Estão espalhados por aí, aos montes, os tais
ex-jogadores em atividades, que relutam enquanto podem à ‘aposentadoria’, com
conivência de incautos cartolas. A lisura do então atacante Washington ‘Coração
Valente’ não permitiu que fosse usurpador de clube. Aos 35 anos de idade, até
podia jogar mais um pouco sem abrupta queda de rendimento, até porque
diagnósticos de saúde davam-lhe plena garantia. Todavia, teve percepção que o
momento era de parar. Assim, o torcedor ficou com a última impressão dele como emérito
goleador.
Em 13 de agosto de 2011 Washington sentiu
outra dor no peito. Foi a dor de despedida da carreira de atleta na sede do
Fluminense, seu último clube na carreira. E o discurso foi cortado algumas
vezes pelas lágrimas. “É um momento difícil demais. Infelizmente um dia a nossa
profissão acaba”, confessou, sem prever que deixava claro recado a colegas que
teimam em jogar, em vez de curtir a vida.
O brasiliense Washington Stecanela Cerqueira
saiu de cena com a biografia de quem entrou para o Guinnes Book (livro dos
recordes) como maior artilheiro entre as edições do Campeonato Brasileiro, ao
assinalar 34 gols em 2004, no Atlético Paranaense, clube que abriu-lhe as
portas para que desafiasse a medicina e voltasse a jogar futebol após
complicações cardíacas.
Ano anterior, no Fenerbahçe da Turquia, Washington
sentiu ardência no peito durante treino, e testes ergométricos mostraram
anomalia no batimento cardíaco, o que evidenciou risco de enfarte. Logo, se
submeteu a cirurgia angioplástica para desobstrução de artérias coronárias,
praticamente entupidas pelo colesterol. Houve implante de minúscula válvula
para o sangue voltar a funcionar.
E que sangue! E que coração valente anexado ao
nome no meio futebolístico! Foram 411 gols em 17 anos de carreira. Gols
repartindo a bola com a becaiada, ou chutando de média distância indistintamente
com quaisquer das pernas, embora seja destro. E gols de cabeça ao explorar a
estatura de 1,89m de altura.
Washington nasceu no dia da mentira - um
primeiro de abril de 1975 -, mas sempre foi verdadeiro e destemido. O diabetes
diagnosticado ainda no Caxias em 1996, seu primeiro clube, não foi empecilho.
Se Grêmio e Inter (RS) mal avaliaram sua condição técnica em passagens por
empréstimo, a Ponte Preta saboreou 83 gols marcados por ele em 106 jogos em duas
passagens pelo clube.
Afora os 14 meses afastado do futebol para
cuidar da saúde, ele completou trajetória em Atlético Paranaense, São Paulo e
Fluminense. No tricolor paulistano foram 45 gols em 86 jogos.
Claro que ao se desligar do futebol aquele
coração valente estava preparado para novas emoções. Em 2012 foi eleito
vereador por Caxias do Sul com 7.979 votos, 3,37% daquele cartório eleitoral. Na
cidade também é construtor de imóveis.
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