segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Cejas, coragem para sair do gol

Por Ariovaldo Izac

Goleiros de décadas passadas reclamavam com freqüência dos critérios de edição de programações esportivas de televisão, que raramente mostravam as boas defesas dos goleiros, e por isso ficavam marcados por falhas e “frangaços”. Hoje, basta um goleiro praticar duas ou três boas defesas importantes em uma partida para que a sua performance seja destacada no mesmo espaço que são mostrados os gols da rodada.
Se hoje o goleiro brasileiro é reconhecido mundialmente porque pratica treinos específicos diariamente, até meados da década de 70 era criticado, com aspereza, principalmente pela paúra na saída da meta para interceptar cruzamentos. Na época, a Argentina era uma referência na escola de goleiros e os exportava ao Brasil, como Edgardo Norberto Andrada, que jogou no Vasco e foi marcado por ter sofrido o milésimo gol de Pelé, em cobrança de pênalti, no dia 19 de novembro de 1969.
O melhor de todos esses gringos com passagem pelo Brasil jogou de 1970 a 1976 no Santos, e depois se transferiu para o Grêmio (RS), onde encerrou a carreira. Trata-se de Augustin Mario Cejas (a pronúncia em espanhol é Cerras), que em março passado completou 63 anos de idade. No futebol platino, em início de carreira, jogou no Racing Club e Avellanedo, e chegou a conquistar títulos da Libertadores e Mundial Interclubes.
Curioso é que hoje a Argentina não dispõe de goleiros com o potencial daqueles do passado. Até a década de 80 ainda continuou exportando, caso de Miguel Angel Ortiz, um cabeludo com fita amarrada na testa, que defendeu o Atlético Mineiro com regularidade, e ousava cobrar pênaltis, com histórico de sete gols.
Nos tempos em que o goleiro brasileiro valia-se basicamente da elasticidade e reflexo para defesas notáveis, Cejas acrescentava arrojo para ir ao encontro da bola até o limite da grade área. Assim, era nome certo em convocações do selecionado argentino.
No Santos, Cejas juntou-se ao clássico zagueiro argentino Ramos Delgado, e integrou o time que dividiu o título do Campeonato Paulista de 1973 com a Portuguesa, com essa equipe comandada pelo técnico Pepe: Cejas; Zé Carlos, Carlos Alberto Torres, Vicente e Turcão; Clodoaldo, Léo e Jair (Brecha); Euzébio, Pelé e Edu.
Cejas foi exemplo para que cartolas santistas se encorajassem em contratações de outros goleiros sul-americanos, como o uruguaio Rodolfo Rodrigues na década de 80, e o colombiano Juan Carlos Henao em 2005, que chegou na Vila Belmiro precedido de atuações recomendáveis no Once Calda – clube daquele país -, mas por aqui não se deu bem.
Na “latinha” - os microfones de rádio - o ex-goleiro argentino falava o óbvio e coisas desconexas. Certa vez disse que “não é fácil ser goleiro”. E acrescentou: “O goleiro tem de ter raça, porque vai estar sempre sozinho em campo”.
Em vez de raça, talvez quisesse expressar bom condicionamento físico para melhorar impulsão, agilidade e velocidade, porque, em certas ocasiões, exerce a função de líbero, evitando, assim, que atacantes adversários definam isoladamente a jogada de gol.
A rigor, o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, que sabe jogar bem com os pés, incorporou essa função talvez inspirado no holandês Van Der Sar e o próprio Rodolfo Rodrigues, que nos tempos de Santos saía rotineiramente da área para disputar jogadas com os pés.

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