Uma
semana antes do Carnaval de 2018 telefonei para o então treinador
Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, propondo que colocássemos a
resenha em dia sobre esse inesgotável assunto chamado futebol, mas
ele estava de malas prontas para o Rio de Janeiro, com missão de
também ultimar preparativos da Escola de Samba Acadêmicos de
Salgueiro, a convite dos diretores.
Demorei
pra retomar o contato, e neste hiato, já na primeira quinzena de
abril, ele sofreu avc (acidente vascular cerebral) e foi internado em
estado grave no Hospital da PUC-Campinas.
De
certo Cilinho teria muito a contar sobre o empobrecimento do futebol
brasileiro, com essa europerização que burocratizou demais a
boleirada. Não
deu tempo. No dia 28 de novembro ele morreu, aos 80 anos de
idade.
Três
meses depois de receber alta hospitalar, estava lúcido, mas com
paralisação do lado esquerdo do corpo e perda da fala. Aí ocorreu
preparo psicológico para que assimilasse aquela situação, com
estágio lento de recuperação.
Foi
informado, há dois meses, que Cilinho já balbuciava, o que dava
esperança de retomar a comunicação verbal. Todavia o destino estava traçado. Amigos próximos informaram que o estado
de saúde era irreversível, e dona Priscila, esposa dele, esteve
sempre presente até o último momento, quando na varanda de sua
residência, em condomínio no distrito de Sousas, em Campinas,
morreu sentado em poltrona.
Assim,
além da convivência formal e informal com Cilinho desde a década
de 70, a última vez que nos encontramos foi a convite dele, para que
saboreasse uma dobradinha preparada exclusivamente por ele, o
cozinheiro, há 21 anos.
Da
resenha, a sobremesa foi conceito de futebol, quando Cilinho disse
que iria abolir terminantemente os chamados chuveirinhos.
Claro
que o mestre discorria sobre diferentes temas, sem se vangloriar que
em 1970 abdicou de um lateral-direito para que a Ponte Preta ganhasse
mais um atacante, na troca. Na
ocasião sacou Nelsinho Baptista, lateral-direto de marcação, em
transcorrer de jogos, para colocar o ponteiro-direito Vicente.
Lateral
descoberta? Não. Zagueiro Samuel era incumbido de fazer a cobertura.
Quem,
em são consciência, àquela época, teria tamanha ousadia?
Coisa
de Cilinho, capaz de deixar até o meio-campista Falcão na reserva nos
tempos de treinador do São Paulo.
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