Nos tempos áureos
do Flamengo, na década de 80, certa ocasião o atacante Nunes foi assediado por
um exército de repórteres, sua boca ficou entupida de microfones, e, na
costumeira espontaneidade, ele lançou essa ‘pérola’: “Fiz que fui, não fui, e
acabei fondo”. Tudo isso para descrever lance de gol que levou a galera do
‘Mengão’ ao delírio, no Estádio do Maracanã.
No jogo de
despedida do meia Zico do Mengão, Nunes chutou o ‘velho balde’ quando iniciava
comparação dentro e fora de campo: “Tanto na minha vida futebolística quanto na
minha vida ‘ser humana’...”.
Assim era João
Batista de Oliveira, o baiano de Feira de Santana apelidado de João Danado, que
no quesito improvisação e alegria nada ficava devendo ao jogador João Pinto,
que atuava no Clube do Porto. Certa ocasião, o português nos ‘brindou’ com essa
reflexão: “O meu clube estava à beira do precipício, mas tomava a decisão
correta. Deu um passo à frente”.
O divertido
João Danado ‘colocou no bolso’ o também atacante Claudiomiro, do Internacional
(RS), quer na bola, quer nas ironias. O então roliço atacante gaúcho confundiu
alho com bugalho e trocou o Oriente Médio pelo Estado do Pará quando a
delegação do time colorado chegou a Belém (PA) para disputar partida contra o
Paysandu, pelo Campeonato Brasileiro de 1972: “Tenho o maior orgulho de jogar
na terra onde Cristo nasceu”.
No campo,
Claudiomiro e Nunes tinham estilo semelhante. Jogavam enfiados na área
adversária para completar jogadas. O diferencial de Nunes é que sabia
aproveitar melhor as oportunidades de gols. Repartia as jogadas com zagueiros e
levava vantagem em muitas delas quer no chão, quer no alto.
A rigor, a
estatística fala mais que as palavras. Em 212 jogos pelo Flamengo marcou 96
gols, no período de 1980 a 1987. Antes disso, fez sucesso no Fluminense, e
principalmente nos três anos de Santa Cruz (PE), quando foi bicampeão estadual.
Foi um período em que ele mostrou faro de gol e a recompensa sintomática foi convocação
à Copa do Mundo da Argentina, de 1978. Era a grande chance dele se consagrar em
um Mundial, mas uma contusão provocou o corte às vésperas da competição.
A carreira
do atacante - dispensado pelo próprio Flamengo nas categorias de base - se
arrastou até 1992, no Santa Cruz, após passagens ainda por Botafogo (RJ),
Náutico (PE), Boavista de Portugal, Volta Redonda (RJ), e pelo futebol da China
e El Salvador. E quando parou de jogar, Nunes fixou residência no Rio de
Janeiro em luxuoso apartamento de São Conrado. Só que a partir daí começou a
torrar dinheiro e bens. Consequência: teve que se mudar para modesta casa em
Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Contabiliza-se,
como desperdício de dinheiro, uma aventura no mundo musical. Foi um erro
apostar na carreira de pagodeiro, com lançamento de dois discos, mas Nunes não
quer remoer o passado.
O Flamengo
criou a função de preparador de atacantes para Nunes, na década passada, a fim
de que ele ensinasse aos discípulos os segredos para enfrentar goleiros.
Todavia, como não prosperou na função, preferiu arriscar a carreira de
treinador, com passagem pelo futebol amazonense, porém sem emplacar como
comandante de grupo. Nunes completou 62 anos de idade em maio passado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário