Nos tempos áureos de Cruzeiro e Guarani, o
volante Zé Carlos falava baixinho e pausadamente. Vitimado por um ACV (acidente
vascular cerebral), hoje ele tem dificuldade de fala e locomoção. Por isso tem
feito fisioterapia visando recuperar os movimentos dos membros inferiores e
sair da cadeira de rodas.
Com objetivo de arrecadar fundos para a
família dele, antigos companheiros do time mineiro, liderados pelo zagueiro
Procópio Cardoso, organizaram jogo beneficente dia 13 de agosto passado em
Esmeralda, região metropolitana de Belo Horizonte.
Aquela fala mansa de José Carlos Bernardes, 71
anos de idade, sempre teve conteúdo e demonstrava a liderança nata. Como bom
observador das alternâncias de uma partida de futebol, dissertava sobre falhas
e acertos de seu time durante a carreira de atleta até os 38 anos de idade.
Indicava posicionamento adequado aos companheiros e exigia valorização da bola.
Claro que em tom de voz mais alto em relação ao observado fora de campo.
E tinha habilitação para cobrança porque foi
um atleta que tanto construiu como destruiu jogadas. No Cruzeiro, de 1964 a
1977, na maioria das vezes foi um meia de armação e até ponta-de-lança. Entrou
para a história do clube como atleta recordista, com 633 jogos, que resultaram
em 83 gols. Naquele período conquistou a Taça Brasil de 1966, Libertadores dez
anos depois, e Campeonato Mineiro de 1965 a 69 ininterruptamente. E entre uma
temporada e outra, exibindo a vasta cabeleira black power, teve como companheiros
Tostão, Natal, Eduardo Amorim, Palhinha, Wilson Piazza, Procópio Cardoso, Dirceu
Lopes, Roberto Batata, Raul e Nelinho, entre outros.
Aos 32 anos de idade e sem o real interesse do
Cruzeiro para mantê-lo no clube, aceitou convite para jogar no Guarani em 1977,
porém na função de volante. Foi quando demonstrou sabedoria para desarmar sem
necessidade de recorrer frequentemente ao artifício das faltas. Valia-se da
precisa colocação para antecipar jogadas, sem perder a característica de
refinado toque de bola.
Assim, teve participação preponderante na
conquista do título inédito do Campeonato Brasileiro de 1978, na equipe formada
por Neneca; Mauro Cabeção, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Zenon e Renato;
Capitão, Careca e Bozó.
Incontinenti, cobiçado por vários clubes,
acertou transferência para o Botafogo (RJ). Depois passou por Bahia, Uberaba e
Vila Nova de Nova Lima (MG), onde havia encerrado a carreira em 1983. Em
seguida, assumiu a função de treinador do Guarani, porém sem êxito. Por isso
topou o desafio do Mogi Mirim, que lhe reservou dupla missão: jogar e ser
treinador da equipe.
Após infrutífera experiência como treinador,
Zé Carlos foi aconselhado a integrar comissões técnicas como coadjuvante.
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