segunda-feira, 16 de abril de 2018

Doze anos sem Telê Santana


 Enquanto a treinadorzada por aí se irrita quando o seu time enfrenta adversários retrancados, o saudoso treinador Telê Santana não estava nem aí. Colocava o seu time no ataque, mesmo que o preço de uma defesa aberta custasse a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Sua equipe precisava apenas de um empate diante da Itália, mas perdeu por 3 a 2.

 Certa ocasião, instigado a criticar tais retrancas, Telê surpreendeu na resposta: "Se o adversário fica lá atrás, meu time tem o domínio do jogo, cria mais chances, e basta ter competência para marcar gol e ganhar a partida".

 Nos tempos de São Paulo, na década de 90, sabiamente ele criava opções para se chegar ao gol, além das convencionais. Entre as variáveis, exigia que laterais chegassem ao fundo do campo e cruzassem para trás. Preparou o ex-meia Raí - de estatura elevada - para o cabeceio.

 Nas montagens de equipes, exigia dribladores. Projetava que cavariam faltas de média e curta distância. Aí, nos treinos exaustivos, preparou Raí para a função. E seus conceitos foram recompensados ao sagrar-se bicampeão mundial pelo São Paulo. Ele morreu no dia 21 de abril de 2006.

 Depois de cinco magníficos anos na função, no Tricolor do Morumbi, teve de abandonar aquilo que era mais sagrado em sua vida: trabalhar no futebol.  Complicações cardíacas o deixaram debilitado desde 1995, com feição apagada e sensação de angústia. Não aceitava a distância dos gramados, de gritar com seus jogadores e resmungar com juízes. Ali sentia a emoção típica do futebol.

 A esperança de driblar a doença e voltar ao trabalho havia sido descartada pelos médicos. Por isso restava-lhe distrair em atividades agropecuárias no seu sítio em Belo Horizonte, ou defronte à televisão acompanhando futebol, novelas e programas de auditório.

 Como jogador, vestiu a camisa sete do Fluminense exercendo dupla função: de posse da bola fazia jogadas de fundo de campo, mas sem ela recuava no meio-de-campo para fechar os espaços do adversário.

 Em meados da década de 60 aportou em Campinas e jogou no Guarani ao lado de Eraldo e os saudosos Dimas e Osvaldo, entre outros. Na ocasião justificou o apelido de ‘mão de vaca’. Morava na casa do técnico Elba de Pádua Lima, o Tim (falecido), comia e bebia e não desembolsava um tostão sequer.

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