Este 24 de novembro marca o oitavo ano da
morte do folclórico treinador João Avelino, o popular 71. Vítima do Mal de
Alzheimer, meses antes de morrer sequer reconhecia as pessoas. Antes de adoecer
permaneceu ligado ao futebol como consultor para treinadores e cartolas.
Transmitia catimba e malandragem que usava no futebol. Ele deixou histórias
inacreditáveis.
Imagine um vestiário no intervalo de uma
partida: boleiros ofegantes, falatório e treinador aos berros tentando ajustar a
equipe. Acreditem: Avelino isolou-se desse ambiente quando dirigia o CAT (Clube
Atlético Taquaritinga) num jogo noturno contra o Guarani, no Estádio Brinco de
Ouro, na década de 80.
Seu time jogava tão mal que, revoltado, se
recusou entrar no vestiário para orientações de praxe aos jogadores, após
derrota por 2 a
0 no primeiro tempo. Surpreendentemente ele colocou uma cadeira no túnel que dá
acesso ao vestiário visitante e, com um canivete afiado, descascava e chupava
laranjas com se tivesse em momento de descontração.
- João, e as instruções para o seu time? -
questionou o radialista Paulo Moraes, na época repórter da Rádio Central, de Campinas.
- Perda de tempo. Nada entra na cabeça desses
caras - retrucou Avelino.
Cerca ocasião, o treinador foi trabalhar no
Fortaleza e se espantou com o tamanho do goleiro, pouco mais de 1,70m de
altura. E sabem o que ele fez para resolver o problema? Mandou diminuir a
altura da trave. E quando perceberam a tramóia, ele já havia festejado um
título cearense perseguido há cinco anos.
Em 1959, o Guarani corria risco de
rebaixamento à divisão inferior do paulista e tinha jogo decisivo em casa contra
o Santos. E sabem o que fez Avelino? Exigiu que os jogadores bugrinos usassem
meias pretas, nada a ver com as tradicionais cores verde e branca do Bugre.
Superstição ou não, o certo é que o Guarani
teve atuação fantástica naquela partida e ganhou do Peixe por 3 a 2, dois gols de Ferrari -
um ponteiro-direito adaptado à lateral-esquerda - e outro de Rodrigo.
Avelino foi homem de confiança do saudoso treinador
Osvaldo Brandão, e por isso foi seu auxiliar por muito tempo, num ‘casamento’
batizado de corda e caçamba. E Avelino era a caçamba.
O ex-treinador Antonio Augusto, o Pardal,
conta que Avelino foi o inventor do treino coletivo sem bola. ‘O João ficava
cantando as jogadas e o atleta simulava estar com a bola’, detalhou Pardal.
Naquele treino, de repente Avelino gritava
para o ponteiro cruzar, para o atacante driblar e chutar para o gol, tudo sem a
bola. E os obedientes boleiros cumpriam à risca a maluquice.
Ex-jogadores corintianos como Palhinha e Basílio
citam que quando Avelino deparava com jogadores de chutes fracos dava-lhes uma
bolota de cinco quilos, para que fizessem embaixadas. Assim, ganhavam força
muscular e o chute era mais forte.
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