segunda-feira, 2 de maio de 2011

Bons tempos dos marqueteiros da bola

Paradoxalmente, num período em que o marketing se infiltrou com peso no futebol, os boleiros perderam a criatividade de outrora e poucos se arriscam a sacadas que visam promover determinados jogos. Alguns propagam ódio com manifestações dispensáveis em twitter. Infelizmente saíram de cena atletas que faziam a saudável provocação e com isso o futebol perdeu um pouco de seu glamour. Eram autênticos marqueteiros que propagavam apostas atrativas, como aquela em que o zagueiro Juninho, da Ponte Preta, teve que carregar nas costas o atacante Serginho, do São Paulo, de gol a gol.

O fato ocorreu em 1981 no Estádio do Morumbi, na partida entre aqueles clubes pelo Campeonato Paulista. A Ponte ganhou por 2 a 1, mas foi Serginho quem saiu sorrindo ao ganhar a aposta que consistia em marcar gol sobre o zagueiro. Claro que esse ingrediente motivou ainda mais o público.

Naquele mesmo ano Serginho e o volante Chicão – já falecido – também toparam outro desafio de um deixar sua marca de artilheiro e o outro de impedir o gol. Estava em jogo o corte da vasta cabeleira black power do atacante ou o preservado bigodão do volante, que na época havia trocado o Tricolor pelo Santos. E com um Morumbi lotado, Chicão torceu o nariz quando o ponteiro-direito são-paulino Paulo Cesar Capeta sofreu pênalti e Serginho se habilitou à cobrança. E após o gol, com a natural provocação do ganhador da aposta, Chicão chiou: “Gol de pênalti não vale nessa aposta!”.

Serginho não polemizou, convicto que outras chances de gols surgiriam. Na sequência, ao ser lançado, protegeu a bola ao seu estilo, girou e marcou seu segundo gol no jogo. “Esse valeu, Chicão?”, debochou. Final: São Paulo 3 x 2 Santos, com um gol de cabeça de Chicão.

César Maluco, Dadá Maravilha, Túlio e Vampeta também colocavam mais combustível na fogueira com alfinetadas e promessas de gols. Dadá exaltava sua virtude de cabeceador: “Só três pessoas param no ar: helicóptero, beija-flor e Dadá”. E promovia jogos com promessas de gols, um deles o ‘Fepasa’ nos tempos de Ponte Preta. Era uma homenagem ao torcedor ‘durango’ que assiste jogos na linha do trem, num morrinho atrás do gol da cabeceira sul do Estádio Moisés Lucarelli.

César Maluco, atacante do Palmeiras na década de 60, também prometia gols e corria ao alambrado quando cumpria. Por quê maluco? Quem teria coragem de pegar a única bola de um jogo contra o Corinthians e levá-la ao vestiário após ter sido expulso de campo, interrompendo a partida por alguns minutos?

Tal como no seu período áureo no futebol, Túlio ainda se diverte em seu site oficial com frases do tipo “Túlio e a bola são duas almas que se advinham no recanto nada poético da grande área. Ele, sereno, glacial. Ela, chegando dissimulada para a trama final que fulminará o goleiro sem dó e nem piedade”.

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