domingo, 24 de julho de 2016

Doze anos sem o treinador Zé Duarte

De fato a seleção feminina de futebol do Brasil parece cometa. Surge de vez em quando, principalmente em eventos relevantes como os Jogos Olímpicos, com calendário de jogos na primeira fase de três a oito de agosto contra China, Suécia e África do Sul, respectivamente.

 Impossível fazer referência à seleção feminina de futebol sem citação do saudoso treinador Zé Duarte. Se a modalidade havia sido criada antes dele, tem-se que necessariamente observar que ele a recriou em termos competitivos no país. Foi ele quem pacientemente ensinou o bê-á-bá para as meninas, e aquele trabalho promissor rendeu como fruto o quarto lugar na Olimpíada de Atlanta (EUA) em 1996.

 Qual o segredo para a transformação de uma modalidade recreativa para competitiva? Ao assumir o desafio um ano antes, Zé Duarte nada mais fez de que ensinar fundamentos para as meninas. Elas ganharam força muscular para que chutinhos se transformassem em chutes aceitáveis. Repetiu à exaustão domínio de bola, passe e cabeceio. E, como segundo passo, ajustou posicionamento delas em campo, de forma que a maioria não corresse desordenadamente atrás da bola, coisas típicas de quem treina equipe infantil masculina, como fez Zé Duarte no começo de carreira, na década de 60, no Guarani e Ponte Preta, quando deixou o ofício de encanador.

 Em 1966, no juvenil da Ponte Preta, lapidou o meia Dicá e lateral-direito Nelsinho Baptista, entre outros. E na primeira experiência com os profissionais, apostou na molecada e reconduziu o clube à divisão principal do Campeonato Paulista, após nove anos de fracasso na divisão inferior.

 Portanto, neste 23 de julho que marcou o 12º ano da morte do treinador campineiro, cabe recapitular os vices campeonatos paulista pela Ponte Preta em 1977 e 79, e ressaltar que levou o Guarani à semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, quando administrava com habilidade noitadas às sextas-feiras do também saudoso meia Jorge Mendonça.

 Zé Duarte o escondia no Departamento Médico durante o treino recreativo nas manhãs de sábado, mas impunha condição que desequilibrasse no jogo do domingo.

 Ao constatar o seu ex-atleta em situação degradante, apoiado em balcão de bar, Zé Duarte se irritou: “O Jorge gosta de todo mundo. Só não aprendeu gostar dele mesmo”.

 O gerenciamento do dia a dia de Zé Duarte nos clubes que dirigia ia além de conceitos técnicos e táticos. Era um paizão, e às vezes até tolerantes, com atletas indisciplinados e temperamentais, optando pelo aconselhamento. Todavia não deixava o grupo descambar com abusos da noite.

 Aí, sabiamente planificava obrigatoriedade de apresentação no clube às 7h para o café da manhã, sem se importar com ociosidade até ás 9h, quando começava a etapa de treinamentos. E após treino e banho da tarde, a boleirada tinha que esperar o jantar servido no clube por volta das 18h30. “Com o bucho cheio eles (jogadores) evitam sair à noite pra beber”, era a estratégia.

 Zé Duarte tinha olho clínico na indicação de reforços. Raramente errava e assim fazia boas campanhas por onde passava e ainda dava lucro aos clubes com vendas de passes de jogadores.


 Se não vingou no Cruzeiro, Fluminense e Internacional, teve passagens marcantes no Bahia e Atlético Paranaense. Nada comparado a vaivém nos clubes campineiros, quando usava um chapéu que ganhou da família Cury, em Campinas.

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