segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Jair da Costa, ídolo na Itália

 Quando a Inter de Milão conquistou o terceiro título mundial de clubes, após goleada por 3 a 0 sobre o Mezembe da República do Congo, da África, em 18 de dezembro de 2010, seu ex-jogador e brasileiro Jair da Costa Santos respirou aliviado. É que se livrou de assistir a dancinha atrevida do fanfarrão africano Kidiaba, goleiro que naquela ocasião comemorava gols de seu time com coreografia inusitada.

 Sentava no gramado e dava pulinhos, provocando o peso do corpo na bunda e nos pés. Logo, sarristas de plantão batizaram aquele estilo de ‘bundachão’. Depois que a zebra foi espantada, Jair da Costa saboreou com gosto a cervejinha diária na lanchonete de seu complexo esportivo em Osasco (SP), estruturado com campos de futebol saçaite de grama sintética, pintada nas cores azul e preta da Inter.

 Jair ainda mantém relacionamento com
o clube italiano onde passou por nove anos entre as décadas de 60 e 70, contratado em 1962 por US$ 190 mil. Foi lá que cravou seu nome internacionalmente ao marcar o gol da conquista do bicampeonato mundial de clubes em 1965 contra o Real Madrid de Puskas, Di Stefano e Gento. Soma-se ainda mais quatro títulos conquistados pela Liga Italiana e dois na Liga Europeia.

 Na Inter foi parceiro do meio-campista Dino Sani e o atacante Amarildo, ambos brasileiros. Na Itália ainda jogou na Roma em 1968, e quando retornou ao Brasil em 1973 já havia completado 33 anos de idade, sem a velocidade característica do ponteiro-direito de outrora. Por isso, várias vezes foi adaptado pelo treinador Pepe na meia-direita, quando compensava a perda da arrancada pela habilidade com a camisa do Santos.

 Curioso é que naquela final paulista contra a Portuguesa, que se arrastou às cobranças de pênaltis, o saudoso árbitro Armando Marques errou na contagem e a opção foi dividir o título. O Santos jogou com Cejas; Hermes, Carlos Alberto Torres, Turcão e Vicente Gaúcho; Zé Carlos, Clodoaldo e Jair da Costa (Brecha); Euzébio, Pelé e Edu Jonas.

 O desejo de Jair da Costa era encerrar a carreira na Portuguesa, clube que o revelou em 1960, para substituir Júlio Botelho. No entanto, a melhor proposta foi do Estrela de Windson, do Canadá, clube que encerrou a carreira em 1974.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

João Avelino, muita catimba no futebol

 O folclórico treinador João Avelino ficou esquecido por ocasião do 11º aniversário de morte no dia 24 de novembro passado. Ele morreu aos 77 anos de idade quando, vitimado pelo Mal de Alzheimer, sequer reconhecia as pessoas. Antes de adoecer ainda permaneceu ligado ao futebol como consultor de treinadores e cartolas. Ensinava catimba e malandragem.

 Imagine um vestiário de um time de futebol no intervalo de uma partida com ‘boleiros’ ofegantes, falatório dos exaltados, e um técnico em busca de ajustes na equipe. Acreditem: Avelino isolou-se desse ambiente quando dirigia o CAT (Clube Atlético Taquaritinga) em 1984, num jogo noturno contra o Guarani, no Estádio Brinco de Ouro.

 O time jogava mal e, revoltado, Avelino se recusou a entrar no vestiário para as orientações de praxe aos jogadores, após derrota por 2 a 0 no primeiro tempo. Preferiu colocar uma cadeira no túnel que dá acesso ao vestiário e, com canivete afiado, descascava e chupava laranjas com se tivesse num momento de descontração.

 Certa ocasião, quando trabalhava no Fortaleza, se espantou com a estatura do goleiro, de pouco mais de 1,70m de altura, e mandou diminuir a altura da trave. Quando perceberam a tramoia, já havia festejado um título cearense perseguido há cinco anos.

 Em 1959, o Guarani corria sério risco de rebaixamento à segunda divisão paulista, e tinha um jogo decisivo contra o favorito Santos, no Estádio Brinco de Ouro. Sabem o que fez Avelino? Exigiu que os jogadores bugrinos usassem meias pretas, nada a ver com as tradicionais cores verde e branca do Bugre, que ganhou aquela partida por 3 a 2.

 O ex-técnico Antonio Augusto, o Pardal, conta que Avelino foi o inventor do treino coletivo sem bola. “O João ficava cantando as jogadas e o atleta simulava estar com a bola. Gritava para o ponteiro cruzar, para o atacante driblar e chutar para o gol, tudo sem a bola, e cumprido à risca”, detalhou Pardal.

 Palhinha e Basílio lembram que quando o mestre deparava com jogadores de chutes fracos dava-lhes uma bolota de cinco quilos, para que fizessem embaixadas visando ganhar força muscular, para pegarem mais forte na bola.

 Em 1971, quando treinador da Portuguesa, por discordar da expulsão do meia Basílio contra a Ponte Preta, em Campinas, ele invadiu o gramado e agrediu o juiz Romualdo Arpi Filho.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Quatro anos sem o uruguaio Pedro Rocha

 O uruguaio Pedro Virgilio Rocha Franchetti completaria 71 anos de idade no dia 3 de dezembro de 2013, mas morreu na véspera, no município de São Paulo, em decorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que se arrastava desde 2009, provocando perda da fala e o deixava deprimido.

 Quis o destino que ele tivesse ajuda de amigos dos tempos de atleta do São Paulo e da receita da venda do livro “Tricolor Celeste”, escrito pelo jornalista Luís Augusto Simon, para cobrir custo do tratamento, com ênfase à fisioterapia.

 Se como treinador Pedro Rocha não vingou na passagem por vinte clubes, como jogador - entre 1959 e 1980 - foi o uruguaio de maior sucesso no futebol brasileiro.

 Conhecido como Verdugo - carrasco porque
castigava adversários sem piedade - ele entrou para a história do futebol como meia que disputou quatro Copas ininterruptas, de 1962 a 1974. Também viveu o grande momento do Peñarol, na década de 60, ocasião em que o clube uruguaio conquistou sete campeonatos nacionais, três Libertadores e dois Mundiais de Clubes.

 Apesar dessa recheada biografia, ele custou a se adaptar ao futebol brasileiro, colocando em risco o investimento de US$ 150 mil (equivalente a Cr$ 870 mil - moeda brasileira na época) que o São Paulo fez para que fosse o sucessor do meia Gerson, o Canhotinha de Ouro, época em que o clube acabava de concluir a construção do Estádio do Morumbi.

 Nos sete de São Paulo, ele mostrou como se joga de cabeça erguida, condução da bola, chute forte e certeiro de média e longa distância, e ainda cabeceador. Em 1972 atingiu o status de primeiro jogador estrangeiro a ser artilheiro no Brasil, com 17 gols, ocasião em que dividiu o feito no Campeonato Brasileiro com Dario, do Atlético Mineiro.

 Daquele São Paulo campeão paulista de 1975, Pedro Rocha teve participação destacadíssima. Eis o time base: Waldir Peres; Nelsinho Baptista, Paranhos, Samuel e Gilberto Sorriso; Chicão, Pedro Rocha e Terto; Muricy Ramalho, Serginho Chulapa e Zé Sérgio.


 Com a chegada do treinador Rubens Minelli, que privilegiava a força do conjunto, o espaço de Pedro Rocha ficou encurtado no Tricolor. Por isso ele topou jogar por empréstimo no Coritiba em 1978. No ano seguinte, registro para curta e apagada passagem pelo Palmeiras. Depois passou por Bangu, Monterrey do México e Al-Nassr da Arábia Saudita até 1980. 

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Paulinho Massariol preferia reserva à improvisação

 Se um treinador optar pela improvisação de um subordinado em outra posição, muito provavelmente a resposta será ‘sim senhor’. E para se resguardar, o dito cujo antecipará justificativa à imprensa que está colaborando, que é um jogador de grupo, etc., etc.

 Que tal uma viagem no tempo e constatar o contraste. Em 1978 o então centroavante Paulinho Massariol, artilheiro daquele Campeonato Brasileiro com 19 gols pelo Vasco, acabou adaptado à ponta-esquerda com o retorno do intocável centroavante Roberto Dinamite, que havia participado da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Argentina.

 Pois Paulinho usou de franqueza no diálogo com o saudoso treinador Carlos Froner, ao recusar improvisação. “Prefiro ficar no banco aguardando a minha vez. Jogando fora de minha posição sei que estou prejudicando a minha carreira, pois não rendo nem 50% de meu futebol. Um ponta-esquerda precisa ir à linha de fundo e essa não é a minha especialidade”.

 Antes da trajetória em Palmeiras e Grêmio, Paulinho passou o segundo semestre de 1980 pela Ponte Preta, quando inicialmente não conseguiu se firmar como titular sob o comando do saudoso treinador Zé Duarte, mas posteriormente acabou efetivado quando Jair Picerni saiu do comando dos juniores para ser efetivado no profissional. E ficou no lucro ao marcar dois gols na goleada por 3 a 0 sobre o Guarani.

 Paulinho não era centroavante rápido, mas sabia proteger a bola de adversários. Aí girava e arriscava finalização de média e longa distância. Explorava o chute forte e pontaria aceitável para fazer seus golzinhos.


 Natural de Piracicaba, interior de São Paulo, ele seguiu os passos do saudoso pai Idiarte Massariol ao vestir a camisa do XV local. O diferencial é que na passagem de três anos de Paulinho, a partir de 1974, foi cobiçado por grandes clubes brasileiros, enquanto Idiarte entrou para a história dos quinzistas como recordistas em partidas: 539, com ênfase nas conquistas do bicampeonato do interior, em 1947 e 1948, e do Torneio Início de 1949.


 Paulo Luiz Massariol, que em abril próximo vai completar 60 anos de idade, radicado em Piracicaba, cuida de sua escolinha de futebol, após tentativa de ingresso na função de treinador. Consta no currículo dele volta ao XV no biênio 1986/87, após experiência no futebol mexicano no Estudiantes Tecos. O encerramento da carreira ocorreu no Vila Nova (GO) em 1989. 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Brandão, um vencedor sem conhecer tática




Décadas passadas dois perfis de treinadores prevaleceram: estrategista que encaixava as suas equipes e comandante que sabia se impor até sobre jogadores talentosos. O saudoso Oswaldo Brandão, que se encaixava na segunda opção, fez sucesso, mas na passagem pela Ponte Preta em 1978 foi contestado pelo jornalista Brasil de Oliveira - também falecido -, de O Estado de São Paulo, que o acusou de desconhecimento tático.

 Críticos de futebol que reverenciavam Brandão só descobriram posteriormente que as virtudes dele se restringiam à capacidade de motivar comandados, a partir de meados da década de 80. Com o êxodo natural de craques ao exterior e redução de novos talentos, aumentou a exigência de observação do treinador e Brandão começou a sucumbir.

 Difícil foi ele admitir a decadência. Ao ser demitido pelo Palmeiras, num elenco que não ‘decolava’, tentou justificar preconceito por causa dos 65 anos de idade. “Algumas pessoas colocam o velho como algo imprestável. E estão completamente enganadas. Talvez eu seja velho cronologicamente, mas tenho vigor para continuar trabalhando como treinador, e é exatamente o que farei”, disse à época.

 Projeção errada. Perdeu espaço à beira dos gramados para nova geração de profissionais que surgia, e migrou à função de comentarista da TV Record, na equipe do narrador Sílvio Luiz, até adoecer e morrer aos 73 anos de idade em 1989.

 Quando os craques decidiam campeonatos, Brandão conquistou cobiçados títulos. Foi bi do Campeonato Brasileiro no Palmeiras em 1972-73. No São Paulo de 1971 foi campeão estadual. No Corinthians será lembrado pelo título do IV Centenário da Cidade de São Paulo e fim de 23 anos de jejum de título do Campeonato Paulista. Adepto do kardecismo, entrou no quarto do ex-meia Basílio, na finalíssima contra a Ponte, e falou que ele faria o gol do título. Premonição ou psicologia, o certo é que Basílio foi o herói do jogo.

 Ascendência indistintamente sobre comandados propiciou a chegada de Brandão à Seleção Brasileira no Campeonato Sul-Americano em 1957 e Eliminatórias à Copa do Mundo de 1978, em época de rivalidade acirrada de paulistas e cariocas. Ao escalar o lateral-esquerdo Wladimir contra a Colômbia, em Bogotá, no empate sem gols, foi duramente criticado pela mídia do Rio de Janeiro. Depois não resistiu às pressões e caiu.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Capitão vê a sua Portuguesa no fundo do poço

 Os onze anos como jogador da Portuguesa - durante três passagens - fez do ex-volante Capitão um admirador do clube. A postura de quem deixava o gramado com a camisa ensopada de suor contrasta com a morosidade da equipe atual.

 Reflexo destrutivo do clube é ter que ficar de fora da Série D do Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil de 2018, visto que até na Copa Paulista o time naufragou. Eis aí um triste cenário para quem já foi reconhecido como um dos mais tradicionais clubes de São Paulo.

 Capitão é atleta recordista em atuações com a camisa da Portuguesa, ao totalizar 496 jogos. E fez jus aos aplausos pela típica marcação ‘carrapato’, explorando o vigor físico para desarmar adversários. A liderança nata igualmente permitia ascendência sobre os companheiros.

 Ele participou daquela campanha em que o time foi vice-campeão brasileiro em 1996, com derrota para o Grêmio no Estádio Olímpico. Eis o time: Clemer; Carlos Roberto, Emerson, Marcelo Miguel e Zé Roberto; Capitão, Alexandre Gallo, Caio e Zinho; Rodrigo Fabri e Alex Alves.

 Dois anos depois, no São Paulo, adaptado como quarto-zagueiro, conquistou o seu primeiro título como profissional: o Paulistão. Outro título estadual foi conquistado na temporada seguinte no Grêmio portoalegrense, mas a carreira de quase 20 anos foi marcada por altos e baixos. Na passagem de quatro meses pelo Guarani, em 2000, já não mostrava aquela vitalidade dos tempos de Portuguesa, e seus últimos jogos foram como reserva.

 Da carreira iniciada no Cascavel, inclui passagens ainda pelo Verdy Kawasaki-JAP, Portuguesa Santista, Botafogo (SP), Sport, CSA-AL e Grêmio Mauaense aos 38 anos de idade, quando decidiu encerrá-la.

 Mineiro de Conselheiro Pena, registrado com o nome de Oleúde José Ribeiro, o ex-atleta conta que o apelido de Capitão advém de tentativa frustrada de seus pais homenagearem a capital mundial do cinema, Hollywood.

 Nos tempos de Muricy Ramalho como treinador do São Paulo, ele fez questão de fazer um estágio de comandante de elenco no gramado, e por isso ainda não sepultou os planos de voltar ao futebol como treinador.


 Enquanto isso não acontece, administra sua fazenda em Santa Lúcia, pequena cidade do Paraná, que lhe garante rentabilidade suficiente para seguir com vida confortável. A dedicação ao setor agropecuário passou a ocorreu três anos depois de pendurar chuteiras.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Alex, craque com personalidade fora de campo

 O curitibano Alexsandro de Souza, o meia Alex, 40 anos de idade, foi singular no anúncio para pendurar as chuteiras: usou o twitter no dia 1º de dezembro de 2014, data que antecedia ao jogo do Coritiba contra o Bahia pela última rodada do Campeonato Brasileiro.

 No comunicado, fez montagem vestindo camisas de Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro, Flamengo e Fenerbahçe da Turquia. Pela deferência ao Palmeiras, em março de 2015 realizou jogo de despedida entre amigos no Allianz Parque.

 A singularidade de Alex transcendia os gramados e persiste como comentarista da ESPN. Líder do Bom Senso F.C. - grupo de atletas que reivindicava direitos e melhoria no futebol brasileiro - ousou criticar desmandos da CBF e de se submeter à TV Globo.

 Sem papas na língua, deixou claro que jamais jogaria no Atlético Paranaense, rival do Coritiba. E sobraram críticas a dois treinadores: “Marco Aurélio Moreira foi o pior com quem trabalhei”, comentou, sem esconder a mágoa por ter sido dispensado do Cruzeiro por telefone.

 Outro visado foi o treinador Aykut Kocaman, do Fenerbahce de 2012, que, quando atleta do clube, atingiu 140 gols. Como Alex era substituído seguidamente no segundo tempo, o acusou de receio que o ultrapassasse na artilharia no clube, visto que ele já havia atingido 136 gols. Por fim, após totalizar 185 gols em 378 jogos nos oito anos de futebol turco, Alex foi dispensado.

 Profissionalizado no Coritiba em 1995, Alex marcou 422 gols em 1.034 partidas nos 17 anos de carreira como exímio cobrador de faltas, precisão nos passes, dribles e chutes calibrados. O palmeirense começou a desfrutar dessas virtudes na goleada contra o Fluminense por 4 a 1, em julho de 1997, ratificadas nas conquistas das copas do Brasil e Mercosul em 1998, e Libertadores de 1999 e 2000.

 Em 2000 ele ainda conquistou o Torneio Rio-São Paulo, e saiu por empréstimo ao Flamengo. No retorno, ficou até 2002, em tempo de marcar gol antológico contra o São Paulo, pelo Torneio Rio-São Paulo, Estádio do Morumbi, após ‘chapelar’ Emerson e Rogério Ceni.


 No Parma da Itália não repetiu o desempenho e o Cruzeiro o acolheu em contrato de dois anos, deixando histórico de 121 partidas, 64 gols, e títulos mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. A frustração foi ter sido preterido pelo treinador Felipe Scolari na Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo de 2002.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Atacante Parada, outro ‘rei do gatilho’

 Nos tempos de olho por olho e dente por dente também no futebol, décadas passadas, pessoas ligadas diretamente ao meio andavam armadas com revólveres, como prevenção. O saudoso treinador-jornalista João Saldanha ameaçou Yustrich, técnico do Flamengo que já morreu, no Retiro dos Padres no Rio de Janeiro.

 Anos depois surgiu no futebol o árbitro Dulcídio Vanderlei Boschilia, já falecido, que chegava aos estádios com arma visível na cintura. O saudoso jogador e comentarista de futebol Mário Sérgio Pontes de Paiva justificou o apelido de ‘Rei do Gatilho’ porque em 1979 espalhou rodinha de torcedores do São José nas proximidades do ônibus que conduzia a delegação do São Paulo no Vale do Paraíba, ao sacar um revólver e disparar tiros para o alto após derrota do time são-paulino por 1 a 0.

 Exemplos estão aí aos montes de boleiros prevenidos com armas de fogo antes da vigência da lei 10.826 do Estatuto do Desarmamento, sancionada em dezembro de 2003. O centroavante Antonio Parada Neto, na passagem pelo Guarani em 1967, sacou um revólver e deu tiros para espantar torcedores da Portuguesa Santista que ameaçaram jogadores bugrinos, após jogo no Estádio Ulrico Mursa, em Santos.

 Aos 78 anos de idade, Parada fixou residência na capital paulista, e seu comportamento tranquilo contrasta com o tempo de atleta iniciado em 1957 no Palmeiras. Três anos depois, trocado pelo goleiro Rosan, foi jogar na Ferroviária de Araraquara (SP), mas a carreira decolou mesmo no Bangu a partir de 1963, num time formado por Ubirajara; Élcio, Mário Tito, Zózimo e Nilton; Ocimar e Roberto Pinto; Paulo Borges, Bianchi, Parada e Matheus.

 Parada, atacante estilo clássico, tinha frieza para conclusões. Por isso teve passagem marcante no Botafogo (RJ) em 1966, ano do título do Torneio-Rio São Paulo, no time dirigido por Admildo Chirol, que tinha Manga; Paulistinha, Zé Carlos, Dimas e Rildo; Elton e Gérson; Jairzinho, Bianchini, Parada e Roberto. Na ocasião, ele foi artilheiro da competição com oito gols. Na prática, Botafogo, Corinthians, Santos e Vasco terminaram a disputa com 11 pontos, mas o ‘Fogão’ se prevaleceu no critério saldo de gols que não constava inicialmente no regulamento.


 Parada voltou ao Bangu, teve passagem discretíssima pelo Corinthians, e perambulou por clubes do Norte do país até 1975, quando encerrou a carreira.

Yustrich, o ‘homão’ encrenqueiro

 Berros de técnicos de futebol que ecoam pelos gramados são ‘fichinhas’ se comparados aos estilos de disciplinadores como Flávio Costa, Osvaldo Brandão e Yustrich, já falecidos. Num jogo do Vasco contra o América-RJ em 1950, pelo Campeonato Carioca, o meia vascaíno Ipojucan se dirigiu a Flávio Costa, no intervalo, e pediu para sair, com alegação de mal-estar. Diz a lenda que Flávio Costa, irritado com a derrota parcial por 1 a 0, esbofeteou o jogador e exigiu que continuasse em campo. Conclusão: o Vasco virou o placar para 2 a 1 e Ipocujan ‘deitou e rolou’.

 Dorival Knipel, o Yustrich, teve rico histórico como goleiro do Flamengo nas décadas de 30 e 40, quando conquistou os títulos em 1939 e 1942, o que lhe abriu portas como treinador nos principais clubes do Rio de Janeiro.

 Metido a valentão, Yustrich comprava brigas com jogadores, imprensa e até companheiros de profissão. Ganhou o apelido de ‘homão’ porque era alto e forte. Se inovou ao exigir mesa farta de frutas para boleiros após treinos e jogos, impunha contestável estilo militar no comando dos grupos e arrumava encrencas.

 Em 1971, por exemplo, quando era treinador do Flamengo, barrou o talentoso e saudoso argentino Doval, porque não admitia jogadores de cabelos compridos. Yustrich desconsiderou habilidade, velocidade, boa impulsão e gols daquele ponteiro-direito, um gringo loiro, olhos azuis e que fazia sucesso com a mulherada nas boates da zona sul do Rio de Janeiro. Acreditem: Doval voltou ao futebol argentino por empréstimo e Yustrich - que também tinha ojeriza por barbudos - ficou na Gávea.

 Dois anos antes, Yustrich só escapou da ira do igualmente saudoso técnico João Saldanha porque não estava na concentração do Flamengo, time que treinava. Saldanha comandava a Seleção Brasileira e já estava desgastado devido ao temperamento explosivo. E entre o bombardeio de críticas somava-se a de Yustrich após derrota num amistoso por 2 a 0 para o Atlético Mineiro. E não é que Saldanha, com revólver na cinta, invadiu a concentração do Mengo em São Conrado, para ajuste de contas!

 Na década de 70, quando treinava o Cruzeiro, Yustrich substituiu Brito durante uma partida sem imaginar a reação do zagueiro que se vingou ao se aproximar do banco de reservas, atirar a camisa suada no rosto dele e correr. Seria suicídio enfrentar aquele brutamente, mesmo envelhecido. 

Edson Arantes, um outro Pelé

 Esse 23 de outubro marca o 77º aniversário de Pelé, ex-atleta jamais destronado após ter pendurado as chuteiras há 39 anos, no Cosmos (EUA). Apesar de 1,74m de altura, tinha invejável impulsão para o cabeceio. Embora destro, usava o pé esquerdo. Assim, contribuiu para o tricampeonato mundial da Seleção Brasileira e atingiu marca insuperável de 1.282 gols na carreira.

 Em setembro passado, apesar da dificuldade de locomoção para receber prêmio da revista GQ Britânica, Pelé mostrou-se bem-humorado: “Não poderei jogar a próxima partida. É que me deram uma nova chuteira”, brincou, ao exibir a bengala que faz uso com frequência desde 2015, quando se submeteu a cirurgia de correção do quadril feita em 2012, para instalação de prótese na cabeça do fêmur direito.

 Na entrevista ao portal Terceiro Tempo, no começo deste ano, o eleitor Edson Arantes do Nascimento rebuscou frase polêmica dos anos 80. “Nós, brasileiros, temos que votar na pessoa certa. A gente não pode votar só porque ganha um prêmio”. Todavia, o alerta foi deturpado. Propagaram que ele teria criticado o brasileiro por não sabe votar. 

 Seja como for, os anos mostraram despreparo na escolha de representantes a cargos públicos. Nisso apostam desonrados políticos na busca à reeleição ano que vem.

 Pelé se envolveu em três casamentos. Com Rosimeri Cholbi teve três filhos: Kelly Cristina, Edson Cholbi Nascimento (Edinho) e Jennifer. O relacionamento de 13 anos com a cantora gospel Assíria Lemos resultou em gêmeos. Ano passado casou-se com a empresária Márcia Cibele Aoki, 33 anos mais nova de que ele.

 Fora de casamentos, a Justiça o obrigou a reconhecer a paternidade de Sandra Regina Arantes do Nascimento Felinto em 1996, vereadora em Santos que morreu em outubro de 2006, vítima de câncer de mama. Outra filha reconhecida foi Flávia Kurtz.

 Ministro dos Esportes de 1995 a 1998, defendeu o final da lei do passe, com argumento que jogador de futebol não podia ser escravo de clubes. Das críticas ácidas, o ex-atacante Romário respondeu-lhe em tom agressivo: “O Pelé de boca fechada é um poeta. Quando ele abre a boca sai merda”.


 Natural de Três Corações (MG), Pelé atingiu o zagueiro Procópio, provocando rompimento de ligamentos do joelho em jogo do Santos contra o Cruzeiro pela Taça do Brasil de 1968.  Três anos antes quebrou a perna de Kiesman da Alemanha.

domingo, 8 de outubro de 2017

Dadá Maravilha criou a palavra solucionática

 Em recente programa de televisão, as primeiras palavras do ex-centroavante Dario, o Dadá Maravilha, foi um agradecimento a Deus no seu estilo folclórico. “Eu disse ao senhor que ele está me dando até demais. Pedi pra que me dê um pouco menos”.

 Essa espontaneidade de Dadá Maravilha é caracterizada por singularidade desde os tempos em que se despontou no futebol no Atlético Mineiro em 1968, e lá repetiu mais três passagens. Hoje, radicado em Belo Horizonte e atuando como comentarista esportivo de televisão, confessa publicamente ser torcedor do Galo.

 Como artista em referência ao personagem, Dadá tem hábito de falar dele na terceira pessoa do singular, exagerando no autoelogio. "Garrincha, Pelé e Dadá têm que ser currículo escolar”. Também fez questão de o incluir entre os principais cabeceadores do futebol mundial de todos os tempos. “Só existem três coisas que param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá”.

 Embora desengonçado, Dadá era artilheiro nato. Explorava a estatura de 1,85m de altura e boa impulsão para marcar gols de cabeça até 1986 no Comercial de Registro, porém com notabilidade em clubes como Flamengo, Inter (RS), Sport Recife, Náutico, Santa Cruz, Paysandu, Bahia, Goiás e Ponte Preta. Em 1976, na conquista do título brasileiro pelo Inter, foi dele um dos gols da vitória sobre o Corinthians por 2 a 0.

 Quando os críticos o rotulavam de caneleiro, a resposta era curta e grossa: "Eu me preocupo tanto em fazer gols que não tive tempo de aprender a jogar futebol”. E os gols ‘brotavam’ de todo jeito, até de bico na bola: “Não existe gol feio; feio é não fazer gol”.

 Como bom marqueteiro, Dadá promovia jogos com promessa de gols. Na passagem pela Ponte Preta, por exemplo, prometeu e marcou o ‘gol Fepasa’ em homenagem aos torcedores pontepretanos ‘durangos’ que assistiam às partidas no morrinho da linha do trem, atrás do gol da cabeceira sul do Estádio Moisés Lucarelli, topograficamente em plano acima do gramado, que permite visão de metade do campo.


 Evidente que alguns adversários nem sempre encaravam tais promessas como promoção do evento. Interpretavam-nas como combustível na fogueira, mas nem por isso Dadá mudou a postura. Fazia tudo por diversão. E quando questionado sobre o grau de dificuldade de determinado adversário, até criou palavra: “Não venham com a problemática porque eu tenho a solucionática”. 

Talentoso Luizinho também foi briguento

 Imagine áspera discussão de jogadores adversários em que um ofende a mãe de outro. O ofendido foi o saudoso meia corintiano Luiz Trochillo, o Luizinho, baixinho encardido, num jogo amistoso em 1957 com o São Paulo do provocante atacante e também saudoso Gino Orlando.

 E não é que o rancoroso Luizinho encontrou casualmente com Gino em uma festa e revidou a ofensa com tijolada na cabeça dele. O corte foi profundo, esguichou bastante sangue, e o fato ganhou manchete de jornais. Aí, foi necessário o apresentador de televisão Manoel da Nóbrega, que tinha um programa com propósito de reconciliar desafetos, recolocá-los frente a frente para que se abraçassem.

 Esse mesmo Luizinho, apelidado de Pequeno Polegar por causa de 1,67m de altura, foi autor do gol do título corintiano do IV Centenário da cidade de São Paulo de 1954, no empate por 1 a 1 com o Palmeiras, na penúltima rodada do Campeonato Paulista, que se arrastou até fevereiro de 1955. O time era formado por Gilmar (Cabeção), Homero e Olavo; Roberto, Idário e Goiano; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Simão.

 Três anos antes Luizinho havia levado a torcida corintiana ao delírio quando aplicou caneta no zagueiro argentino Luis Villa, do Palmeiras, e sentou literalmente na bola.
 Pesando 55 quilos, era rápido e ágil para evitar choques com zagueiros gandalhões. Isso se estendeu de 1948 até 1960, quando se transferiu para o Juventus. Na volta ao Timão, quatro anos depois, já não era o mesmo. Assim, a carreira se estendeu até o dia 21 de setembro de 1967, na vitória por 4 a 0 sobre o Bragantino.

 Depois continuou ligado ao Corinthians como funcionário. Por três vezes desempenhou as funções de técnico tampão da equipe, ocasião em que percebeu não ter vocação para ser comandante. Ele morreu em 1998 aos 68 anos de idade com fama de provocador e arrogante. "Não sou atleta para jogar com público inferior a 30 mil torcedores", citou como responsável por levar torcida aos estádios em época que a cidade de São Paulo contava com apenas 2,5 milhões de habitantes e os bondes corriam sobre trilhos.


 A identificação com o Corinthians vinha da adolescência quando frequentava o Estádio Parque São Jorge, para se espelhar nos atacantes Servilio e Teleco, que tem a maior média de gols por jogo na história do Corinthians: em 234 partidas marcou 243 gols.

domingo, 24 de setembro de 2017

Seis anos sem Escurinho, um reserva carismático

 Esse 27 de setembro marca o sexto ano da morte do atacante Luiz Carlos Machado, o Escurinho, um reserva de luxo no Inter (RS) na década de 70, que tinha a sina de entrar no segundo tempo e decidir jogos, invariavelmente com gols de cabeça.

 O diagnóstico da morte foi complicações provocadas pelo diabetes. Desde a época foi inevitável a discussão sobre possibilidade futura de cura da doença, sem que o objetivo tenha sido atingido, assegura o médico Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, em entrevista ao portal G1 em abril passado. “Não existe vacina no mercado capaz de evitá-la. Não há tratamento milagroso”, assegurou.

 A perna direita de Escurinho, que lhe deu apoio para magnífica impulsão nos cabeceios, foi amputada do joelho para baixo em 2009, antes de sua última aparição pública, após compor o hino do centenário do Inter.

 Pouco antes da morte, aos 61 anos de idade, a perna esquerda dele também sofreu amputação acima do joelho. Em ambos os casos a justificativa foi insuficiência renal e diabetes não controlados com tratamentos para regularizar o funcionamento vascular.

 Hoje, se surgisse boleiro com apelido de Escurinho, denúncia de racismo seria inevitável. Na década passada um advogado gaúcho impetrou ação de indenização por danos morais contra o Inter ao abandonar o antigo mascote saci e substitui-lo por um macaco batizado como Escurinho.

 Claro que nada a ver com o então atleta Escurinho que jamais censurou o apelido desde os sete anos de idade, em Porto Alegre, por ser negro. Seu negócio era jogar futebol e a sua história começou no Inter (RS) num elenco formado por jogadores altos e fortes na década de 70, comandados pelo então técnico Rubens Francisco Minelli.

 Naquele time bicampeão brasileiro em 1975/76, o ataque era formado por como Valdomiro, Flávio e Lula. Logo, Escurinho tinha que se contentar com a reserva. O time base daquele biênio era de Manga; Cláudio Duarte, Fugueiroa, Hermínio (Marinho Peres) e Vacaria; Caçapava, Falcão e Paulo César Carpegiani (Batista); Valdomiro (Jair), Flávio (Dario) e Lula (Escurinho).

 Depois, já no Palmeiras, manteve o hábito de gols de cabeça no segundo tempo, até entrar na estrada da volta no Inter de Limeira, Bragantino, Barcelona de Guayaquil (EQU) e encerramento da carreira no Caxias do Rio Grande do Sul, em 1985.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Narciso, exemplo de superação

 Se 27 de setembro é celebrado o Dia Nacional do Doador de Órgãos, o ex-jogador e treinador desempregado Narciso preocupa-se diuturnamente em conscientizar a população sobre a importância de ser doador, e assim ajudar pessoas que lutam para salvar vida.

 Narciso dos Santos, sergipano de Neópolis, nascido em dezembro de 1973, sempre repete a sua heróica história de perseverança ao vencer a leucemia mielóide crônica, diagnosticada em 2000, pois médicos projetaram no máximo 40% de chances de sobrevivência.

 Vitimado pela doença no auge da carreira, no Santos, contou com a irrestrita solidariedade da esposa Miradeide durante penosas sessões de quimioterapia até o transplante de medula óssea, que permitiu a cura. Isso o sensibilizou a narrar sua história de superação para estimular pacientes.

 O transplantado é monitorado pelo resto de sua vida. Conta o empresário de futebol Dalécio Pastor, de Campinas, transplantado de fígado, que o brasileiro é preconceito para doação de órgãos. “Só 6% de nossa população aceita doar, contra 16% dos Estados Unidos e 36% da Espanha”, comparou.

 Narciso, grato a benção recebida, promove jogos beneficentes para doação de alimentos à Nacac (Núcleo de Amparo a Crianças e Adultos com Câncer), Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e Lar Santo Expedito, entidades de Santos.

 O transplantado é exposto a enfermidades, mas no caso específico de Narciso a decisão de encerrar a carreira de atleta em 2004, aos 31 anos de idade, foi desmotivação pelo banco de reserva. Em seis meses, após a cirurgia, jogou apenas cinco vezes, contrastando com trajetória ascendente a partir do Corinthians de Alagoas, Penapolense (SP) e Santos, além de rápida passagem por empréstimo ao Flamengo.

 Zagueiro por vocação, não estranhou adaptação como volante. Na trajetória, medalha de bronze pela seleção olímpica do Brasil em 1996, em Atlanta (EUA), atuou oito vezes na seleção principal entre 1995 e 1998, e foi vice-campeão brasileiro pelo Santos em 1995, num time formado por Edinho; Marquinho Capixaba, Ronaldo Marconato, Narciso e Marcos Adriano; Carlinhos, Giovanni, Robert e Jamelli; Camanducaia e Marcelo Passos. O Botafogo (RJ) foi campeão.

 O Santos abriu-lhe as portas como treinador na categoria de juniores. Depois treinou equipes paulistas como Penapolense e XV de Piracicaba.

domingo, 10 de setembro de 2017

Adeus a Oscar Scolfaro, árbitro dos anos 70 e 80

 No dia 31 de março de 2012 o jornalista Cassio Zirpoli, do jornal Diário Pernambucano, produziu texto intitulado ‘Sport x Flamengo, 30 anos depois’. O motivo para recapitular aquele jogo válido pelas oitavas-de-final do Campeonato Brasileiro foi reiterar críticas ao então árbitro paulista Oscar Solfarão.

 Após derrota por 2 a 0 no primeiro confronto disputado no Estádio do Maracanã, o Sport precisava de vitória por dois gols de diferença em Recife, para avançar na competição. E o placar de 3 a 1 seria obtido não fosse anulado por Scolfaro gol que os pernambucanos ainda argumentam legítimo nos minutos finais.

 Pois esse Scolfato que apitou de 1971 a 1982, sujeito a erros involuntários como todo árbitro, morreu no último dia nove de setembro em Campinas, vítima de câncer, deixando histórico de árbitro com carreira sul-americana e apitando importantes confrontos pela Libertadores da América.

 Tido como árbitro de primeira linha do quadro da CBF, incontáveis vezes foi indicado por federações estaduais para apitar decisões. O aprendizado para lidar com pressões ocorreu quando apitava no futebol varzeano de Campinas, sua cidade natal, quando, sem policiamento, habilmente contornava situações complicadas.

 Scolfaro se destacava pela precisão técnica, mas não relutava no aspecto disciplinar. No dia 12 de fevereiro de 1978, carregou na súmula do jogo em que o Botafogo de Ribeirão Preto venceu o São Paulo por 1 a 0, gol do saudoso meia Sócrates.

 É que o então atacante Serginho Chulapa, quase no final daquela partida, deu um bico na canela do bandeirinha Vandevaldo Rangel, que marcou impedimento em lance convertido em gol. Foi quando Scolfaro relatou o fato que resultou em punição inicial de 14 meses de suspensão ao agressor, com redução de pena para 11 meses.


 Nas histórias que Scolfato contou ao saudoso radialista Fause Kanso, uma delas cita que, escalado para apitar Uruguai e Colômbia, pelas Eliminatórias à Copa do Mundo em Montevidéu, o avião teve que aterrissar em Buenos Aires, na Argentina. Aí, o jeito foi rodar em um taxi a procura de vaga em hotel, não encontrada. Foi quando o motorista, apaixonado pelo futebol brasileiro, ofereceu a casa dele para hospedagem, a fim de que, no dia seguinte, o improvisado hóspede pudesse completar viagem e corresponder a escala àquele confronto sul-americano. 

domingo, 3 de setembro de 2017

Quarentinha jamais comemorou gols

 Se hoje é praxe ex-jogadores não comemorarem gols quando jogam contra ex-clubes, há mais de cinquenta anos Waldir Caroso Lebrêgo, o Quarentinha, voltava ao meio de campo andando e sem qualquer sinal de comemoração quando marcava gols com a camisa nove do Botafogo carioca.

 Aquele comportamento irritava a barulhenta torcida botafoguense, que cobrava vibração. De uma forma ou de outra, marcar gols era coisa corriqueira na carreira dele, transformando-se no maior artilheiro do clube com 313 gols em 442 jogos disputados.

 Justificativa dele? Dizia que não havia razão para festejos. Repetia que nada mais fazia de que cumprir a sua obrigação, visto que era pago para aquilo.

 O comportamento frio também era repetido na Seleção Brasileira, com aproveitamento excelente: 17 gols e 17 gols, de 1959 a 1961, geralmente explorando aquele chute forte e certeiro de canhota, de qualquer distância.

 Foi a época que narradores de futebol caracterizavam chutes fortes com ‘bomba’, ‘canhão’, ‘morteiro’, metáforas eternizadas em transmissões de rádio e TV. E quando Quarentinha ajeitava a bola para cobranças de faltas, era normal a barreira se abrir com receio de algum atleta ser vítima da bolada.

 Conta o saudoso jornalista Armando Nogueira - torcedor confesso do Botafogo - que Quarentinha teve influência do pai Luís Gonzaga Lebrêgo, o Quarenta, também ex-atleta, para ingressar na carreira no Paysandu. “O filho herdou, intactos, o chute poderoso e o apelido”, comparou. No clube, consta o pai como terceiro maior artilheiro com 208 gols.

 A sequência da carreira de Quarentinha foi no Vitória da Bahia, até chegar no Botafogo em 1956. Foi quando fez parte do lendário time botafoguense cujo quinteto ofensivo era formado por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Naquela fase áurea do clube ele foi artilheiro em três edições consecutivas do Campeonato Carioca, a partir de 1958.

 Antes de encerrar a carreira no clube Almirante Barroso, de Santa Catarina, o então centroavante jogou no Unión Magdalena, Deportivo Cali, Junior Barranquilla e América de Cali, da Colômbia. De volta ao Brasil, teve passagem pelo Náutico.

 Fosse vivo, Quarentinha estaria completando 84 anos de idade neste 15 de setembro. A história dele começou em Belém (PA) - sua cidade natal - e terminou com a morte em 11 de fevereiro de 1996, no Rio de Janeiro, onde havia fixado residência quando parou de jogar.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Toquinho, atacante dos tempos bons da Lusa

 Copa Paulista foi o que sobrou à Portuguesa de Desportos até o final desta temporada, após sequer passar à segunda fase da quarta divisão do futebol nacional, a Série D, reflexo da derrota por 1 a 0 para a Desportiva capixaba, no Espírito Santo, dia 25 de junho passado.

 Desde 2013 a Lusa tem despencado com seguidos rebaixamentos. No âmbito paulista ela disputa a Série A2. Atolada em dívidas, ainda não se descarta a hipótese de perda do Estádio do Canindé, apesar da tentativa de acordo trabalhista com ex-jogadores.

 O cenário contrasta com tempos de glória do clube. Em 1973 seus torcedores festejaram a partilha do título paulista com o Santos. Partilha? Sim. Na ocasião a definição se estendeu às cobranças de pênaltis, e o saudoso árbitro Armando Marques se perdeu na contagem. Com a confusão estabelecida, a Federação Paulista decidiu pela repartição da conquista.

 Doze anos depois o time luso chegou a outra final de Paulistão contra o Tricolor paulistano, e ficou com o vice-campeonato. O segundo e decisivo confronto foi presenciado por cem mil torcedores no Estádio do Morumbi.

 Naquele lendário jogo o treinador da Lusa era Jair Picerni, e o time contava com Serginho; Luciano, Luiz Pereira, Eduardo e Albéris; Célio, Toninho e Edu Marangon; Toquinho (Jorginho), Luiz Muller e Esquerdinha.

 O Toquinho em questão foi um ponteiro-direito driblador, veloz e fazedor de gols, assim como dava assistência aos centroavantes artilheiros. Ele chegou ao Canindé em 1980, e lá ficou durante cinco anos.

 Há registro, igualmente, de passagem bem-sucedida em Araraquara na Ferroviária, entre 1987 a 1989. Na ocasião atuou ao lado de jogadores como Marcão, Mauro Pastor, Vonei e Rubens Feijão, Helinho, Washington, Betão e Julimar.


 Agora, aos 60 anos de idade completados dia 24 agosto passado, Luiz Carlos Lombardi da Silva, o Toquinho, continua no futebol na função de treinador do Rio Grande (RS), sua cidade natal, onde iniciou a trajetória como atleta em 1976, e atuou por outros clubes gaúchos como Grêmio, São Paulo, Caxias e Internacional de Santa Maria.

sábado, 19 de agosto de 2017

Baroninho, ponteiro-esquerdo do chute forte

 Quando o ponteiro-esquerdo Baroninho ajeitava a bola para cobrança de faltas, era perceptível a paúra de jogadores adversários previamente orientados para participar da formação da barreira. O chute parecia um foguete. O risco de provocar nocaute em quem a bola atingisse era evidente. Todavia, a pontaria geralmente recomendava endereço do gol ou próximo. Goleiros tinham incrível dificuldade para a defesa.

 Baroninho é o exemplo típico do ex-boleiro que unia o útil ao agradável para bater na bola. Se a força no pé foi uma dádiva, ele reconhece que o saudoso treinador Telê Santana teve participação preponderante para que assimilasse o jeito do chute.

 Foi assim que marcou a maioria dos gols na carreira com iniciada e terminada no Noroeste de Bauru de 1973 a 1988, intercalada em grandes clubes como Palmeiras - triênio a partir de 79 - e Flamengo. Palmeirenses da velha guarda jamais vão esquecer aquela surpreendente goleada imposta ao Flamengo em pleno Estádio do Maracanã por 4 a 1, no primeiro ano de agremiação do atleta, quando marcou um golaço e foi o principal destaque. O histórico dele no Verdão foi de 192 partidas e 32 gols, mas ele avisa que nos 15 anos de carreira marcou 172 gols, justificando que só não aumentou a marca porque era ‘passador de bola’.

 Consta nas fichas dos arquivos do Departamento Amador do Noroeste que na categoria infantil ficou alojado no clube Edilson Guimarães Baroni, o Baroninho, que aos dez anos de idade perdeu o pai e já havia se convencido que velocidade e sabedoria para usar a perna esquerda lhe renderiam a carreira de atleta. Talvez não imaginasse colocar no peito - mesmo na condição de reserva - medalhas dos títulos da Libertadores e Mundial de Clube pelo Flamengo em 1981.

 Essa identificação com o futebol o fez prosseguir no meio repassando aprendizado à garotada de escolinha ou categoria de bases de clubes. Nessa empreitada lançou, entre outros, os irmãos Richarlyson e Alessandro no Noroeste.


 Hoje, como treinador da equipe principal do XV de Jaú, Boroninho, 59 anos de idade, tem o hábito de ‘resenhar’ com a boleirada e cita casamento sólido dele de 32 anos, adverte para que guardem bem o dinheiro ganho, prega vida regrada sem vícios de cigarro e bebida, e compara a preparação física de outrora - caminhada de 20 quilômetros - com vantajosos exercícios em academia e esteira.

domingo, 13 de agosto de 2017

Osni, 1,56m de altura e muito talento

 Anda fora de moda jogadores baixinhos no futebol brasileiro. Um dos últimos em destaque joga no Al-khor do Catar desde 2012, caso do meia-atacante Madson, 1,57m de altura. Hábil, veloz, foi lançado no Vasco pelo treinador Renato Gaúcho em 2005, passando por Santos e Atlético Paranaense.

 Bahia é clube com tradição de ser bem-sucedido com jogadores baixinhos. Um deles o paulista de Osasco Osni Lopes, ponteiro habilidoso e goleador. Nas três passagens intercaladas - a última delas no biênio 1984-85 - totalizou 115 gols.

 Outro exemplo foi Naldinho, que marcou um dos gols na goleada do Bahia sobre o Fluminense por 4 a 1, em pleno Estádio das Laranjeiras. Na ocasião, Gil, Charles e Luiz Henrique também marcaram para os baianos.

 Naldinho, 1,58m de altura, se vangloriava de suas qualidades. “Eu era jogador rápido e inteligente”. Logo, não se constrange citar que se nascesse no futebol de hoje estaria milionário, comparando a montanha de dinheiro que clubes pagam a atletas que considera razoáveis. “Está acabada a geração de jogadores de técnica apurada. Tem um monte de perna de pau por aí que não merece estar em clube algum”.

 E justifica a crítica ao mira-se no exemplo de o atleta bater na bola. “Não compreendo como jogadores que treinam a semana toda não conseguem cruzar corretamente”.

 Tal como Naldinho, Osni, 1,56m de altura, era hábil e fazia gols. A carreira começada no Santos em 1968, ganhou amadurecimento em Madureira, Olaria e Flamengo, até atingir o ápice em Salvador (BA). No Vitória, foi o pivô de briga generalizada entre jogadores rivais ao sentar na bola, após driblar o adversário Romero, do Bahia.

 No tricolor baiano a partir de 1978, jogou machucado. Aí, houve queda de rendimento e a cabeça ficou em parafuso. Irritou-se quando o seu cachorro foi mordido em briga com outro animal, tentou se vingar com pedaço de pau, e quase acabou linchado.

 Depois o então presidente Paulo Maracajá atrasou o seu salário com argumento de que ‘quem não joga também não ganha”, fato que provocou desdobramento na Justiça do Trabalho. E, impaciente, agrediu o fotógrafo Mário Bonfim do jornal Tribuna da Bahia, segundo publicação da revista Placar, porque não queria ser flagrado em clínica médica.


 Por fim driblou as adversidades, mostrou que tamanho não é documento para enfrentar grandalhões, e foi convocado até à Seleção Brasileira.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Oito anos sem Pinheirense, o beque mais violento

 Não desmintam saudosistas quando apontam o saudoso Antenor José Cardoso, o Pinheirense, natural da cidade de Pinheiros, interior do Maranhão, como zagueiro mais violento do futebol brasileiro dos últimos 50 anos. Décadas passadas, quando narradores de futebol metaforizavam frases de que fulano ‘abriu a caixa de ferramentas’, a carapuça servia para Pinheirense que, propositalmente, acertava meio gomo da bola e alongava o pé pra pegar o adversário. Ele batia da medalhinha pra cima.

 Foi o período em que treinadores malandros mandavam ‘matar’ jogadas do adversário no nascedouro. Alguns diziam ‘bola ou bolim, referência que passava a bola e não passava o adversário.

 Quem duvida que Pinheirense foi recordista de expulsões, basta avaliar o histórico. O igualmente saudoso árbitro Dulcídio Wanderlei Boschilia o expulsou nove vezes. Outras quatro vezes ficaram por conta de ex-árbitros como Oscar Roberto Godoy e Roberto Nunes Morgado. Isso nas passagens por clubes paulistas que disputavam o Paulistão como Ferroviária, Botafogo, São Caetano, Paulista de Jundiaí e Ituano.

 Claro que faltam contabilizar cartões vermelhos em divisões inferiores quando atuou por Lençoense, Lemense, Corinthians de Presidente Prudente, além de períodos no Náutico, Coritiba e Londrina. Logo, difícil imaginar qual jogador desfalcou tanto a sua equipe por suspensões automáticas ou impostas por tribunais desportivos.

 Pinheirense morreu no dia 21 de agosto de 2009, em Recife (PE), aos 53 anos de idade, vítima de complicações generalizadas. E se quase aleijou adversários com as suas botinadas, passou os últimos dez anos de vida em cadeira de rodas. Ficou paraplégico após ter sido alvejado pelas costas pelo marido de uma ex-namorada, na capital paulista.

 A carreira, de pouco mais de 15 anos, foi encerrada em 1993, período em que muito se falava da fama de xerife do falecido zagueiro Moisés - ex-Bangu e Corinthians -, sem que isso resultasse em expulsões. “Quase ganho o Belfort Duarte”, brincou ele, certa ocasião, em referência ao prêmio instituído pelo Conselho Nacional de Desporto em 1945, oferecido ao atleta que passava dez anos sem ser expulso de campo.

 Márcio Rossini, ex-atleta de Marília (SP), Santos, Bangu e Flamengo foi o típico zagueiro temido por adversários pela violência, em época que a maioria dos estádios não oferecia segurança. Aí, árbitros cediam às pressões.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Perivaldo, da Seleção Brasileira a morador de rua

 A história do baiano e ex-lateral-direito Perivaldo Lúcio Dantas, morto em 27 de julho passado aos 64 anos de idade, é mais uma daquelas que deveriam ser refletidas por jovens jogadores que vislumbram fama e contratos rentáveis em grandes clubes do mercado nacional ou lá fora.

 Como nem todo atleta se escora em procuradores ou empresários de futebol devidamente confiáveis e competentes para administração da carreira, coloca a perder o dinheirão proveniente de lucrativos contratos com mulheres, noitadas, bebidas e gastança com amigos ou aproveitadores que o surrupiam impiedosamente.

 Pois Perivaldo se encaixava no contexto da irresponsabilidade, e por isso foi nocauteado pela vida quando morou em Portugal. Reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, em outubro de 2013, o flagrou vagando pelas ruas da ‘terrinha’ como mendigo.

 Aquele cenário contrastava com o Perivaldo de pulmões invejosos ainda nos tempos de atleta do Bahia, quando fazia transição da defesa ao ataque com incrível velocidade, num time que contava, entre outros, com Douglas Onça, Baiaco e Beijoca.

 Logo, contratado pelo Botafogo (RJ) em 1977, o vínculo só foi encerrado cinco anos depois, entremeado a rápida passagem por empréstimo ao São Paulo. Se a princípio pecava nos cruzamentos, a persistência nos treinos permitiu a correção, e disso se aproveitou o ponta-de-lança Mendonça para marcar gols.

 Assim, chegou à Seleção Brasileira em 1981 quando, arrogante, julgava que apenas Carlos Alberto Torres e Toninho Baiano haviam sido laterais-direitos mais qualificados de que ele, cujo currículo aponta passagens por Palmeiras, três anos no Bangu (RJ) e futebol da Coréia do Sul, quando confessou ganhar salário de US$ 9 mil por mês.

 Em 1989 ele caiu no conto da sereia para jogar no futebol português, e sem qualquer garantia mudou àquele país à espera de proposta que nunca apareceu. Foi quando torrou o dinheiro em farras, com hábito de gastar bem mais de que recebia quer como cozinheiro, quer como vendedor de roupas e objetos usados em feira de rolo.


 Depois, já sem receita, a dependência era da ajuda de custo de familiares no Brasil. Foi quando se transformou em morador de rua, e o Sindicato dos Atletas de Futebol do Rio de Janeiro ofereceu-lhe emprego de auxiliar técnico para jogadores desempregados e tarefas administrativas.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Adeus a Waldir Peres, a muralha

 Com a morte do ex-goleiro Waldir Peres dia 23 de julho, é recomendável recapitulação de coluna publicada em maio de 2003, com citação do jogo Flamengo e Guarani de 1985 no Estádio do Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro, quando ele defendeu três pênaltis para os bugrinos e deixou o gramado como herói naquele empate por 1 a 1.

 Um ano anos havia caído em desgraça no São Paulo, transferindo-se ao América do Rio de Janeiro. Aí, ao recuperar a forma, veio para o Guarani, clube que paradoxalmente deveria ter iniciado a carreira em 1970. Embora aprovado no teste, a morosidade dos dirigentes para definição de contrato possibilitou que a rival Ponte Preta atravessasse a negociação, após indicação do ex-técnico Ilzo Neri.

 Vindo de Garça (SP), na ocasião ele deixava os longos cabelos caírem sobre testa e pescoço. Com a camisa pontepretana, Waldir Peres ficou um ano como reserva. Ao assumir a titularidade, só deixou o clube em 1973 na transferência ao São Paulo, precisando de apenas três meses para barrar o goleiro Sérgio. E lá foi absoluto na posição durante onze anos.

 Boa colocação, elasticidade e reflexo para praticar defesas cara a cara com adversários eram as principais virtudes, embora pecasse na saída da meta. Assim, participou daquele time 1977, treinado por Rubens Minelli, campeão brasileiro contra o Atlético Mineiro.

 Após empate sem gols, a definição ocorreu em cobranças de pênaltis. O São Paulo acertou três contra duas do Galo e festejou o título no Estádio do Mineirão. Waldir estava iluminado num time que tinha ainda Getúlio, Tecão, Bezerra e Antenor; Chicão e Teodoro (Peres); Zé Sérgio, Mirandinha, Dario Pereyra e Viana.

 Waldir Peres participou de três Copas do Mundo. Em 1974, na Alemanha, foi convocado como terceiro goleiro devido ao corte do lesionado Wendell, do Botafogo (RJ). Assim, pôde observar a regularidade do titular Émerson Leão e aprender com o reserva Renato (Flamengo).

 Em 1978, no Mundial da Argentina, foi reserva imediato de Leão. E em 1982, na Espanha, chegou a sua vez de jogar ao lado de uma patota que encantou o mundo, mas foi despachada pela Itália do carrasco Paolo Rossi.

 Foram 650 jogos na carreira de 19 anos como jogador, com passagens ainda por Corinthians e Portuguesa, ocasião em que se julgava habilitado a desempenhar funções de treinador, sem contudo obter s

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Edinho, zagueiro de três Copas do Mundo

 A maioria dos desportistas que vê trocas de bolas lentas e improdutivas entre zagueiros no futebol de hoje, com chance de recomposição à equipe adversária, provavelmente desconheça que o comunicativo comentarista esportivo do canal SporTV, Edino Nazareth Filho, carioca de 62 anos de idade, foi um quarto-zagueiro que desprezada essa frescura e arrancava com a bola ao perceber brechas na marcação adversária.

 Quando se lê Edino, não entenda que trata-se de erro de digitação ou desatenção do escrevente de cartório de registro quando do registro do nome. Desde à infância, para facilitar a identificação, foi chamado de Edinho. Assim construiu uma carreira de sucesso no futebol do Fluminense, fruto do investimento feito pelo clube à época nas categorias de base, quer incentivando revelação de talentos, quer garimpando no eixo Rio-São Paulo a procura de promessas para lapidá-las.

 No primeiro como profissional do Fluminense, em 1975, Edinho já se encaixou no time que se convencionou chamar de ‘maquina tricolor’, time pelos adversários, e que reeditou boas campanhas no ano subsequente.

 Aquele primeiro time contava com Félix; Toninho Baiano, Silvério, Edinho e Marco Antonio; Zé Mário, Cléber e Rivellino; Gil, Manfrini e Paulo César Caju. Na sequência, restou apenas Edinho no quinteto defensivo, formado por Renato; Carlos Alberto Torres, Miguel, Edinho e Rodrigues Neto. Os meio-campistas foram Pintinho, Caju e Rivellino; ficando o ataque com Gil, Doval e Dirceu.

 Além da técnica apurada para valorizar a saída de bola de trás, Edinho recebia aplausos pelo estilo raçudo, e foi premiado com convocações da Seleção Olímpica à principal, com participação em três Copas. Mesmo zagueiro de origem, atuou como lateral-esquerdo na Argentina em 1978, visto que a posição ficou com Amaral. Na Copa da Espanha de 82 foi reserva de Luizinho, até que quatro anos depois, na França, fez dupla de zaga com Júlio César.

 Apesar da identidade com o Fluminense - onde ficou por sete anos - teve passagem pelo rival Flamengo como atleta e treinador. Há registro - na carreira que se estendeu até 1990 no Grêmio (RS) - na Udinese da Itália, em 1982.

 Também aproveitou o livre trânsito no Fluminense para treiná-lo duas vezes, assim como passou pelo Marítimo de Portugal e futebol mexicano até 2011, quando optou transmitir a sua vasta experiência em televisão.

domingo, 9 de julho de 2017

Winck, lateral dos bons e treinador

 Quando encerrou a carreira de lateral-direito no São José do Rio Grande do Sul em 1996, Luiz Carlos Coelho Winck projetou incontinenti trajetória igualmente vitoriosa como treinador naquele mesmo clube. Idealizou que aprendizagem com renomados treinadores - como o saudoso Ênio Andrade - fosse suficiente para captar virtudes de liderança, psicologia, controle físico do grupo, treinamentos técnicos de aprimoramento, e aspecto tático.

Após cruzar o país em equipes de média e pequena expressão, apenas agora, no Criciúma, ganha visibilidade no Campeonato Brasileiro da Série B. Topou o desafio ao assumir o clube na quarta rodada, após três derrotas consecutivas. Agora, nos últimos oito jogos, reverteu o cenário com quatro vitórias e quatro empates, o último deles diante do Inter em Porto Alegre, numa amostragem que extrai competitividade de seus jogadores.

 Enquanto atleta mostrava pulmão de aço, que permitia chegar ao ataque sistematicamente. Como pegava bem na bola nos cruzamentos, vislumbrava companheiros em condições de completar jogadas.

 A recompensa foram convocações à Seleção Brasileira, com histórico de 17 partidas. Foi quando participou da Copa América de 1993, no Equador, com eliminação do Brasil nas quartas-de-final. Após empate com a Argentina por 1 a 1 no tempo normal, perdeu por 6 a 5 na definição através das cobranças de pênaltis.

 Por duas ocasiões Winck sonhou com a conquista da medalha olímpica. A primeira em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, Estados Unidos, com derrota para a França por 2 a 0 na final. Quatro anos depois, em Seul, Coréia do Sul, outra derrota da final, desta vez para a União Soviética por 2 a 1. Uma fratura na perna o impediu de participar da Copa do Mundo da Itália de 1990.

Gaúcho de Portal, Winck completou 46 anos de idade em janeiro passado. A profissionalização no Internacional (RS) ocorreu aos 17 anos de idade, com conquistas de seis títulos regionais pelo clube até 1989, quando se transferiu para o Vasco e comemorou o título do Campeonato Brasileiro na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, no Estádio do Morumbi.


 O time vascaíno da época era de Acácio; Luiz Carlos Winck, Quiñones, Marco Aurélio e Mazinho; Zé do Carmo, Boiadeiro e Bismarck; Sorato, Bebeto e William. De lá saiu em 1993 e passou novamente por Inter, Grêmio, Atlético (MG), Botafogo e Flamengo. 

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Um ano sem o raçudo volante Caçapava

O que seria do médico não fosse o enfermeiro ? Como se vê, o coadjuvante também é essencial em qualquer atribuição. No futebol, há compartimentos do campo em que boleiros de melhor compleição física correm e desarmam para que o talentoso possa brilhar.

 O volante Luís Carlos Melo Lopes, apelidado de Caçapava, por ter nascido em cidade gaúcha de mesmo nome, está incluso entre coadjuvantes merecedores de aplausos. Fazia de seu vigor físico a ferramenta imprescindível na engrenagem de uma equipe. Era um brutamente, distribuído em 80 quilos, que por vezes causava até intimidações a adversários, sem que pudesse ser rotulado de violento.

 Claro que se prevalecia nas bolas divididas, nas disputas ombro a ombro. A recompensa foi uma carreira em grandes clubes, a começar pelo Inter (RS), quando carregava o piano para favorecer ídolos como Falcão e Paulo César Carpegiani, sendo bicampeão brasileiro em 1975-76 nesse esquadrão: Manga; Cláudio Duarte, Figueroa, Hermínio (Marinho Perez) e Vacaria; Caçapava, Falcão e Carpegiani (Batista); Valdomiro (Jair), Flávio (Dario) e Lula (Escurinho).

 Pois esse Caçapava que passou pela Seleção Brasileira e abandonou o futebol em 1987, atuando pelo Fortaleza, só voltou a ser lembrado quando de sua morte no dia 27 de junho do ano passado, aos 61 anos de idade, vítima de ataque cardíaco. Ele chegou a pesar 132 quilos.

 Do Inter, caiu nas graças da torcida corintiana em 1979, adepta de jogador voluntarioso que sai de gramados com camisa ensopada de suor. Lá viveu o pior momento dois anos depois, quando o Corinthians ficou em oitavo lugar no Campeonato Paulista, e sequer conseguiu classificação por índice técnico ao Brasileirão, num time formado por Rafael; Zé Maria, Gomes, Rondinelli e Wladimir; Caçapava, Biro Biro, Sócrates e Zenon; Mário e Paulo César Caju.


 Em 1982 Caçapava já estava no Palmeiras. A partir disso trilhou a estrada da volta no futebol, com passagens por Vila Nova (GO), Ceará, Novo Hamburgo e Fortaleza. Depois ainda arriscou a carreira de treinador em clubes do Piauí, sem prosperar. Em seguida se identificou como consultor espiritual, com cobrança de consultas. O então centroavante Vamberto, do River (PI), o procurou para destravar um longo jejum de gols, e o reflexo, de imediato, foram quatro gols em partida contra o 4 de Julho.