segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Adeus a Cilinho, técnico à frente de seu tempo


 Uma semana antes do Carnaval de 2018 telefonei para o então treinador Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, propondo que colocássemos a resenha em dia sobre esse inesgotável assunto chamado futebol, mas ele estava de malas prontas para o Rio de Janeiro, com missão de também ultimar preparativos da Escola de Samba Acadêmicos de Salgueiro, a convite dos diretores.

 Demorei pra retomar o contato, e neste hiato, já na primeira quinzena de abril, ele sofreu avc (acidente vascular cerebral) e foi internado em estado grave no Hospital da PUC-Campinas.

 De certo Cilinho teria muito a contar sobre o empobrecimento do futebol brasileiro, com essa europerização que burocratizou demais a boleirada. Não deu tempo. No dia 28 de novembro ele morreu, aos 80 anos de idade.

 Três meses depois de receber alta hospitalar, estava lúcido, mas com paralisação do lado esquerdo do corpo e perda da fala. Aí ocorreu preparo psicológico para que assimilasse aquela situação, com estágio lento de recuperação.

 Foi informado, há dois meses, que Cilinho já balbuciava, o que dava esperança de retomar a comunicação verbal. Todavia o destino estava traçado. Amigos próximos informaram que o estado de saúde era irreversível, e dona Priscila, esposa dele, esteve sempre presente até o último momento, quando na varanda de sua residência, em condomínio no distrito de Sousas, em Campinas, morreu sentado em poltrona.

 Assim, além da convivência formal e informal com Cilinho desde a década de 70, a última vez que nos encontramos foi a convite dele, para que saboreasse uma dobradinha preparada exclusivamente por ele, o cozinheiro, há 21 anos.
Da resenha, a sobremesa foi conceito de futebol, quando Cilinho disse que iria abolir terminantemente os chamados chuveirinhos.

 Claro que o mestre discorria sobre diferentes temas, sem se vangloriar que em 1970 abdicou de um lateral-direito para que a Ponte Preta ganhasse mais um atacante, na troca. Na ocasião sacou Nelsinho Baptista, lateral-direto de marcação, em transcorrer de jogos, para colocar o ponteiro-direito Vicente.

Lateral descoberta? Não. Zagueiro Samuel era incumbido de fazer a cobertura.
Quem, em são consciência, àquela época, teria tamanha ousadia?
Coisa de Cilinho, capaz de deixar até o meio-campista Falcão na reserva nos tempos de treinador do São Paulo.

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