De fato a
seleção feminina de futebol do Brasil parece cometa. Surge de vez em quando,
principalmente em eventos relevantes como os Jogos Olímpicos, com calendário de
jogos na primeira fase de três a oito de agosto contra China, Suécia e África
do Sul, respectivamente.
Impossível fazer referência à seleção feminina
de futebol sem citação do saudoso treinador Zé Duarte. Se a modalidade havia
sido criada antes dele, tem-se que necessariamente observar que ele a recriou
em termos competitivos no país. Foi ele quem pacientemente ensinou o bê-á-bá
para as meninas, e aquele trabalho promissor rendeu como fruto o quarto lugar
na Olimpíada de Atlanta (EUA) em 1996.
Qual o segredo para a transformação de uma
modalidade recreativa para competitiva? Ao assumir o desafio um ano antes, Zé
Duarte nada mais fez de que ensinar fundamentos para as meninas. Elas ganharam
força muscular para que chutinhos se transformassem em chutes aceitáveis.
Repetiu à exaustão domínio de bola, passe e cabeceio. E, como segundo passo,
ajustou posicionamento delas em campo, de forma que a maioria não corresse
desordenadamente atrás da bola, coisas típicas de quem treina equipe infantil
masculina, como fez Zé Duarte no começo de carreira, na década de 60, no
Guarani e Ponte Preta, quando deixou o ofício de encanador.
Em 1966, no juvenil da Ponte Preta, lapidou o
meia Dicá e lateral-direito Nelsinho Baptista, entre outros. E na primeira
experiência com os profissionais, apostou na molecada e reconduziu o clube à
divisão principal do Campeonato Paulista, após nove anos de fracasso na divisão
inferior.
Portanto, neste 23 de julho que marcou o 12º
ano da morte do treinador campineiro, cabe recapitular os vices campeonatos
paulista pela Ponte Preta em 1977 e 79, e ressaltar que levou o Guarani à
semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, quando administrava com habilidade noitadas
às sextas-feiras do também saudoso meia Jorge Mendonça.
Zé Duarte o escondia no Departamento Médico
durante o treino recreativo nas manhãs de sábado, mas impunha condição que
desequilibrasse no jogo do domingo.
Ao constatar o seu ex-atleta em situação
degradante, apoiado em balcão de bar, Zé Duarte se irritou: “O Jorge gosta de
todo mundo. Só não aprendeu gostar dele mesmo”.
O gerenciamento do dia a dia de Zé Duarte nos
clubes que dirigia ia além de conceitos técnicos e táticos. Era um paizão, e às
vezes até tolerantes, com atletas indisciplinados e temperamentais, optando
pelo aconselhamento. Todavia não deixava o grupo descambar com abusos da noite.
Aí, sabiamente planificava obrigatoriedade de
apresentação no clube às 7h para o café da manhã, sem se importar com ociosidade
até ás 9h, quando começava a etapa de treinamentos. E após treino e banho da
tarde, a boleirada tinha que esperar o jantar servido no clube por volta das 18h30.
“Com o bucho cheio eles (jogadores) evitam sair à noite pra beber”, era a
estratégia.
Zé Duarte tinha olho clínico na indicação de
reforços. Raramente errava e assim fazia boas campanhas por onde passava e
ainda dava lucro aos clubes com vendas de passes de jogadores.
Se não vingou no Cruzeiro, Fluminense e
Internacional, teve passagens marcantes no Bahia e Atlético Paranaense. Nada
comparado a vaivém nos clubes campineiros, quando usava um chapéu que ganhou da
família Cury, em Campinas.
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