segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Cantarele, um reserva que sempre entrava



 Há fatos curiosos no futebol em que você nem deve procurar explicação, um deles bons goleiros do passado admitirem passivamente a condição de reserva em suas respectivas equipes.

 Nos anos 60, o goleiro Laércio Milani, já falecido, perdeu a condição de titular do Santos com a chegada de Gilmar dos Santos Neves, que havia deixado o Corinthians. E você pensa que Laércio ficou incomodado com a reserva?  Absolutamente. “Prefiro ser o segundo goleiro no Santos a titular em outra equipe”, costumava repetir.

 Quase no final dos anos 70, o São Paulo foi buscar no Tiradentes do Piauí o ágil e folclórico goleiro Toinho, para ficar na reserva de Waldir Peres, e não deixar a ‘peteca’ cair quando das convocações do titular à Seleção Brasileira, ou em casos de contusões.

 O piauiense Toinho - hoje com 60 anos cravados - até esnobava na saída de bola com os pés. E naquele entra e sai da equipe, entre 1977 a 1982, jogou 130 partidas sem jamais reclamar do posto de reserva no São Paulo.

 Também o ex-goleiro Cantarele, do Flamengo, está inserido neste contexto de conformismo com a reserva. Claro que foi um goleiro que pegava as chamadas bolas defensáveis e a exigência do ‘Mengão’, na época, era de jogador acima da média em qualquer posição.

 Seja como for, o diferencial dele para os exemplos já citados foi o longo período vinculado ao clube e a alternância de fases como titular. A passagem como atleta do Flamengo de 1973 a meados de 1990 possibilitou que jogasse em 549 partidas, número que o coloca como sexto atleta que mais atuou pelo clube em sua história. E tem-se que considerar o empréstimo ao Náutico em 1983.

 Antonio Luís Cantarele, mineiro de Além Paraíba, vai completar 59 anos de idade em setembro, sem jamais ter pedido raízes do Flamengo. Até hoje está ligado ao clube, agora na função de preparador de goleiros.

 Como contemporâneo do ex-meia Zico, ambos mantém laços de amizade e confiança. Por isso Cantarele trabalhou com o companheiro na seleção de futebol do Japão e Fenerbahçe da Turquia.

 Para os seus discípulos, Cantarele tem muito a contar sobre a responsabilidade de o reserva se preparar adequadamente para entrar no time. Foi assim quando cedeu o lugar para o goleiro Raul Plasmman, que chegou à Gávea em 1978, e lá ficou até 1983, quando se despediu do futebol aos 38 anos de idade.

 Cantarele nem teve outra real chance e já estava no clube o goleiro argentino Ubaldo Fillol, que havia disputado as Copas de 1978 e 1982. O time do Flamengo na Libertadores de 1984 foi de Fillol; Leandro, Figueredo, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Tita; Lúcio, Nunes e João Paulo.

 Fillol jogou duas temporadas no Flamengo e o seu real substituto foi Zé Carlos, que havia sido contratado do Rio Branco (ES), e integrou à Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1990, ano em que Cantarele resolveu parar, aos 37 anos de idade.

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