segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Rondinelli, o ‘Deus da Raça’

Crianças e adolescentes das décadas de 50 e 60 cresceram e amadureceram convivendo com o indispensável conceito de ‘raça’ durante partidas de futebol. A bola já era disputada como um faminto em busca de prato de comida. Metaforicamente dizia-se que saía ‘faísca’ em bola dividida, e quem tirava o pé era chamado de ‘pipoqueiro’.
Naqueles tempos prevalecia a chamada bola de capotão, de cor marrom, com tamanho diversificado. Circunferência e peso aumentavam gradualmente, de forma que a de número cinco - numa escala que começava do um - era considerada a bola de maior tamanho e mais resistente. As menores nem sempre suportavam o impacto das chamadas ‘prensadas’ e estouravam para tristeza da molecada.
Se você imagina ter visto tudo nessas divididas, talvez desconheça que o ex-zagueiro Rondinelli, do Flamengo, tenha sido o único jogador de futebol profissional que ousou dividir a bola com a cabeça contra o pé esquerdo de Roberto Rivellino, na época atleta do Fluminense, num Fla-Flu dos anos 70. E devido aquela entrega até desmedida, pelo estilo vigoroso sem usar violência, e a concepção de que em futebol não se tem bola perdida, passou a ser identificado como ‘Deus da Raça’.
Não bastassem as aplaudidas virtudes, levou o torcedor rubro-negro ao delírio aos 42 minutos do segundo tempo da decisão do título do Campeonato Carioca de 1978, contra o Vasco, quando acertou uma testada fulminante e indefensável para o então goleiro Leão, após cobrança de escanteio do meia Zico. Aquela cabeçada no dia 4 de dezembro mais parecia um chute e foi repetida dezenas de vezes, entrando para os anais do futebol.
Rondinelli comemorou efusivamente aquele título com companheiro como Raul Plasmman, Marinho, Adílio, Júnior e Zico. As imagens que correram o mundo também mostraram a antiga dependência do Estádio do Maracanã batizada de ‘geral’, com agitação incontida da ‘galera’. Ali, podiam se aglomerar mais de 30 mil pessoas até o dia 25 de abril de 2005, num jogo entre Fluminense e São Paulo. Por imposição da Fifa e cumprimento sintomático da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o setor foi desativado provocando lamentação de assíduos freqüentadores. Inconsolados, muitos beijaram o chão do local após aquele jogo, discordando da lei vigente da Fifa que impede qualquer torcedor de assistir jogos de futebol em pé.
Rondinelli foi convocado cinco vezes à Seleção Brasileira. Em 1981 foi jogar no Corinthians, sem o mesmo sucesso dos tempos de Flamengo. Jogou ainda no Vasco, Atlético (PR), Goiânia, Goiás e Bonsucesso, onde encerrou a carreira de jogador, sem contudo sair do meio. Tentou se treinador, mas sua grande tacada foi a escolhinha de formação de atletas na cidade natal de São José do Rio Pardo (SP). Lá revelou o meia Andrezinho, atualmente no Inter (RS), levando-o inicialmente ao Flamengo, quando ele tinha apenas nove anos de idade.

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