Dezessete anos sem Telê Santana
Nos tempos de São Paulo, contra adversários
retrancados, Telê exigia que os seus laterais chegassem ao fundo do campo e
cruzassem para trás. Como não tinha cabeceador em sua equipe, trabalhou para
que o meia Raí desempenhasse bem a função.
Telê jamais prescindiu de dribladores e de um
exímio cobrador de faltas. No lógico raciocínio, time que ataca e que conta com
individualidades naturalmente terá faltas favoráveis nas imediações da área
adversária. Aí, um exímio cobrador faz a diferença. Pois Raí também foi
treinado para ser ‘o cara’.
E quando se elogia o desenho tático do
Barcelona da Espanha por prescindir do centroavante nato, tem-se que ressaltar
que há duas décadas Telê já colocava o seu time em campo sem esse atacante de
referência. Optava pelo meia Palhinha como homem de chegada.
Telê jamais abandonou a ousadia de buscar o
gol, mesmo que o preço de uma defesa aberta tenha custado a eliminação da
Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. Sua equipe precisava apenas
de um empate diante da Itália, mas perdeu por 3 a 2. Na década de 90 os seus
conceitos foram recompensados ao sagrar-se bicampeão mundial como treinador do
São Paulo.
Depois de cinco magníficos anos na função, no
Tricolor do Morumbi, teve de abandonar aquilo que era mais sagrado em sua vida:
trabalhar no futebol. Complicações
cardíacas o deixaram debilitado desde 1995, com feição apagada e sensação de
angústia, pois não aceitava a distância dos gramados, de gritar com seus
jogadores e resmungar com juízes. Ali sentia a emoção típica do futebol.
A esperança de driblar a doença e voltar ao
trabalho havia sido descartada pelos médicos. Por isso restava-lhe distrair em
atividades agropecuárias no seu sítio em Belo Horizonte , ou defronte
à televisão acompanhando futebol, novelas e programas de auditório.
Como jogador, vestiu a camisa sete do
Fluminense exercendo dupla função: de posse da bola fazia jogadas de fundo de
campo, mas sem ela recuava no meio-de-campo para fechar os espaços do
adversário.
No final da década de 50 aportou em Campinas e
jogou no Guarani ao lado de Dimas e Osvaldo ‘ponte aérea’ (ambos falecidos),
Cabrita e Eraldo, entre outros. Na ocasião justificou o apelido de ‘mão de vaca’.
Morava na casa do então técnico Elba de Pádua Lima, o Tim (falecido), comia e
bebia e não desembolsava um tostão sequer.
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