segunda-feira, 30 de julho de 2012


Jorge Vieira, bola e conversa


 A morte do treinador Jorge Vieira no dia 24 de julho passado, aos 78 anos de idade, nos remete não apenas ao seu histórico vencedor no futebol como alguns destemperos verbais do então jogador Emerson Leão e do ex-presidente da Federação Baiana de Futebol, Márcio Oliveira.

 Em coluna que publiquei no dia 16 de novembro de 2001, quando me reportei à Copa América de 1983, reproduzi manchetes da mídia impressa com citações de que Vieira estava cotado para substituir Carlos Alberto Parreira no comando da Seleção Brasileira.

 Tinha lógica a especulação. Afinal, a nau estava à deriva, e Vieira era um profissional afinado com o então presidente da CBF, Guilitte Coutinho. Logo, ambos poderiam reviver a dobradinha dos tempos de América do Rio, quando Coutinho presidiu o clube.

 No período de turbulência daquela Copa América, às vésperas de um jogo decisivo contra o Uruguai, em Salvador, o então goleiro Leão transmitiu péssimo conselho aos companheiros: “O futebol belo não interessa. Se for preciso violência, que sejamos violentos. Assim é que se faz um campeão”.

 De certo, 29 anos depois, Leão deve se envergonhar quando alguém lembra tamanha bobagem falada na época. Márcio Oliveira também perdeu uma grande oportunidade de ficar calado, quando prometeu escalar gandulas especialistas em retardar ou apressar o jogo de acordo com as conveniências.

 Nos tempos de Jorge Vieira no futebol a metodologia de trabalho da maioria dos treinadores era diferente. Se hoje o profissional é disciplinador, em consonância com a cartilha do profissionalismo, outrora levava-se ‘o boleiro’ na boa conversa, na base da psicologia da bola.

 Vieira foi um carioca que conhecia toda artimanha da boleirada, e sabia se fingir de míope para posteriormente mostrar que sempre esteve com os olhos bem arregalados.

 Deixava o boleiro pensar que o estava enrolando durante o treino, mas no dia do jogo, na velha conversa ao pé do ouvido, exigia que o dito cujo desse a necessária resposta em campo.

 Seu histórico como técnico de futebol começou no lendário time do América do Rio, na década de 60, com jogadores do nível de Romeiro, Alarcon, Canário e Leônidas, que não era o Diamante Negro.

 Em 1976, já na Ponte Preta, ganhou o apelido de ‘ponta aérea’ porque cumpria a sagrada agenda de se mandar de avião para o Rio de Janeiro logo após os jogos, e retornava na terça-feira à tarde ou quarta-feira pela manhã. Na época, segunda-feira era dia de descanso dos jogadores. Na terça-feira pela manhã a programação quase unânime de comissões técnicas previa treinos físicos.

 Vieira montou o belo time do Botafogo de Ribeirão Preto em 1977, ajudou a lapidar jogadores como Sócrates e Geraldão, e ganhou fama de estrategista, tanto que logo acabou contratado pelo Corinthians, um time que jogava por música em 1983.


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