quinta-feira, 17 de junho de 2010

Treinadores que ensinam

Às vésperas da largada da Copa do Mundo, durante treino de finalizações dos argentinos, o técnico Diego Maradona franziu a testa com o baixo índice de aproveitamento da boleirada, e fez questão de mostrar como de bate na bola. E como quem sabe nunca esquece, mostrou aos comandados como se faz. Chutou com precisão e colocou a “pelota” onde a coruja dorme, como se diz na gíria do futebol.
Naquele treino, Maradona repetiu aquilo que fazem dezenas de técnicos que jogaram futebol. A vantagem sobre companheiros de profissão que não jogaram é que explicam, na prática, como deve ser feito. O treinador Valdir Pereira, o Didi – já falecido – aperfeiçoava os lançamentos dos meias. Ensinava-os como melhorar o efeito na bola em cobranças de faltas, com a autoridade de quem foi o inventor da folha seca, tipo de finalização em que a bola faz curva e cai repentinamente, surpreendendo o goleiro adversário.
Dino Sani foi outro treinador que se preocupava em melhorar o condicionamento técnico do atleta. E quando o boleiro não cumpria a tarefa corretamente nos treinos, pegava a bola e ensinava como devia ser feito.
Quando passou pela Ponte Preta, em 1982, Dino comandou um time de medalhões como Dicá, Mário Sérgio e Jorge Mendonça (já falecido). Certa ocasião, Mário Sérgio (hoje técnico de futebol), para provocá-lo, fez questão de chutar a bola com força e bastante efeito em direção dele, para que dominasse. E o destemido Dino a amorteceu com categoria e ganhou confiança definitiva do discípulo.
A cada final do treino, Dino chamava os atacantes e mostrava como se pega de primeira em levantamentos do fundo do campo. Batia de sem-pulo e avisava o goleiro o canto que chutaria, sob olhares atônitos de seus comandados, que viam a bola ‘morrer’ na ‘gaveta’.
Dino já não tolerava trabalhar com jogadores de poucos recursos técnicos e de dificuldade de assimilação. Por isso foi perdendo a paciência, até que na segunda passagem como treinador da Ponte Preta abandonou o cargo no intervalo de um jogo contra o Novorizontino (clube já extinto), inconformado com a derrota por 2 a 0. “Não dá para trabalhar com tanto cabeça-de-bagre”, justificou. E cumpriu a promessa da aposentadoria.
Também pudera: foi um médio-volante que dava show nos gramados, e a recompensa foi o título na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, como reserva de Zito. No XV de Jaú atuava na meia de armação. Foi recuado como volante no São Paulo, passando, ainda, por Milan da Itália e Boca Junior da Argentina. E encerrou a carreira no Corinthians, formando dupla de meio-de-campo com Rivelino, na década de 60. Para tomar bola do adversário valia-se do bom posicionamento, tempo certo de bola e capacidade de antecipação.
Com essas virtudes, a passagem de jogador para treinador foi sintomática no final da década de 60, com trabalho marcante no Inter (RS), Coritiba e Fluminense.

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