguém entendeu nada.”

 Quando ousam citar-lhe que jogadores do passado não teriam espaço no futebol de hoje, a resposta é áspera: “Jogadores atuais não teriam condição nem de entrar no nosso vestiário. Eu era forte e batia bem na bola. Duvido alguém correr 100m em 11 segundos como eu fazia”.

 Búfalo Gil participou da ‘máquina tricolor’ do Fluminense bicampeã carioca em 1975-76, conduzida pelo revolucionário presidente Francisco Horta, que contava com jogadores como Rivellino, Paulo César Caju, Manfrini, Toninho e Marco Antonio.

 Lançamentos milimétricos de Rivellino não davam chances para que Gil fosse alcançado pelos adversários, fazendo a diagonal a partir da ponta-direita. O apelido Búfalo foi justificado pela rapidez e compleição física. Assim foi goleador da equipe naquele biênio: 58 gols, o que permitiu desforrar àqueles que o chamavam de ‘bonde’ na chegada ao clube, quando atuava como centroavante. De 1974 e 1976, ele jogou 172 partidas e marcou 75 gols.

 Sem papas na língua, comparou o gramado das Laranjeiras como pasto, e agrediu o companheiro Cléber após discussão. A partir de 1977 atuou três temporadas no Botafogo. Depois seguiu para Corinthians, Coritiba, Múrcia (ESP), Farense (POR), novamente Botafogo, Avaí, Sport, Fortaleza e Alianza (PER). A carreira de 20 anos foi encerrada em 1986, totalizando 569 gols.

 Após início no Villa Nova (MG), Uberlândia e patinar no Cruzeiro, o Comercial (MS) deu-lhe a chance para decolar na carreira e se transferir ao Fluminense. Foram 40 jogos e 12 gols pela Seleção Brasileira, entre 1976 e 1978, inclusive titular na Copa do Mundo da Argentina. Foi treinador de Botafogo e até no exterior. Na véspera do próximo Natal vai completar 68 anos de idade.

Dinamite, ídolo que fracassou na presidência


 É raridade ex-atleta e ídolo da torcida encarar desafio de presidir o clube em que atuou. Pois estimulado por amigos vascaínos o então atacante Roberto Dinamite assumiu a empreitada em junho de 2008, sem chances de reestruturar erros no futebol provocados pela gestão Eurico Miranda, resultando em rebaixamento da equipe à Série B do Campeonato Brasileiro.

 Em dezembro de 2013, quando o torcedor vascaíno viu a repetição do filme, e atribuiu-lhe responsabilidade integral, a desolação dele implicou em distância do Estádio São Januário.

 São mágoas que ele não esconde, mas repete que o Vasco não lhe deve nada, assim como ele - enquanto jogador - nada deve ao clube, fato confirmado pela história com títulos do Campeonato Brasileiro de 1974 e das competições estaduais de 1977, 1982 e 1987.

 Ele jogou 1.100 partidas pelo Vasco, das 1.201 na carreira. O histórico é de 744 gols desde 1971, inicialmente como centroavante rompedor e consciente das limitações. Aí trabalhou para aprender ocupar espaços nos lados do campo, construir jogadas, e foi identificado pela frieza para enfrentar goleiros, pegar forte na bola em cobranças de faltas, e explorar a estatura de 1,86m de altura para cabeceio. O Corinthians provou desse ‘veneno’ em 1980, quando ele marcou cinco gols na goleada sofrida por 5 a 2, no Rio de Janeiro. Logo, era nome obrigatório em convocações à Seleção Brasileira.

 Na temporada seguinte, com 62 gols marcados, superou o meia flamenguista Zico, com 45 gols. Perseverante, Dinamite suplantava adversidades como a da morte da esposa Jurema, que tinha participação ativa em sua carreira. Por se intrometer e endurecer em renovações de contratos do marido, era tida como macumbeira pelos cartolas.

 Na presidência, no primeiro mandato, dois fatos marcantes para Dinamite: imagens de um jovem torcedor ameaçando se jogar da marquise do Estádio São Januário, após derrota para o Vitória (BA) por 2 a 0, que implicou em queda à segunda divisão. Foi quando apreensivos torcedores estenderam um bandeirão com finalidade de amortecer eventual queda, enquanto em outra linha de atuação bombeiros conseguiram imobilizá-lo.

 Depois, o imediato retorno à Série A do Campeonato Brasileiro, desmobilização da tímida oposição capitaneada pelo ex-presidente Eurico Miranda, e conquista da Copa do Brasil de 2011.

Tobias, destaque no Corinthians nos anos 70


 Décadas passadas, quando comerciais da marca Bozzano eram veiculados no rádio, ouvia-se através do vozeirão do saudoso radialista Oliveira Neto essa mensagem: ‘Lembram-se de minha voz? Ela continua a mesma. Mas os meus cabelos! É que para eles tem o creme rinse colorama. Um produto: Bozzano’.

 Pois o goleiro Tobias, de cabelos compridos e encaracolados, se transformou em ídolo do Guarani nos primeiros quatro anos da década de 70. E depois do encerramento da carreira no Bangu, em 1986, os cabelos rarearam até que a calvície ficasse acentuada.

 Tobias chegou ao Corinthians em 1975, respaldado pela característica de goleiro ágil. A permanência no clube se estendeu durante cinco anos, mas o marcante foi em 1976. Na fase semifinal do Campeonato Brasileiro, contra o Fluminense, foi um dos heróis da classificação à finalíssima contra o Inter (RS), ao praticar duas defesas na definição através dos pênaltis, após empate por 1 a 1 no tempo normal, no Estádio do Maracanã.

 O jogo entrou para a história como ‘invasão corintiana’ no Rio de Janeiro, com 70 mil torcedores, que na ocasião contava com esse time: Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Givanildo (Basílio), Ruço e Neca; Vaguinho, Geraldão (Lance) e Romeu.

 No desjejum de títulos do Corinthians em 13 de outubro de 1977, Tobias já não era absoluto da meta na final do Campeonato Paulista, contra a Ponte Preta. O treinador Oswaldo Brandão havia programado revezamento de goleiros, mas por sorte ele foi titular nas vitórias da primeira e terceira partida, enquanto Jairo atuou na derrota por 2 a 1.

 Dois anos depois, durante repetição dos finalistas do Campeonato Paulista, Tobias estava na reserva de Jairo, em outro título corintiano contra a Ponte, ano em que foi transferido ao Sport Recife, clube que já havia defendido num rápido empréstimo em 1971, quando vinculado ao Guarani.

 Ainda adolescente, Tobias tinha inclinação pelo basquete e apenas se divertia no futebol em time varzeano. Foi quando dirigentes do Noroeste de Bauru o levaram às categorias de base. Depois o Guarani o contratou para suceder o saudoso Sidney Poli. Os últimos clubes foram Fluminense, Rio Negro (AM) e Bangu. Ele já completou 69 anos de idade.

domingo, 29 de julho de 2018

Joelho abrevia carreira do flamenguista Lico


 Duas constatações sobre o ex-atacante Lico do Flamengo: até a década de 80 havia uma cultura no futebol brasileiro de acomodar bons pontas-de-lança como falsos ponteiros-esquerdos, com finalidade de que as equipes pudessem dispor do maior número de talentos. Igualmente foi um período em que a atrasada ortopedia brasileira desamparava jogadores que dependiam de cirurgias de joelhos.

 Pois a carreira de Antonio Nunes, o Lico, foi abreviada aos 33 anos de idade, em 1984, após duas lesões de joelho. Exatamente quando o meia Zico se transferiu à Udinese da Itália em 1983, a projeção natural era que Lico fosse fixado como substituto na posição, mas foi obrigado a encerrar a carreira. Assim, retornou a Santa Catarina na tentativa de continuidade no futebol em outra função.

 Inicialmente tentou repassar a experiência de atleta como treinador, mas a atribuição requer gestão de grupo e psicologia para triagem da problemática no elenco. Na prática, Lico só pode ser definido como quem tem boa visão de jogo, insuficiente à atribuição.

 A continuidade ao meio foi como gerente de futebol de Londrina, Avaí e Joinville, até migrar-se à pasta de secretário de esportes da cidade catarinense de Imbituba. Agora, na iminência de completar 67 anos de idade em 9 de agosto, se ocupa como orientador de garotos de escolinha de futebol naquele município praiano.

 Como apareceu como ‘aposta’ no América de Joinville em 1970, acabou emprestado ao Grêmio em 1973, mas durante seis meses ficou na reserva. Aí, de volta ao futebol catarinense, atingiu o auge da carreira no Joinville, despertando interesse do Flamengo em 1980, que o contratou como reserva imediato de Zico.

 Como Paulo César Carpeggiane - treinador à época -, teve percepção que poderia escalá-lo como falsa ponteiro-esquerdo, deu-lhe liberdade para flutuar e explorar a habilidade para definição de jogadas e marcar gols.

 Lico jogou no quarteto de meio de campo com Andrade, Adílio, Zico, e lamentou não ter atuado no jogo extra do título da Libertadores de 1981, em Montevidéu, pois havia sido covardemente agredido na segunda partida da final pelo zagueiro Mario Soto, do Cobreloa.

 No mesmo ano ele foi campeão mundial Interclubes, e das edições do Campeonato Brasileiro (1982 e 1983), além de competições regionais.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Nove anos sem o volante palmeirense Zequinha


 Se hoje o atleta é identificado por nome composto, outrora transportava aos clubes de futebol o apelido de infância. Foi o caso do saudoso volante Zequinha do Palmeiras e Seleção Brasileira, na década de 60. Ele morreu há nove anos em Recife, num 25 de julho, aos 74 anos de idade. Sequelas de um derrame limitaram as suas atividades e o afastaram de sua casa lotérica em Olinda (PE).



 Quando se destacou no Palmeiras pela capacidade de marcação e acerto na distribuição de jogadas, Zequinha foi convocado à Seleção Brasileira como reserva do também saudoso Zito, do Santos, à Copa do Mundo de 1962 no Chile, fato que gerou controvérsia entre as mídias de São Paulo e Rio de Janeiro, em período de rivalidade acirrada.

 Cariocas defendiam que o volante Carlinhos, do Flamengo, já falecido, fosse relacionado. Consideravam-no de melhor capacidade técnica, enquanto os paulistas argumentavam vantagem de Zequinha para o desarme. Assim, a polêmica teve prosseguimento até que ele completasse o ciclo de 17 partidas, com retrospecto de 14 vitórias, um empate, duas derrotas e dois gols.

 José Ferreira Franco, Zequinha, foi um pernambucano que se valorizou no Santa Cruz apesar da estatura de 1,66m de altura. Diferenciava-se da maioria na posição pela excelente preparação física. Como corria demais, atrevia-se, com frequência, ‘descidas’ ao ataque. E finalizava ao gol adversário de média distância, com chute forte.

 Por isso foi trazido ao Palmeiras em 1958, com conquista de título paulista na temporada seguinte, num time formado por Valdir de Moraes; Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo e Romeiro. E lá permaneceu durante dez anos, os últimos deles como reserva de Dudu, vindo da Ferroviária de Araraquara (SP).

 Naquele período totalizou 417 jogos, 40 gols, e o orgulho de colecionar títulos do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão), Taça Brasil, Torneio Rio-São Paulo e Campeonato Paulista de 1959, 1963 e 1966, segundo informações do Almanaque do Palmeiras.

 Antes do encerramento da carreira no Santa Cruz em 1970, teve passagem pelo Atlético Paranaense. Na ocasião participou de um time com medalhões como Djalma Santos, Belini, Dorval, Nair e Zé Roberto.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Goleador Chicão driblou AVC duas vezes


 O sul-mato-grossense Francisco Carlos Martins Vidal chegou ao juvenil da Ponte Preta em 1978, já identificado pelo apelido de Chicão, mas o ex-treinador Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, pulou etapas ao lançá-lo na equipe principal, quando usava reservas em time alternativo que havia preparado à época.

 Pois Cilinho se precipitou tanto no lançamento dele entre profissionais como na mudança de apelido para Kiko. Se nos juniores o trombador Chicão aprendeu outros macetes de um centroavante, foi com o técnico Dino Sani, de volta aos profissionais, que aperfeiçoou a batida na bola em 1982.

 Reflexo disso foi visto na temporada seguinte, ao dividir com o saudoso Sócrates o segundo lugar na artilharia do Campeonato Paulista: 21 gols. E Chicão ficou na Ponte até 1987, passando pela experiência de integrar a seleção brasileira olímpica que, três anos antes, havia conquistado medalha de prata na competição disputada em Los Angeles. Na ocasião, o comandante técnico foi Jair Picerni.

 Foi no Santos F.C. que Chicão iniciou experiências em grandes clubes. Depois, em 1989, conquistou título estadual no Coritiba, ao atingir a artilharia com 19 gols. No Botafogo (RJ) participou da campanha do vice-campeonato brasileiro de 1992, para posteriormente passar por Bragantino, Portuguesa, Atlético Paranaense, Remo, Atlético de Sorocaba (SP), Ituano (SP) e Santa Cruz.

 Ao encerrar a carreira, ele voltou a residir em Campinas. Criou escolinha de futebol para garotos - em companhia do ex-meia Zenon - quando, em 1999, sofreu infarto e AVC (acidente vascular cerebral), mas sempre acreditou na recuperação.

 Aí montou a escolinha de futebol ‘Chicão Futebol Center’, até que em 2007 mais um susto: "Tive um AVC que quase me deixou cego. Felizmente fiquei bom. Dou aulas e levo minha vida numa boa", afirmou.

 Até para jogar futebol com amigos Chicão foi liberado, em time da categoria máster, mas não contraria orientação médica e evita cabeceio.

 Nos tempos de atleta, quando entrevistado sobre desafios de marcar gols decisivos para as equipes que atuava, Chicão respondia com naturalidade. "Estou acostumado a fazer gols”. E fazia de todo jeito, até usando até a canhota, embora destro.

sábado, 7 de julho de 2018

Júnior, talento no gramado e microfone


 Na década de 80, quando o saudoso radialista Luciano do Valle comandava o esporte na TV Bandeirantes, intrigou jornalistas ao abrir espaços a ex-jogadores de futebol como comentaristas de transmissões. Pois Luciano venceu aquela quebra de braço, e a TV Globo também incorporou a iniciativa com opiniões, nas redes que integram o eixo Rio-São Paulo, de quem jogou bola profissionalmente.

 Assim, entre comentaristas como Ronaldo, Casagrande, Roger Flores e Caio também participa Leovegildo Lins da Gama Júnior, ídolo de Flamengo e Seleção Brasileira, 64 anos de idade. Conotação ‘participa’ seria muita singeleza pra quem contextualiza como poucos uma partida de futebol. A privilegiada visão de jogo e reflexo rápido para execução - enquanto atleta - permitiu que transportasse para o microfone aquilo que acontece nos gramados.

 Ambidestro, com facilidade para tocar na bola, passou da lateral-direita à esquerda sem problemas no Flamengo em 1976, após dois anos como titular na primeira função. Ao mudar de lado colocou na reserva Vanderlei Luxemburgo. Assim, participou de renomadas equipes montadas pelo clube, com conquistas do Campeonato Brasileira a Libertadores.

 Na época acompanhava o modismo de cabelo black power e mostrava vocação para a música. Ele compôs a trilha sonora ‘Voa Canarinho’, da Seleção Brasileira de 1982, e puxava rodas de samba dos boleiros.

 No auge da carreira, poderia, se quisesse, iniciar trajetória internacional. Todavia recusou à cobiça do Real Madrid, justificando-se feliz no Flamengo e acomodação da família no Rio de Janeiro. Só se curvou à proposta do Torino, dois anos depois, porque o Flamengo precisava de dinheiro, e insistiu para que o passe foi negociado.

 Umas imposições para transferência à Itália foi trocar a lateral pela meia-de-armação, sem dificuldade de adaptação. Naquele país ainda passou pelo Pescara antes do regresso ao Flamengo em 1989, com prolongamento da carreira por mais quatro anos. Naquele período foi identificado como exímio cobrador de faltas.

 Já que não decolou na oportunidade como treinador, no próprio Flamengo, o jeito foi integrar a Seleção Brasileira de Futebol de Areia, até que a facilidade de comunicação foi considerada para comentar futebol na televisão. A isso se juntou o vastíssimo conhecimento da matéria.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Segundo Zé Maria da Lusa agora é treinador


 Desabrocharam na Portuguesa dois laterais-direitos reconhecidos nacionalmente como Zé Maria. Primeiro o José Maria Rodrigues Alves, batizado de ‘Super Zé’, vindo de Botucatu em 1967, e que a partir de 1970 fez história no Corinthians e Seleção Brasileira. Depois o José Marcelo Ferreira, que no Estádio do Canindé ganhou o apelido de Zé Maria pela semelhança de vigor físico do anterior.

 Esse segundo Zé Maria é vencedor pela obstinação. Saiu de Oeiras, interior do Piauí ainda na infância, com a mudança da família a São Paulo. E após reprovação em chamados treinos-peneira de juvenis de grandes clubes de São Paulo, acabou aprovado pela Portuguesa e profissionalizado em 1991.

 Nos primeiros cinco anos vinculado ao clube foi emprestado ao Sergipe e Ponte Preta, para ganhar experiência. Depois, se destacou pela transição rápida ao ataque e qualidade nos cruzamentos, tanto que em 1996 transferiu-se ao Flamengo, com participação em apenas 16 jogos. Incontinenti, iniciou a carreira internacional no Parma, da Itália.

 A partir daí viveu a experiência da ponte aérea Europa-Brasil, intercalando passagens ainda pelo futebol inglês, espanhol e trajetória em Vasco, Palmeiras e Cruzeiro, até a definição do encerramento da carreira onde começou: na Lusa, em 2008.

 Claro que a intenção era continuar no futebol, mas sem qualquer preparo para a função de treinador decidiu abrir uma lanchonete em Campinas, a ‘Mister Zio’. Como o empreendimento não prosperou, as portas foram fechadas dois anos depois.

 As amizades na Itália permitiram que pra lá Zé Maria mudasse e montasse uma escolinha de futebol na cidade de Perugia. Assim, paralelamente realizou cursos de treinador para acrescentar à experiência de atleta que vestiu a camisa da Seleção Brasileira em 43 jogos, entre 1995 e 2001, com título de Torneio Pré-Olímpico e medalha de bronze nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.

 Na seleção principal, o duro golpe foi uma lesão na região do púbis, que o deixou fora da relação de convocados à Copa do Mundo da França, em 1998. Posteriormente tudo foi superado e ele conseguiu jogar em alto nível, tanto que em 2001 voltou ao selecionado.

 As primeiras experiências como treinador foram em equipes de divisões inferiores da Itália. Hoje, aos 45 anos de idade, tem percorrido outros países europeus para continuidade à empreitada na categoria principal.

domingo, 24 de junho de 2018

Lateral Leandro superou até Carlos Alberto


 Quem poderia supor que um país produtor de laterais-direitos de extrema qualificação, como o Brasil, hoje tivesse que selecionar os apenas razoáveis Danilo e Facner para disputar Copa do Mundo?

 Nos anos 70, quando laterais passaram a ter liberdade para atacar, o saudoso Carlos Alberto Torres - de Fluminense, Santos e Seleção Brasileira - foi tido como imbatível na função. Além da envergadura técnica, sabia defender. Essa versatilidade permitiu que, no final de carreira, fosse deslocado à zaga central.

 Quando que se supunha que por muito tempo Carlos Alberto fosse tido como melhor da posição, eis que Leandro, que surgiu nas categorias de base do Flamengo em 1975, começou a mostrar três anos depois, já no profissional, capacidade para superá-lo.

 Ambidestro, facilidade de drible, rapidez e ótima leitura de jogo para entrar por dentro com bola dominada, Leandro foi um dos destaques do memorável time do Flamengo em meados da década de 80, com conquistas de Campeonato Brasileiro, Libertadores e vaga de titular absoluto na Seleção Brasileira que encantou o mundo em 1982, mas foi eliminada pela Itália com a derrota por 3 a 2.

 Em 1985, uma lesão no joelho já não permitia que fizesse o vaivém. A preocupação era não desguarnecer o setor, e assim abdicava de atacar. Como tinha aptidão para defender com técnica, antecipando-se ao adversário, foi deslocado à zaga central e igualmente correspondeu, com seu 1,82m de altura.

 Assim, a história da carreira dele como atleta se restringiu ao Flamengo até 1990. Nos 12 anos, cinco foram de contínuas convocações à Seleção Brasileira, com ciclo encerrado em 1986, ao se recusar de participar da Copa do Mundo no México.

 Às vésperas do embarque da delegação, Leandro fez companhia a Renato Gaúcho na noitada em Belo Horizonte, e o saudoso treinador Telê Santana cortou Renato, quis preservá-lo, mas ele foi solidário ao companheiro.

 Ao sair do futebol, o lateral retornou à cidade natal de Cabo Frio (RJ) e montou a Pousada do Leandro. Hoje, aos 59 anos de idade, de certo concorda que o futebol brasileiro está carente na posição após o corte de Daniel Alves, por lesão.