segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Muricy, frutos do trabalho

Por Élcio Paiola (interino)

Como o titular da coluna, Ariovaldo Izac, está afastado desde o final de outubro por licença médica, eu, jornalista Élcio Paiola, colaborando interinamente, desejo aos nossos amigos um feliz Natal e próspero ano novo. A coluna entra em recesso e só volta no começo de janeiro.
Pois bem, aproveito a ocasião para homenagear Muricy Ramalho, um técnico vencedor, reeditando uma coluna escrita em abril de 2005 pelo Ariovaldo antes da transferência do técnico para o São Paulo, com abordagem sobre planificação de trabalho no Internacional (RS) e a recompensa com a conquista do tetracampeonato gaúcho.
Como se vê, Muricy tem conceitos bem definidos sobre a função de treinador. Não esperem dele resultados imediatos. Aprendeu, desde os tempos de treinador de juniores do São Paulo, que o trabalho tem de ser planificado e que as metas devem ser atingidas gradativamente. É um especialista em lançamento de garotos e os exemplos estão aí, aos montes, quando trabalhou nas categorias de base e no expressinho do Tricolor, como o goleiro Rogério Ceni e o atacante Denílson. Muricy aprendeu com mestre Telê Santana que não se pode abrir mão da disciplina e que Deus ajuda quem madruga. Por isso, tem uma disposição fantástica para o trabalho, principalmente no aspecto técnico. Assim, consegue corrigir defeitos e aprimorar virtudes de jogadores.
O reflexo do trabalho se traduz em títulos. Levantou caneco no Náutico (PE), conduziu o São Caetano à conquista do primeiro título do Paulistão, e, agora, de certo, ainda saboreia uma suculenta picanha com cerveja pelo título gaúcho de 2005. Claro que teve percalços na carreira de treinador, principalmente no interior paulista, nas passagens por Guarani e Botafogo de Ribeirão Preto, mas soube superá-los. Dos mais de 30 anos envolvido no futebol, passou a maior parte no São Paulo. Primeiro como jogador - e dos bons - na década de 70. Foi um ponta-de-lança de habilidade e tinha o hábito de partir com bola dominada sobre adversários. Embora pegasse bem na bola, para finalizações, não era fominha. Na maioria dos lances era destacado como assistente do atacante Serginho Chulapa, nas jogadas de gols de seu time. Coincidência ou não, Muricy participou de uma patota de boleiros com vocação para ser treinador de futebol, alguns com maior e outros com menor destaque. Jogou com o goleiro Waldir Peres, lateral-direito Nelsinho Baptista, zagueiro Arlindo, meio-campistas José Carlos Serrão, Chicão e Pedro Rocha, e o atacante Serginho Chulapa. Nesse período, era o típico jogador ranheta. Encrencava facilmente com treinadores, sem contudo ser punido. Também ‘batia boca’ constantemente com companheiros de equipe, todavia jamais foi considerado desleal, tanto que sempre foi admirado pelos amigos. Hoje, Muricy adota com sabedoria uma cartilha de como o jogador deve se comportar disciplinarmente. Exige profissionalismo e determinação de seus comandados. Não é um estrategista de variações táticas que modificam resultados de jogos, mas compensa com trabalho planificado nos dias que antecedem as competições. Paciente, Muricy esperou a chance para furar o seleto bloco de treinadores, e, de certo, vai esperar o momento adequado para assumir o desafio em um grande clube no eixo Rio-São Paulo. Pretendentes não faltam.
Pois bem, o resto da história foi contada com o tricampeonato brasileiro pelo São Paulo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Geninho, 43 anos na bola

Por Élcio Paiola

Um dirigente de um tradicional clube brasileiro, “bombardeado” de perguntas sobre nome e perfil do treinador pretendido, subestimou a capacidade de avaliação de jornalistas e lascou: “Estamos trazendo o Eugênio Machado Souto para o comando técnico. Ele é um profissional que vocês não conhecem, mas tem tudo para ser bem sucedido aqui”.
Você, caro leitor, vai continuar curioso em relação ao nome do dirigente e seu respectivo clube. Por questões óbvias a fonte, neste caso, deve ser preservada. O fato ocorreu na década de 90 e a ficha da “reportaiada” só caiu minutos depois, quando um outro dirigente daquele clube entrou na sala de imprensa acompanhado do técnico Geninho, cujo nome de registro é Eugênio Machado Souto, nascido no dia 15 de maio de 1948.
Pois é, Geninho entrou no time dos “sessentões” sem aparentar a idade. São 43 anos ligados diretamente ao futebol.
Natural de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, sua história no futebol começou como goleiro das categorias de base do Botafogo local, aos 17 anos de idade, quando ganhou oportunidade na equipe principal e se firmou. Ele integrou aquela escola de goleiros que raramente tomava “frangos”. Pegava, basicamente, as chamadas bolas defensáveis, e uma das boas bases foi na Francana (SP), em 1979, quando disputou o Campeonato Brasileiro da época, inchado com 94 clubes.
Ainda “rodou” por equipes do interior paulista e do Rio Grande do Sul, casos de Caxias e Novo Hamburgo, onde encerrou a carreira de jogador em 1984, migrando, incontinenti, à função de treinador, já sem o vasto bigode.
A dádiva da oratória faz de Geninho um dos técnicos preferidos dos repórteres para entrevistas. Mesmo em derrotas acachapantes não perde a compostura, e jamais responde as perguntas monossilabicamente. A rigor, costuma dar subsídios para comentaristas de futebol que mal conseguem observar o óbvio, ao alongar nas avaliações pós jogo.
Evidente que exagera quem o rotula de estrategista. É justo, no entanto, que se reconheça sua virtude em focar o grupo no objetivo de brigar por boa pontuação nos campeonatos que disputa, tanto que surpreendentemente chegou ao título do Campeonato Brasileiro de 2001, comandando o Atlético (PR).
Habilmente Geninho faz seu marketing no site que criou (www.geninho.net), onde relata títulos estaduais como treinador do Goiás e Corinthians, além do Brasileiro da Série B com o Paraná Clube e na passagem pelo Al Shabab Club, da Arábia Saudita. O estilo bonachão é bem recebido pela boleirada. Por vezes, um ou outro jogador confunde a metodologia e relaxa no trabalho.
Lógico que seria um contra-senso Geninho lembrar, em seu canal de comunicação, tropeços doídos como a goleada por 8 a 2 para o Corinthians, quando comandava o Guarani em 1997, no Campeonato Paulista.
De certo, Geninho também teve insônia quando caiu para a segunda divisão do Campeonato Paulista com a Ponte Preta e União São João de Araras, em 1995 e 1999, respectivamente. Na Ponte, naquela ocasião, comandou um time de medalhões como o lateral-direito Zelão e os meio-campistas Macalé e Careca, que vieram do Cruzeiro; além do atacante Gaúcho, que havia passado por Flamengo e Palmeiras.
Geninho aprendeu com a desgraça, deu a volta por cima e comandou grandes clubes do eixo Rio-São Paulo-Minas. E, em 2009, continua no Atlético (PR).

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Muller e os seus desafios

Por Élcio Paiola (interino)

Em 2004, após o encerramento da carreira como jogador de futebol e um rápido estágio como treinador de futebol no Ipatinga (MG), o atacante Muller tinha duas opções: continuar na bola em funções paralelas ou exercer a vocação de pregar a palavra de Deus, com total respaldo do pastor Alexandre Ribeiro, que comandava a igreja Porta Aberta em Minas Gerais. "Como ele (Muller) é ungido pelo Espírito Santo, consegue transmitir a palavra do Senhor com sabedoria e veemência”, revelou Ribeiro, na ocasião, apostando no bom discípulo.
Muller dizia que pregava fervorosamente o evangelho do “Deus vivo” na igreja pentecostal Porta Aberta, de Belo Horizonte, e dava vida aos cultos com repeteco de bordões como “aleluia, glória Deus”. Ele nasceu num berço cristão em 31 de janeiro de 1966, em Campo Grande (MS), registrado como Luís Antônio Correia da Costa, mas definiu pela bola como atividade principal. Foi um comentarista diferenciado em jogos transmitidos pela TV Bandeirantes, e continuou polêmico quando mudou para o canal Sportv.
Afeito a desafios, topou mais um neste início de dezembro: desempenhar as funções de supervisor do Santo André, clube com passagem efêmera no final da carreira como jogador.
Muller chegou ao “Ramalhão” falando em disputar títulos, uma rotina nos seus tempos de atleta. Aos 16 anos de idade já jogava no Comercial de Campo Grande (MS), e dois anos depois era lapidado no São Paulo pelo técnico Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, que o lançou no time principal para atuar ao lado de Careca, Pita, Silas e Sidney Trancinha, entre outros.
Aquele time foi campeão paulista em 1985 e Muller se deslumbrou com fama, dinheiro e mulheres. Abandonou o grupo de orações dos “Atletas de Cristo” e colocou um brinco na orelha. Naquele período foi considerado o sex simbol do futebol.
Em 1987, casou-se com a ex-chacrete Jussara Mendes. Depois, trocou o São Paulo pelo Torino, da Itália, e lá ficou durante três anos. Na volta ao Tricolor, estava esmerilhando. Construía e completava bem as jogadas. Teve participação preponderante nos anos dourados do São Paulo na década de 90, período da conquista do bicampeonato da Libertadores da América e igualmente do Mundial Interclubes. Lembra que o gol mais bonito de sua carreira foi marcado na final da Libertadores de 1993, na goleada por 5 a 1 sobre o Universidad Católica do Chile.
Curioso é que em 1993 a lucidez em campo contrastava com instabilidade fora dele. Embora estivesse separado de Jussara havia três anos, o repentino casamento com evangélica Miriam Rodrigues, de 17 anos, causou estranheza pela diferença de idades entre ambos. Conclusão: o matrimônio durou dois meses.
Por sorte, Jussara o aceitou de volta e o ajudou a se firmar como cristão. Aí, deu seqüência a fase esplendorosa, com rodízio de clubes: Palmeiras, Santos e Cruzeiro, pela ordem. No Corinthians a estrela que já não luziu e no Santo André apagou.
Com a curta passagem pela Portuguesa, no segundo semestre de 2003, entrou para a história do futebol como foi o único jogador a vestir camisas dos quatro principais clubes da capital paulista e o Santos. O ex-meia Neto e o atacante Cláudio Cristhovam Pinho seguiram a mesma trajetória, sem contudo jogarem na Lusa.
Muller participou de três Copas: 1986, 90 e 94.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Paulo Borges, o Risadinha

(Por Élcio Paiola, interino)


Décadas passadas, jornalistas esportivos espirituosos tinham sacadas fantásticas. Criavam apelidos para jogadores num piscar de olhos, um deles “Risadinha” para o ponteiro-direito Paulo Borges, ex-Bangu (RJ) e Corinthians, um profissional extremamente extrovertido.
Esse carioca do bairro Laranjeiras, nascido no dia 24 de dezembro de 1944, começou a se destacar pelas jogadas de velocidades pelo lado direito do campo, em Moça Bonita (RJ), em 1962. O diferencial é que sabia fechar bem em diagonal e fazia gols. Por isso terminou a carreira como centroavante.
Paulo Borges integrou aquele lendário time de futebol do Bangu de 1966, que sagrou-se campeão carioca na final contra o Flamengo, com 143.978 torcedores no Estádio do Maracanã. Na ocasião, o time alvirubro goleou por 3 a 0, gols de Ocimar, Aladim e Paulo Borges, em partida que não chegou ao final. O centroavante Almir Pernambuquinho (já falecido), do Flamengo, protagonizou uma pancadaria. Na briga, maldosamente pisou nas costas do ponta-de-lança Ladeira, caído, provocando fratura na costela.
Curioso é que um dia após o jogo, quando Ladeira se convalescia em hospital do Rio de Janeiro, eis que Almir surpreendeu ao visitá-lo. Arrependido, e em prantos, pediu perdão pelo ocorrido. E Ladeira – hoje treinador de juniores -, que nunca guardou rancor, o perdoou.
Além de Ladeira e Paulo Borges, o Bangu contava com um elenco talentoso que marcou 50 gols naquela competição, 16 deles através de Paulo Borges. O técnico Alfredo Gonzáles assumiu o elenco cinco dias antes do início do campeonato e encontrou uma base sólida trabalhada pelo seu antecessor Élbua de Pádua Lima, o Tim: Ubirajara; Fidélis, Ari Clemente, Luís Alberto e Mário Tito; Jaime e Cabralzinho; Paulo Borges, Ladeira, Ocimar e Aladim.
A rigor, depois daquele título, outro grande momento do Bangu foi no Campeonato Brasileiro de 1985, quando o técnico Moisés (já falecido) contou com o esperto ponteiro-direito Marinho para chegar à final contra o Coritiba e ser vice-campeão.
O Bangu se dizimou após a morte do bicheiro Castor de Andrade, que injetava dinheiro da contravenção no clube, e só nesta temporada de 2008 ressurgiu das cinzas com o acesso à divisão principal do futebol do Rio de Janeiro.
Paulo Borges trocou o Bangu pelo Corinthians em 1968 e, de cara, compartilhou com a torcida a deliciosa quebra de um tabu de 11 anos sem vencer o Santos. Na noite do dia 6 de março, no Estádio do Pacaembu, ele e Flávio Minuando marcaram os gols na vitória do Timão por 2 a 0. Risadinha atuava ora como ponteiro-direito, ora como ponta-de-lança.
Na época, o Corinthians era comandado por Luís Alonso Peres, o Lula, técnico bonachão recordista de títulos no Santos, que faleceu em junho de 1972. O time corintiano era formado por Diogo; Osvaldo Cunha, Ditão, Luís Carlos e Maciel; Edson Cegonha e Rivelino; Buião, Paulo Borges, Flávio e Eduardo.
Em 1971 Paulo Borges foi emprestado ao Palmeiras e ainda jogou no Nacional de Manaus. Ao encerrar a carreira radicou-se em São Paulo, trabalhando em escolinhas de futebol para garotos.
Em 2004, com a proximidade de seu centenário, o Bangu homenageou a patota de 1966, e Paulo Borges “matou” saudade de antigos companheiros. Os ausentes foram Ari Clemente e Ladeira. Mário Tito morreu em 1994.

sábado, 29 de novembro de 2008

Mazzola, dupla nacionalidade

Por Élcio Paiola (interino)

Geralmente ex-jogador de futebol que envereda para a função de comentarista esportivo evita críticas contundentes a boleiros, por já ter sentido o peso desses comentários. Como toda regra tem exceção, pode-se dizer que o piracicabano João José Altafini, o Mazzola, é uma delas.
Língua afiada, não poupa jogadores com atuações comprometedoras nas análises das partidas do Campeonato Italiano, quer no rádio, quer na TV. Mazzola foi atacante dos bons entre as décadas de 50 e 70 e é intolerante com o chamado “cabeça-de-bagre”.
Altafini ganhou o apelido de Mazzola ainda no Clube Atlético Piracicaba em 1954, no início de carreira. A justificativa era a semelhança com o jogador Valentino Mazzola, ídolo do Torino na década de 40. A transferência ao Palmeiras deu-se em 1956, ocasião em que se transformou num dos principais ídolos de todos os tempos do clube, apesar da passagem por apenas dois anos. No alviverde disputou 114 jogos e marcou 85 gols.
A montanha de dinheiro oferecida pelo Milan, da Itália, jamais poderia ser recusada e, com parte do dinheiro, o Palmeiras contratou a ala direita da Portuguesa, formada pelo lateral Djalma Santos e o ponteiro Julinho Botelho (já falecido).
Antes da despedida, Mazzola integrou o selecionado brasileiro que sagrou-se campeão mundial na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, tendo participado das duas primeiras partidas. Na estréia contra o Áustria, na goleada por 3 a 0, marcou dois gols e o outro foi anotado pelo lateral-esquerdo Nilton Santos. O time, comandado pelo técnico Vicente Feola, jogou com Gilmar; De Sordi, Belini, Orlando e Nilton Santos; Dino Sani e Didi; Joel, Mazzola, Dida e Zagallo.
Originariamente Mazzola era centroavante, embora se adaptasse bem à função de ponta-de-lança. Contra a Áustria jogou na sua posição, formando dupla de ataque com Dida. Na segunda partida, no empate sem gols com a Inglaterra, atuou como segundo atacante, pois o camisa nove foi Vavá, e Dida perdeu a posição.
Diante da União Soviética, com Pelé recuperado de contusão, Mazzola ficou de fora e o Brasil ganhou por 2 a 0, gols de Vavá. Feola havia escalado o volante Zito no lugar de Dino Sani e Garrincha entrou no posto de Joel. Consta da biografia de Mazzola na Seleção 11 jogos e oito gols.
Filho de italianos, três anos depois da transferência àquele país, ganhou dupla cidadania e passou a integrar a seleção da Itália. Na época, a Fifa permitia dupla nacionalidade de jogador em Mundial e, assim, Mazzola participou do fiasco da squadra azzurra no Chile, na Copa do Mundo de 1962, quando a equipe sequer passou à segunda fase.
A redenção do atacante foi em âmbito doméstico, no futebol italiano, com continuidade no Napoli e Juventus de Turim. Ele ganhou o mesmo respeito de ídolos como Luigi Riva, Gianni Rivera, Dino Zoff, Paolo Rossi, Francesco Totti, Fabio Cannavaro, Luca Toni, Alessandro Del Piero e Gianluigi Boffon.
Quando encerrou o ciclo como jogador na Itália, em 1976, Mazzola se convenceu que tinha bola para prolongar a carreira no futebol suíço e lá jogou no Chiasso e Mendrisio Star, onde pendurou as chuteiras em 1981, aos 43 anos de idade.
Anualmente Mazzola vem ao Brasil e a última vez foi em junho passado, quando se emocionou ao reencontrar campeões mundiais de 50 anos, em Brasília, num jantar.

Marinho com jeito de Marião

Por Élcio Paiola (interino)


O jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo já nos brindou com um delicioso texto sobre diminutivo. Em determinado trecho citou que no Brasil usa-se o diminutivo principalmente em relação à comida. Também em mesa de bar é natural o pedido de cervejinha e bem geladinha. São diminutivos devidamente incorporados ao cotidiano. Estranho, convenhamos, é se chamar um brutamonte de Marinho, como é o caso do ex-zagueiro flamenguista dos anos 80.
Digamos que na infância e adolescência, em Londrina (PR), sua cidade natal, Mário Caetano Filho fosse franzino, induzindo o apelido no diminutivo. Quando adulto, com quase 1,90m de altura, ombros largos e caixa torácica avantajada, evidentemente estava mais para Marião. Paradoxalmente no futebol os “ao” se transformam em “inho” e vice-versa.
Após ter sido mal avaliado pelo São Paulo, em 1977, Marinho se deu bem no Flamengo de 1980 a 1984, e conquistou todos os títulos cobiçados por um boleiro. Em 1981 foi campeão carioca, da Libertadores da América e do Mundial Interclubes. Colocou faixas três vezes no Brasileirão: em 80, 82 e 83.
Tanto na finalíssima da Libertadores como no Mundial formou dupla de zaga com Mozer. Na competição sul-americana, Flamengo e Cobreloa, do Chile, venceram em seus domínios e, conforme o regulamento da época, o campeão saiu do jogo extra no Uruguai. Por sinal, um jogo conturbado, a exemplo do segundo, no Estádio Nacional, em Santiago, capital chilena. É que o árbitro uruguaio Ramon Barreto fez de conta que não viu o zagueiro Mato Soto, do Cobreloa, abrir o supercílio de Marinho, cortar uma das orelhas de Lico e acertar o olho de Tita.
Aí, o Flamengo foi para o terceiro jogo com espírito vingativo. O meia Zico deu show, marcou os dois gols da vitória flamenguista por 2 a 0 - aos 18 e 34 minutos do 2º tempo - e o técnico do time brasileiro, Paulo César Carpegiani, foi imprudente ao recomendar ao atacante Anselmo que entrasse em campo para ajustar contas com Mario Soto.
Assim, aos 42 minutos, após entrar no lugar de Nunes, o obediente Anselmo se aproximou do zagueiro chileno e desferiu-lhe um forte soco no rosto, provocando nocaute. Evidente que Anselmo não ficaria dando sopa para irados chilenos. Sequer esperou o cartão vermelho e saiu no pique, logicamente perseguido por um bando de inimigos.
Pronto. O Flamengo estava duplamente vingado: na bola e no tapa.
Emoção maior de Marinho apenas por ocasião do título mundial em Tóquio, no Japão, na goleada sobre o Liverpool, da Inglaterra, por 3 a 0, com dois gols de Nunes e um de Adílio.
Na época, o Flamengo tinha um time ofensivo, e contava basicamente com a pegada de Andrada no meio-de-campo, porque Adílio, Lico e Zico eram jogadores de criação. Como os laterais Leandro e Júnior apoiavam sistematicamente o ataque, invariavelmente os zagueiros Mozer e Marinho ficam mano a mano com atacantes adversários e davam conta do recado. Eis o melhor Flamengo de todos os tempos: Raul: Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.
Marinho foi um zagueiro do tipo André Dias, do São Paulo, com o diferencial da maior estatura. Com a saída de Mozer, formou dupla de zaga com Figueiredo. Depois passou por Botafogo (RJ) e encerrou a carreira em Londrina, onde está radicado aos 53 anos de idade.

Jairzinho, furacão da Copa de 70

Por Élcio Paiola (interino)


Em 1970, o Galvão Bueno da televisão brasileira era Geraldo José de Almeida, com transmissões de futebol caracterizadas por bordões do tipo "vamos Brasil, porque a tua fé te empurra".
O narrador identificava Pelé como "craque café"; Rivelino era o "reizinho do parque"; Gerson o "chuteira de ouro", e quando a bola caía nos pés de Jairzinho, Geraldo José de Almeida estufava o peito, empostava a voz, e o identificava como "furacão da Copa".
O mulato Jair Ventura Filho fez jus ao bordão. Entrou para a história das Copas como único jogador a marcar gol em todas as partidas. Foram dois na goleada por 4 a 1 sobre a Tchecoslováquia; foi dele o gol no apertado 1 a 0 sobre a Inglaterra; marcou na vitória por 3 a 2 sobre a Romênia; repetiu a dose nos 4 a 2 diante do Peru; no 3 a 1 contra o Uruguai; e 4 a 1 na conquista do tricampeonato sobre a Itália. Portanto, sete gols em seis jogos. E nem por isso foi artilheiro da competição. Muller, da Alemanha, fez 10 gols.
Curioso é que às vésperas daquela Copa Jairzinho era reserva do ponteiro-direito Rogério. Outra curiosidade é que Jairzinho só vestiu a camisa sete na Seleção Brasileira. Sua posição originária era ponta-de-lança. Admitiu ser deslocado para a ponta porque o técnico Zagallo abdicou de especialistas nas extremas, tanto que o meia Rivelino jogou com a camisa 11.
Jairzinho nasceu no dia de Natal (25 de dezembro), em 1944, e em 1958 era gandula do Botafogo-RJ. E de pegador de bola no Estádio São Januário se transformou em artilheiro no time juvenil do "Fogão.
Aos 20 anos de idade teve a responsabilidade de vestir a camisa 10 de Amarildo, e caiu no gosto da galera. Das 82 partidas disputadas em 1964 marcou 34 gols. Ele explorava as passadas largas e facilidade para finalizar, virtudes determinantes para que fosse relacionado à Copa de 1966, jogando contra Bulgária, Hungria e Portugal.
A trajetória de Jairzinho na Seleção Brasileira se prolongou até 1974, ocasião em que completou 107 jogos, 87 deles considerados oficiais. E se despediu com histórico de 44 gols.
Jairzinho brilhou igualmente no Botafogo até 1974, quando se transferiu para o Olimpique de Marselha, na França. Dois anos depois, de volta ao Brasil, sagrou-se campeão da Taça Libertadores da América pelo Cruzeiro, teve passagens por Wilstermann da Bolívia e Portuguesa da Venezuela, ocasião em que estava na torturante estrada da volta do futebol. Mesmo assim, brindou torcedores do Noroeste, de Bauru (SP), e Fast Clube (AM), com algumas boas jogadas.
O encerramento de carreira tinha que ser no Botafogo e aconteceu em 1981, em retribuição ao reconhecimento do clube que o colocou na galeria dos principais ídolos de sua história.
O botafoguense da velha guarda jamais esquecerá o gol de letra marcado por Jairzinho na goleada por 6 a 0 sobre o arquiinimigo Flamengo, em 1972.
Jair Ventura Filho ainda está ligado ao futebol, empresariando jogador. E como tem bom discernimento para avaliar "boleiros" foi o descobridor do atacante Ronaldo “Fenômeno”. Por essas e outras a sua agenda está sempre comprometida com negócios.

Éder, o canhão

Por Élcio Paiola (interino)


Quando o ex-ponteiro-esquerdo Éder Aleixo Assis observa fãs com descontrolável assédio ao meia Kaká, do São Paulo, de certo comenta com amigos que “esse filme” não só assistiu como foi protagonista. Nos tempos de boleiro, Éder era boa pinta, vestia-se elegantemente e às vezes tinha que se desvencilhar dos agarrões da mulherada.
Éder tem pouco mais de 1,80m de altura e no auge da forma, na década de 80, dirigia carros importados e tinha hábito de não acompanhar ônibus de delegações de clubes pós-jogo. Naquelas ocasiões, alguns amigos estavam sempre a esperá-lo em portas de estádios, conduzindo o carro chic.
No campo, Éder era unanimidade. Arrancava aplausos por causa do chute forte, com efeito, e geralmente mortífero. Narradores de futebol não se cansavam de gritar gols que ele marcava do “meio da rua”, uma metáfora criada há décadas para caracterizar o chute de longa distância ao gol adversário, e que ainda resiste.
Éder atravessou o melhor período da carreira em 1982, levado pelo técnico Telê Santana aquele memorável selecionado brasileiro que tinha “cara” de campeão, na Copa do Mundo da Espanha, mas foi atropelado pelos gols do atacante Paolo Rossi e sua Itália.
Naquele Mundial, Éder marcou um golaço na vitória por 2 a 1 sobre a extinta União Soviética e na goleada por 4 a 1 diante da Escócia. Ele fez parte daquela “patota” que tinha Waldir Peres; Leandro, Oscar, Luizinho e Júnior; Falcão, Sócrates, Zico e Toninho Cerezo; Serginho e Éder.
É um equívoco citar Éder como um ponta veloz. Também exagera quem o rotula de ex-jogador fora de série. A principal virtude era bater na bola, mas também sabia dominá-la. Conseguia escapar de marcadores e arrancava aplausos como lançador. Assim, com bola estilada de 40 metros, colocava companheiros na “cara” do gol.
Éder não era ponteiro de fazer jogadas de fundo de campo e nem precisava. Quando chegava ao lado da grande área, pelo lado esquerdo, o passe era invariavelmente com precisão. Foi assim no Grêmio (RS), Atlético (MG), Palmeiras e Inter (SP), porque as passagens por Santos, Sport Recife, Botafogo (RJ), Cerro Porteño (Paraguai), Fenerbach (Turquia), União de Araras (SP), Monte Claro (MG), Atlético (PR) e Cruzeiro foram discretas.
Éder está radicado em Belo Horizonte e se transformou num empresário de posto de combustível. Sonha romper o seleto grupo de treinadores e espera transmitir à boleirada o muito que aprendeu ao longo da carreira. Como bom discípulo, absorve os segredos para se transformar num respeitável comandante de grupo. E sabe que para ser bem sucedido na carreira de treinador não basta só conhecer o “riscado”. Mais importante é saber como executá-lo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Edson Arantes, um outro Pelé

Há 31 anos o “rei” Pelé pendurou as chuteiras profissionalmente no Cosmos, dos Estados Unidos. De lá pra cá surgiram candidatos a destroná-lo, mas tudo ficou no ensaio. E isso nos remete ao inevitável questionamento: por que ainda não surgiu um outro Pelé? Não vai surgir?
Num mundo onde o homem supera suas marcas, de avanços tecnológicos até inimagináveis, já passou do tempo de surgir um outro Pelé, que foi um atleta completo nos fundamentos. Embora destro, usava muito bem o pé esquerdo. Tinha invejável impulsão para o cabeceio, apesar da estatura de 1,71m. Resumindo: atingiu a marca insuperável de 1.282 gols na carreira.
Se não há adjetivo para qualificar o jogador Pelé, o homem Edson Arantes do Nascimento, aniversariante neste 23 de outubro, sempre se envolveu em polêmicas. Agora, com 68 anos de idade, está solteiro. Desde fevereiro passado está separado da cantora gospel Assíria Lemos, cujo relacionamento matrimonial de 13 anos resultou em dois filhos (gêmeos).
Este foi o segundo casamento rompido por Pelé. Ainda garotão se casou com Rosimeri Cholbi e ambos tiveram três filhos: Kelly Cristina, Edson Cholbi Nascimento (Edinho) e Jennifer.
Fora dos casamentos Pelé teve mais duas filhas: Flávia Kurtz e Sandra Regina Arantes do Nascimento Felinto. A rigor, a Justiça o obrigou a reconhecer a paternidade de Sandra em 1996, em processo que tramitou desde 1991.
Sandra, que era vereadora em Santos, morreu no dia 18 de outubro de 2006, vítima de desdobramento de um câncer de mama. Na ocasião, Pelé foi questionado pela ausência no velório. Preferiu apenas enviar uma coroa de flores.
Pelé passou dissabores com o filho Edinho, que ficou preso em Tremembé - a 135 quilômetros de São Paulo – acusado de crime de lavagem de dinheiro. Edinho foi um goleiro só razoável nos tempos de Santos, Bahia e Ponte Preta.
De 1995 a 1998, Pelé dormia e acordava sonhando com o final da lei do passe, quando foi ministro dos Esportes no governo Fernando Henrique Cardoso. Argumentava que jogador de futebol não podia ser escravo de clubes. Aí, a vigência da Lei Pelé trucidou a “galinha de ouro” dos clubes, ou seja, o bom dinheiro com a venda do passe do atleta. Logo, foi odiado por cartolas.
Pelé foi comentarista esportivo da TV Globo e frequentemente emitia opiniões na mídia sobre assuntos polêmicos. A rápida repercussão rendeu-lhe inimizades, uma delas com o ex-atacante Romário, que respondeu críticas em tom agressivo: “O Pelé de boca fechada é um poeta. Quando ele abre a boca sai merda”.
A propósito, quem nasce em Três Corações, como Pelé, é? Enquanto você pensa, saiba que o “rei” aprendeu a “bater” de tanto apanhar. Em jogo do Santos contra o Cruzeiro, pela Taça do Brasil de 1968, atingiu o zagueiro Procópio, provocando rompimento de ligamentos do joelho.
Em 1965, quebrou a perna de Kiesman, na vitória do Brasil sobre a Alemanha Ocidental por 2 a 0. Na Copa do Mundo de 1970, na semifinal contra o Uruguai, o zagueiro Dagoberto Fontes pisou em sua mão, quando estava caído, e posteriormente descontou com uma cotovelada.
Saiba, ainda, que esse tricordiano (nascido em Três Corações) é compositor, tentou ser ator (participou de dez filmes), transformou-se num bem sucedido empresário e ainda é requisitado para “estrelar” em comerciais.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Zagueiraço Dario Pereyra

Dos 52 anos de idade completados no dia 19 de outubro passado, o uruguaio Dario Alfonse Pereyra, natural de Sauce, passou 31 deles no Brasil, e não se pode dizer que fala português fluentemente. Quanto muito arrasta um “portunhol”, coisas desses gringos platinos. Foi assim com seus conterrâneos Pablo Furlan e Pedro Virgílio Rocha, ex-lateral e meia são-paulinos, respectivamente na década de 70.
Rocha foi um extraordinário meia quer na organização, quer na complementação de jogadas. Pena que não prosperou como treinador.
A rigor, Dario também projetava próspera carreira como treinador, mas ficou marcado apenas como um dos melhores zagueiros do São Paulo de todos os tempos.
Dario foi um volante que deu certo como meia de armação e principalmente como zagueiro no tricolor paulista, a partir de 1980, quando o então técnico Carlos Alberto Silva decidiu recuá-lo para o setor em jogo contra a Ponte Preta.
Naquele período, com aparições contínuas de jogadores talentosos em todas as posições, era admissível aqueles de estilo clássico recuarem para a defesa, principalmente quando incorporavam determinação e capacidade para o desarme.
Dario sabia tomar a bola de hábeis atacantes adversários e, na maioria das vezes, limpava a jogada antes do bom passe. Sua impulsão também era invejável. Ao lado de Oscar formava uma dupla de zaga quase intransponível por cima.
Com 19 anos de idade, em seu país, Dario era titular absoluto do Nacional. Aos 21 anos exibia a braçadeira de capitão do selecionado uruguaio, ocasião em que se transferiu para o São Paulo, sem contudo assumir a camisa titular de imediato. Estreou dois meses depois da chegada, com início marcado por seqüência de contusões.
Depois, quando as coisas se encaixaram, permaneceu no São Paulo durante 11 anos. O histórico é de 451 partidas, 38 gols e títulos do Paulistão em 1980/81/85/87 e pelo Campeonato Brasileiro em 1977/86. Em 1977, na dramática final contra o Atlético (MG), o time são-paulino era formado por Waldir Peres; Getúlio, Tecão, Bezerra e Antenor; Chicão, Teodoro e Dario Pereyra; Viana, Mirandinha e Zé Sérgio.
Evidente que um jogador com aquelas virtudes era requisitado seguidamente em convocações ao selecionado uruguaio, a contragosto de dirigentes são-paulinos, obrigados a liberá-lo. E com a camisa azul-celeste realizou 34 partidas.
Em 1988, com 32 anos de idade, contemplado pelo benefício da antiga Lei do Passe, topou disputar 12 jogos do Campeonato Brasileiro pelo Flamengo, e, no ano seguinte, jogou no Palmeiras. Em 1990 passou pelo Atlético (MG) e foi buscar dólares no Osaka, do Japão, na época chamado de Matsushita Eletronic. O encerramento da carreira foi em 1992.
O uruguaio viveu um drama com a morte da mulher Elenita Caparroz Pereyra em 24 de março de 1994. Durante cirurgia de lipoaspiração, os intestinos dela foram perfurados, resultando em infecção generalizada.
Com bom “trânsito” no São Paulo, ganhou chance de comandar garotos da categoria de base do clube, até que em 1997 foi promovido à função de treinador da equipe principal. Outras oportunidades surgiram no Coritiba, Atlético (MG), Guarani, Corinthians, Paysandu e Grêmio, mas não vingou.
Depois, estagiou como gerente de futebol no Avaí, de Santa Catarina, e agora é funcionário da Traffic. Desempenha a função de consultor.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lições do tropeço

Na goleada da Seleção Brasileira de futebol sobre a Venezuela, no domingo 12 de outubro, pelas Eliminatórias à Copa do Mundo de 2010, foi reconhecido, neste espaço, os méritos do técnico Dunga ao estimular seus jogadores para finalizarem de qualquer distância. Assim foi feito, os gols saíram, e um jogo supostamente difícil ficou fácil, pelas circunstâncias.
Com o mesmo princípio de racionalidade de se atribuir méritos naquela vitória, tem-se que enfatizar, aqui, parcela significativa de culpa ao treinador no tropeço do time brasileiro diante da Colômbia, no empate sem gols de quarta-feira (15 de outubro), no Rio de Janeiro. A outra parte da culpa é dos jogadores.
Vamos elencar, inicialmente, um erro de planejamento na convocação de atacantes para os últimos dois jogos. Ao requisitar o “pendurado” Adriano, com risco iminente de suspensão por cartão amarelo, devia ter chamado também um outro atacante cabeceador. Sem Adriano, a projeção lógica seria a necessidade do tal cabeceador contra a Colômbia, convencionando-se que o Brasil abusaria de bola alçada à área adversária.
Dunga também já devia ter buscado novas opções para as laterais. Maico é um lateral “tanque” desprovido de técnica para criar jogadas pelo lado direito do ataque. Depende de tempo para treinamento e organização de jogadas pelo setor. Como isso é impossível nesses jogos “picados” de eliminatórias à Copa do Mundo, o melhor seria buscar outras alternativas, uma delas o bom lateral Léo Moura, do Flamengo, que sabe fechar em diagonal e completa as jogadas.
Contra a Colômbia, a omissão do lateral-esquerdo Cléber foi irritante. Ele tem um bom passe, bom domínio de bola, mas não quis se expor. Raramente chegou a intermediária adversária. Mais parecia um terceiro volante marcando pelo lado esquerdo. E, com a bola, preferiu, na maioria das vezes, ligação direta ao ataque, com lançamentos equivocados. Portanto, muito mal os dois laterais.
Imperdoável Dunga manter ao longo da partida de quarta-feira dois volantes marcadores, que sequer corresponderam neste quesito, casos de Gilberto Silva e Josué. Ambos foram envolvidos incontáveis vezes e, com isso, meias e atacantes colombianos ficaram de “mano” com os zagueiros Lúcio e Juan. Ainda bem os zagueiros do Brasil corresponderam e evitaram o pior.
Na complementação do quarteto de meio-de-campo, apenas Kaká exigiu dura marcação dos adversários. Elano tocava a bola sem objetividade, mas nem por isso devia ser substituído. O ideal seria recuá-lo para o lugar de Gilberto Silva ou Josué, para a lógica entrada de Mancini, que também não correspondeu.
Mesmo com todos esses desajustes, esperava-se um lampejo de Kaká e Robinho para definição da partida. Infelizmente ambos sucumbiram. Robinho foi uma presa fácil aos marcadores, fixado indevidamente apenas na faixa esquerda do campo. Kaká tentou, pelo menos, escapar da rígida vigilância.
Com tudo isso, o que esperar do apenas razoável Jô isolado no ataque?
A Colômbia? Sim, montou duas linhas de quatro na defesa, com o diferencial de que ao retomar a posse de bola usava e abusava do toque miúdo. Assim, a levava até as proximidades da defesa brasileira. Ainda bem que não tinha atacantes de conclusão.
Lição? Não pode haver erro em convocações e passou do tempo do Brasil contar no time com um exímio cobrador de faltas. De repente, num lance de bola parada, um jogo trincado, difícil, muda de rumo.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Chicão, caipira que se impunha

Francisco Jenuíno Avanzi, o volante Chicão, sonhava ser treinador de futebol de clube médio, após experiências passageiras por XV de Piracicaba, Inter de Limeira, Clube Atlético Montenegro e Paranapanema, todos do interior de São Paulo.
E teria muitas histórias para contar aos subordinados, a começar pela perseverança na carreira, que se arrastou até 1986, aos 37 anos de idade, quando foi o condutor da campanha de acesso do Mogi Mirim (SP) ao Paulistão.
Chicão também poderia contar que no último ano de carreira estava sem os quatro meniscos, e que em 1977, na decisão do Campeonato Brasileiro contra o Galo mineiro, maldosamente pisou na perna quebrada do meia Ângelo (já falecido), do Atlético (MG), só por suspeitar que estivesse fazendo “cera”. A brutalidade ocorreu após entrada do são-paulino Neco sobre o atleticano, que resultou em fratura.
Pois é. Não deu tempo para Chicão realizar o sonho. Morreu na madrugada do dia 8 de outubro, aos 59 anos, vítima de câncer no esôfago.
Chicão, natural de Piracicaba (SP), mantinha o indisfarçável sotaque caipira, carregando no “erre”. Nos últimos anos optou pelo rosto lambido ao vasto bigode.
Seus amigos contam que décadas passadas entrou em uma loja de São Paulo e, ao pagar a conta, “tropeçou” no preenchimento do cheque ao grafar a palavra sessenta cruzeiros. Detalhe: após preencher o extenso incorretamente duas vezes, optou por assinar dois cheques de trinta cruzeiros para liquidar o assunto.
Chicão foi o admirável xerife que colocava ordem na casa. Nos tempos em que a “juizada” contemporizava antes de mostrar cartão amarelo ou vermelho para jogadas violentas, o volante não perdia “viagem” nas divididas: desarmava ou apelava para as faltas.
Provocativo, Chicão tentou intimidar o ex-árbitro José de Assis de Aragão antes de um clássico com o Palmeiras, em 1976, e recebeu o cartão amarelo antes mesmo do início da partida. “Cheguei pro Aragão e disse: ‘Vê se apita direito essa porcaria’”, confessou.
A história de jogador viril começou no XV de Piracicaba, lançado pelo técnico Cilinho. Passou por União Barbarense (SP), São Bento (SP), Ponte Preta, São Paulo, Atlético (MG), Santos e Mogi Mirim. No tricolor paulista, a partir de 1973, jogou ao lado de Waldir Peres, Gilberto Sorriso, Pedro Rocha e Serginho Chulapa. Sagrou-se campeão paulista em 1975 e no Campeonato Brasileiro em 1977.
Integrou o selecionado brasileiro na Copa do Mundo de 1978, na Argentina, e, na véspera do jogo contra os anfitriões, o técnico Cláudio Coutinho (já falecido) lhe chamou num canto e comunicou que seria escalado ao lado do gaúcho Batista para reforçar a marcação do meio-de-campo.
- Chicão, você vai jogar do jeito que está acostumado no São Paulo. Só tome cuidado para não ser expulso - alertou Coutinho.
Mal o treinador virou às costas, Chicão confidenciou aos companheiros: “Vou chegar arrepiando e esses gringos vão se encolher”.
Na prática, foram apenas algumas “entradas” intimidadoras sobre adversários. Naquele dia, Chicão jogou muita bola e o Brasil arrancou um empate sem gols. Pena que na seqüência da competição, por desvantagem no critério saldo de gols, os brasileiros perderam a vaga para os platinos e voltaram pra casa mais cedo.
Engana quem pensa que Chicão só “batia”. Tinha um bom passe.

Careca, o craque

Por Ariovaldo Izac

Em uma de suas centenas de entrevistas, o ex-atacante Careca sugeriu que os clubes de futebol contratassem preparadores de artilheiros, como se tem para goleiros. De certo Careca também fica indignado ao observar atacantes perderem gols feitos, contrastando com o seu tempo de jogador. Ele matava a bola no peito com elegância, já ajeitando-a para disparar antes da queda ao chão. Foi assim que fez dezenas de gols.
A sugestão para que um profissional ensine os atalhos do gol adversário não é nova. O Flamengo chegou a adotá-la e o “professor” foi o “matador” Nunes.
A mídia gaúcha compara o estilo de Alexandre Pato ao de Careca: conjunto de habilidade, velocidade e frieza nas finalizações. E Careca não discordou quando entrevistado pelo jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no início deste ano. O diferencial é que décadas passadas, quando Careca surgiu no futebol, clubes europeus só importavam jogadores consagrados no País, com passagens pela Seleção Brasileira. Hoje, bastam algumas atuações destacadas para que o atleta ganhe um contrato milionário no exterior.
E ponha milionário nisso, comparou o próprio Careca, ao mesmo veículo de comunicação. “O jogador médio ganha em um mês o que o craque não recebia em um ano”.
Por que Careca? Porque era fã do palhaço carequinha quando recolhia bolinhas de tênis arremessadas fora das quadras, em clubes de Araraquara, sua cidade natal. Mas enveredou para o futebol, e aos 17 anos foi campeão brasileiro pelo Guarani de Campinas (SP), em 1978, na decisão contra o Palmeiras.
Ainda no Guarani, em 1981, ganhou a primeira oportunidade de servir a Seleção Brasileira. E, às véspera da Copa do Mundo de 1982, na Espanha, foi cortado após sofrer lesão muscular.
Nova chance de disputar uma Copa do Mundo surgiu em 1986, quando já estava no São Paulo. O Brasil foi eliminado pela França e restou ao araraquarense brilhar no tricolor paulista, onde chegou em janeiro de 1983, com a responsabilidade de substituir Serginho Chulapa. Assim, foi bicampeão paulista - 1985/86 - e campeão brasileiro em 1986, curiosamente contra o Guarani, em Campinas.
O São Paulo perdia por 3 a 2, na prorrogação, quando Careca acertou um chute indefensável aos 120 minutos de partida, transferindo a definição através de cobranças de pênaltis. Careca desperdiçou a sua cobrança, mas o Bugre errou mais. Assim, o São Paulo festejou o título. Naquela competição, ele marcou 25 gols.
Naquela época, o São Paulo tinha um timaço. Lá estavam Pita, Careca, Muller e Sidnei “Trancinha”. O técnico Cilinho montou a base e Pepe deu seqüência.
Careca fez sucesso no Nápoli, ao lado de Maradona. Ambos transformaram uma equipe modesta em respeitadíssima no futebol italiano, com dois títulos no campeonato nacional e uma Copa da Itália, no período de 1987 a 1993. Também jogou no Kashiwa Reysol, do Japão, até 1996. Depois, de volta ao futebol brasileiro, atuou no Santos e encerrou a carreira no São José, em 1999.
Por essas e outras teve motivos de sobra para comemorar o 48º aniversário no dia 5 de outubro. Não bastasse a bonita carreira como jogador, teve a ousadia de criar, em 1998, o terceiro clube profissional de Campinas, integrante da Série B-1 do Campeonato Paulista (quarta divisão), caprichosamente chamado de Campinas Futebol Clube.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Ferreira Pinto, o mestre

Décadas passadas, receitas de quadros associativos de clubes ajudavam a abastecer deficitários departamentos de futebol. Bons tempos em que os clubes cadastravam em fichários milhares de sócios que usufruíam principalmente das piscinas. Hoje, elas estão esvaziadas. Os usuários migraram para áreas de recreação em condomínios, casas de campo e passaram a frequentar praias com mais frequência.
Até meados da década de 80, o Clube Atlético Juventus, de São Paulo, teve 137 mil associados, número inigualável na América Latina. O complexo está instalado no alto da Mooca, na capital paulista, numa área de 85 mil metros quadrados. A sede administrativa do clube é imponente. São 5 mil metros quadrado de área construidas, distribuídas em seis pavimentos.
Naquele período, o clube foi presidido por um dos mais influentes dirigentes de futebol: José Ferreira Pinto, o Zé da Farmácia, já falecido. Sua voz tinha peso nas reuniões do Conselho Arbitral da Federação Paulista de Futebol e, logicamente, seu Juventus sempre acabava beneficiado quando estava na iminencia de rebaixamento.
Oras, como um clube com uma estrutura social invejável como aquela montava apenas timinhos de futebol? Simples. Os “piscineiros”- sócios do complexo poliesportivo - ainda se dividem em palmeirenses, corintianos e são-paulinos que aproveitam a ótima localização do clube. Assim, ainda hoje, quando o time do Juventus está em campo, no Estádio Conde Rodolpho Crespi - a acanhada Rua Javari -, apenas as costumeiras testemunhas arriscam tímidos aplausos aos jogadores.
Curioso é que mesmo montando equipes modestas, ao longo dos anos, o Juventus “pregava” surpresas nos chamados grandes clubes, e por isso recebeu o carinhoso apelido de “Moleque Travessos”. Lembram-se de Ataliba? Era um ponteiro-direito catimbeiro, veloz e imprevisível. Tanto perdia gols feitos, como também fazia outros de raríssima beleza.
No século passado, grandes jogadores defenderam o Juventus. Júlio Botelho, o Julinho, foi um deles. Oberdã, Félix, Miguel, Pinga e Rodrigues também passaram pela Rua Javari.
O “Moleque Travesso” conquistou o título da Taça de Prata de 1983 - atual série B do Campeonato Brasileiro -, ao ganhar do CSA (Centro Sportivo Alagoano) por 1 a 0 no Estádio do Parque São Jorge, com gol de pênalti do volante Paulo Rodrigues. O técnico era Candinho e o time contava com Carlos; Nelsinho Batista, Deodoro, Nelsinho e Bisi; César, Gataozinho e Paulo Martins; Sidnei (Ilo), Bira e Cândido (Mário).
A história do Juventus começou a ser contada em 20 de abril de 1924 por funcionários do Contonifício Rodolpho Crespi com o nome Extra São Paulo. Em 1928, a primeira mudança para Contonifício Rodolpho Crespi Futebol Clube. Só em 1930 se transformou em Clube Atlético Juventus.
Três anos depois, com o advento do priofissionalismo, o nome foi trocado mais uma vez: Clube Atlético Fiorentino, campeão do Campeonato Amador de São Paulo de 1934. E como os dirigentes decidiram aderir ao profissionalismo em 1935, o time voltou a ser identificado como Clube Atlético Juventus.
A exemplo de Ferreira Pinto, décadas passadas surgiam aos montes voluntários no futebol. Antonio Soares Calcada, presidente de honra do Vasco da Gama, esteve ligado ao clube cruzmaltino durante 40 anos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Narciso, exemplo de superação

Vinte e sete de setembro é um dia especial para o ex-zagueiro Narciso, do Santos. Por se tratar do Dia Nacional do Doador de Órgãos, ele terá motivos de sobra para repetir sua heróica história de perseverança ao vencer a leucemia mielóide crônica.
A doença foi diagnosticada em 2000 e, na ocasião, os médicos projetaram que ele teria de 30% a 40% de chances de sobreviver. Ainda bem que erraram. O então zagueiro foi curado após um transplante de medula óssea e ainda voltou a jogar futebol profissionalmente no Peixe, três anos depois. E, por gratidão a benção recebida, promove jogos beneficentes para doação de alimentos à Nacac (Núcleo de Amparo a Crianças e Adultos com Câncer), Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e Lar Santo Expedito, entidades de Santos.
O transplantado é monitorado pelo resto de sua vida, e isso implica em laço estreito com a equipe médica que o assistiu. Por isso, neste 27 de setembro, pacientes e doutores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) participam de uma “pelada” de confraternização no pesqueiro do empresário de futebol Dalécio Pastor, em Campinas. Pastor é um transplantado de fígado e lamenta o preconceito do brasileiro para doação de órgãos. “Só 6% de nossa população aceita doar, contra 16% dos Estados Unidos e 36% da Espanha”, comparou o anfitrião, que convidou Narciso para o evento.
Evidente que qualquer transplantado fica mais debilitado e, conseqüentemente, exposto a enfermidades. No caso específico de Narciso, não foi especificamente o transplante que pesou na decisão de encerrar a carreira de jogador, em 2004. O fato de só esquentar o banco de reservas, com o treinador Vanderlei Luxemburgo, tirou-lhe a motivação. Em seis meses, após a cirurgia, jogou só cinco vezes.
Foi o Santos, também, quem lhe abriu as portas para ingressar na função de treinador, inicialmente como auxiliar do técnico Márcio Fernandes na categoria de juniores, e agora efetivado na função com a promoção de Fernandes à equipe principal.
Requisitado freqüentemente para palestras a pessoas vitimadas por doenças graves, Narciso narra sua história de superação e consegue estimular pacientes. Conta que jogou no Santos durante cinco anos, e que pendurou as chuteiras aos 31 anos de idade. Cita que, no auge da carreira, quis o destino que passasse por aquela provação, ocasião em que contou com a solidariedade da esposa Miradeide. Foi o período de sessões de quimioterapia até o transplante.
Como jogador, a história deste sergipano de Neópolis, nascido em dezembro de 1973, começou no Corinthians de Alagoas. A primeira experiência no futebol paulista foi no Paraguaçuense. Depois, transferiu-se para o Santos, passou rapidamente pelo Flamengo, por empréstimo, e, mais experiente, não estranhou adaptação à função de volante.
Narciso foi medalha de bronze com a seleção olímpica do Brasil em 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos, e atuou oito vezes na seleção principal do País, entre 1995 e 1998. A mais gratificante experiência como jogador foi no time santista de 1995, vice-campeão brasileiro, formado por Edinho; Marquinho Capixaba, Ronaldo Marconato, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Giovanni, Robert e Jamelli; Camanducaia e Marcelo Passos. O Botafogo (RJ) foi campeão.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Boiadeiro, agora no pasto

Foi no grande Cruzeiro, do início da década de 90, que o meio-campista Marco Antônio Boiadeiro atingiu o auge da carreira. E a recompensa foi a convocação à Seleção Brasileira do técnico Carlos Alberto Parreira em 1993, para o Torneio US Cup nos EUA e Copa América no Equador. Boiadeiro atingiu a quinta partida no selecionado contra a Argentina jamais imaginando que o mundo desabaria sobre ele, na semifinal. É que na definição através de pênaltis, após empate em 1 a 1 no tempo normal, desperdiçou uma cobrança e o Brasil voltou para casa, enquanto a Argentina foi campeã com a vitória na final sobre o México, por 2 a 1.
Hoje, com 43 anos de idade, completados em 13 de junho passado, Boiadeiro conta essa e muitas outras histórias registradas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais aos novos amigos de Monte Aprazível, cidade paulista onde está radicado, e faz uma das coisas que mais gosta: cuidar de gado. Ali tem tempo de sobra para soltar a voz em músicas sertanejas. Na década de 80, a dupla Chitãozinho e Xororó testemunhou seu ritmo afinado quando se conheceram em Campinas.
A rigor, o apelido de Boiadeiro se justifica porque no lombo de um cavalo conduzia a boiada com eficiência nos pastos de Américo Campos, cidade paulista onde nasceu. E usava traje a caráter: bota de fivela, chapéu, calça apertada e cinturão. Foi assim que apareceu no Estádio Santa Cruz, do Botafogo de Ribeirão Preto (SP), para participar de um treino peneira, e orgulha-se de ter sido o único aprovado de uma leva de 39 garotos, em meados da década de 80.
Começava ali uma trajetória vitoriosa. No time principal do Botafogo juntou-se aos também novatos Raí e Peu, e ao experiente Mário Sérgio, em 1985. No ano seguinte, participou da campanha do Guarani no Campeonato Brasileiro, com perda do título na decisão através dos pênaltis, contra o São Paulo, em Campinas, após empate em 3 a 3 no tempo normal e prorrogação. E quis o destino que Boiadeiro perdesse um dos pênaltis cobrados pelo time bugrino.
No Vasco, a partir de 1989, Boiadeiro comemorou em alto estilo o primeiro título da carreira, na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, com gol de Sorato. O Vasco tinha um timão. Bebeto, que havia saído do Flamengo, juntou-se a Sorato, Boiadeiro, Luís Carlos Vinck, Mazinho e Bismarck, entre outros. Na ocasião, dos 71.552 pagantes, cerca de 25 mil eram vascaíno que invadiram o Estádio do Morumbi.
No Cruzeiro, desde 1991, Boiadeiro acostumou-se com títulos. Foi bicampeão da Supercopa da Libertadores da América 91/92 e campeão da Copa do Brasil em 93. No primeiro ano em Minas, sob o comando do técnico Ênio Andrade, já falecido, integrou o time formado por Paulo César Borges; Nonato, Paulão, Adilson Batista e Célio Gaúcho; Ademir, Marco Antônio Boiadeiro e Luiz Fernando (Macalé); Mário Tilico, Charles e Marquinhos. Na goleada por 3 a 0 sobre o River Plate, da Argentina, naquela final do dia 20 de novembro, o público no Estádio do Mineirão foi de 67.279 pagantes.
O desempenho no Cruzeiro refletiu em bons contratos no Flamengo, Corinthians e Atlético (MG), porém com rendimento aquém do esperado. E a fase decadente continuou no América (MG), Anápolis (GO), Rio Branco e União Barbarense, equipes do interior de São Paulo, até que em 2000 trocou a bola pela fazenda.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Lima, o coringa inigualável

Desde que você se entende por gente de certo já ouvia a frase de que “a torcida se constitui no 12º jogador”. Mas você sabe, também, que torcida não joga, não faz gols e às vezes até atrapalha quando vaia seu próprio time. O Santos da década de 60 pode dizer, sim, que teve um time de 12 jogadores. O Peixe contou com o melhor coringa do futebol brasileiro e quiçá do futebol mundial: Lima.
No Juventus, onde iniciou a carreira, Lima era volante, mas no Santos foi o reserva que sempre tinha lugar no time. Bastava qualquer titular se machucar para o técnico deslocá-lo na função. “Eu só não joguei de goleiro”, confessa esse sexagenário de cabelos grisalhos, barriga de chope e que se mantém ligado ao futebol coordenando uma escolinha para garotos, em Santos.
No Juventus, Lima um volante que desarmava sem abusar das faltas e tinha elegância na condução da bola. O Santos logo constatou essas virtudes e tratou de levá-lo à Vila Belmiro, em 1961.
Lima sequer havia passado perto de aeroporto e bastaram duas semanas no novo clube para conhecer a Itália, numa excursão do Santos. E as improvisações começam na lateral-direita, substituindo Getúlio. Depois, a experiência na lateral-esquerda. E como era um jogador forte na marcação, logicamente não estranhou as deslocações para o miolo de zaga.
Lima tinha facilidade para assimilar diferentes posições. “Bastava um treino no setor para me adaptar”, repetia sempre.
Evidente que não se poderia cobrar de Lima as atribuições de um ponteiro velocista, quando o improvisavam quer no lado direito, quer no lado esquerdo do ataque. Mas ele compensava com a facilidade para driblar e envolver adversários. E Lima tinha a vantagem de pegar bem na bola de média distância. Gols desse tipo lhes renderam moto-rádios e outros prêmios, determinados para o melhor jogador em campo.
Quando sequer cogitava-se polivalência para jogador de futebol, Lima era um dos raros exemplos de atleta completo. Era capaz de anular hábeis centroavantes nos tempos em que zagueiro não tinha a opção de jogar na sobra, quando a “treinadorzada” gritava, do banco, para cada zagueiro pegar um atacante.
Para justificar a fama de coringa, Lima era capaz, na mesma partida, de sair da zaga e se transformar em atacante perigoso. Por isso sempre arrumava um lugar no time, que tinha Gilmar; Getúlio, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe.
E quando Zito pendurou as chuteiras, Lima foi fixado como volante, sabendo, todavia, que seria o primeiro reserva de quaisquer dos titulares.
A versatilidade encurtou o caminho à Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. E depois do fiasco, sem “papas” na língua, criticou a falta de comando e julga ter sido esse o motivo para não ser relacionado à Copa do Mundo de 1970, no México, ocasião em que atravessava a melhor fase da carreira.
Em 1971, o coringa se transferiu para o Jalisco de Guadalajara, no México. Na seqüência, já no fim de carreira, voltou ao Brasil, defendendo o Fluminense.
Lima é concunhado de Pelé e, nos tempos de Santos, eram amigos inseparáveis. Ambos dividiam o mesmo quarto, quer em hotéis, quer nos alojamentos do clube.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Câncer derrota Moisés

Quando a mídia registrou a morte do zagueiro Moisés Matias de Andrade, no dia 26 de agosto, aos 60 anos de idade, enfatizou, de modo geral, que ele foi um zagueiro viril e às vezes violento. Reconheceu, também, que era um líder e atribuiu a causa da morte a um câncer no pulmão, sem detalhamento se a doença foi decorrente do tabaco ou não.
É sobejamente sabido que 90% dos casos de câncer no pulmão são desenvolvidos pelo tabagismo. Por sinal, o calendário comemorativo do ano apontou o dia 29 de agosto como o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Na ocasião, os fumantes foram bombardeados com campanhas alertando sobre malefícios do cigarro, e nos surpreendemos positivamente com estudos que mostraram a redução pela metade do número de fumantes nos últimos 17 anos, apesar do aumento da população.
Quanto a Moisés, foi um carioca de Resende que “descia o sarrafo”. Procurava intimidar atacantes “matando” seguidamente as jogadas. Valia-se da tolerância dos árbitros que só mostravam o cartão amarelo após a advertência verbal.
Na época, dezenas de treinadores mandavam bater. “Rasga”, era a recomendação mais repetida para se tirar a bola da defesa de qualquer maneira, mesmo que acertassem a perna do adversário. Houve um período em que se dizia “bola ou bolim”, numa referência que passa a bola e não passa o adversário. Era a clara orientação para se matar a jogada no nascedouro.
Moisés - com passagens por Bonsucesso, Vasco, Corinthians, Fluminense, Flamengo, Bangu, Paris Saint-Germain, Belenense, Atlético (MG) e América (RJ) - teve a fama de xerife, mas raramente foi expulso. Consciente de suas limitações técnicas, se impunha pela raça. “Zagueiro que se preza não pode ganhar o Belfort Duarte”, repetia, referindo-se ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desportos em 1945, e entregue ao atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.
Uma virtude de Moisés reconhecida unanimemente era no jogo aéreo. Com 1,79m de altura, se incumbia de devolver de cabeça as bolas alçadas. Teve passagens com sucesso no Vasco e Corinthians. No time carioca foi campeão brasileiro em 1974 jogando ao lado de Andrada, Miguel, Alcir, Fidélis e Alfinete, entre outros. Um ano antes, atuou uma partida pela Seleção Brasileira. Foi no dia 21 de junho contra a União Soviética.
No Timão, de 1976 a 1978, integrou o inesquecível time que quebrou jejum de títulos de 22 anos, no dia 13 de outubro de 1977, com a vitória sobre a Macaca por 1 a 0, no terceiro jogo daquela final do Campeonato Paulista. Moisés teve a sorte de marcar o centroavante Rui Rei só por 16 minutos, devido à expulsão dele por ofensas morais ao árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia (já falecido). O time corintiano, comandado pelo técnico Oswaldo Brandão (já falecido), comemorou o título atuando com Tobias; Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Wladimir; Ruço, Luciano e Basílio; Vaguinho, Geraldão e Romeu.
Como treinador, a única passagem destacada de Moisés foi no Bangu em 1985: vice-campeão brasileiro, perdendo a decisão para o Coritiba nos pênatis. Chegou a trabalhar nos Emirados Árabes.
Fora da bola, gostava da caça submarina e de Carnaval. Ajudou a criar o “Bloco dos Piranhas”, com jogadores desfilando vestidos de mulheres pelas ruas da zona norte do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Gols de goleiros

Por Ariovaldo Izac

Ninguém se espanta quando depara com gols marcados por goleiros, até porque o são-paulino Rogério Ceni já atingiu a marca de 82 gols, entre cobranças de faltas de pênaltis, e ousou aplicar um chapéu no atacante Tuta, então jogador do Palmeiras, pelas oitavas-de-final da Copa João Havelange, em 29 e novembro de 2000. De vez em quando esses “guarda-valas”, como diziam antigos narradores de futebol, surpreendem ao marcar gols a mais de 90m de distância, na tradicional reposição de bola de sua grande área. E o último exemplo foi registrado com o goleiro Eduardo Martini no dia 22 de agosto, na vitória do Avaí (SC) sobre o Paraná Clube, por 3 a 1, em Florianópolis. Claro que ele jamais esperava que com o chutão a bola quicasse nas proximidades da área adversária e encobrisse o goleiro Mauro, adiantado. Foi o segundo gol do time catarinense na partida.
Difícil dizer com exatidão, mas provavelmente a história de gols com essa característica começou em Bauru, interior de São Paulo, em julho de 1961. Na ocasião, o goleiro Navarro, do Noroeste, surpreendeu Henrique, do Taubaté (SP), em partida válida pelo Campeonato Paulista.
Propagação com maior intensidade de gols nesse estilo começou em setembro de 1970, com Ubirajara Alcântara, do Flamengo, em jogo contra o Madureira, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Naquele lance, o vento se encarregou de triplicar a velocidade da bola, que traiu o goleiro Paulo Roberto.
Zico, goleiro do Cascavel em 1981, marcou contra o Colorado - hoje o Paraná Clube - pelo campeonato regional, igualmente em reposição de bola com os pés. Mesma recordação tem o colombiano Luis Martinez em partida amistosa contra a Polônia, em Chorzow, surpreendendo o goleiro Tomasz Kuszckak, em maio de 2006.
Goleiros também marcam gols de cabeça, quando se mandam à área adversária nos últimos minutos de partidas, para aproveitamento em cobranças de escanteio. Há dois registros só no Campeonato Brasileiro de 2003: o primeiro através de Eduardo, do Atlético (MG), ao marcar na vitória por 2 a 1 sobre o Juventude; e o outro de Lauro, na ocasião defendendo a Ponte Preta, no empate em 1 a 1 com o Flamengo, em Campinas.
Em 1996, o goleiro Hiran levou a torcida do Guarani ao delírio ao testar e marcar o gol de empate em 3 a 3 contra o Palmeiras, no último minuto de partida. Ele já havia marcado de cabeça quando defendia o Linhares (ES), em início de carreira; e fez o terceiro gol pelo Inter (RS), em cobrança de falta, em 2000. Já o dinamarquês Krogh usou a cabeça para marcar com a camisa do Brondby contra o AGF Aarhur, nos descontos.
Bruno, do Flamengo, marcou o primeiro gol na carreira profissional contra o Coronel Bolognesi, do Peru, cobrando falta, na vitória por 2 a 0, na última Libertadores da América. Outros exemplos são Thiago, do Vasco, e Márcio, do Atlético (GO). Também em cobrança de falta o goleiro Hugo Suárez, do Real Potosí, da Bolívia, marcou na vitória sobre o Caracas por 3 a 1, também pela Libertadores.
Exemplo estão aí aos montes de goleiros artilheiros na América do Sul e Europa. A experiência do colombiano René Higuita foi tão gratificante que após ter abandonado o futebol decidiu retornar, com histórico superior a 40 gols. O paraguaio José Luis Chilavert estava beirando 50 gols quando anunciou a intenção de se afastar do futebol.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cejas, coragem para sair do gol

Por Ariovaldo Izac

Goleiros de décadas passadas reclamavam com freqüência dos critérios de edição de programações esportivas de televisão, que raramente mostravam as boas defesas dos goleiros, e por isso ficavam marcados por falhas e “frangaços”. Hoje, basta um goleiro praticar duas ou três boas defesas importantes em uma partida para que a sua performance seja destacada no mesmo espaço que são mostrados os gols da rodada.
Se hoje o goleiro brasileiro é reconhecido mundialmente porque pratica treinos específicos diariamente, até meados da década de 70 era criticado, com aspereza, principalmente pela paúra na saída da meta para interceptar cruzamentos. Na época, a Argentina era uma referência na escola de goleiros e os exportava ao Brasil, como Edgardo Norberto Andrada, que jogou no Vasco e foi marcado por ter sofrido o milésimo gol de Pelé, em cobrança de pênalti, no dia 19 de novembro de 1969.
O melhor de todos esses gringos com passagem pelo Brasil jogou de 1970 a 1976 no Santos, e depois se transferiu para o Grêmio (RS), onde encerrou a carreira. Trata-se de Augustin Mario Cejas (a pronúncia em espanhol é Cerras), que em março passado completou 63 anos de idade. No futebol platino, em início de carreira, jogou no Racing Club e Avellanedo, e chegou a conquistar títulos da Libertadores e Mundial Interclubes.
Curioso é que hoje a Argentina não dispõe de goleiros com o potencial daqueles do passado. Até a década de 80 ainda continuou exportando, caso de Miguel Angel Ortiz, um cabeludo com fita amarrada na testa, que defendeu o Atlético Mineiro com regularidade, e ousava cobrar pênaltis, com histórico de sete gols.
Nos tempos em que o goleiro brasileiro valia-se basicamente da elasticidade e reflexo para defesas notáveis, Cejas acrescentava arrojo para ir ao encontro da bola até o limite da grade área. Assim, era nome certo em convocações do selecionado argentino.
No Santos, Cejas juntou-se ao clássico zagueiro argentino Ramos Delgado, e integrou o time que dividiu o título do Campeonato Paulista de 1973 com a Portuguesa, com essa equipe comandada pelo técnico Pepe: Cejas; Zé Carlos, Carlos Alberto Torres, Vicente e Turcão; Clodoaldo, Léo e Jair (Brecha); Euzébio, Pelé e Edu.
Cejas foi exemplo para que cartolas santistas se encorajassem em contratações de outros goleiros sul-americanos, como o uruguaio Rodolfo Rodrigues na década de 80, e o colombiano Juan Carlos Henao em 2005, que chegou na Vila Belmiro precedido de atuações recomendáveis no Once Calda – clube daquele país -, mas por aqui não se deu bem.
Na “latinha” - os microfones de rádio - o ex-goleiro argentino falava o óbvio e coisas desconexas. Certa vez disse que “não é fácil ser goleiro”. E acrescentou: “O goleiro tem de ter raça, porque vai estar sempre sozinho em campo”.
Em vez de raça, talvez quisesse expressar bom condicionamento físico para melhorar impulsão, agilidade e velocidade, porque, em certas ocasiões, exerce a função de líbero, evitando, assim, que atacantes adversários definam isoladamente a jogada de gol.
A rigor, o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, que sabe jogar bem com os pés, incorporou essa função talvez inspirado no holandês Van Der Sar e o próprio Rodolfo Rodrigues, que nos tempos de Santos saía rotineiramente da área para disputar jogadas com os pés.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Kanu, carrasco brasileiro (11/08/08)

Por Ariovaldo Izac

O foco esportivo é a Olimpíada na China e um dos personagens que marcou história nesses jogos foi o nigeriano Nwankno Kanu, carrasco do selecionado olímpico de futebol masculino do Brasil em 1996, em Atlanta, nos Estados Unidos, ao marcar o gol que sepultou os sonhos dos comandados pelo técnico Mário Lobo Jorge Zagallo, na chamada “morte súbita”. A equipe brasileira era tida como uma das favoritas naquela competição. Além dos então garotos Dida, Roberto Carlos, Flávio Conceição e Juninho Paulista, ela contava com o zagueiro Aldair, meia Rivaldo e atacante Bebeto, entre os três atletas com idade superior a 23 anos, permitidos pelo regulamento.
O africano Kanu desequilibrou naquela partida válida pela fase semifinal, com vitória da Nigéria por 4 a 3, na prorrogação. O Brasil vencia por 3 a 1 no primeiro tempo, com dois gols de Flávio Conceição e outro de Bebeto, enquanto Roberto Carlos (contra) havia anotado o gol da Nigéria.
Inesperadamente, no segundo tempo, o time africano cresceu em campo. Com gols de Ikpeba e Kanu chegou ao empate e provocou a prorrogação. Aí, Kanu jogou um “balde de água fria” nos brasileiros, com o gol que determinou o encerramento da partida e adiou o sonho do ouro olímpico.
Kanu era desconhecido dos brasileiros, mas já fazia sucesso na Europa. Um ano antes havia sido campeão europeu e mundial pelo Ajax, da Holanda, fato que despertou interesse da Inter de Milão, que o levou para a Itália.
Tudo ia bem até pouco depois do título olímpico conquistado sobre a Argentina, na vitória por 3 a 2, quando os médicos diagnosticaram anormalidade na válvula aórtica do coração. Logicamente entrou em pânico após ter sido alertado sobre a possibilidade reduzida de voltar a jogar futebol. Ele não admitia encerrar precocemente a carreira, e topou o desafio de se submeter à delicada cirurgia nos Estados Unidos.
Depois de quatro horas na mesa de operação, o atacante cumpriu rigorosamente as indicações para se restabelecer e, em menos de um ano, estava de volta ao futebol. A reestréia ocorreu no dia 27 de julho de 1997, quando substituiu o atacante chileno Ivan Zamorano no final da partida entre Milan e Manchester. Aqueles nove minutos em campo serviram para emocioná-lo bastante. Aí, voltou a normalidade, sem qualquer risco de afastamento dos gramados.
Dois anos depois se transferiu para o Arsenal, da Inglaterra, e posteriormente, ainda naquele país, passou a jogar pelo Portsmouth. Ali, indiscutivelmente, um dos momentos marcantes da carreira foi a conquista do título da Copa da Inglaterra, exatamente no último dia 17 de maio. Seu time venceu a finalíssima por 1 a 0 sobre o Cardiff City, de País de Gales, e ele foi o autor do gol.
Recentemente Kanu foi oferecido ao Flamengo, mas preferiu renovar contrato com o Portsmouth, que não conquistava a Copa da Inglaterra havia 68 anos.
O futebol inglês oferece contratos milionários a jogadores e membros de comissões técnicas. Logo, o africano não trocaria uma gratificação semanal equivalente a R$ 148 mil por valor bem inferior que supostamente o clube carioca lhe ofereceria.
Kanu, que esbanja uma Ferrari e mansão na Grã-Bretanha, torra dinheiro sem controle. Segundo informações, recentemente teve que vender dois veículos Audi para quitar débitos com banco.

sábado, 9 de agosto de 2008

Vitória enganosa das mulheres do futebol

Por Ariovaldo Izac (09/08)

A vitória da seleção brasileira de futebol feminino do Brasil sobre a Coréia do Norte, na manhã deste sábado - 09/08 - (horário de Brasília), nos Jogos Olímpicos da China, foi extremamente enganosa, imerecida. Na pior das hipóteses, o time norte-coreano devia ter empatado. O Brasil achou dois gols, frutos de falhas defensivas das norte-coreanas, ainda no primeiro tempo.

Esse jogo demonstrou claramente as limitações do técnico Jorge Barcellos, que comanda a equipe brasileira. Viu se, ao longo da partida, um esquema tático arcaico, com as quatro jogadoras de defesa jogando basicamente em linha e excessivamente recuadas, pouco adiante do limite da grande área. Isso fez lembrar estruturações defensivas das décadas de 50 e 60, quando raramente os laterais ultrapassavam a linha que divide o gramado. Sem função, as laterais ficavam marcando basicamente as suas sombras, porque as norte-coreanas não adotaram um esquema ofensivo. Por vezes usavam o lado do campo para puxar contra-ataques em velocidade.

Não bastassem as deficiências das jogadas pelas beiradas do gramado, o meio-campo brasileiro foi mal posicionado e envolvido na maioria das vezes pelas adversárias. Também na criatividade e distribuição de jogadas, facilitando, conseqüentemente, a marcação dura das norte-coreanas.

O time brasileiro valeu-se de alguns lampejos da talentosa Marta, que mesmo bem marcada ainda conseguiu criar algumas situações de perigo à defesa adversária. Afora isso, deve-se destacar o bom trabalho do miolo de zaga brasileiro e também da volante Érika. A meia Formiga, irritada, fez faltas violentas e ficou barato não ter sido expulsa de campo.

Esse time brasileiro pode até ir longe na competição, mas ficou claro que taticamente o técnico Jorge Barcellos não está à altura de comandá-lo. A conseqüência de montar um quarteto defensivo muito recuado refletiu na ampliação de espaços para o adversário, que teve mais posse de bola nos dois períodos. Caso o Brasil tivesse enfrentado, neste sábado, um adversário de melhor qualidade técnica, a sorte do jogo poderia ter sido outra. Ainda bem que as norte-coreanas se valeram basicamente da correria e boa disciplina tática.

Bons tempos em que o time brasileiro era comandado pelo técnico Zé Duarte (já falecido), que além de ensinar o bê-á-bá às meninas ainda sabia distribui-las adequadamente em campo.

Pena que a dona CBF ainda não aprendeu a lição sobre a necessidade de escolher um profissional com bagagem no futebol profissional masculino para comandar o time de mulheres. Do contrário, deficiências de planejamento tático serão repetidas.

Ariovaldo Izac é jornalista e radialista e escreve no Blog do Ari

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Zequinha, um bicampeão

Por Ariovaldo Izac


Antigamente, mais precisamente nas décadas de 50 e 60, treinadores de Seleção Brasileira tinham que pautar pelo equilíbrio entre Rio de São Paulo para convocação de jogadores. Imprensas de ambos os Estados pecavam pelo bairrismo reprovável e por isso via-se, com freqüência, chamados inesperados de jogadores para integrar o selecionado.
O ex-técnico Carlinhos - jogador do Flamengo nas décadas naquele período - não esconde a mágoa de ter sido relegado para a Copa do Mundo de 1962, no Chile, quando o Brasil conquistou o bicampeonato. Definição política ou não, o certo é que Zequinha, então volante do Palmeiras, também tinha as credenciais para estar entre os 22 jogadores relacionados, como reserva de Zito, ex-Santos, quando comemorou o bicampeonato mundial.
A rigor, segundo o livro "Seleção Brasileira - 90 anos", de Roberto Assaf e Antonio Napoleão, Zequinha participou de 17 partidas pelo selecionado brasileiro, com retrospecto de 14 vitórias, um empate, duas derrotas, e marcou dois gols
Naqueles tempos, seria exagero cobrar do chamado médio volante postura de marcador implacável. Quando muito cercava as jogadas organizadas pelos meio-campistas adversários e deslocavam para os lados do campo para cobrir laterais. Eles executavam o papel de distribuidores de jogadas. Acionavam os laterais e se apresentavam como opções para continuidade das jogadas.
Essa era, basicamente, a função do pernambucano José Ferreira Franco, do Palmeiras, apelidado por Zequinha devido ao tamanho – 1,66m de altura. No entanto, ele se diferenciava da maioria na posição pela excelente preparação física. Como corria demais, atrevia-se, com freqüência às “descidas” ao ataque e finalizava ao gol adversário de média distância, com chute forte.
Zequinha nasceu no dia 18 de novembro de 1934, em Recife (PE), e jogou no Palmeiras entre 1958 e 1968. Começou a carreira no extinto Auto-Esporte de Recife, na década de 50, depois passou pelo Santa Cruz antes da transferência para a capital paulista. Já nos anos 60, com a chegada de Dudu, ex-Ferroviária de Araraquara (SP) ao Parque Antártica, o pernambucano foi para a reserva e, ao sair do Verdão, ainda jogou respectivamente no Atlético (PR) e Náutico.
Ao pendurar as chuteiras, fixou-se em Recife, garantiu a aposentadoria, e ainda melhorou a renda com a aquisição de uma casa lotérica em Olinda (PE), administrada por pessoas de confiança, pois seqüelas de um derrame limitaram suas atividades.
Saudosista, como a maioria dos ex-boleiros, Zequinha lembra que no seu tempo o futebol era mais bonito. “Hoje é a força física que importa e o jogo fica feio”, revela esse nordestino com histórico de 417 jogos pelo Verdão, com retrospecto de 247 vitórias, 83 empates e 87 derrotas. Foram 40 gols e o orgulho de colecionar títulos do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão), Taça Brasil, Torneio Rio-São Paulo e Campeonato Paulista de 1959, 1963 e 1966, segundo informações citadas no "Almanaque do Palmeiras".
Sem dúvida que o título paulista de 1959 pelo Palmeiras foi especial, em seu segundo ano de clube. Na ocasião, atuou num time formado por Valdir de Moraes; Djalma Santos, Valdemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo e Romeiro.

sábado, 2 de agosto de 2008

Passarelas, de novo

Parece que a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) ouviu nossas preces e resolveu improvisar escadas com estruturas metálicas nas passarelas em reforma, em trechos da Rodovia Anhangüera de Sumaré.
Torcemos para que a medida seja estendida a quem fazia uso das passarelas no trecho de Campinas.

Djalminha, ‘tapas’ na bola

O meia Djalminha continua dando “tapa” na bola em showbol, em companhia de ex-boleiros, e também nas areias de praias do Rio de Janeiro. Claro que se quisesse ainda poderia vestir camisas dos principais clubes brasileiros como organizador na “meiúca”. Afinal, que meia no futebol brasileiro pega tão fácil na bola como ele? Que meia tem visão de jogo tão privilegiada? Poucos, né!
Djalma Feitosa Filho, que em dezembro vai completar 38 anos de idade, pode até não admitir, mas de certo se encheu das obrigações profissionais de boleiros com treinos em dois períodos, concentração, jogos e sistemática cobrança para que jogue bem.
Com a vida feita, como se diz na gíria, quer mais é curti-la e “tocar” sua empresa de showbol, um jogo com regras adaptadas do futebol. Duas equipes se dividem em quadra de grama sintética, de 42x22 metros, com seis jogadores distribuídos para cada lado, cinco na linha e um goleiro. O empresário Todé se encarrega de marcar jogos de exibição por esse Brasil afora, com Djalminha e ex-boleiros dando show nas quadras.
A biografia como profissional acusa passagens por Flamengo, Guarani (duas vezes), futebol japonês, Palmeiras, La Coruña da Espanha (duas vezes), futebol austríaco e encerrou a carreira no América do México. De certo, aquilo que ganhou naqueles contratos milionários permite que fique de barriga pra cima a vida inteira, mas detesta o sedentarismo.
Djalminha tinha habilidade para conduzir a bola e sabia organizar o meio-campo com passes certeiros e objetivos. Como pega muito bem na bola, cansou de fazer gols em cobranças de falta. Também era uma liderança nata em campo e cobrava desempenho dos companheiros. Quando tocava a bola de primeira e recebia um “passe quadrado”, se irritava e dava bronca. Por isso, num amistoso do Guarani contra a Lazio, da Itália, em Campinas, “bateu boca” e quase saiu no braço com o zagueiro Cláudio.
A rigor, o desentendimento com Renato Gaúcho, nos tempos em que ambos eram jogadores do Flamengo, encurtou seu espaço na Gávea e facilitou sua transferência para o Guarani, em 1993. O Bugre se beneficiou de seu talento e o repassou primeiro ao futebol japonês e posteriormente à Parmalat, para jogar no Palmeiras, no período de co-gestão empresa-clube.
Evidente que Djalminha deu lucro duplamente no Parque Antarctica. Primeiro porque correspondeu plenamente em campo; depois com a milionária transferência ao La Coruña.
O meia começou a aparecer constantemente em lista de convocações à Seleção Brasileira a partir de 1997. Naturalmente teria vaga garantida à Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia do Sul, caso não perdesse a cabeça em treino do La Coruña. Na ocasião, atingiu seu treinador Javier Irureta com uma cabeçada, e o técnico Luiz Felipe Scolari, que comandava a Seleção Brasileira, não perdoou o ato de indisciplina. Optou por não relacioná-lo àquela competição.
Pra quem não sabe, Djalminha é filho do falecido Djalma Dias, um baita zagueiro dos anos 60, e por isso um dos maiores injustiçados em termos de Seleção Brasileira. Ao participar das Eliminatórias à Copa do Mundo de 1970, no México, devia ser nome certo à competição, mas lamentavelmente ficou de fora.
Djalma Dias fez sucesso no América (RJ) e continuou a trajetória no Palmeiras, Santos e Botafogo (RJ).

Fontana, morte aos 39 anos

De certo o capixaba Fontana morreu fazendo aquilo que mais gostava na vida, em 1980: jogando futebol. Ele participava de uma “pelada” com amigos quando o “velho bumbo”, o coração, falhou. Fontana foi vítima de um ataque cardíaco fulminante e não resistiu, a exemplo do zagueiro Serginho (São Caetano), lateral Carlos Alberto (Sport), meia húngaro Miklos Feher (Benfica) e o camaronês Marc-Vivien Foe.
José de Anchieta Fontana, nascido no dia 31 de dezembro de 1940, chegou ao Vasco em 1962, após passagens por clubes de seu Estado. E após o natural período de adaptação, teve a incumbência de substituir o lendário Orlando Peçanha, um quarto-zagueiro clássico, revelado nas divisões de base do clube. O forte de Orlando era a antecipação. E, de posse de bola, usava sua habilidade para sair jogando.
Fontana tinha características opostas. Venceu pela raça. Era o chamado marcador implacável, um dos raros a anular Pelé em várias vezes quando se enfrentaram. Difícil para o torcedor vascaíno da velha guarda é esquecer o título da Taça Guanabara conquistado por seu clube em 1967, num time liderado pelo guerreiro Fontana. O Vasco perdia para o Botafogo por 2 a 0, no primeiro tempo, mas achou forças inimagináveis para virar o placar, com o gol da vitória, de cabeça, marcado pelo zagueiro. Fontana e Brito formaram uma dupla de zaga que caiu no gosto da galera.
Às vezes Fontana apelava para a violência e cometia atos de indisciplina. Em um jogo contra o Grêmio (RS) acertou cotovelada na boca do ponteiro-direito Joãozinho, quebrando-lhe alguns dentes. O comportamento inadequado que implicou em seu desligamento do Vasco foi ter se recusado de participar de um jogo contra o Inter (RS), em 1969, alegando contusão minutos antes de entrar em campo.
A rigor, o relacionamento do jogador com o técnico Paulinho de Almeida estava estremecido desde o jogo adiado contra o Bahia, por causa das chuvas, em Salvador. O treinador havia dado folga ao elenco até às 23h e, madrugada afora, flagrou Fontana, Moacir e Eberval pedindo a última dose de uísque no bar do hotel onde a delegação estava concentrada.
Moacir e Ederbal reconheceram o erro e foram perdoados; o “marrudo” Fontana não. E esse comportamento serviu para encurtar sua permanência no clube cruzmaltino, e seu passe foi negociado com o Cruzeiro.
Naquele período, Fontana estava no auge na carreira e foi levado pelo treinador João Saldanha (falecido) à Seleção Brasileira. Posteriormente, já com Zagallo no comando técnico do selecionado, Fontana foi relacionado entre os 22 jogadores para a Copa do Mundo de 1970, no México, e comemorou o tricampeonato. Ele também acompanhou de perto a introdução dos cartões vermelhos e amarelos no futebol, além da permissão para substituições de jogadores em partidas, naquela competição.
No Cruzeiro, com a costumeira regularidade, jogou até 1972. Participou do grande time com Dirceu Lopes, Tostão, Natal e Evaldo. E a recompensa foi cravar seu nome na galeria dos ídolos do clube, ao transportar para a Toca da Raposa a raça que o caracterizou nos tempos de Vasco.
Fontana foi um exemplo de superação no futebol, seguido por incontáveis zagueiros que também obtiveram êxito na carreira.

Dino, genial e genioso

Nos tempos em que o médio-volante não era apenas o cabeça-de-área, o carequinha Dino Sani dava show nos gramados. Era um jogador comandante no campo, indicando aos companheiros os atalhos para seu time chegar com mais facilidade à vitória.
Dino foi campeão mundial na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, como reserva de Zito. Também teve uma trajetória internacional no Milan, da Itália, e Boca Junior, da Argentina. E encerrou a carreira no Corinthians, formando dupla de meio-de-campo com Rivelino, na década de 60.
O estilo vistoso de Dino Sani no trato com a bola começou a ser visto no final da década de 40, no extinto Comercial de São Paulo. Atuava como meia-esquerda num quinteto ofensivo formado por Feijão, Nardo, Gino, Dino e Esquerdinha.
Em 1952, Dino fez parte de um lendário time do XV de Jaú (SP) e transferiu-se, na seqüência, para o São Paulo, onde se fixou como volante.
Dava para se contar nos dedos de uma só mão quantos passes Dino errava durante uma partida. Além da precisão e objetividade na entrega da bola, era um emérito cabeceador. E para tomar bola do adversário valia-se do bom posicionamento, tempo certo da bola e capacidade de antecipação.
Com essas virtudes e uma visão geral de campo, a passagem de jogador para treinador foi sintomática, como ocorreu no final da década de 60. Dino teve passagens marcantes em clubes como Inter (RS), Coritiba e Fluminense. Com uma biografia respeitável, se preocupava essencialmente em melhorar o condicionamento técnico do atleta. E quando o boleiro não cumpria a tarefa corretamente durantes os treinos, pegava a bola e ensinava como devia ser feito.
Quando passou pela Ponte Preta, em 1982, Dino comandou um time de medalhões como Dicá, Mário Sérgio Pontes de Paiva e Jorge Mendonça (já falecido). Aí, o genioso Mário Sérgio (hoje técnico de futebol), para testar o treinador, fazia questão de chutar a bola com bastante efeito, para que ele dominasse. E o destemido Dino amortecia todas as bolas chutadas e ganhava confiança definitiva do discípulo.
A cada final do treino, Dino chamava os atacantes e mostrava como se pegava de primeira em bolas cruzadas das extremas. Batia de sem-pulo e avisava ao goleiro o canto que iria chutar, sob olhares atônitos de seus comandados, que viam a bola morrer na ‘gaveta’.
Dino é transparente e franco. Por isso teve a petulância de sugerir ao meia Dicá que encerrasse a carreira. Observava como poucos o comportamento do atleta fora de campo e sabia como corrigi-lo.
O que Dino já não tolerava era trabalhar com jogadores de poucos recursos técnicos e de dificuldade de assimilação daquilo que era pedido. Foi perdendo a paciência e decidiu se afastar das funções.
Dono de um prédio no município de São Paulo, tem renda suficiente para manter o alto padrão de vida. Apesar disso, ainda topou voltar ao futebol na década de 90, até que em 1995 surpreendeu com a insólita decisão de se demitir do comando técnico da Ponte Preta, no intervalo de um jogo contra o Novorizontino, quando o time campineiro perdia por 2 a 0. “Não dá para trabalhar com tanto cabeça-de-bagre”, era a justificativa. E cumpriu a promessa da aposentadoria.

Parabéns, Conceição

Parabéns Maria Conceição Rodrigues. Afinal, é preciso bravura para acompanhar a sua amada Ponte Preta durante 53 anos. Parabéns, Conceição, pelo seu aniversário neste 18 de maio. Não interessa se você completa sessenta e poucos anos ou se já rompeu a barreira dos setenta. Parabéns!
Provavelmente a guerreira Conceição só vai ler este artigo através de cópia que alguns de seus amigos lhe entregarem, mas não importa. Acostumada à páginas de jornais, tem lógica a aversão por esse bichinho que ainda engatinha, que é a Internet.
O fanatismo da Conceição pela Ponte Preta a fez viajar em porta-malas de veículo até Bauru, para não perder jogo de seu time contra o Noroeste, pelo Paulistão na década de 70. Outra passagem de extrema “loucura” dessa heroína foi em Marília, em meados da década de 80. Numa das madrugadas geladas, ela estava prostrada na rodoviária daquela cidade a espera de um ônibus de carreira, para o retorno a Campinas, após derrota da Macaca. E sem um tostão no bolso, não se fez de rogada quando lhe ofereceram um pingado com pão com manteiga, na lanchonete.
Também na década de 80, na primeira viagem aérea ganhada de presente, em excursão da Ponte sabemos lá para aonde, Conceição ficou irradiante. No mínimo durante um mês repetiu que “estava muito social” na aeronave.
Conceição é assim, espontânea. Não se acanhava de pedir ajuda para acompanhar as excursões da Ponte, e houve caso em que foi flagrada como a única representante da torcida em jogos de seu clube. Partidas em casa, então, eram imperdíveis. Essas “febronas” que dizem derrubar qualquer cristão não conseguiam “nocauteá-la” quando a Macaca entrava em campo.
A rigor, não foi uma simples torcedora no Estádio Moisés Lucarelli. Por um bom período ficava de plantão no portão que dá acesso aos representantes da arbitragem, e os dito cujo ouviam “gatos e lagartos” quando chegavam. Se pudesse, de certo Conceição daria uns bicudos nas canelas dos mais visados para intimidá-los. Digamos que, em última análise, deixava o claro aviso para não prejudicarem a sua querida Macaca em seu “fortim”.
E quando a bola rolava, só faltava Conceição morder o alambrado a cada falta invertida ou pênalti não assinalado contra o seu time. Suava, sofria. O frio na barriga só passava após o apito final do juizão.
Houve época em que Conceição “picava cartão” - como se diz na gíria - todos os dias no campo da Ponte, só para falar com os seus meninos, como os tratava carinhosamente.
Por esses e outros incontáveis motivos, é mais que justa esta homenagem a esta lídima rainha da Ponte Preta. Homenagem em vida, o que é mais importante.
É isso aí.

Vagner Bacharel, morte aos 36 anos

Torcedor de treino é detalhista, pra não dizer xereta. Um deles sussurrou maldosamente para um amigo, há mais de duas décadas, nos tempos do zagueiro Vágner Bacharel (já falecido) no Palmeiras:
“Dê uma olhada nas pernas arqueadas do Vágner. Se ficasse na barreira de futsal a bolinha passaria no “vão” delas e seria gol do adversário”.
As pernas arqueadas em nada atrapalhavam o rendimento do jogador de pouco mais de 1,80m de altura nas passagens por Madureira (RJ), Joinville (SC), Inter (RS), Palmeiras, Botafogo (RJ), Guarani, Fluminense, Vila Nova (GO) e Paraná, onde morreu no dia 20 de abril de 1990.
Por sinal, morte estúpida teve esse carioca Vágner de Araújo Antunes, aos 36 anos de idade. Na disputa de bola pelo alto com Sérgio Ponvoni, do Campo Mourão (PR), ele bateu com a coluna cervical no chão e, desacordado, foi levado a um hospital paranaense para atendimento.
Aparentemente nada de mais grave, tanto que recebeu alta hospitalar e voltou para casa, a fim de continuar o tratamento. Só que as dores de cabeça foram intensificando e, levado novamente ao hospital, não resistiu e morreu.
Bacharel é mais um daqueles casos de jogadores mortos que raramente são lembrados, exceto em casos de estatística de falecimentos de atletas no exercício da profissão. Sua aparição na bola foi no Madureira do Rio de Janeiro e depois se deslanchou em grandes clubes, com ênfase na passagem pelo Palmeiras, quando formou dupla de zaga com Luiz Pereira. Ambos jogavam de cabeça erguida, tinham um bom passe, jamais se apavoravam na saída de bola e mostravam espírito de liderança.
Claro que Luizão era mais clássico, desarmava muito mais sem recorrer às faltas e tinha velocidade para arrancar ao ataque com bola dominada, nos tempos que cobrava-se de zagueiros apenas eficiência na marcação. Luizão era diferente até na Seleção Brasileira, considerado um dos melhores da posição na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha. Bacharel ficou no Palmeiras de 1983 a 87, com histórico de 22 gols em 260 jogos. Tinha o hábito de avançar à área adversária em lances de bola parada, nos escanteios e cobranças de falta. Em seguida se transferiu para o Botafogo do Rio.
Embora a sua principal virtude fosse o jogo aéreo, esse bigodudo tinha malícia para evitar dribles manjados, e pecava basicamente pela lentidão. Quando enfrentava atacantes rápidos passava apertado.
O zagueiro era sarrista e bem humorado. No ônibus que conduzia delegações da concentração ao campo puxava o samba com o inseparável pandeiro e contagiava o ambiente. A rigor, o apelido Bacharel justificava-se pelo fato de chamar companheiros, indistintamente, também de Bacharel. Era uma liderança positiva que ajudava na preservação do bom ambiente do grupo. Sabia discernir bem a hora da cervejinha com os amigos, principalmente após jogos, do trabalho árduo do dia-a-dia.
O futebol paranaense já havia sido enlutado no dia 18 de setembro de 1978 com a morte de Valtencir, aos 32 anos de idade, então jogador do Colorado, clube que posteriormente se fundiu com o Pinheiros para a criação do Paraná. O lateral-esquerdo sofreu lesão na coluna cervical e no cérebro após choque com o jogador Nivaldo, do Maringá, e morreu no local, no Estádio Willie Davis, em Maringá.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Djalminha, ‘tapas’ na bola

O meia Djalminha continua dando “tapa” na bola em showbol, em companhia de ex-boleiros, e também nas areias de praias do Rio de Janeiro. Claro que se quisesse ainda poderia vestir camisas dos principais clubes brasileiros como organizador na “meiúca”. Afinal, que meia no futebol brasileiro pega tão fácil na bola como ele? Que meia tem visão de jogo tão privilegiada? Poucos, né!
Djalma Feitosa Filho, que em dezembro vai completar 38 anos de idade, pode até não admitir, mas de certo se encheu das obrigações profissionais de boleiros com treinos em dois períodos, concentração, jogos e sistemática cobrança para que jogue bem.
Com a vida feita, como se diz na gíria, quer mais é curti-la e “tocar” sua empresa de showbol, um jogo com regras adaptadas do futebol. Duas equipes se dividem em quadra de grama sintética, de 42x22 metros, com seis jogadores distribuídos para cada lado, cinco na linha e um goleiro. O empresário Todé se encarrega de marcar jogos de exibição por esse Brasil afora, com Djalminha e ex-boleiros dando show nas quadras.
A biografia como profissional acusa passagens por Flamengo, Guarani (duas vezes), futebol japonês, Palmeiras, La Coruña da Espanha (duas vezes), futebol austríaco e encerrou a carreira no América do México. De certo, aquilo que ganhou naqueles contratos milionários permite que fique de barriga pra cima a vida inteira, mas detesta o sedentarismo.
Djalminha tinha habilidade para conduzir a bola e sabia organizar o meio-campo com passes certeiros e objetivos. Como pega muito bem na bola, cansou de fazer gols em cobranças de falta. Também era uma liderança nata em campo e cobrava desempenho dos companheiros. Quando tocava a bola de primeira e recebia um “passe quadrado”, se irritava e dava bronca. Por isso, num amistoso do Guarani contra a Lazio, da Itália, em Campinas, “bateu boca” e quase saiu no braço com o zagueiro Cláudio.
A rigor, o desentendimento com Renato Gaúcho, nos tempos em que ambos eram jogadores do Flamengo, encurtou seu espaço na Gávea e facilitou sua transferência para o Guarani, em 1993. O Bugre se beneficiou de seu talento e o repassou primeiro ao futebol japonês e posteriormente à Parmalat, para jogar no Palmeiras, no período de co-gestão empresa-clube.
Evidente que Djalminha deu lucro duplamente no Parque Antarctica. Primeiro porque correspondeu plenamente em campo; depois com a milionária transferência ao La Coruña.
O meia começou a aparecer constantemente em lista de convocações à Seleção Brasileira a partir de 1997. Naturalmente teria vaga garantida à Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coréia do Sul, caso não perdesse a cabeça em treino do La Coruña. Na ocasião, atingiu seu treinador Javier Irureta com uma cabeçada, e o técnico Luiz Felipe Scolari, que comandava a Seleção Brasileira, não perdoou o ato de indisciplina. Optou por não relacioná-lo àquela competição.
Pra quem não sabe, Djalminha é filho do falecido Djalma Dias, um baita zagueiro dos anos 60, e por isso um dos maiores injustiçados em termos de Seleção Brasileira. Ao participar das Eliminatórias à Copa do Mundo de 1970, no México, devia ser nome certo à competição, mas lamentavelmente ficou de fora.
Djalma Dias fez sucesso no América (RJ) e continuou a trajetória no Palmeiras, Santos e Botafogo (RJ).