segunda-feira, 29 de junho de 2009

Manga, goleiro de 45 anos


Por Ariovaldo Izac


Diga aí: goleiros gostam de ser exigidos para que mostrem eficiência ou preferem sair de campo sem sujar o uniforme? De certo a maioria dirá que é melhor trabalhar menos durante os jogos. Claro que alguns adoram ser bombardeados com chutes e cabeceios de adversários, um deles o ex-goleiro Manga, o Manguita, imbatível no quesito longevidade no Brasil.

O pernambucano Aílton Correa Arruda jogou até os 45 anos de idade, e comenta-se que ficava irritado quando os adversários não finalizavam contra o seu gol. Gostava de ver a bola rondando a sua área para praticar defesas. E que defesas!

Cara marcada pela varíola, magro, alto, mãos enormes, e com invejável impulsão, contorcia o corpo no ar para espalmar a bola. Talvez por isso geralmente desafiava cartolas a se responsabilizarem por pagamentos de dívidas caso fechasse o gol. Naturalmente os credores do goleiro agradeciam.

Manga jogou futebol profissionalmente de 1957 a 1982. Evidentemente assinou contratos com valores razoáveis nas passagens por Sport (PE), Botafogo, Nacional do Uruguai, Inter (RS), Coritiba, Grêmio, Operário (MS) e Barcelona de Guayaquil, do Equador, até 1982, quando encerrou a carreira. O problema é que gastava mais do que ganhava e tinha que correr atrás do prejuízo. Pessoas ligadas a ele revelam que torrava bolada considerável em jogos de sorte e azar.

Seja como for, com 72 anos de idade completados no dia 26 de abril passado, ainda não garantiu uma aposentadoria tranqüila. Ano passado retornou a Guayaquil para trabalhar em escolinha de futebol destinada a crianças e adolescentes, após dois anos de residência na Flórida, nos Estados Unidos.

Claro que nas preleções para os garotos recorda sua longevidade no futebol. Gaba-se de ter sido campeão juvenil pelo Sport sem sofrer um gol sequer em 1954. Comenta os bons tempos de Botafogo, quando atuou ao lado de jogadores consagrados como Nílton Santos, Garrincha, Didi e Jairzinho, uma patota que levantava canecos rotineiramente e vivia excursionando para a Europa.

Folclórico, Manga provocava flamenguistas às vésperas do clássico com bordões do tipo “o leite das crianças está garantido”, ou “já gastei o bicho da vitória contra eles”. Tudo ia bem até a final do estadual contra o Bangu em 1967, com vitória botafoguense por 2 a 1. O jornalista João Saldanha (já falecido), torcedor confesso do ‘Fogão’, acusou o goleiro de ter sido subornado por Castor de Andrade (já falecido), patrono do Bangu, e o desdobramento da história foi ameaça a mão armada contra o goleiro, que posteriormente teve de se desligar do clube.

Até 1973 Manga ficou no Uruguai. Transferiu-se posteriormente para o Inter e sagrou-se bicampeão brasileiro em 1975/76 ao lado de jogadores como Batista, Falcão, Marinho Perez, Valdomiro e Dadá Maravilha.

Infelizmente teve passagem negativa na Seleção Brasileira. Cometeu falha grotesca no gol de Simões, na vitória de Portugal por 3 a 1 sobre o Brasil na Copa do Mundo de 1966, com eliminação brasileira ainda na primeira fase.

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