A valorização da preparação física mudou a
cara do futebol. Treinadores discursam sobre compactação de equipes, transição
e recorrem frequentemente a avanços tecnológicos para aprimoramento
técnico-tático de seus jogadores. Isso contrasta com estilo e comportamento de
comandantes de décadas passadas como o saudoso Wilson Francisco Alves, o Capão,
que morreu em dezembro de 1998 pouco antes de completar 71 anos de idade.
Por que Capão? Quando ele se submeteu a teste como
zagueiro do Vasco, aos 15 anos de idade, Roque Calossero, técnico do juvenil,
aprovou a postura vigorosa dele e perguntou-lhe onde morava. Bastou a resposta
bairro Magalhães Bastos no Rio de Janeiro, perto do Moro do Capão, para que o
apelido se eternizasse.
Capão ficou marcado no futebol na função de
treinador e dizia abertamente que trabalhava de olho no ‘tutu’. Acordo com
clubes eram verbais, mas deixava claro que não admitia palpite de cartola.
“Vocês contratam e eu escalo”. E quando apresentado aos elencos deixava claro
que não gostava de líderes e adotava a troca de capitão a cada jogo. Aos
boleiros ‘mascarados’ o recado era curto e grosso: “Ou tira o tamanco, ou eu
tiro o dito cujo do time”. Também enfatizava que em seu time não havia apadrinhamento
e apenas os melhores seriam escalados, mesmo que trocados de posições se
julgasse conveniente.
Capão era avesso a preleções a todo grupo
antes de jogos. Preferia reunir jogadores de mesmo compartimento pra dizer
aquilo que pretendia e valorizava a parte técnica. Estrategicamente fazia vistas
grossas a boleiros que participavam de farras noturnas, mas cobrava rendimento
durante os jogos.
Como de praxe nos treinadores entre as décadas
de 60 a
80, o barrigudo Capão usava sapato branco sem meia, camisa fora da calça e
tinha hábito de usar óculos escuros nas ruas centrais de cidades do interior
paulista de clubes que dirigia. Marília, São José do Rio Preto e Sorocaba foram
os locais em que ficou mais tempo. Para a mídia falava que revelou Zé Maria,
Marinho Peres e Leivinha nos tempos de Portuguesa, mas na prática apenas
lapidou aqueles jogadores.
Como atleta fez carreira no Vasco de 1943 a 1952 e atuou ao lado
de Japão, Augusto, Moacir, Jair da Rosa Pinto, Ademir de Menezes e Chico. Foi
treinado por Ondino Vieira e Flávio Costa, e se orgulhava de ter participado do
expressinho da vitória do Sul-Americano de 1949.
A boa fase no Vasco o premiou com vaga na
Seleção Brasileira que conquistou o Sul-Americano também de 1949. Depois ainda
jogou na Portuguesa Santista e Santos, até que em 1957 assumiu interinamente o
comando técnico do Peixe, visto que o treinador Lula foi chamado para ser
auxiliar de Zezé Moreira na Seleção Brasileira. E Capão gostou da experiência
tanto que posteriormente foi trabalhar como auxiliar do técnico Francisco Sarno
no Jabaquara em 1958.
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