José
Satiro do Nascimento é um índio que jamais perdeu a sua essência.
Criado na aldeia Xucuru Kariri, no município alagoano de Palmeiras
dos Índios, passou a infância na roça em plantações de milho e
feijão, estudou até a sexta série, e tinha loucura pra correr
atrás de bola. Quando mudou para o município baiano de Paulo
Afonso, olheiros do Vitória indicaram que se submetesse a teste na
categoria infantil, quando já era pai aos 13 anos de idade, e viajou
sozinho de ônibus à capital baiana.
Aprovado
como lateral-direito que desafogava a defesa em passadas largas ao
ataque, capaz de incessante vaivém, compensava quem argumentasse
carência de técnica no futebol dele. Já profissionalizado seis
anos depois, transferiu-se ao Corinthians por indicação do volante
Vampeta, que havia sido seu companheiro no futebol baiano. E a troca
de ares foi coroada com a conquista do Brasileirão de 1998 e Mundial
de Clubes em 2000.
Na
época, ele alegou ter recebido o menor salário do clube, de R$ 1,5
mil mensais, compensados com gordos bichos de premiação. “Eu não
raciocinava. Assinava tudo que via pela frente. Até dirigia sem
carteira de habilitação. Quando era parado em blitz, subornava
guardas de trânsito”, confessou.
Do
Corinthians, a sequência da carreira foi no Goiás e experiências
internacionais na Coreia do Sul, Grécia e Peru, antes do retorno ao
Vitória no biênio 2007/08. Depois disso enfrentou a penosa estrada
da volta no futebol, principalmente em clubes do interior paulista
como Grêmio Osasco, Noroeste e Francana. A carreira se estendeu até
2015 no Sport Clube Genus de Porto Velho, capital de Rondônia.
Incontinente
ingressou na função de treinador do Gavião Kyikatêjê F.C,
primeiro clube de futebol profissional composto por índios, da
segunda divisão de Marabá (PA), mas que em 2014 integrou a primeira
divisão daquele Estado. E ao não prosperar como comandante,
projetou voltar a jogar, mas com a idade já avançada e sem espaço
mudou-se para a cidade mineira de Caldas, próxima de Poços de
Caldas, infiltrando-se em aldeia indígena. Ali comanda escolinha de
futebol para garotos de dez a 15 anos.
Como
os índios sofrem reflexo da retração na economia, neste período
de pandemia do coronavírus, Índio usa a sua influência para
conseguir cestas básicas, até porque conta com sete filhos e cinco
netos.
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