segunda-feira, 30 de maio de 2022

Adeus ao goleiro Wendell

A morte do ex-goleiro Wendell no último 23 de maio, em São Lourenço do Oeste (SC), aos 74 anos de idade, traz à reflexão o período em que se valorizava profissional da posição marcado pela regularidade. Exagera quem o rotulou de milagreiro, das chamadas defesas impossíveis, mas raramente falhava. Por isso seria o preferido para a meta da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, mas uma lesão precipitou o corte, cedendo vaga ao saudoso Waldir Peres, relacionado como terceiro goleiro, ocasião em que o treinador Zagallo definiu Emerson Leão como titular.

Embora recifense, Wendell Lucena Ramalho iniciou trajetória no Botafogo do Rio de Janeiro em 1968, e lá ganhou a confiança de Zagallo, por trabalharem juntos no clube. Muito jovem à época, foi emprestado ao Santa Cruz (PE) para ganhar experiência, quando conquistou o bicampeonato estadual nas temporadas 1969/70.

No retorno ao Botafogo, a passagem teve duração de sete anos, período em que por sete vezes defendeu a Seleção Brasileira entre 1973 e 1974, com retrospecto de cinco vitórias e cinco gols sofridos. E durante o triênio a partir de 1977, no Fluminense, conquistou o Troféu Teresa Herrera, na Espanha, para em seguida continuar a trajetória em clubes de menor porte como Santa Cruz, Guarani, Vila Nova (GO) e Ferroviário (CE), onde encerrou a carreira em 1986.

No Guarani, em 1982, ficou marcado por falha em jogo da semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Flamengo, na derrota por 3 a 2, no Estádio Brinco de Ouro. Em seu último clube atuou apenas três vezes, pois atendeu pedido de dirigentes para que ocupasse interinamente a função de treinador, com proposta de ao término daquela competição ingressar na carreira de preparador de goleiros. Aí pesou a estreita ligação com Zagallo - então coordenador técnico da Seleção Brasileira, da equipe do comandante Carlos Alberto Parreira em 1994 -, para que igualmente integrasse o grupo na conquista do tetracampeonato mundial nos Estados Unidos, nesse time: Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Leonardo (Branco); Dunga, Mauro Silva, Raí (Mazinho) e Zinho; Bebeto e Romário.

O trabalho de Wendell na Seleção Brasileira se prolongou até 2006 nas Copas da França, Japão/Corréia do Sul e Alemanha respectivamente, período em que comandou também os goleiros Marcos, Dida e Rogério Ceni.

segunda-feira, 23 de maio de 2022

Minelli, o inventor da linha de impedimento no Brasil

 Em dezembro passado, o ex-treinador Rubens Francisco Minelli completou 93 anos de idade e tem nome escrito no futebol como ganhador de títulos. Ainda lúcido, está habilitado a falar de assuntos diversos do esporte que dominava como poucos, como criticar a qualidade dos jogos, citar que o atacante Neymar foi um ídolo estragado pelo pai, lamentação por ter sido preterido da Seleção Brasileira e lembrança como inventor da linha de impedimento no país.

O futebol está feio porque prevalece a mesmice', justificou, diferente das três décadas em que atuou como treinador, a partir dos anos 60, com predominância da técnica. Quatro vezes campeão brasileiro dirigindo clubes como Palmeiras, Inter (RS) e São Paulo sentia-se credenciado a ser chamado para comandar o selecionado quando Oswaldo Brandão foi demitido, mas prevaleceu o bairrismo de cartolas da CBF que entregaram o comando ao ainda inexperiente Cláudio Coutinho, à Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

Minelli se inspirou na Juventus (ITA) para implantar no Inter (RS) a linha de impedimento, que consiste em jogadores no sistema defensivo saírem em bloco da área para deixarem os rivais em condição ilegal. À época, também implementou inovações táticas na marcação, quando trabalhou com jogadores renomados como Falcão, Figueroa e Carpegiani.

Melhor foi Minelli não ter prosperado na carreira de ponta-esquerda do Ypiranga e Nacional - ambos da capital paulista - assim como no São Bento de Sorocaba e Taubaté. É que como treinador teve trajetória de destaque no interior de São Paulo em América, Botafogo, Francana, Guarani e Rio Branco, para ganhar evidência na Lusa, Inter (RS), São Paulo, Corinthians, Sport, Grêmio (RS), Atlético (MG) e Coritiba. Ele também passou pelo Al-Hilal da Arábia Saudita.

Como superintendente, passou por São Paulo, Athletico Paranaense, Paraná Clube e Avaí em 2003, optando posteriormente pelo convívio em família na residência em São Paulo e chácara em Vinhedo, sempre com língua afiada para contestar jogadores que abusam da individualidade, sem comprometimento com o grupo. E citou como exemplo Renato Gaúcho no título gaúcho do Grêmio de 1985. “Só fomos campeões porque ele operou o joelho e ficou 60 dias afastado. E graças a Deus nunca treinei Sócrates e Rivellino que sempre jogaram para eles” afirmou.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Nos tempos de Barbosa havia ponta-direita no futebol

 A história do ponteiro-esquerdo exercer função de quarto homem de meio de campo remonta a década de 60 com o lendário Mário Jorge Lobo Zagallo no Botafogo (RJ), mas ganhou frequência nos anos 80. Na década seguinte, devido à praticidade do esquema tático com três zagueiros - 3-5-2 - quem também passou a perder espaço foi o chamado ponta-direita, pois, nesse formato, o entendimento de treinadores foi de lateral identificado como ala e liberdade para atacar, por vezes exercendo papel então atribuído ao ponteiro, que levava a bola ao fundo de campo.

No início do século, principalmente através do holandês Arjen Robben, o atacante canhoto passou a se posicionar no lado direito e fazer diagonal aplicando sucessivos dribles e abandono da estratégia de levar a bola ao fundo do campo, para efetuar cruzamentos.

Felizmente o destro ponteiro-direito Luís Reinaldo Barbosa, transformado em ídolo nos cinco anos de Palmeiras - a partir de 1982 - escapou desta trapalhada de atacantes de beiradas se posicionarem no lado oposto do 'pé bom'. Entre incontáveis atletas de sobrenome Barbosa, ele foi facilmente identificado pela velocidade colocada nas jogadas, e assim vencia a maioria dos duelos com laterais-esquerdos, além do capricho nos cruzamentos para aproveitamento principalmente de centroavantes.

Natural da cidade de Piracicaba, interior paulista, foi no XV de Novembro local que começou a carreira profissional em 1976, e antes de chegar ao Palmeiras esteve no União Barbarense por dois anos, numa carreira curiosamente intercalada em clubes outrora de médio porte para outros pequenos. Do Novorizontino, por exemplo, transferiu-se ao Sport Recife, assim como do XV de Jaú foi contratado para jogar no Bahia. E isso encaixado em agremiações como Atlhetico Paranaense, Goiás, Vitória (BA), Desportiva (ES), Santo André e até no futebol japonês.

Nos 18 anos de carreira já foi eleito o melhor ponta-direita do futebol paulista e guarda lembrança dos tempos que retornou ao Palmeiras como auxiliar-técnico do comandante Vanderlei Luxemburgo. Radicado em Piracicaba desde que parou de jogar em 1994, não se convence que a transformação do futebol em correria teria sido a melhor escolha, comparativamente à época dele, com prevalecimento da técnica. “Os jogos de hoje são truncados e raramente é possível ver futebol bem jogado”, atestou.

Juan, lateral-esquerdo que jogou durante 19 anos

Site Dicionário dos Nomes Próprios, que revela os respectivos significados, informa que Juan é a variante espanhola do nome João, que tem origem no hebraico Iohanan, Yehohanan. E quando pais registram filhos brasileiros como Juan, imaginam estar em países com predominância da língua espanhola, a fim de que o 'J' soe como 'R, provavelmente com justificativa de que a família tem passaporte da Espanha.

O caso do ex-lateral-esquerdo Juan Maldonado Jaimez Júnior é mais um daqueles em que usualmente a pronúncia é Ruan. Ele teve trajetória de 19 anos como atleta, marcada com conquistas de títulos estaduais no Fluminense, Santos e principalmente no Flamengo, quando além de levantar o caneco do Carioca fez o gol da vitória sobre o Vasco, na conquista da Copa do Brasil de 2006. Lá ele foi campeão do Brasileirão de 2009, sempre elogiado pela capacidade técnica, ao levar a bola ao ataque e criar situações embaraçosas aos adversários.

Paulistano de 40 anos de idade completados em fevereiro passado, a história dele começou nas categorias de base do São Paulo, até que em 2000 se profissionalizou e no ano seguinte se transferiu ao Arsenal e Millwall da Inglaterra, com retorno ao Brasil em 2004, para jogar no Fluminense.

Na prática, o futebol dele decolou a partir dali, com ápice no Flamengo. Em 2008, foi premiado como melhor lateral-esquerdo do Campeonato Carioca e do Brasileirão, além de receber o prêmio Bola de Prata. Naquele ano áureo foi convocado à Seleção Brasileira, quando participou de dois jogos das Eliminatórias à Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

No Flamengo ele ficou cinco anos, para em seguida retornar ao São Paulo, depois Santos, quando atuou eventualmente como meia. A partir dali começaram passagens em clubes de porte inferior como Vitória (BA), Coritiba e Goiás. Por sinal, em 2015 chegou a ficar seis meses desempregado, quando recusou propostas financeiras de alguns clubes. Aí, para manter a forma, aceitou participar de peladas com amadores, como no campeonato para sócios do São Paulo.

Já na estrada da volta no futebol, os últimos anos de carreira foram em Avaí, CSA, Tombense e Boa Vista do Rio de Janeiro, quando já estava amadurecida a intenção de aposentadoria de uma carreira de cerca de 600 partidas e 63 gols. À época, já pensava em abraçar a carreira de empresário de futebol, sem que o sonho fosse realizado.

domingo, 1 de maio de 2022

Dêner, um dos maiores ídolos da Portuguesa

Embora sem calendário para esse segundo semestre de 2022, o torcedor da Portuguesa de Desportos está orgulhoso pela conquista do acesso ao Paulistão do ano que vem e, de certo, recorda ídolos que passaram pelo clube, um deles o saudoso meia Dêner, que surgiu nas categorias de base em 1991, com jeitão de novo príncipe, como era identificado o atacante Ivair.

Franzino e rápido como lambari, Dêner deixava a ‘zagueirada’ estonteante com as suas arrancadas e sempre marcava os seus golzinhos. Logo, foi convocado à Seleção Brasileira pelo então treinador Paulo Roberto Falcão e ficou deslumbrado. E quando colocou a mão num dinheiro jamais visto, a ‘mulherada’ ficou assanhada, e o então menino humilde não teve estrutura psicológica para administrar a fama.

Cartolas da Lusa projetaram recuperá-lo emprestando o passe ao Grêmio em 1993, mas diante da passagem apenas discreta o segundo empréstimo foi para o Vasco, com objetivo de negociá-lo posteriormente com clube do exterior. Quis o destino que a história daquele jovem de carreira promissora,  23 anos de idade, terminasse no dia 19 de abril de 1994, quando morreu vitimado por acidente de automóvel na Avenida Borges de Medeiros, que margeia a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.

Ele viajava de São Paulo ao Rio de automóvel, em companhia do amigo Oto Gomes de Miranda, que dirigia o Mitsubishi branco, dormiu no volante e perdeu a direção. Com isso o carro se chocou contra uma árvore. Dêner morreu quando repousava no banco do carona reclinado, pois o pescoço ficou prensado no cinto de segurança, provocando estrangulamento. O laudo médico apontou asfixia e fratura cervical.

Curioso é que na véspera da morte, dirigentes da Lusa haviam definido a transferência do jogador para o Stuttgar, da Alemanha, mas a Europa não pôde se deliciar com o talento dele. Pior ainda o Vasco não ter feito seguro de US$ 3 milhões - valor do passe - e o caso tramitou na Justiça, até que fosse condenado ao pagamento.

Outro astro renomado na história da Lusa foi José Lázaro Nobles, o Pinga, maior artilheiro do clube de todos os tempos com 190 gols. Em 1952, após oito anos ininterruptos na Lusa, Pinga foi brilhar no Vasco, ocasião em que a empresa Gillette o requisitou como garoto-propaganda para um comercial sobre lâmina de barbear. Ele morreu no dia 7 de maio de 1996.