domingo, 30 de agosto de 2015

Cléber, zagueiro armário bom de bola

 A caixa torácica avantaja do ex-zagueiro Cléber do Palmeiras, da década de 90, rendeu-lhe habituais conotações de armário, guarda-roupa, muralha e até xerife, embora não fosse jogador botinudo. Fosse briguento, esmagaria o então destemperado Edmundo do Vasco, que lhe desferiu um coice na primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1997.
 A violência de Edmundo foi caso pensado das então tramóias do Vasco. Naquele primeiro jogo da finalíssima contra o Verdão, dia 14 de dezembro, em São Paulo, o atleta havia sido penalizado com o terceiro cartão amarelo, e logo surgiu orientação do banco de reservas para que provocasse expulsão, projetando-se facilidade para se obter efeito suspensivo nas costumeiras maracutaias da CBF. 
 O equilibrado Cléber, 1,82m de altura, não revidou a pancada e a partida terminou empatada sem gols, com repetição do placar no jogo de volta dia 21, no Rio de Janeiro, resultado que assegurou o título nacional ao Vasco. O vice-campeão Palmeiras teve essa formação: Veloso; Pimentel, Roque Júnior, Cléber e Júnior; Galeano, Rogério, Alex e Zinho; Euller e Viola (Oséas).
 Curioso é que Cléber e Edmundo haviam sido companheiros no Palmeiras em 1993, quando a co-gestora Parmalat propiciou montagem de renomada equipe. Antes disso a história de Cléber Américo da Conceição no futebol começou como atacante aprovado em teste no juvenil do Atlético Mineiro em 1986, mas perceberam a aptidão dele para a zaga, e assim chegou ao profissional três anos depois mostrando excelente impulsão, tempo de bola para antecipação e lucidez para sair jogando.
 Clébão teve histórico de 13 jogos na Seleção Brasileira quando atuava no Galo mineiro, Logroñes da Espanha e Palmeiras, após substituir o instável Tonhão. E lá ficou até 1999, ano marcado pelo título da Libertadores. Na final contra o Deportivo Cali, da Colômbia, os mandantes colombianos venceram por 1 a 0. Já os palmeirenses descontaram em São Paulo com vitória por 2 a 1. Na definição dos pênaltis deu Verdão: 4 a 3.
 Foi a Libertadores do goleiro ‘São Marcos’, que defendeu pênalti cobrado por Vampeta na definição através deste expediente pelas quartas-de-final. A vitória embalou o time do treinador Luiz Felipe Scolari, que tinha esta formação: Marcos; Arce, Júnior Baiano, Cléber e Júnior; Galeano, César Sampaio, Alex e Zinho; Paulo Nunes e Oséas.
 No Mundial de Clubes o Palmeiras perdeu para o Manchester por 1 a 0 com Clebão na reserva, visto que voltava de lesão. Em 2000 ele foi jogar no Cruzeiro e depois passou por Santos, Yverdon da Suíça e Figueirense, antes de encerrar a carreira no São Caetano. Em 2010 tentou ser treinador no Rio Claro, e ficou na função até 2013, no Poços de Calda.

 Cléber, nascido em 26 de junho de 1969, foi carregador em supermercado aos 13 anos de idade. Depois trabalhou em fábrica de linguiça.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Oreco, um reserva de luxo

 Em selecionado com lateral-esquerdo da qualidade do saudoso Nilson Santos, a chance do reserva jogar era mínima. Só em caso de contusão, porque nas décadas de 50 e 60 jogador expulso não cumpria suspensão automática. Só ficava de fora se, no julgamento, fosse penalizado.
 Assim, o gaúcho Oreco, também falecido, sabia que seria um turista na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, ano do primeiro título mundial em que ele fez parte de um grupo competente de reservas formado por Castilho; Djalma Santos (só jogou na final), Mauro, Zózimo e Oreco; Dino Sani e Moacir; Joel, Mazola, Dida e Pepe. E em 1962, na conquista do bi, embora esbanjasse vitalidade e se sobressaísse na marcação, Oreco perdeu o lugar de reserva para o alagoano Altair, jogador do Fluminense incluído no time B, que tinha Castilho; Jair Marinho, Belini, Jurandyr e Altair; Zequinha e Mengálvio; Jair da Costa, Coutinho, Amarildo (jogou no lugar de Pelé) e Pepe.
 Naquela época, presidentes de clubes esbravejavam quando julgavam que jogador selecionável de seu elenco havia sido injustiçado. Num período de acirrada rivalidade entre paulistas e cariocas, o então presidente do Corinthians, Wadih Helou, dizia que jogadores de clubes do Rio de Janeiro eram privilegiados pelo fato de a antiga CBD (Confederação Brasileira de Depostos) ter sede no Rio.
 Oreco morreu no dia 3 de abril de 1985 em Ituverava (SP), na iminência de completar 53 anos de idade. O coração travou e dele restou uma história de profissional aplicadíssimo no trabalho e com fatos inusitados ao longo da carreira. Um deles cita que o Inter de Santa Maria (RS) - clube que o revelou como zagueiro - concordou com a proposta do Inter portoalegrense de liberá-lo em troca da construção de um muro ao redor do campo.
 Lá, devidamente adaptado à lateral-esquerda, conquistou títulos durante sete anos e despertou interesse da Portuguesa, que enviou um cartola a Porto Alegre (RS) para desfecho da negociação em 1957. Só que o Corinthians foi mais ágil e atravessou o negócio com proposta melhor.
 Na capital paulista, o futebol de Oreco se consolidou e começaram a surgir convocações à Seleção Brasileira, embora tivesse pouca chance de jogar. Ele ficou no Corinthians até 1965 sem o gostinho de comemorar títulos. No histórico de 404 jogos a torcida o isentou de cobranças, apesar do jejum de títulos. A costumeira raça, inerente dos gaúchos, sempre foi reconhecida.
 Oreco marcava por zona e raramente um ponteiro ganhava o duelo nas disputas que travavam. E tinha vantagem de cobrir bem o miolo de zaga, aproveitando a boa impulsão para ganhar jogadas pelo alto. E mais: tinha relativa técnica para fazer a bola sair limpa de trás.

 O lateral jogou num time corintiano com um     quinteto ofensivo famoso, mas pouco prático: Roberto Bataglia, Silva, Nei, Rafael e Ferreirinha. 

domingo, 16 de agosto de 2015

Cinco anos sem Waldemar Carabina

 Este 22 de agosto marca o quinto ano da morte do zagueiro Waldemar Carabina, aos 78 anos de idade, vitimado por complicações do Mal de Alzheimer. Ele foi ídolo no Palmeiras porque chegava junto nas divididas, raramente levava desvantagem, e impunha-se no jogo aéreo.
 Inicialmente ele fez dupla de zaga com o clássico Aldemar, que desarmava adversários sem recorrer às faltas. Em 1959 o Palmeiras sagrou-se campeão paulista na final contra o Santos com esta formação: Valdir Joaquim de Moraes; Djalma Santos, Waldemar Carabina, Aldemar e Geraldo Scotto; Zequinha e Chinesinho; Julinho, Nardo, Américo Murolo e Romeiro.
 Foram três jogos extras para decisão do título, com empates nos dois primeiros - 1 a 1 e 2 a 2 - e vitória palmeirense, de virada, por 2 a 1, na derradeira partida no Estádio do Pacaembu, com 45 mil pagantes. O respeitado Santos tinha Laércio; Getúlio, Formiga, Dalmo e Feijó; Zito e Urubatão; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Na época a bola era marrom.
 A partir de 1963 o companheiro de zaga de Carabina passou a ser o talentoso Djalma Dias, vindo do América (RJ), ano em que o time havia sido parcialmente modificado e conquistou novamente o título paulista com Valdir; Djalma Santos, Djalma Dias, Waldemar Carabina e Vicente Arenari; Zequinha e Ademir da Guia; Gildo, Servilio, Vavá e Rinaldo. Na sequência vieram o lateral-esquerdo Ferrari, quarto zagueiro Minuca, volante Dudu e atacantes Tupãzinho e Ademar Pantera. Aquela leva foi eternizada como ‘academia palmeirense’.
 Carabina entrou para a história do Palmeiras como o quinto jogador que mais vestiu a camisa do clube: 581 jogos, superado apenas por Ademir da Guia (901), Leão (617), Dudu (609) e Valdemar Fiúme (601). Assim, escreveu uma história de 12 anos no Verdão, marcada por 333 vitórias, 116 empates, 135 derrotas e nove gols.
 O encerramento da carreira de atleta foi no Comercial de Ribeirão Preto (SP) em 1968, migrando para a função de treinador, com destaque em clubes do Norte e Nordeste até 2004. O Palmeiras lhe deu a chance de comandar a equipe em 1988, na Copa União e Campeonato Paulista, e o trabalho foi aceitável. No São José, em 1989, ele fazia campanha razoável até que intolerantes cartolas decidiram demiti-lo após quatro empates consecutivos. Na seqüência, o time joseense chegou à final do Paulistão e perdeu o título na disputa com o São Paulo, já com Ademir Mello no comando técnico.
 Nas andanças por Recife, o site esportivo Pernambola revelou um fato curioso no vaivém de Carabina pelo Santa Cruz. Após uma partida, no vestiário, o repórter Dalvison Nogueira esbarrou sem querer no treinador que, irado, explodiu: - Você tá cego, rapaz!

 Quando o repórter explicou que não enxergava de um olho, justificou que era um olho de vidro adaptado, Carabina, envergonhado, não se cansou de pedir desculpas.

domingo, 9 de agosto de 2015

Beto Fuscão, zagueiro discutível

 Historicamente chegam à Seleção Brasileira jogadores de condições técnicas discutíveis, e um dos exemplos foi o zagueiro Beto Fuscão, um negro alto e forte, com militância no futebol nas décadas de 70 e 80. Fuscão era um beque que se prevalecia nas jogadas pelo alto e tinha deficiências no chão. A lentidão nas coberturas era conseqüência da falta de velocidade para a função. Apesar disso, por sete anos consecutivos foi titular absoluto no Grêmio (RS) e, de 1977 a 1981, foi ídolo da torcida palmeirense, ora jogando ao lado de Alfredo Mostarda, ora de Jair Gonçalves.
 Em 1976, quando o técnico Osvaldo Brandão (já falecido) havia feito significativa renovação na Seleção Brasileira, visando preparação à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, apostou no vigor físico do catarinense Beto Fuscão, e o levou aos Estados Unidos para a disputa do Torneio Bicentenário. E na vitória do Brasil sobre a Inglaterra por 1 a 0, dia 25 de maio no Estádio Coliseu, em Los Angeles, com gol de Roberto Dinamite, Beto Fuscão formou dupla de zaga com o vascaíno Miguel.
 Posteriormente, Fuscão deixou o talentoso Amaral (ex-Guarani e Corinthians) no banco de reservas na vitória brasileira por 2 a 0 sobre os Estados Unidos, ocasião em que Brandão escalou Leão; Orlando, Miguel, Beto Fuscão (Amaral) e Marinho Chagas (Getúlio); Falcão (Givanildo), Rivelino e Zico; Gil, Roberto Dinamite e Lula. O ponteiro-direito Gil, autor dos dois gols, já se diferenciava dos tradicionais pontas que faziam jogadas de fundo de campo. O então jogador do Fluminense e depois do Botafogo (RJ) tinha características de fechar em diagonal e concluía as jogadas.
 O último bom momento de Beto Fuscão no futebol foi no bom time do Palmeiras de 1978, que chegou à final do Campeonato Brasileiro. Ele ficou de fora da primeira partida da decisão, na derrota palmeirense por 1 a 0 para o Guarani, no Estádio do Morumbi, gol de pênalti cobrado por Zenon, mas voltou à equipe na segunda e decisiva partida no dia 13 de agosto, no Estádio Brinco de Ouro, em Campinas, quando o placar se repetiu e o Bugre conquistou o título inédito em sua história.
 Na época, 27.087 torcedores se acotovelaram no Estádio Brinco de Ouro, pois ainda não havia sido construído o segundo lance de arquibancada à direita dos portões principais - batizado de Tobogã - que serviu para quase duplicar a capacidade de público do estádio.
 O carioca Jorge Vieira era o treinador do Palmeiras na época, e colocou em campo um time formado por Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão (Jair Gonçalves), Alfredo Mostarda e Pedrinho; Ivo, Toninho Vanusa e Jorge Mendonça; Sílvio, Escurinho e Nei. Daquela leva, meia Jorge Mendonça faleceu em Campinas aos 51 anos de idade, dia 18 de fevereiro de 1976, vítima de ataque cardíaco. Jorjão ou Coronel, como era conhecido, marcou 375 gols como jogador profissional, 104 deles pelo Palmeiras, 88 no Guarani, 41 na Ponte e o restante em outros clubes que passou.
 O atacante Toninho catarinense, hoje com 63 anos de idade, ficou de fora do jogo do vice-campeonato em Campinas e se fixou em São José, na Grande Florianópolis (SC), como criador de camarão. Já o meio-campista Toninho Vanusa está na capital paulista e é empresário do ramo de confecções.
 Rigoberto Costa, que nos tempos de Grêmio ganhou o apelido de Beto Fuscão, completou 65 anos de idade dia 13 de abril e está radicado em Florianópolis, sua cidade natal. Lá, ensina segredos da bola para a garotada em uma escolinha de futebol.
 Pode-se dizer que Beto Fuscão não soube dimensionar o tempo que deveria ter pendurado as chuteiras. Já sem o vigor físico a partir de 1981, quando trocou o Palmeiras pelo São José - clube do interior de São Paulo -, enfrentou a tenebrosa estrada da volta do futebol, com passagens por Araçatuba (SP), Ferroviária de Araraquara (SP), Uberaba (MG) e Tiradentes (DF) até 1984, naturalmente sem o rendimento de outrora. 

      

Geraldão, centroavante raçudo e goleador

 Está eternizada na cultura brasileira a troca do ‘ele’ pelo ‘erre’ em prenomes de pessoas. Se o cartório registra o recém nascido como Geraldo, irremediavelmente logo ele será identificado por Gerardo. E alguns anos depois, mesmo que o indivíduo não seja enorme será chamado pelo aumentativo: Gerardão.
 Claro que o centroavante Geraldo da Silva, nascido em julho de 1949, que fez sucesso no Corinthians na década de 70 e no Inter (RS) nos anos 80, seria mais um Gerardão, até porque valia-se da caixa torácica avantajada para trombar com a ‘becaiada’ e marcar gols.
 Gerardão entrou para a história dos ‘grenais’ como autor de cinco gols pelo Inter em dois confrontos decisivos pelo hexagonal regional de 1982, ano em que ele comemorou o título estadual. No primeiro marcou dois gols na vitória por 2 a 0, no Estádio Beira-Rio. Depois, outros três gols em pleno Estádio Olímpico, quando o seu time venceu por 3 a 1, com gols em que repartiu a bola com zagueiros quer no chão, quer pelo alto.
 Quis o destino que Geraldão detonasse o clube que o rejeitou, visto que na temporada anterior havia sido emprestado ao Grêmio e os cartolas não renovaram o contrato após passagem de três meses, apesar da forte campanha feita pelo jornalista Paulo San’tana para que permanecesse. Os gremistas preferiram apostar as fichas em Baltazar, o artilheiro de Deus.
 Geraldão foi um caneleiro assumido, até porque não precisava de habilidade para se consagrar. Como os típicos centroavantes de outrora tinha o faro de gol e foi artilheiro do “gauchão’ de 1982 com 20 gols, num time formado com Benitez; Edvaldo, Mauro Pastor, Mauro Galvão e André Luís; Ademir Kaefer, Cléo e Rubens Paz; Sílvio, Geraldão e Silvinho.
 Também artilheiro Geraldão foi do Paulistão de 1977 pelo Corinthians, ano do desjejum de título após 22 anos, na decisão contra a Ponte Preta. Eis o time comandado pelo treinador Oswaldo Brandão: Tobias; Zé Maria, Moisés, Ademir Gonçalves e Wladimir; Ruço, Basílio e Luciano Calhoada (Palhinha); Vaguinho, Geraldão e Romeu.
 Daquela formação só houve mexida basicamente em duas posições no ano anterior, quando o Corinthians provocou invasão de 70 mil torcedores ao Estádio do Maracanã para o jogo da semifinal do Campeonato Brasileiro contra o Fluminense. Zé Eduardo era o quarto-zagueiro e Givanildo volante.

 Chegando ao Corinthians em 1975, o estilo raçudo de Geraldão agradou a torcida. Apesar disso, em 1978 foi emprestado o Juventus e voltou ao Timão no ano seguinte para reviver a dupla de ataque com Sócrates, de Botafogo de Ribeirão Preto. Todavia, a história dele no Corinthians durou mais um ano e a sequência foi no futebol gaúcho. Depois, a trajetória foi descendente até o encerramento da carreira em 1989 no Garça, mas ele continua ligado ao meio como professor de escolinha em São Paulo.