quinta-feira, 10 de junho de 2010

Rogério, de boleiro a pastor

Rogério, Gerson, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo Cesar Caju formaram uma das mais respeitáveis linhas de frente do Botafogo do Rio no biênio 1967/68, culminando com a conquista do bicampeonato estadual. Desse quinteto, só Rogério não integrou o grupo de jogadores tricampeões mundiais pela Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México. Não jogou, mas esteve lá. Uma lesão muscular, às vésperas da competição, implicou em seu corte dos selecionados, e o técnico Zagallo chamou o então goleiro Emerson Leão para sucedê-lo.
Rogério estava tão integrado ao grupo de jogadores brasileiros naquela Copa que acabou remanejado para a função de olheiro dos adversários. Desde aquela época mostrava-se comunicativo e pormenorizava detalhes observados.
Recuperado da contusão e de volta ao Botafogo, a torcida regozijou-se com o seu futebol hábil e veloz. O arranque era impressionante. Com passadas largas chegava facilmente ao fundo do campo ou fechava em diagonal rumo ao gol adversário. O estilo era semelhante ao de Renato Gaúcho, que fez sucesso no Grêmio e principais clubes cariocas.
O apelido de Rogério Ventilador foi decorrente dos movimentos com o braço quando driblava. Propositalmente ou não, muitas vezes mantinha seus marcadores distantes.
Dos tempos de Botafogo Rogério guarda um histórico de glórias e poucas derrotas. Uma das marcantes foi para o Flamengo no dia 31 de maio de 1969, por 2 a 1, no eternizado ‘jogo do urubu’.
Na década de 60, torcedores flamenguistas eram chamados de urubus pelos rivais. Motivo: a maioria era afro-descendente e pobre. Assim, um grupo de rubro-negros levou a ave escondida para o Estádio do Maracanã e, ao soltá-la, ela debandou para o setor dos torcedores botafoguenses, naquele confronto em 1969. Pronto. A partir daí o Flamengo adotou o símbolo do urubu.
O destino reservou passagem de Rogério também pelo Flamengo, clube escolhido para o encerramento da carreira em 12 de dezembro de 1973, na vitória sobre o Olaria por 2 a 1. E diferentemente dos companheiros que preferem prosseguir no futebol em outras funções, Rogério cursou Direito e foi advogar.
Depois enfrentou o duro golpe da perda do filho com cinco dias de vida. Claro que a cabeça entrou em parafuso, e ele só se reencontrou após ingresso na Igreja Messiânica, cuja doutrina é vida mais espiritualista. E de simples membro atingiu o posto de pastor, identificado como reverendo Rogério Hetmanek. Ele ensina, nos sermões, o conceito de Meishu-Same, que “quando alguém morre e tem muito apego a este mundo, se reencarna mais cedo. Mas isso não traz bons resultados, porque no mundo espiritual a purificação é mais rigorosa e, quanto mais tempo o espírito lá permanecer, mais será purificado”.
Pois é, as pessoas mudam. Se há 37 anos Rogério repetia nos microfones a obrigatória introdução “ouvintes meus cumprimentos”, hoje, como palestrante em universidade e currículo de quem publicou o livro ‘o Patriarca’, seu vocabulário faz inveja aos mais cultos dos boleiros.

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