segunda-feira, 8 de julho de 2013

Saldanha, destemido e vencedor

 
 Este 12 de julho marca 18 anos da morte do jornalista João Alves Jobin Saldanha aos 73 anos de idade. Ele estava em Roma, trabalhando para a TV Manchete durante a Copa do Mundo da Itália, quando foi vítima de enfisema pulmonar.

 Saldanha foi um fumante inveterado, debochado, destemido, leal e transparente. Quando se entendeu por gente recusou a nacionalidade uruguaia de Tacuarembó, onde seus pais estavam exilados, e exigiu mudança de registro para cidadão gaúcho.

 Em 1935, aos 18 anos de idade, morava no Rio de Janeiro, já havia pegado em arma, exercido liderança estudantil, e jogado no juvenil do Botafogo. Não prosperou como atleta e muito menos como ator. Politizado, engajou-se ao PCB (Partido Comunista Brasileiro) e foi candidato a vice-prefeito do Rio.

 Em 1948 foi estudar na França e por acaso entrou no jornalismo, como correspondente internacional. Na década de 50, de volta ao País, consagrou-se como analista de futebol em rádio e jornal. Detectava rapidamente setores vulneráveis de equipes e avisava sem rodeio que ali estava o ‘mapa da mina’. Escrevia como falava: frases curtas e claras. Imortalizou algumas pérolas: “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão”, ou “se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”.

 Em 1957, topou o desafio de comandar a equipe profissional do Botafogo sem nunca ter sido técnico, e levantou o caneco do Campeonato Carioca. Depois foi cartola do Fogão, retornou ao jornalismo e, em 1969, topou dirigir a Seleção Brasileira nas Eliminatórias à Copa do Mundo do México, no lugar Oswaldo Brandão.

 Na primeira entrevista Saldanha surpreendeu ao anunciar o time titular, e aqueles boleiros foram batizados de ‘feras do Saldanha’. E quando se irritou com críticas do técnico Iustrick, do Flamengo, invadiu a concentração do Retiro dos Padres, com arma em punho, e efetuou um disparou para assustar o desafeto. Quando o presidente da República Emílio Médici, na época do regime militar, sugeriu a convocação do centroavante Dario para o Mundial, a resposta foi malcriada: “Olha, eu organizo meu time, e ele organiza o ministério”.

 A tentativa de interferência do presidente da CBD (Confederação Brasileira de Desporto), João Havelange, para chamar o atacante do Galo mineiro, foi em vão. E isso custou o emprego ao treinador, a 78 dias do início da competição.

 Anos depois, já no período de transição política para o processo de redemocratização no País, Saldanha afirmou que Médici fingia quando aparecia em fotos segurando um radinho de pilha colado ao ouvido. “O rádio estava desligado”.

 Segundo a imprensa, Saldanha disse que Pelé era míope, o que provocou desmentido imediato. “Quem tinha problema na vista era o Tostão, e ainda assim eu banquei a convocação dele”.

 

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