segunda-feira, 26 de julho de 2010

Muricy, recusa polêmica

Quem supõe que o técnico Muricy Ramalho seja o primeiro profissional do futebol a recusar convite para trabalhar na Seleção Brasileira está equivocado. Em 1986, quando o selecionado estava concentrado na Toca da Raposa, em Belo Horizonte (MG), o atacante Renato Gaúcho e o lateral-direito Leandro deram uma escapada para curtir a noite. Telê Santana (já falecido), treinador na época, cortou Renato do grupo e Leandro, em solidariedade ao companheiro, recusou disputar a Copa do Mundo do México.
O caso de Muricy Ramalho é diferente e controvertido. Se a maioria dos treinadores objetiva o topo na carreira, então como recusar convite da Seleção Brasileira? A justificativa de que o Fluminense não o liberou, que é homem de palavra, não é totalmente convincente, principalmente quando assegura que o contrato de dois anos de meio com o clube é verbal.
Discussão a parte, o certo é que Muricy tem currículo vencedor como técnico e jogador. Não esperem dele resultados imediatos. Aprendeu, desde os tempos de treinador de juniores do São Paulo, que o trabalho tem de ser planificado, e que as metas devem ser atingidas gradativamente. É um especialista no lançamento de garotos. Os exemplos estão aí, aos montes, desde as categorias de base e expressinho do Tricolor: goleiro Rogério Ceni e atacante Denílson são alguns.
Muricy aprendeu com mestre Telê Santana que não se pode abrir mão da disciplina. Adota com sabedoria uma cartilha de como o jogador deve se comportar disciplinarmente. Exige profissionalismo e determinação. Também tem disposição fantástica para o trabalho, principalmente no aspecto técnico. Assim, consegue corrigir defeitos e aprimorar virtudes de jogadores.
O reflexo do trabalho se traduz em títulos. Levantou caneco no Náutico (PE), conduziu o São Caetano à conquista do primeiro título do Paulistão, saboreou o título gaúcho de 2005 e foi vencedor no São Paulo. Claro que teve percalços na carreira de treinador, principalmente no interior paulista, nas passagens por Guarani e Botafogo de Ribeirão Preto.
Dos mais de 30 anos envolvido no futebol, passou a maior parte no São Paulo. Primeiro como jogador - e dos bons - na década de 70. Foi um ponta-de-lança de habilidade e tinha o hábito de partir com bola dominada sobre adversários. Embora finalizasse bem não era fominha. Servia o atacante Serginho Chulapa em jogadas de gols.
Coincidência ou não, Muricy participou de uma patota de boleiros com vocação para ser treinador de futebol, alguns com maior e outros com menor destaque. Jogou com o goleiro Waldir Peres, lateral-direito Nelsinho Baptista, zagueiro Arlindo, meio-campistas José Carlos Serrão, Chicão (já falecido) e Pedro Rocha, e o atacante Serginho Chulapa. Nesse período, era o típico jogador ranheta. Encrencava facilmente com treinadores, sem ser punido. Também ‘batia boca’ constantemente com companheiros de equipe, sem ser desleal.
Não é um estrategista de variações táticas que modificam resultados de jogos, mas compensa com trabalho planificado nos dias que antecedem as competições.

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