sábado, 2 de agosto de 2008

Dino, genial e genioso

Nos tempos em que o médio-volante não era apenas o cabeça-de-área, o carequinha Dino Sani dava show nos gramados. Era um jogador comandante no campo, indicando aos companheiros os atalhos para seu time chegar com mais facilidade à vitória.
Dino foi campeão mundial na Copa do Mundo da Suécia, em 1958, como reserva de Zito. Também teve uma trajetória internacional no Milan, da Itália, e Boca Junior, da Argentina. E encerrou a carreira no Corinthians, formando dupla de meio-de-campo com Rivelino, na década de 60.
O estilo vistoso de Dino Sani no trato com a bola começou a ser visto no final da década de 40, no extinto Comercial de São Paulo. Atuava como meia-esquerda num quinteto ofensivo formado por Feijão, Nardo, Gino, Dino e Esquerdinha.
Em 1952, Dino fez parte de um lendário time do XV de Jaú (SP) e transferiu-se, na seqüência, para o São Paulo, onde se fixou como volante.
Dava para se contar nos dedos de uma só mão quantos passes Dino errava durante uma partida. Além da precisão e objetividade na entrega da bola, era um emérito cabeceador. E para tomar bola do adversário valia-se do bom posicionamento, tempo certo da bola e capacidade de antecipação.
Com essas virtudes e uma visão geral de campo, a passagem de jogador para treinador foi sintomática, como ocorreu no final da década de 60. Dino teve passagens marcantes em clubes como Inter (RS), Coritiba e Fluminense. Com uma biografia respeitável, se preocupava essencialmente em melhorar o condicionamento técnico do atleta. E quando o boleiro não cumpria a tarefa corretamente durantes os treinos, pegava a bola e ensinava como devia ser feito.
Quando passou pela Ponte Preta, em 1982, Dino comandou um time de medalhões como Dicá, Mário Sérgio Pontes de Paiva e Jorge Mendonça (já falecido). Aí, o genioso Mário Sérgio (hoje técnico de futebol), para testar o treinador, fazia questão de chutar a bola com bastante efeito, para que ele dominasse. E o destemido Dino amortecia todas as bolas chutadas e ganhava confiança definitiva do discípulo.
A cada final do treino, Dino chamava os atacantes e mostrava como se pegava de primeira em bolas cruzadas das extremas. Batia de sem-pulo e avisava ao goleiro o canto que iria chutar, sob olhares atônitos de seus comandados, que viam a bola morrer na ‘gaveta’.
Dino é transparente e franco. Por isso teve a petulância de sugerir ao meia Dicá que encerrasse a carreira. Observava como poucos o comportamento do atleta fora de campo e sabia como corrigi-lo.
O que Dino já não tolerava era trabalhar com jogadores de poucos recursos técnicos e de dificuldade de assimilação daquilo que era pedido. Foi perdendo a paciência e decidiu se afastar das funções.
Dono de um prédio no município de São Paulo, tem renda suficiente para manter o alto padrão de vida. Apesar disso, ainda topou voltar ao futebol na década de 90, até que em 1995 surpreendeu com a insólita decisão de se demitir do comando técnico da Ponte Preta, no intervalo de um jogo contra o Novorizontino, quando o time campineiro perdia por 2 a 0. “Não dá para trabalhar com tanto cabeça-de-bagre”, era a justificativa. E cumpriu a promessa da aposentadoria.

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