segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Mauro Cabeção, boleiro da noite

Entre outras coisas, este agosto marca o sexto ano da morte do polêmico lateral-direito Mauro Campos Júnior, o Mauro Cabeção de Guarani, Portuguesa, Santos, Grêmio (RS) e Cruzeiro, de 48 anos de idade. A história dele na bola se prolonga na Seleção Brasileira. Participou dos Jogos Olímpicos de Montreal, no Canadá, em 1976, e três vezes na equipe principal, na década de 70.
Segundo versão do delegado de polícia de Nova Odessa (SP) da época, Antonio Donizete Braga, seis disparos tiraram a vida do ex-jogador no dia 6 de agosto de 2004. Braga citou que o crime foi passional e encomendado. Revelou também que dias antes do homicídio a vítima havia registrado boletim de ocorrência com relato de um triângulo amoroso, com envolvimento de sua companheira e uma outra mulher.
O pintor Felipe Delgado aceitou a oferta de R$ 4 mil para a execução de Mauro Cabeção em um bar na periferia de Nova Odessa. E mais: receberia um adicional de R$ 100 por cada disparo. Claro que escondeu o rosto com um capuz, mas a polícia desvendou o assassinato qualificado, e a Justiça do município o condenou a 13 anos de prisão em 2007. A companheira de Mauro, acusada de ser mandante do crime, ficou presa por um período.
Quem foi o Mauro jogador? Paradoxalmente um dos raros boleiros da noite a sobreviver no futebol. Bebia, fumava e se divertia com a mulherada em boates. Apesar de noites mal dormidas, tinha disposição para o trabalho, e marcava bem hábeis ponteiros-esquerdos. Alguns abusados têm cicatrizes de botinadas.
O vigor físico permitia que Mauro também atacasse, mas de forma consciente. Nas raras vezes que chegava ao fundo no campo, o cruzamento saía com efeito e encontrava o atacante de frente para o gol.
Curiosamente não foi a vida desregrada que encurtou a sua vida no futebol. Insistia em jogar apesar de contusão crônica no joelho. No final de uma carreira de pouco mais de dez anos, como não fazia o vaivém constante, optou pela fixação no miolo de zaga, e deu conta do recado, a exemplo dos laterais Carlos Alberto Torres, Leandro e Djalma Santos. Na época, exigia-se de laterais boa impulsão para coberturas no meio da área.
Fora de campo, Mauro era só alegria. Bem que tentou evitar o apelido de cabeção, mas com aquela imensa cabeça seria impossível sustentar tal briga. Também travou uma luta titânica para conseguir aposentadoria e vivia de míseros salários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), até que arrumaram-lhe um emprego de porteiro no ginásio de esportes do Guarani. De lá foi transferido para uma escolinha de futebol mantida pelo clube, e ensinava a molecada carente como se bate na bola.
À noite, como ninguém é de ferro, encostava-se em balcão de bar e não fazia distinção de bebidas, desde que fossem alcoólicas. Assim foi tocando a vida até a morte.

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