Por Ariovaldo Izac
Goleiros de décadas passadas reclamavam com freqüência dos critérios de edição de programações esportivas de televisão, que raramente mostravam as boas defesas dos goleiros, e por isso ficavam marcados por falhas e “frangaços”. Hoje, basta um goleiro praticar duas ou três boas defesas importantes em uma partida para que a sua performance seja destacada no mesmo espaço que são mostrados os gols da rodada.
Se hoje o goleiro brasileiro é reconhecido mundialmente porque pratica treinos específicos diariamente, até meados da década de 70 era criticado, com aspereza, principalmente pela paúra na saída da meta para interceptar cruzamentos. Na época, a Argentina era uma referência na escola de goleiros e os exportava ao Brasil, como Edgardo Norberto Andrada, que jogou no Vasco e foi marcado por ter sofrido o milésimo gol de Pelé, em cobrança de pênalti, no dia 19 de novembro de 1969.
O melhor de todos esses gringos com passagem pelo Brasil jogou de 1970 a 1976 no Santos, e depois se transferiu para o Grêmio (RS), onde encerrou a carreira. Trata-se de Augustin Mario Cejas (a pronúncia em espanhol é Cerras), que em março passado completou 63 anos de idade. No futebol platino, em início de carreira, jogou no Racing Club e Avellanedo, e chegou a conquistar títulos da Libertadores e Mundial Interclubes.
Curioso é que hoje a Argentina não dispõe de goleiros com o potencial daqueles do passado. Até a década de 80 ainda continuou exportando, caso de Miguel Angel Ortiz, um cabeludo com fita amarrada na testa, que defendeu o Atlético Mineiro com regularidade, e ousava cobrar pênaltis, com histórico de sete gols.
Nos tempos em que o goleiro brasileiro valia-se basicamente da elasticidade e reflexo para defesas notáveis, Cejas acrescentava arrojo para ir ao encontro da bola até o limite da grade área. Assim, era nome certo em convocações do selecionado argentino.
No Santos, Cejas juntou-se ao clássico zagueiro argentino Ramos Delgado, e integrou o time que dividiu o título do Campeonato Paulista de 1973 com a Portuguesa, com essa equipe comandada pelo técnico Pepe: Cejas; Zé Carlos, Carlos Alberto Torres, Vicente e Turcão; Clodoaldo, Léo e Jair (Brecha); Euzébio, Pelé e Edu.
Cejas foi exemplo para que cartolas santistas se encorajassem em contratações de outros goleiros sul-americanos, como o uruguaio Rodolfo Rodrigues na década de 80, e o colombiano Juan Carlos Henao em 2005, que chegou na Vila Belmiro precedido de atuações recomendáveis no Once Calda – clube daquele país -, mas por aqui não se deu bem.
Na “latinha” - os microfones de rádio - o ex-goleiro argentino falava o óbvio e coisas desconexas. Certa vez disse que “não é fácil ser goleiro”. E acrescentou: “O goleiro tem de ter raça, porque vai estar sempre sozinho em campo”.
Em vez de raça, talvez quisesse expressar bom condicionamento físico para melhorar impulsão, agilidade e velocidade, porque, em certas ocasiões, exerce a função de líbero, evitando, assim, que atacantes adversários definam isoladamente a jogada de gol.
A rigor, o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, que sabe jogar bem com os pés, incorporou essa função talvez inspirado no holandês Van Der Sar e o próprio Rodolfo Rodrigues, que nos tempos de Santos saía rotineiramente da área para disputar jogadas com os pés.
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