segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vilson Tadei, espírito guerreiro

Nos anos 70, quando Leivinha jogava no Palmeiras, várias vezes Fiori Gigliotti, o locutor da torcida brasileira da Rádio Bandeirantes, usou o bordão “Leivinha, o moço que veio de Lins”. De fato Leivinha começou a carreira no Linense, mas é natural de Novo Horizonte (SP).
Se Fiori Gigliotti, já falecido, propagou a "princesa da noroeste" paulista, hoje pode-se dizer que o técnico Vilson Tadei é o “embaixador” da cidade. Fruto de seu trabalho o clube não só garantiu acesso ao Paulistão como foi campeão da Série A-2. Foram 53 anos de espera para retorno à elite do futebol paulista, e por isso a população de 73.183 habitantes, segundo estimativa do IBGE, tem mesmo que comemorar.
Tadei, andarilho do futebol, foi jogador guerreiro nas décadas de 70 e 80, e hoje exige o mesmo de seus comandados. Em 2007, das 35 agremiações participantes da Copa FPF (Federação Paulista de Futebol), levou o Linense ao vice-campeonato.

Como jogador e treinador, Tadei "rodou" dezenas de clubes e passou longo período no ostracismo, para depois ter o trabalho reconhecido. Foi um meia de combatividade que participava intensamente das partidas. Ajudava na pegada no meio-de-campo e, com a bola, tinha estilo de jogar curto. Tocava-a e saía para recebê-la, na seqüência. Tinha bom domínio de bola e arriscava penetrações com dribles convencionais. Assim, fez gols em todas equipes que passou, sem que fosse criteriosamente observado por grandes clubes nos primeiros nove anos de carreira.

O início da trajetória foi no América de Rio Preto (SP) em 1971, e o salto para um grande clube deu-se somente em 1980, quando se transferiu ao Coritiba do zagueiro Duílio e ponteiro-esquerdo Aladim. Depois participou da memorável equipe do Grêmio (RS) em 1981, na conquista do título brasileiro, após vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, gol do atacante Baltazar, no Estádio do Morumbi. Ele integrou o trio de meio-campistas que tinha, além dele, Paulo Isidoro e China.

Quis o destino que Tadei saísse do Grêmio antes do título mundial interclubes em 1983. Naquele período ele defendeu o arqui-rival Inter (RS), após passagem por São Paulo e Guarani. E como cigano da bola, ainda jogou novamente no Grêmio, Vasco, Figueirense (SC) e Monterrey do México, antes da penosa estrada da volta do futebol, outra vez em clubes do interior paulista.

Falante e bom observador do futebol, Tadei apostou na carreira de treinador, igualmente por baixo. Voltou a enfrentar a dureza de equipes pequenas de São Paulo, sem a devida estrutura, mas com perseverança. Consta ainda em seu currículo passagens por Operário de Campo Grande (MS), Londrina (PR), Trindade (GO) e Uberlândia (MG). No entanto, ampliou seu espaço na mídia quando conquistou o acesso ao Paulistão com a equipe do Guaratinguetá, em 2006.

Aquela calvície precoce dos tempos de jogador foi ampliada. E hoje, na iminência de completar 56 anos de idade, pode sonhar com voos mais altos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Decadência da Colômbia

Imagine um país com tradição no futebol fora da Copa do Mundo? É o caso da Colômbia que pela terceira vez consecutiva não foi inserida no principal evento da modalidade. A geração que sucedeu os meias Valderrama e Rincón, atacantes Asprilla e Aristzábal e goleiro René Higuita jamais empolgou e o reflexo é campanha pífia durante as eliminatórias às competições.

Hoje, o desportista colombiano vive literalmente do passado. O jeito é contar histórias de astro da grandeza de um Carlos Alberto Valderrama Palacio, nascido em setembro de 1961 e também conhecido pelo apelido de ‘El Pibe’. Até 2004, na iminência de completar 43 anos de idade, esse meia de vasta cabeleira loira dinamizava o setor de meio de campo das equipes que atuava, e enchia os olhos dos torcedores de seu país quando atuava com a camisa amarela. Assim, com justiça, é considerado o melhor jogador de todos os tempos da Colômbia, e isso rendeu-lhe regalias como o repasse de uma dívida de US$ 110 mil com o fisco francês para a Federação Colombiana de Futebol. Só dessa maneira liberaram o visto de entrada naquele país, para a disputa do Mundial de 1998, o último com participação da Colômbia.

Aristzábal foi um goleador nato. Os 348 gols marcados ao longo da carreira, encerrada em 2007, foram distribuídos em gramados colombianos, brasileiros e espanhóis. Se na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, ainda não havia assegurado a vaga de titular, depois foi praticamente intocável naquele selecionado. Por isso os são-paulinos se irritavam quando desfalcava o time para jogar pela Colômbia. Foi no São Paulo, indiscutivelmente, a melhor fase do atacante no futebol brasileiro. Houve quem comparasse seu estilo ao do Bebeto, tetracampeão brasileiro nos EUA, porque aliava velocidade e arremate com aceitável índice de aproveitamento. Pena que nas passagens por Santos, Cruzeiro e Coritiba o desempenho já não foi o mesmo.

Curiosamente o portal colombiano El Espectador revelou outra faceta de Aristzábal: antipatia. Segundo dados reproduzidos pelo portal R7, recente pesquisa apontou que 7.542 internautas votaram nele no concurso para se apontar o atleta colombiano mais odiado em seu país, totalizando 51% do universo dos votantes.

Daquele futebol colombiano que deixou saudade também se destacou o treinador Francisco Maturana, adepto do futebol ofensivo e vistoso. Ao desprezar jogadas de linha de fundo, priorizava a aproximação dos jogadores pelo meio. Exigia toques rápidos e finalizações de média distância. Assim, se na seleção seu histórico aponta apenas o título da Copa América de 2001, comandando clubes foi um vencedor. A principal conquista foi a da Libertadores da América de 1989, quando dirigia o Nacional de Medellín, na primeira comemoração dos colombianos na competição.

Por duas vezes a Colômbia - país de 43,5 milhões de habitantes - tinha indicação para sedia uma Copa do Mundo, mas problemas de infraestrutura, econômicos, guerra civil, violência cotidiana e narcotráfico implicaram na desistência em 1986 e 2014.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Maradona e a mão de Deus

A bola da vez no futebol mundial é o meia Messi, que desequilibra no time do Barcelona, e o conduz a passos largos rumo ao título do Campeonato Espanhol. Pela nacionalidade argentina, são inevitáveis as comparações com Diego Maradona, o maior astro do futebol daquele país de todos os tempos: ambos têm estatura mediana, são canhotos, dribladores e finalizadores.
O diferencial entre eles é que Maradona carregou seu selecionado nas costas na conquista da Copa do Mundo de 1986 no México, e Messi ainda deve atuações convincentes na seleção de seu país. Por isso há quem o compare ao ex-meia Zico como jogador que se sobressai em clubes. O ex-flamenguista conquistou tudo na Gávea, diferentemente da Seleção Brasileira.
Já que Messi será o centro das atenções na Copa do Mundo da África do Sul, convém lembrar que situação idêntica passou Maradona no México: esperança dos argentinos para a conquista do bicampeonato mundial. Paradoxalmente, a mão dele fez a diferença. Foi determinante para a vitória sobre a Inglaterra por 2 a 1, nas quartas-de-final. Maradona, 1.66m de altura, saltou e venceu o goleiro Peter Shilton, 1,85m de altura. O juizão achou que ele tocou de cabeça, quando na prática usou a mão para ludibriá-lo.
Quatro minutos após o escandaloso gol validado, Maradona protagonizou uma das mais geniais jogadas em partidas de mundiais: driblou seis adversários e estufou os “cordéis” dos britânicos. Parafraseando o compositor Jorge Bem Jor, na letra da música em homenagem ao ex-atacante Fio Maravilha, do Flamengo, “só não entrou de bola e tudo porque teve humildade”.
Assediado por repórteres após o jogo, Maradona confessou o atrevimento. “Foi a mão de Deus”, brincou, para depois alfinetar os adversários. “Quem rouba ladrão tem 100 anos de perdão”. O ladrão em questão, na concepção dele e do povo argentino, era a Grã-Bretanha, que havia se apoderado das Ilhas das Malvinas no século XIX, com intermináveis discussões, de lá para cá, sobre a soberania. Aí, em 1982, em pleno regime político militar, pressionado pela população pelos agravantes problemas sociais e econômicos do país, o general Leopoldo Galtieri quis usar estrategicamente a recuperação dos arquipélagos para mudar o foco das discussões. Com isso jogou seu país numa curta e sangrenta batalha militar contra os britânicos, que dispunham de um potencial bélico infinitamente superior. Conclusão: a Argentina perdeu a guerra e contabilizou as mortes de 649 soldados contra 255 do adversário. Galtieri caiu e foi apressado o processo de redemocratização no país.
Quanto ao gol de mão de Maradona, foi mais um entre os inúmeros equívocos de arbitragens no planeta, em lances similares. Adriano, quando jogou no São Paulo em 2008, marcou com a mão contra o Palmeiras. O erro mais recente foi pelas Eliminatórias desta Copa, e beneficiou a França. Henry ajeitou a bola com a mão, cruzou, e William Gallas marcou o gol da classificação contra a Irlanda.

Mazinho, jogador funcional

Recentemente o ex-jogador Mazinho - tetracampeão brasileiro na Copa do Mundo de 1994 - foi notícia nas principais mídias do planeta por causa de seu filho Thiago Alcântara, tido como a maior revelação do Barcelona da Espanha. No velho mundo tem gente apostando todas as fichas no garoto, mas editores de sites e jornais ainda preferem destacar, nos títulos, que “filho de Mazinho encanta torcida”.
Só pra refrescar a memória, convém lembrar que Mazinho defendeu clubes do porte de Vasco, Palmeiras, Lecce e Fiorentina da Itália, Valência e Celta de Vigo da Espanha e Vitória da Bahia sem que fosse craque, no período de 1986 a 2002. Enquadrou-se no exato perfil dos jogadores funcionais, também imprescindíveis em qualquer clube e selecionado de seu país, recompensados com gordos contratos salariais.
Mazinho incorporou a cobrança de multiplicidade de funções para jogadores, sem que a alternância provocasse queda acentuada de rendimento. A transferência do Santa Cruz paraibano para o Vasco foi avalizada como jogador fixado na lateral-esquerda, em 1986. E consta dos anais do clube cruzmaltino que atuou na mesma função quando o time conquistou o título do Campeonato Brasileiro em 1989, após vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, em pleno Estádio do Morumbi. Sorato, de cabeça, marcou o gol do título, diante de um público de 71.552 pagantes. O campeões vascaínos, comandados pelo técnico Nelsinho Rosa, foram Acácio; Luís Carlos Winck, Quiñonez, Marco Aurélio e Mazinho; Zé do Carmo, Marco Antonio Boiadeiro e Bismark; Sorato, Bebeto e William.
Mazinho chegou ao Palmeiras em 1992 precedido de boas atuações como segundo volante e com histórico de quem já havia atuado na lateral-direita, quando compensou a falta de velocidade pelos bons cruzamentos e capacidade de fazer a jogada fluir pelo setor.
Na “meiúca”, local mais familiarizado, valia-se do tempo de bola para antecipação, diferenciando-se, portanto, dos brucutus focados em matar jogadas do adversário de forma viril. A vantagem de Mazinho é que, de posse de bola, sabia valorizá-la, acionando laterais e meias. Assim, o setor ganhava dinamismo e os homens de ataque eram sempre “alimentados”. Objetivo, aplicava drible apenas em casos estritamente indispensáveis, o suficiente para limpar a jogada.
A praticidade o levou à Copa do Mundo dos EUA, e terminou a trajetória como titular, ganhando a posição de Raí. No jogo do título, o Brasil empatou sem gols com a Itália - tempo normal e prorrogação - e venceu nos pênaltis por 3 a 2, ocasião em que o italiano Roberto Baggio mandou a bola na “lua” numa das cobrança. Naquele time brasileiro jogavam Taffarel; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho; Bebeto e Romário.
A experiência como treinador foi amarga, nos dez meses que comandou o Aris Thessalonik, da Grécia, com demissão. Iomar do Nascimento - nome de registro -, 43 anos de idade, tem escolinha de futebol em Vigo, onde está radicado.