segunda-feira, 11 de julho de 2016

Nunes, atacante goleador e sarrista

 Nos tempos áureos do Flamengo, na década de 80, certa ocasião o atacante Nunes foi assediado por um exército de repórteres, sua boca ficou entupida de microfones, e, na costumeira espontaneidade, ele lançou essa ‘pérola’: “Fiz que fui, não fui, e acabei fondo”. Tudo isso para descrever lance de gol que levou a galera do ‘Mengão’ ao delírio, no Estádio do Maracanã.
 No jogo de despedida do meia Zico do Mengão, Nunes chutou o ‘velho balde’ quando iniciava comparação dentro e fora de campo: “Tanto na minha vida futebolística quanto na minha vida ‘ser humana’...”.
 Assim era João Batista de Oliveira, o baiano de Feira de Santana apelidado de João Danado, que no quesito improvisação e alegria nada ficava devendo ao jogador João Pinto, que atuava no Clube do Porto. Certa ocasião, o português nos ‘brindou’ com essa reflexão: “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomava a decisão correta. Deu um passo à frente”. 
 O divertido João Danado ‘colocou no bolso’ o também atacante Claudiomiro, do Internacional (RS), quer na bola, quer nas ironias. O então roliço atacante gaúcho confundiu alho com bugalho e trocou o Oriente Médio pelo Estado do Pará quando a delegação do time colorado chegou a Belém (PA) para disputar partida contra o Paysandu, pelo Campeonato Brasileiro de 1972: “Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu”.
 No campo, Claudiomiro e Nunes tinham estilo semelhante. Jogavam enfiados na área adversária para completar jogadas. O diferencial de Nunes é que sabia aproveitar melhor as oportunidades de gols. Repartia as jogadas com zagueiros e levava vantagem em muitas delas quer no chão, quer no alto.
 A rigor, a estatística fala mais que as palavras. Em 212 jogos pelo Flamengo marcou 96 gols, no período de 1980 a 1987. Antes disso, fez sucesso no Fluminense, e principalmente nos três anos de Santa Cruz (PE), quando foi bicampeão estadual. Foi um período em que ele mostrou faro de gol e a recompensa sintomática foi convocação à Copa do Mundo da Argentina, de 1978. Era a grande chance dele se consagrar em um Mundial, mas uma contusão provocou o corte às vésperas da competição.
 A carreira do atacante - dispensado pelo próprio Flamengo nas categorias de base - se arrastou até 1992, no Santa Cruz, após passagens ainda por Botafogo (RJ), Náutico (PE), Boavista de Portugal, Volta Redonda (RJ), e pelo futebol da China e El Salvador. E quando parou de jogar, Nunes fixou residência no Rio de Janeiro em luxuoso apartamento de São Conrado. Só que a partir daí começou a torrar dinheiro e bens. Consequência: teve que se mudar para modesta casa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
 Contabiliza-se, como desperdício de dinheiro, uma aventura no mundo musical. Foi um erro apostar na carreira de pagodeiro, com lançamento de dois discos, mas Nunes não quer remoer o passado.

 O Flamengo criou a função de preparador de atacantes para Nunes, na década passada, a fim de que ele ensinasse aos discípulos os segredos para enfrentar goleiros. Todavia, como não prosperou na função, preferiu arriscar a carreira de treinador, com passagem pelo futebol amazonense, porém sem emplacar como comandante de grupo. Nunes completou 62 anos de idade em maio passado.

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