segunda-feira, 25 de março de 2013


 

Cláudio Coutinho, traído pela água

 

 Um dia o saudoso treinador Cláudio Coutinho, da Seleção Brasileira, alardeou que o país havia sido 'campeão moral' da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, a despeito da eliminação na fase semifinal pelo critério de saldo de gols. Assim, o time ficou em terceiro lugar.

 Coutinho aliava seriedade e competência, virtudes que levaram o presidente da antiga CBD (Confederação Brasileira de Desportos), Heleno Nunes, a lhe entregar o comando do selecionado olímpico nos jogos em Montreal, no Canadá, em 1976. E quando o técnico Osvaldo Brandão pediu demissão da seleção principal, após empate sem gols com a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa na Argentina, dia 26 de fevereiro de 1977, Coutinho foi chamado para substitui-lo.
 A decisão da cúpula da CBD provocou surpresa, pois Rubens Minelli era o mais cotado para assumir o cargo. Todavia, Coutinho logo convenceu os incrédulos e classificou o time brasileiro àquela Copa.
 Gaúcho de Dom Pedrito, nascido em janeiro de 1939 e capitão do Exército do Rio de Janeiro, Coutinho foi professor de educação física e supervisor da Seleção Brasileira no tricampeonato em 1970, no México, adotando a rigidez do regime militar que governava o País na época. Foi ele o introdutor do teste de cooper para avaliar atletas, ao copiar a inovação de seu amigo e professor norte-americano Kenneth Cooper.


 Quis o destino que no auge da carreira de treinador, em 27 de novembro de 1981, morresse afogado no mar, quatro dias depois de o Flamengo conquistar a Libertadores da América.

 Naquele período, ele já havia trocado o Flamengo pelo Los Angeles Astecs, dos Estados Unidos, e passava férias no Rio de Janeiro. Seu hobby era a caça submarina, e participava de um mergulho livre (sem auxílio dos tubos de oxigênio) nas Ilhas Cagarras, no litoral carioca, quando foi traído pela água. Embora não mergulhasse havia nove meses, ele imaginou que venceria o desafio, mas faltou fôlego para projetar a caça.

 Coutinho foi um intelectual que projetou carreira vitoriosa como treinador. Quando surgiu a oportunidade de comandar o time do Flamengo, em 1976, como sucessor do gaúcho Carlos Froner (falecido), incorporou ao dicionário esportivo termos como overlaping (sobreposição) e polivalência. Procurou transportar à Gávea o espírito competitivo do europeu e exigiu de seus jogadores a ocupação de todos os espaços do campo. Reflexo: iniciou a montagem da base do Flamengo que conquistou o título mundial interclubes em 1981, na goleada por 3 a 0 sobre o Liverpool, da Inglaterra, já sob o comando de Paulo César Carpeggiani.

 Na continuação do trabalho no Flamengo, após passagem pela Seleção, Coutinho cumpriu agenda total de 265 jogos até 1980, e entrou para a história do futebol contrariando a expectativa daqueles que o julgavam apenas um teórico.

segunda-feira, 18 de março de 2013


Kita, o pé dos gols foi amputado

 
 Centroavante que se preza chuta com os dois pés, naturalmente um de cada vez para não cair. E para o gaúcho Kita era indiferente a bola cair na direita ou na canhota. O giro sobre o zagueiro era quase certo e, incontinente, o chute forte em direção ao gol adversário.

 Por causa desse estilo e do bom aproveitamento no jogo aéreo foi cobiçado e contratado por grandes clubes do futebol brasileiro como Flamengo, Inter (RS), Grêmio e Atlético Paranaense. Em nenhum deles, entretanto, atormentou tanto os zagueiros como nos tempos de Internacional de Limeira em 1986, quando foi decisivo para que o clube conquistasse o título inédito do Campeonato Paulista, e com direito à artilharia: 24 gols.

 Hoje, aos 55 anos de idade, Kita se orgulha das boas recordações. Quis o destino, entretanto, que não mais participasse até de ‘peladas’ com amigos. É que em junho de 2011, ao se submeter a uma cirurgia para reconstruir os ligamentos do tornozelo esquerdo, foi vítima de uma infecção hospitalar, agravada pelo diabetes. Por isso teve que amputar parte do pé.

 Outro duro golpe de ser absorvido foi a esculhambação no governo Fernando Collor de Melo de confisco de dinheiro da poupança do povo brasileiro nos anos 90. Duro porque ele havia votado no homem para presidente.

 Chega de coisa ruim. Melhor ficar com a imagem positiva que Kita, ou João Leithard Neto, no futebol. De certo ele dirá que a principal lembrança foi no dia 3 de setembro de 1986, quando a Inter de Limeira (SP) sagrou-se campeã paulista ao vencer o Palmeiras por 2 a 1 no Estádio do Morumbi.

 Na época o time interiorano era treinado por José Macia, o Pepe, e contava com Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista (Alves); Tato, Kita e Lê (Carlos Silva).

 Três anos antes Kita despontou para o futebol com os 15 gols marcados no Juventude, no Campeonato Gaúcho. Em 1984 já estava no Inter (RS), e conta ter sentido indescritível emoção ao colocar a medalha de prata no peito quando atuava pela seleção olímpica brasileira, em Los Angeles (EUA).

 A estréia com a camisa do Flamengo em 1986 foi emocionante. De cara marcou dois gols contra o Corinthians, ano em que conquistou o título carioca. Outras conquistas ocorreram no Grêmio e Atlético Paranaense, sempre com gols. O final da carreira foi em 1995 no E.C. Passo Fundo (RS).  Nem por isso fez bons contratos na carreira.

 “Pena que nos anos 80 não se ganhava tanto dinheiro como hoje”, lamenta. Por isso, depois do confisco na poupança do governo Collor, o máximo que conseguiu foi montar um pequeno empreendimento de vídeo locadora.
 Antes de ter o próprio negócio foi funcionário da Secretaria de Esportes de Passo Fundo durante oito anos, mas foi pra rua com a mudança na cadeira no Executivo, após eleição municipal

segunda-feira, 11 de março de 2013


  Lelé, o canhão de São Januário

  O futebol cria ídolos bajulados por torcedores e imprensa, mas o tempo se encarrega de colocá-los no ostracismo. Quem diria que Manoel Peçanha - o grande Lelé que integrou o Expresso da Vitória do Vasco, no final da década de 40 -, com passagem pela Seleção Brasileira em competições e amistosos sul-americanos, fosse citado apenas em seção de necrologia de jornais quando morreu?

 O Vasco viveu um período de ouro nos anos 40, com Lelé ajudando a decidir jogos. Na temporada de 1947, foi campeão invicto bem à frente do Botafogo (RJ). E uma das novidades da equipe foi o novo uniforme, com faixa diagonal branca na camisa preta, introduzida pelo técnico Ondino Vieira, inspirado no River Plate, da Argentina.

 Lelé, o canhão de São Januário, morreu esquecido em Campinas (SP) há nove anos. Pode-se dizer que o chute dele era tão ou mais potente do que o do ex-lateral-esquerdo Roberto Carlos. Em companhia de Isaias e Jair da Rosa Pinto, ele formava o trio denominado 'três patetas' no clube cruzmaltino. Ainda inspirou compositores de marchas carnavalescas, como foi tema de música nos tempos de futebol carioca.

 Lelé não foi driblador, nem velocista. Sabia tocar bem na bola e tinha visão de jogo privilegiada. Ele se destacou no futebol pelo chute fortíssimo e geralmente certeiro. Por isso era cobrador de faltas nas equipes em que atuava. A 'pancada' com a perna direita amedrontava quem ficava na barreira. Boleiro indicado para fazer a proteção colocava uma mão sobre a cabeça e outra no órgão genital, de medo da bolada. Lelé também era o cobrador oficial de pênaltis nas passagens por Madureira (RJ), Vasco, São Paulo e Ponte Preta. Detalhe: na carreira de 18 anos como jogador de futebol profissional jamais perdeu pênalti. A força que colocava na bola, sempre no canto direito, a meia altura, impossibilitava os goleiros de praticarem a defesa.

 Claro que o chute de Lelé não tinha a mesma força do ponteiro-esquerdo Pepe, do Santos, mas se igualava ao do zagueiro Martinelli, do Paulista de Jundiaí; de Osvaldo Catingá, de Guarani e Flamengo; do lateral-esquerdo Carlucci, do Botafogo (SP); e Nelinho, lateral-direito do Cruzeiro (MG).

 Exceto Nelinho, que jogou na década de 70, os demais citados tiveram período áureo nos anos 60. Martinelli batia tiro de meta e fazia a bola atravessar o campo. Carlucci raramente passava três jogos sem fazer gol de falta, porque aliava pontaria à força do chute. Quanto ao mineiro Nelinho, foi um dos raros jogadores com chute forte e cheio de veneno. Na gíria do futebol, pegava de ‘calo’ ou três dedos na bola, colocando o efeito desejado.

 Lelé e cinco outros jogadores do Vasco vieram para a Ponte Preta no início dos anos 50, numa troca pelo atacante Sabará. Ele ainda passou pelo São Paulo, mas encerrou a carreira na Ponte e havia fixado residência em Campinas.

 

segunda-feira, 4 de março de 2013


 Ademir da Guia, toques refinados aos 70 anos de idade 

 
 O meia Ademir da Guia, que vai completar 71 anos de idade no mês que vem, ‘roubou’ literalmente a cena em jogo festivo só para atletas acima de 70 anos na manhã do domingo do dia 3 de março, no Estádio Cerecamp, antigo campo do Mogiana em Campinas.

 Ademir da Guia - astro do Palmeiras nos anos 60 e 70 - estava hospedado em Muzambinho - interior de Minas Gerais, acordou às 5h30 daquele domingo, e depois disso apressou a comitiva que fazia a promoção de seu café naquela região, para que viajasse a Campinas visando o compromisso assumido.

 Em campo, apesar da natural perda de mobilidade, o Divino brindou o público presente com aqueles requintados toques de bola, alguns de três dedos.

Por fim, só lamentou não ter feito o seu gol num chute rasteiro que passou rente ao poste esquerdo.

“Esse assédio das pessoas que me viram jogar e até de aqueles que me conhecem pela história é bacana. Faz bem para o ego da gente”, revelou Ademir da Guia durante o churrasco de confraternização para os convidados.

 Este jogo de futebol festivo foi organizado por um grupo de desportistas de Campinas, e contou com alguns ex-atletas profissionais como o ponteiro-esquerdo Paraná, que atuou no São Bento, São Paulo e Seleção Brasileira, e que no dia 17 de março vai completar 71 anos de idade.

 “Jamais imaginaria o reencontro com o lateral-esquerdo Diogo, do Guarani, num campo de futebol. Eu colecionei figurinha dele, depois jogamos contra, e nunca mais nos vimos. E o destino reservou esse reencontro num jogo para atletas acima de 70 anos. Veja que coisa!”, disse Paraná.

 Nove anos mais velho que Paraná está o meia Mikey, canhoto meia-esquerda do São Bento dos anos 50 e 60, que veio a Campinas em companhia do ponteiro-esquerdo Esquerdinha, ex-Estrada de Sorocaba, e que em 1964 jogou no Guarani.

 Diogo, lateral-esquerdo do Guarani em meados dos anos 60, foi outra atração do evento, e se emocionou ao receber o abraço do filho jornalista Roberto Diogo quando deixou o gramado. Detalhe: Diogo já completou 81 anos de idade.

 Da mesma época era Sebastião Lapola, zagueiro da Ponte Preta há mais de 50 anos, que reencontrou Zezinho Barreto, ex-ponteiro-esquerdo da equipe pontepretana e do Guarani.

 Dos 35 ‘atletas’ cadastrados para o evento, aquele de maior longevidade foi Geraldo Macacão, campineiro nascido em 1926, que já teve passagem pelo juvenil do Guarani, e se orgulha de diariamente fazer caminhadas e ter voltado a ‘bater bola’ após seis meses afastado.

 Já o professor aposentado Zé Maria, de Valinhos, com passagem pela várzea, tem 83 anos de idade e participa de peladas no Clube Atlético Valinhense. O segrego da longevidade? “Não ter vícios, boa alimentação, faço musculação em academia duas vezes por semana, e em três dias completo com caminhadas”.