Dezenas de vezes você citou a palavra zebra ao deparar com resultado inesperado de um jogo de futebol, sem que se desse conta que foi o saudoso pernambucano Gentil Alves Cardoso criador da metáfora?
A velha guarda conhece de cor e
salteado a história desse espirituoso treinador, que passou a usar o bordão
zebra quando clubes pequenos do Rio de Janeiro ganhavam dos grandes na década
de 40. Por que zebra? Porque não faz parte do jogo de bicho. É estranha na jogatina.
Evidente que Gentil jamais
poderia prever que a junção verbo e substantivo ‘deu zebra’ transcendesse a
bola, e fosse usada invariavelmente em todos os segmentos.
Por que o jogador talentoso é chamado de
cobra? Eis aí outra metáfora inventada por Gentil Cardoso, um frasista por
excelência. Ao exigir que o seu time trabalhasse a bola no chão, costumava
dizer que ‘a bola é de couro, o couro vem da vaca, e a vaca gosta de grama;
então, jogue rasteiro meu filho’. Também é dele a frase de ‘quem se desloca
recebe, quem pede tem preferência’.
Apesar da contribuição folclórica
ao futebol, foram raríssimas as lembranças no 46º ano de sua morte, dia oito de
setembro passado. Por sinal, ele não perdeu o bom-humor até internado no
Hospital Central da Aeronáutica, no Rio de Janeiro. “Doutor, estou entrando na
vertical. Vê se não saio na horizontal, porque técnico de futebol não pode
trabalhar nessa posição”. E saiu de lá para o cemitério, deixando uma biografia
de migrante negro vitorioso. Foi engraxate, garçom e motorneiro. Nunca foi
jogador, mas ingressou na função de treinador do Bonsucesso nos anos 30.
Quando apitava treino, dizia
abertamente que reservas não ganhavam dos titulares. Se o caldo engrossava,
arrumava um pênalti ‘mandrake’ e acomodava a situação. ‘Bola na bunda de time
pequeno é pênalti’, brincava.
Seu reino encantado foi o Rio de
Janeiro, intercalando passagens pelos grandes clubes do Estado. Em 1946,
contratado pelo Fluminense, deu um recado aos cartolas logo na chegada: “Se
vocês me derem o Ademir (de Menezes), eu lhes darei o campeonato”. Dito e
feito. O ex-vascaíno marcou o gol do título contra o Botafogo.
Nos anos 50, treinando o Botafogo,
lançou o ponteiro-direito Mané Garrincha. Na época fazia uso de megafone para
se comunicar com os jogadores durante os treinos. Em seguida voltou a Recife,
em troca de bons contratos, para comandar Sport, Santa Cruz e Náutico. E nos
três clubes levantou o caneco. No futebol paulista treinou Ponte Preta e
Corinthians. Passou ainda por Nacional do Equador e Sporting de Portugal.
De volta ao Vasco, nos anos 60,
estimulava a boleirada a cantar músicas de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
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