sexta-feira, 25 de junho de 2010

Retrancas na Copa lembram Juventus

As rígidas retrancas na Copa do Mundo da África do Sul nos remetem a décadas passadas quando treinadores de clubes de poucos recursos técnicos usavam o expediente na tentativa de evitar derrotas para adversários de maior potencial técnico. É prudente ressaltar que naquele período a pontuação por vitória era de apenas dois pontos. Logo, o empate tinha boa aceitação, principalmente fora de casa ou contra os chamados grandes clubes. Depois, para estimular o futebol mais ofensivo, a Fifa ampliou para três pontos os resultados de vitórias, a partir da Copa do Mundo de 1994, desestimulando, assim, as retrancas descaradas.
O primeiro exemplo claro que se tem informação de esquema tático retrancado foi o ‘ferrolho suíço’, usado por aquele país nas Copas de 1938 e 1954, implantado pelo austríaco Karl Rappan, o treinador. No Brasil, o Clube Atlético Juventus foi tido como o mais retranqueiro na década de 70, dirigido pelo técnico Milton Buzetto.
Antes do ingresso nas funções de treinador, Buzetto foi um zagueiro rebatedor, que também ‘fungava no cangote’ de atacante adversário. Sem espaço no Palmeiras - clube que o revelou - transferiu-se para o Juventus na década de 60, e lá formou dupla de zaga com o quarto-zagueiro Clóvis, ex-Corinthians. Sempre falante, orientava o sistema de marcação com recuo de volante, meias e ponteiros, de forma que o adversário encontrasse dificuldade de penetração.
Quando parou de jogar, já estava apto para ser técnico do próprio Juventus, exigindo que o time fosse a sua imagem: guerreiro e retranqueiro. Não se acanhava de aglomerar quase todo time nas imediações de sua própria área para evitar o gol do adversário. No papel, seu time tinha um ‘esqueleto’ de 4-3-3, mas na prática a variação atingia o 4-5-1, com os irmãos Brida e Brecha compondo o meio-de-campo, setor onde também participou Adnan, coadjuvado por Ziza. Carlos e Osmar formaram dupla de zaga, sucedidos por Cedenir e Deodoro, que havia sido deslocado da lateral-esquerda para o miolo de zaga. O ‘ferrolho juventino’ era transposto quando o time enfrentava adversários que sabiam usar bem as jogadas de fundo de campo. Edu Bala, nos tempos de Lusa e Palmeiras, cruzava para trás e alcançava as cabeçadas certeiras de Leivinha.
Antes da adoção dessa postura defensivista, o Juventus foi um time atrevido e até conquistou o Campeonato Paulistinha de 1971, organizado pela Federação Paulista de Futebol. Fez bonito, também, numa excursão ao Japão em 1974, quando sagrou-se campeão do Torneio Internacional da cidade de Tóquio, ao vencer o selecionado japonês por 2 a 0, na final.
Depois disso foi implantado a tal retranca, com opção do uso do contra-ataque. Assim, de vez em quando o time fazia as suas travessuras, surpreendendo até adversários poderosos, resultado no batismo de ‘Moleque Travesso’. O alvo principal era o Corinthians, castigado na maioria das vezes com gols do carrasco Ataliba. A rigor, por causa disso os cartolas corintianos o contrataram.

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