Dé, cavador de pênalti
inigualável
De uns tempos pra cá jogador de
futebol passou a ser identificado por nome composto, o que contrasta com
décadas passadas quando os apelidos eram comuns. Nos anos 60 e 70, locutores de
futebol narravam jogadas de um atacante chamado pelo monossílabo tônico de
‘Dé’, que surgiu no Bangu e posteriormente passou por Vasco e Botafogo no
futebol do Rio de Janeiro.
Dé, que atuava como meia-direita
e centroavante, fazia muitos gols. Era rápido, habilidoso e sobretudo manhoso para
cavar pênaltis. Quem acha que o ex-corintiano Jorge Henrique e o cruzeirense
Dagoberto abusam ao simular lances de faltas dentro da área, devem saber que
não há comparativo com a malandragem de Dé, capaz de tropeçar propositalmente nas
próprias pernas com tamanha perfeição, e assim enganar árbitros. A percepção era
de que ele tivesse sido calçado pelo adversário.
Dé era tão catimbeiro quanto indiscreto.
Numa das preleções do saudoso treinador Otto Glória, véspera de uma partida do
Vasco, ele quebrou a seriedade ao infiltrar-se ao lado do ‘treineiro’ na roda
de atletas. Aí, repentinamente entortou um copo d’água em cima do papel da
prancheta, ilustrada com desenho do esquema tático proposto, para desespero de
Otto.
- Que é isso Dé? Tá maluco?
- Não, professor. Mas e se
chover o que a gente faz?
Eram freqüentes atitudes inesperadas de Dé. Na
época em que uma camada de areia fina cobria toda pequena área nos campos, o
desajuizado Dé atirou um punhado de terra nos olhos do goleiro Andrada, do
Vasco, durante cobrança de falta favorável ao Bangu. Aí a bola entrou e o gol
foi validado.
Outro registro foi na função de treinador do
Olaria, quando se irritou com um gol anulado favorável ao seu time.
Simplesmente abandonou o banco de reservas e se dirigiu mais cedo ao vestiário.
“Estou saindo para não ver esta pouca vergonha”.
Por sinal, foi no Olaria em que tudo começou
para Dé no futebol. Em 1966, quando as partidas preliminares brindavam
torcedores que chegavam mais cedo aos estádios, ele marcou três gols da equipe
juvenil num empate por 4 a
4 com o Bangu, e por isso o treinador Martins Francisco, do time de Moça
Bonita, recomendou a contratação dele.
No Bangu, Dé se juntou a Luís Alberto,
Ubirajara, Jaime e Aladim, remanescentes daquele desmanchado time campeão
carioca de 1966. E lá ele ficou até 1970, quando foi contratado pelo Vasco,
onde jogou num time formado por Mazaropi; Toninho, Abel Braga, Renê e Marco
Antonio; Zanata e Zé Mário; Fumanchi, Dé, Roberto Dinamite e Luís Carlos.
Domingos Elias Alves Pedra é o nome de registro
de Dé, nascido em Paraíba do Sul, município do Rio de Janeiro, que completou 65
anos de idade em abril passado. Ele foi atleta do Sporting de Lisboa no biênio
1975-76, enquanto na Arábia Saudita teve passagens quer como jogador, quer como
treinador.
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