segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Alzheimer mata mais um boleiro: Altair


 Em janeiro passado, cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) abriram perspectiva para futuramente se comemorar a cura do Mal de Alzheimer, através de tratamento que possa anular os efeitos nocivos de perda progressiva da memória do paciente. Enquanto isso, o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece remédios que ajudam a retardar a evolução dos sintomas.

 A demora para se vencer o desafio provoca vítimas que marcaram história no futebol, a última delas o ex-lateral-esquerdo e quarto-zagueiro Altair Gomes de Figueiredo, morto neste nove de agosto, aos 81 anos de idade. Ele faz parte da história do Fluminense como quarto jogador que mais vestiu a camisa do clube - 551 jogos -, entre as décadas de 50 e 60. E consta no currículo dele ter integrado a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1962 e 1966.

 Em comum entre Altair e Édson Cegonha foi que atuaram como lateral-esquerdo, embora a posição originária de Cegonha tenha sido de volante, com passagens por Corinthians, São Paulo e Palmeiras. A maldição do Alzheimer implicou que ambos ficassem perdidos em ruas, sem noção do caminho de regresso.

 Cegonha, que morreu em 2015 aos 72 anos de idade, sofreu com a doença durante cinco anos, e ficou perdido pelas ruas de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, por duas semanas. Altair perambulou desorientado em ruas de Brasília por dez horas, até ser localizado urinando num canteiro, e conduzido de volta ao hotel que acomodava jogadores campeões mundiais pela Seleção, para solenidade do dia seguinte no Estádio Mané Garrincha, que visava homenageá-los na abertura da Copa das Confederações de 2013.

 Em seguida, apagou da memória de Altair que fora excelente marcador, com conquistas de títulos. Já não podia contar que outrora treino-peneira 'castrava' talentos. Nos três minutos da 'peneirada' no Vasco sequer pegou na bola e acabou dispensado. Só os amigos passaram a relatar a relutância dos pais dele para que ingressasse no futebol, nas Laranjeiras, e reproduziram histórias espontâneas contadas pelo lateral, como confissão do baile que havia levado do ponteiro-direito Mané Garrincha do Botafogo, na final de 1957 do Campeonato Carioca. Até valores de renovação de contrato ele revelava.

 Antes de perder a memória, Altair se vangloriava de seu tempo de atleta, rico em desarme limpo, contrastando com o antijogo de hoje.

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