sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E o rádio hein?

Outrora locutores sugeriam aos ouvintes que ficassem com o som do rádio e imagem da televisão em partidas de futebol. Alegavam que o rádio era mais emotivo e informativo. Hoje, já não podem repetir a sugestão. O alto custo de uma transmissão interestadual praticamente a inviabiliza ‘in loco’ para a maioria das emissoras, que adotou o sistema denominado ‘off-tube’, ou seja: narrador, comentarista e repórter reunidos no estúdio de sua rádio com TV ligada no dito jogo. Ali descrevem lances e comentam. Esta é a dura realidade da categoria que não teve muitos motivos para comemorar o Dia do Radialista neste 21 de setembro.
Não bastasse esse retrocesso, o rádio esportivo de hoje perdeu a descrição perfeita de Pedro Luiz, romantismo de Fiori Giglioti, Valdir Amaral e Jorge Cury, empolgação do paranaense Lombardi Júnior e a criatividade de Osmar Santos, o divisor de água da categoria com frases marcantes do tipo “é ripa na chulipa” e “pimba na gorduchinha”. Um acidente de automóvel no interior paulista, em dezembro de 1994, tirou aquilo que ele tinha de mais precioso: a voz. Osmar fez sucesso nas rádios Jovem Pan, Record e Globo de São Paulo.
Jorge Cury se envolveu em um acidente que provocou a sua morte, aos 65 anos de idade. Foi em Caxambu, interior de Minas Gerais, no dia 23 de dezembro de 1985, pouco depois de ter se transferido da Rádio Globo para a Rádio Tupy, ambas do Rio de Janeiro, onde ficou marcado pelo vozeirão. Nas décadas de 70 e 80, Jorge Cury fazia dobradinha com o goiano Valdir Amaral, inventor de bordões para definir melhor os jogadores, um deles “Zico, o Galinho de Quintino”. E quando você ouvir o bordão “o meu relógio marca”, saiba que o locutor o está plagiando.
Em São Paulo, nos anos 50 e 60, a Rádio Panamericana liderava a audiência nas transmissões de futebol com a dupla Pedro Luiz e Edson Leite. Pedro Luiz teve uma leva de seguidores porque descrevia com fidelidade as jogadas. Seu estilo essencialmente descritivo permitia ao ouvinte a noção exata do local da bola, quem a conduzia, aquele que recebia o passe ou desarmasse a jogada. Essa riqueza de detalhes exigia dos repórteres capacidade para ganchos diferenciados visando a complementação do relato do lance. Ora retransmitiam o falatório da boleirada, ora precisavam a forma que o atacante pegou na bola. Afinados com os comentaristas, não se constrangiam em perguntar por que fulano jogou tão mal.
Ainda em São Paulo, a década de 70 foi do narrador Fiori Gligliotti, já falecido, na Rádio Bandeirantes. Sua marca registrada quando a bola rolava era “abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”. Quando se referia ao ponteiro-esquerdo Edu, do Santos, o bordão era “Era, o moço que veio de Jaú”.
Histórias de profissionais talentosos permanecem no rádio, mas saudosistas cobram transmissões com revalorização do passado ou a busca de algo novo.

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