segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Menores nos estádios

Maldosamente, há mais de uma década, botaram ‘tramelas’ em bocas de locutores de serviço de som de estádios, para divulgação de público e renda dos jogos. Coordenadores dos setores de arrecadação também já não levaram tais informações à beira de gramados para repórteres de rádio, que tampouco se esforçaram em buscá-las. Sites e jornais, na maioria das vezes, também não informam. Por comodismo ou dificuldade, citam ‘renda e público’ não informados.
Coincidência ou não, o fato passou a ser registrado bem antes da vigência do Estatuto do Torcedor em 2003. O artigo 5, parágrafo único, inciso 4, cita a obrigatoriedade de entidades promotoras de campeonatos oficiais de futebol pela divulgação de borderôs completos em seus respectivos sites, como se a maioria dos freqüentadores de estádios tivesse conexões de internet.
Convenhamos que a divulgação de público pagante bem inferior ao real já não causava perplexidade aos torcedores, face às constantes repetições do erro. “O estádio encolheu”, ironizavam alguns. “Mais uma vez passaram a mão na renda”, era a frase característica dos céticos.
Na época, no ‘olhômetro’ era possível projetar o público aproximado de uma partida. Nas rodinhas os torcedores arriscavam prognósticos do total de espectadores nos estádios e a diferença entre eles era pequena. Talvez o último grande público em jogos do Campeonato Brasileiro foi na finalíssima de 1980, no Estádio do Maracanã, com 154.355 pagantes e não pagantes, que acompanharam o título conquistado pelo Flamengo sobre o Atlético Mineiro, após vitória por 3 a 2.
Neste mesmo Maracanã foi registrado o recorde de público de jogos no Brasil, com 199.854 pessoas na final da Copa do Mundo de 1950, na vitória dos uruguaios sobre os brasileiros por 2 a 1. E hoje, por questão de segurança, o estádio encolheu. A lotação não excede 82.238 torcedores.
No recorde de público do Estádio do Morumbi, dia 9 de outubro de 1977, pagaram ingressos 138.032 pessoas, exceto os 8.050 menores credenciados que na época tinham livre acesso. Isso contrasta com o atual momento. Na maioria das vezes é cobrado deles a meia entrada, com 50% do valor integral do ingresso.
Bons tempos em que o menor de 12 anos não pagava ingresso, desde que acompanhado de pai ou responsável. Dizia-se que o acesso gratuito servia de estímulo para formar futuras gerações de torcedores. E parte da molecada de periferia ‘adotava’ um pai nas imediações das catracas dos portões de acesso dos estádios. “Moço, posso entrar com o senhor?”, implorava o garoto descalço e maltrapilho.
Evidente que os porteiros não se enganavam com a discrepância da dupla, mas faziam vista grossa. Aí, o menino desaparecia rapidamente na multidão, na doce ilusão de que havia enganado o porteiro.

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