domingo, 26 de julho de 2020

Índio, lateral-direito que voltou às origens em aldeia


José Satiro do Nascimento é um índio que jamais perdeu a sua essência. Criado na aldeia Xucuru Kariri, no município alagoano de Palmeiras dos Índios, passou a infância na roça em plantações de milho e feijão, estudou até a sexta série, e tinha loucura pra correr atrás de bola. Quando mudou para o município baiano de Paulo Afonso, olheiros do Vitória indicaram que se submetesse a teste na categoria infantil, quando já era pai aos 13 anos de idade, e viajou sozinho de ônibus à capital baiana.

Aprovado como lateral-direito que desafogava a defesa em passadas largas ao ataque, capaz de incessante vaivém, compensava quem argumentasse carência de técnica no futebol dele. Já profissionalizado seis anos depois, transferiu-se ao Corinthians por indicação do volante Vampeta, que havia sido seu companheiro no futebol baiano. E a troca de ares foi coroada com a conquista do Brasileirão de 1998 e Mundial de Clubes em 2000.

Na época, ele alegou ter recebido o menor salário do clube, de R$ 1,5 mil mensais, compensados com gordos bichos de premiação. “Eu não raciocinava. Assinava tudo que via pela frente. Até dirigia sem carteira de habilitação. Quando era parado em blitz, subornava guardas de trânsito”, confessou.

Do Corinthians, a sequência da carreira foi no Goiás e experiências internacionais na Coreia do Sul, Grécia e Peru, antes do retorno ao Vitória no biênio 2007/08. Depois disso enfrentou a penosa estrada da volta no futebol, principalmente em clubes do interior paulista como Grêmio Osasco, Noroeste e Francana. A carreira se estendeu até 2015 no Sport Clube Genus de Porto Velho, capital de Rondônia.

Incontinente ingressou na função de treinador do Gavião Kyikatêjê F.C, primeiro clube de futebol profissional composto por índios, da segunda divisão de Marabá (PA), mas que em 2014 integrou a primeira divisão daquele Estado. E ao não prosperar como comandante, projetou voltar a jogar, mas com a idade já avançada e sem espaço mudou-se para a cidade mineira de Caldas, próxima de Poços de Caldas, infiltrando-se em aldeia indígena. Ali comanda escolinha de futebol para garotos de dez a 15 anos.

Como os índios sofrem reflexo da retração na economia, neste período de pandemia do coronavírus, Índio usa a sua influência para conseguir cestas básicas, até porque conta com sete filhos e cinco netos.

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