segunda-feira, 31 de outubro de 2011



Enfim, uma Lusa como antes



 Nosso infalível arquivo de memória registra coluna produzida no dia 12 de novembro de 2007, quando foi citado que a rotina de jogos às terças e sextas-feiras estava com os dias contados para a Portuguesa. A publicação explicitava que após penosos cinco anos o time voltava ao grupo de elite do Campeonato Brasileiro, e que ainda naquela temporada já havia recuperado vaga perdida no Paulistão de 2006. Só que a Lusa voltou a ser rebaixada à Série B em 2008, e só agora reassume o seu lugar entre os principais clubes do futebol brasileiro.

 Portanto, um ano de glória para a colônia lusitana, desfazendo suspeitas das previsões que o clube seguisse o descompasso do Bangu (RJ), que já foi temido por grandes clubes quando contou com jogadores do nível de Ademir da Guia, Paulo Borges, Jaime, Zózimo e Aladim.

 Em 2006, a Lusa corria sério risco de rebaixamento à Série C do Brasileiro, e a contratação do técnico Wagner Benazzi foi preponderante para que escapasse da degola.

 Nas décadas de 40 e 50 passou pela Lusa o lendário Pinga, um meia-esquerda rápido, driblador e com excelente visão de gols, tanto que entrou para a história do clube como o principal goleador, com 190 gols. Ele jogou ao lado de Júlio Botelho, o ponteiro-direito Julinho, já falecido.

 Na década de 60 a Portuguesa contou com os pontas-de-lança Leivinha e Servílio (falecido), ambos eméritos cabeceadores; o habilidosíssimo Ivair, apelidado de "o príncipe"; meia-esquerda Nair, baixinho Ratinho (falecido) que vestia a camisa 7; lateral-direito Jair Marinho e os zagueiros Ditão (falecido) e Marinho Perez, entre outros.

 A década de 70 foi marcante para a Portuguesa que tinha incrível facilidade para reposição de ‘peças’. Havia perdido Nair para o Corinthians ainda nos anos 60, mas Basílio foi um substituto à altura. O volante Lorico preferiu trocar a Capital pelo interior paulista, mas Badeco estava preparado para ocupar a posição.

 Lembram-se do ataque da Lusa em meados da década de 70? Era formado por Xaxá, Enéas, Cabinho e Wilsinho. Xaxá foi um baixinho rápido e está radicado nos Estados Unidos. O centroavante goleador Cabinho veio do América de Rio Preto (SP), enquanto Wilsinho era um ponteiro-esquerdo funcional, num ataque que tinha em Enéas (falecido) o principal jogador.

 Enéas Camargo cravou seu nome como segundo maior artilheiro na história do clube com 179 gols. Ele morreu em 1988, aos 34 anos de idade, vítima de acidente de automóvel em São Paulo.

 O último grande ídolo da Portuguesa foi Dêner, também ponta-de-lança, que coincidentemente perdeu a vida em acidente de automóvel, no Rio de Janeiro, em 1994, quando defendia o Vasco, por empréstimo.

 O último momento marcante da Portuguesa foi em 1996, com o vice-campeonato brasileiro. Depois, restou só paciência ao torcedor luso.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


Lico, merecida aposentadoria em Imbituba

  

 Imbituba, sul do Estado de Santa Catarina, continua uma cidade paradisíaca com belas praias, pequenas ilhas, paisagem, lagos, gastronomia predominante de frutos do mar e uma população de cerca de 40 mil habitantes. O que se querer mais de qualidade de vida de um lugar como esse?

 Pois Antonio Nunes, o Lico campeão do Mundial de Clubes pelo Flamengo de 1981, é filho da cidade. De lá saiu na adolescência porque precisava de centros maiores para desenvolver o seu futebol de habilidade.

 Durante a década de 70 ele perambulou por clubes da região Sul do país como Grêmio, Avaí, Figueirense e Joinville, até que em 1980 aportasse no Flamengo para desempenhar as funções de quarto homem do meio-de-campo, que também ajudava na marcação.

 Embora franzino com os redondos 50 quilos, Lico não tinha medo de cara feia de adversários violentos. Partia com bola dominada e aplicava dribles secos e desconcertantes. Usava bem o lado esquerdo do campo para cruzamentos até de trivela, que visavam principalmente o centroavante Nunes.

 “Na minha época, a habilidade contava muito. Hoje a força prevalece no futebol”, constata esse catarinense que julga ter atuado no melhor time do futebol mundial de todos os tempos. “Acho que nem o Santos de Pelé foi melhor do que aquele Flamengo”.

 Exagero ou não, aquela equipe comandada por Paulo César Carpeggiani sagrou-se campeã da Libertadores no dia 23 de novembro e, embalada, 20 dias depois sapecou 3 a 0 no Liverpool da Inglaterra pelo Mundial de Clubes, no Japão, num time formado por Raul Plasmann; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio, Zico e Lico; Tita e Nunes.

 A rigor, se Lico tem alguma coisa a lamentar no período de jogador, elencaria ter ficado de fora do terceiro e decisivo jogo da Libertadores contra o Cobreloa, no Uruguai, na vitória por 2 a 0; lembraria da terceira grave contusão no joelho que travou a sua carreira em 1984; e da falta de orientação e experiência sobre finanças para assinar melhores contratos. “Jogava porque gostava. Nem ligava muito para contratos”.

 Lico só ficou de fora da final da Libertadores porque o maldoso zagueiro Mario Soto quase o cegou durante o segundo confronto da final no Chile, na vitória do Cobreloa por 1 a 0. Vítima de violenta cotovelada, seu olho ficou complemente tapado.

 E quando prematuramente teve que encerrar a carreira de atleta, contou com a indispensável ajuda da fiel companheira Simone, com quem está casado há mais de 31 anos, para desenvolver atividades paralelas no futebol. Foi diretor técnico, supervisor e treinador, quando tentou copiar o esquema ofensivo de seu Flamengo em equipes de qualidade inferior. “Meu time joga no ataque para vencer, independente de ser em casa ou fora”. De positivo na função foi a valorização de treinos técnicos para extrair o máximo da condição do atleta.



Pelé, rei no campo; polêmica fora dele


 Por algum período o rei Pelé pode até ficar no ostracismo, menos no mês de outubro. É que a cada dia 23 do mês a sua caixa de e-mail e a caixa postal do celular são entupidas com mensagens felicitando-o pelo aniversário, afora aqueles mais próximos que conseguem abraçá-lo.

 Afinal, ele chega aos 71 anos de idade ‘vendendo’ saúde, e por brincadeira cartolas do Santos até cogitaram a inclusão dele na decisão do Mundial de Clubes em dezembro.

 Agora, o foco do Pelé aniversariante não é a reafirmação de que tão já não será destronado. A maioria também não desconhece que marcou 1.281 gols em 1.363, exatamente porque dominava todos os fundamentos exigidos para um jogador de futebol. Também foi sobejamente divulgado que foi um dos raros atletas a integrar a Seleção Brasileira aos 16 anos de idade. Então, que tal se dissertar um pouco sobre o Pelé trapalhão fora de campo?

 A lei 9.615-98, que ele elaborou enquanto ministro de Esportes, e que leva o seu nome - Lei Pelé -, sancionada pelo ex-presidente FHC em março de 1998, foi uma bandeira contra aquilo que ele chamava de ‘escravidão dos atletas’, a extinção da lei do passe.

 Não se questiona a melhor das intenções de Pelé quando assinou a carta de alforria para o atleta. Faltou percepção que estava contemplando segmento minoritário da categoria. Não projetou o desserviço prestado aos demais atletas, de pequenos clubes, afetados diretamente na proporção que essas agremiações se enfraqueceram quando deixaram de ser formadoras de nova geração de atletas. O investimento nas categorias de base passou a ser incompatível com o retorno. Sintetizando: foi relegado.

 É que o garoto rapidamente se apodera do passe e faz dele aquilo que bem entender, preferencialmente alianças com empresários do meio que administram a carreira e cuidam juridicamente do direito federativo. A troca é a obtenção de bons lucros neste balcão de negócios.

 Por fim o Pelé namorador, de relacionamentos extraconjugais que resultaram em duas filhas reconhecidas de forma diferente. Se no campo não encontrou barreiras que impedissem seus dribles, fora dele duelou e perdeu para a Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto, ‘a filha que não quis’, que se tornou título de livro.

 Sandra travou batalha judicial de seis anos para que fosse legitimada como filha. Obstinada, de balconista foi eleita duas vezes vereadora de Santos. Ela morreu aos 42 anos de idade vítima de câncer.

O reconhecimento da paternidade da fisioterapeuta Cristina Kurtz de Carvalho, gaúcha de Porto Alegre, foi amistoso.

Afora isso, foi muito propagado o romance dele com a então modelo Xuxa, que abriu portas para que ela ingressasse no meio artístico.

Kita, o pé dos gols foi amputado



 Centroavante que se preza chuta com os dois pés, naturalmente um de cada vez para não cair. E para o gaúcho Kita era indiferente a bola cair na direita ou canhota. O giro sobre o zagueiro era quase certo e, incontinente, o chute forte em direção ao gol adversário.

 Por causa desse estilo e do bom aproveitamento no jogo aéreo foi cobiçado e contratado por grandes clubes do futebol brasileiro como Flamengo, Inter (RS), Grêmio e Atlético Paranaense. Em nenhum deles, entretanto, atormentou tanto os zagueiros como nos tempos de Internacional de Limeira em 1986, quando foi decisivo para que o clube conquistasse o título inédito do Campeonato Paulista, e com direito à artilharia: 24 gols.

 Hoje, aos 53 anos de idade, Kita se orgulha das boas recordações. Quis o destino, entretanto, que não mais participasse até de ‘peladas’ com amigos. É que em junho passado, ao se submeter a uma cirurgia para reconstruir os ligamentos do tornozelo esquerdo, foi vítima de uma infecção hospitalar, agravada pelo diabetes. Por isso teve que amputar parte do pé.

 Outro duro golpe de ser absorvido foi a esculhambação no governo Fernando Collor de Melo de confisco de dinheiro da poupança do povo brasileiro nos anos 90. Duro porque ele havia votado no homem para presidente.

Chega de coisa ruim. Melhor ficar com a imagem positiva que Kita, ou João Leithard Neto, no futebol. De certo ele dirá que a principal lembrança foi naquele dia 3 de setembro de 1986, quando a Inter de Limeira (SP) sagrou-se campeã paulista ao vencer o Palmeiras por 2 a 1 no Estádio do Morumbi.

 Na época o time interiorano era treinado por José Macia, o Pepe, e contava com Silas; João Luís, Juarez, Bolívar e Pecos; Manguinha, Gilberto Costa e João Batista (Alves); Tato, Kita e Lê (Carlos Silva).

 Três anos antes Kita despontou para o futebol com os 15 gols marcados no Juventude, no Campeonato Gaúcho. Em 1984 já estava no Inter (RS) e conta ter sentido indescritível emoção ao colocar a medalha de prata no peito pela seleção olímpica brasileira, em Los Angeles.

 A estréia com a camisa do Flamengo, também em 1986, foi emocionante. De cara marcou dois gols contra o Corinthians, ano em que conquistou o título carioca. Outras conquistas ocorreram no Grêmio e Atlético Paranaense, sempre com assinaturas de seus gols. O final da carreira foi em 1995 no E.C. Passo Fundo (RS).  Nem por isso fez bons contratos.

 “Pena que nos anos 80 não se ganhava tanto dinheiro como hoje”, lamenta. Por isso, depois do confisco na poupança do governo Collor, o máximo que conseguiu foi montar um pequeno empreendimento de vídeo locadora.

 Antes de ter o próprio negócio foi funcionário da Secretaria de Esportes de Passo Fundo durante oito anos, mas foi pra rua com a mudança na cadeira no Executivo, na última eleição municipal.

Adeus a Escurinho, um bom reserva


 
A morte do atacante Escurinho no dia 27 de setembro nos remete a duas discussões: o diabetes que o aniquilou terá cura total num futuro não muito distante? Outra pessoa com o mesmo apelido terá respaldo da lei contra o racismo em caso de denúncia?

A perna direita do ex-centroavante Luiz Carlos Machado, o Escurinho, 61 anos de idade, que lhe deu apoio extraordinário para magnífica impulsão nos cabeceios, foi amputada do joelho para baixo há dois anos. Recentemente a perna esquerda dele também sofreu amputação, só que acima do joelho. Em ambos os casos a justificativa foi insuficiência renal e diabetes não controlados com tratamentos para regularizar o funcionamento vascular.

Pena que Escurinho não pôde usufruir dos avanços tecnológicos no processo de cura do diabetes, que caminham em plena velocidade. Estudo realizado na Índia indica que a doença pode ser combatida com moléculas encontradas na urina da vaca. Testes preliminares são feitos em ratos.

Racismo? Por analogia sim, na interpretação de um advogado gaúcho. É que ele impetrou ações de indenização por danos morais contra o Internacional (RS) por abandonar seu antigo mascote ‘saci’ e substitui-lo por um macaco que foi batizado com o nome de Escurinho.

Evidente que Escurinho jamais censurou o apelido que ganhou aos sete anos de idade, em Porto Alegre, por ser negro. Seu negócio era jogar futebol e a sua história começou a ser contada no Inter (RS) quando fez parte daquele elenco formado por jogadores altos e fortes na década de 70, comandados pelo técnico Rubens Francisco Minelli.

O time foi pentacampeão gaúcho de 1971 a 76 e bicampeão brasileiro em 75/76. Nele atuaram jogadores como o goleiro Manga, o zagueiro chileno Elias Figueiroa, lateral-esquerdo Vacarias, meio-campistas Batista, Caçapava, Falcão e Bráulio, e atacantes definidores como Valdomiro, Dario e Claudiomiro.
Com tantos ‘cobras’ naquele elenco, era difícil sobrar um lugar entre os titulares para Escurinho, que tinha a sina de entrar no segundo tempo e decidir jogos, invariavelmente com gols de cabeça.

Escurinho também jogou no Palmeiras e fez os costumeiros gols de cabeça no segundo tempo. E quando eles começaram a rarear perdeu espaço no Verdão. Foi castigado com a tradicional estrada da volta no futebol, jogando no interior paulista na Inter de Limeira e Bragantino. A experiência no futebol equatoriano foi coroada com título, jogando no Barcelona de Guayaquil, em 1981. A carreira foi encerrada no Caxias do Rio Grande do Sul, em 1985.

Uma de suas últimas aparições na mídia foi em dezembro de 2009, ao compor o hino do centenário para o Internacional (RS), exibido em vídeo no site do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Na letra, enfatizou que “ganhamos tudo”, quando alardeou seu amor ao clube colorado.