Atribui-se à Lei Pelé o estado de insolvência
de clubes interioranos, pois deles foram tirados - como formadores de jogadores
- direitos integrais de vendas de passes, que garantiam sobrevivência. Quando
da promulgação da lei 9.615, de abril de 1998, justificava-se o término do
processo de escrivão do atleta, então aprisionado ao clube detentor do passe.
Todavia, agora o que se vê é o fatiamento entre familiares do atleta,
empresários e pequena parcela ao clube.
Aprisionamento de atleta durante a vigência da
lei do passe ficou bem caracterizado na passagem do meia Eudes Lacerda Medeiros
pela Portuguesa no final dos anos 70. Durante renovação de contrato, propuseram-lhe
proposta indecorosa, com justificativa de que não havia se firmado como titular,
ignorando que seguidas idas à seleção olímpica do Brasil tiraram-lhe
titularidade no clube.
Com rejeição da proposta e liberdade tolhida no
elenco, o jeito foi Eudes se refugiar em Lorena (SP), sua cidade natal, se
remoer durante dois meses, até se resignar, retornar ao Canindé, e aceitar as
bases oferecidas. Se apoiou na confiança transmitida pelo saudoso
ponteiro-direito Julinho Botelho - na época treinador da base da Lusa -, que o descobriu
para o futebol, e assim acreditou que a perda financeira poderia ser recuperada
na sequência.
Eudes julgava que o saudoso treinador Oto
Glória priorizava jogadores como Rui Rei, Enéas, Alexandre Bueno e Tata, e só
teve percepção que ganharia lugar no time com a chegada do sucessor Urubatão
Calvo Nunes, que o incentivou a ratificar dribles curtos em progressão e visão
privilegiada de jogo. Assim, ele estraçalhava em treinos e jogos.
No Cruzeiro, em 1981, atuou num time formado
por Gomes; Chiquinho, Zezinho Figueroa, Ozires e Luís Cosme; Douglas, Eudes e
Tostão; Carlinhos, Mauro Madureira e Edu. Foi quando chegou a seleção principal,
mas dois anos depois começou repasse de clubes como Operário (MS) e outros pequenos
do interior paulista: Comercial (RP), Inter de Limeira, Noroeste e Rio Branco
de Americana.
Hoje, aos 64 anos de idade, sem a barba rala
de outrora e inevitável queda dos cabelos, está radicado em Lorena e trabalha
em escolinha de futebol da prefeitura local.
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